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Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres

Relembre momentos em que o jornalismo contribuiu para combater o problema

Celebrado no dia 25 de novembro, o Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1999. A data é uma homenagem às irmãs Maria Teresa e Minerva, conhecidas como as irmãs Pátria. Elas foram torturadas e assassinadas em 1960, a mando de  Rafael Trujillo, ditador da República Dominicana. Conhecidas como “Las Mariposas”, ambas lutavam por soluções para problemas sociais.

No Brasil, de acordo com o Balanço 2014 do Ligue 180 da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), 43% dos casos de violência registrados ocorriam diariamente; em 35%, a frequência era semanal. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública conclui que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país. Embora para os casos de violência doméstica as mulheres brasileiras estejam protegidas pela Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, os dados nacionais são alarmantes.

Na Bahia, o Mapa da Violência de Gênero de 2019 revelou que o próprio lar é o local mais perigoso para as mulheres. De acordo com a pesquisa, em 2017, dos 2.731 casos registrados, 1.069 aconteceram dentro de casa. A cor também é um agravante. O levantamento aponta que 169 das mulheres que sofreram violência na Bahia eram brancas e 1.491 negras. 

Além da violência doméstica, agressões verbais e psicológicas, assédio moral, dentre outras formas de opressão, são motivo de receio por partes das mulheres dentro e fora de casa. Para Amália Casal Rey, jornalista, psicóloga e assistente social, suplente da diretoria de patrimônio da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), já passou da hora de o Brasil criar, através dos órgãos competentes, políticas públicas sólidas e eficazes. “É necessário um novo olhar. Um novo tratamento dado às notícias de tragédias que tornam as mulheres vítimas, muitas vezes, abordadas de forma pontual, superficial e veloz para serem logo substituídas por outras tragédias que lhe roubam a cena”.

A jornalista e secretária da diretoria executiva da ABI, Suzana Alice, chama atenção para o papel da imprensa no enfrentamento da desigualdade e da violência de gênero. “A imprensa é um instrumento fundamental para a denúncia e para a reversão desse quadro persistente, que no Brasil se expressa em estatísticas alarmantes de feminicídio e no surgimento de figuras icônicas, como Maria da Penha e Marielle”, afirma a jornalista. 

De acordo com Suzana, “o esforço que a sociedade brasileira empreende neste momento para erradicar a violência contra a mulher requer uma imprensa livre e ética, capaz de se opor à naturalização da desigualdade e da violência, de combater a impunidade e de sensibilizar a opinião pública para urgente necessidade de superação desse grave problema social”.

Para não esquecer do quão importante é a imprensa tratar deste assunto, reunimos momentos em que o jornalismo na Bahia, no Brasil e fora dele, movimentou-se em prol da causa através de campanhas e reportagens especiais.

Reportagem especial ‘O Silêncio das Inocentes’ – Correio* (2015)

Foto: I’sis Almeida (ABI)

Publicada em 2015, a reportagem especial ‘O Silêncio das Inocentes’, do Correio*, jornal de Salvador, foi produzido pelos repórteres Thais Borges, Clarissa Pacheco e Alexandre Lyrio. Em estilo de ‘reportagem produto’, com um site dedicado a diversas apurações e informações sobre o crime de estrupo, conteúdos em foto, vídeo, áudio e infográficos, chocam certamente até os dias atuais cada leitor. Ao abrir o endereço da web, muitas vozes se misturam e é possível ouvir relatos chocantes de violências sofridas por mulheres do estado da Bahia. O site alerta: “as frases que você ouve a cada instante aqui são regravações de relatos reais. E você não tem como interrompê-las. Assim como as vítimas não podem interromper seus estupros”. 

Em 2017, o Correio* levou o Prêmio Petrobras de Jornalismo com o especial. A equipe concorreu com mais de 1.700 trabalhos e venceu na Regional Nordeste. Além do Prêmio Petrobras, o trabalho conquistou o INMA Global Media Awards – prêmio mundial, considerado o “Oscar dos jornais” -, foi finalista do Latam Digital Media Awards e recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

“Sou Mulher, Quero Respeito”- Rede Bahia/Filiada da Rede Globo (2017)

Marca da campanha “Sou Mulher, Quero Respeito” da Rede Bahia

Quantas vezes mulheres baianas ouviram essa frase? A campanha “Sou Mulher, Quero Respeito” foi criada em função do aumento considerável de casos de violência contra a mulher ocorridos na Bahia. Lançada em abril de 2017, a TV Bahia e suas cinco emissoras no interior do estado exibiram matérias sobre casos de violência. Nelas os jornalistas opinavam sobre os acontecimentos relembrando a campanha marcada pelo símbolo de uma mão aberta, que simboliza o gesto de ‘pedir para parar’. O movimento ainda incentivou a participação dos homens no combate a todas as formas de opressões contra as mulheres.

O caso de Harvey Weinstein nos Estados Unidos – #MeToo  (2017)

Jodi Kantor e Megan Twohey, autoras do livro “She Said” (Ela Disse) | Foto/reprodução: The New York Times

Duas jornalistas do The New York Times conquistaram em 2017 a confiança de dezenas de mulheres, expuseram os casos de assédio de Harvey Weinstein,  ex-produtor de filmes hollywoodianos, e deram um dos maiores furos jornalísticos da década, alcançando o movimento #MeToo à escala global. Quando Jodi Kantor e Megan Twohey começaram a investigar Harvey para uma reportagem do NYT, boatos sobre a forma em que ele tratava as mulheres corria pelas redações, mas nunca alguém ou alguma mulher havia feito uma denuncia publicamente. A apuração contou com uma longa e delicada pesquisa que incluiu entrevista com atrizes, ex-funcionárias das empresas do produtor e outras diversas fontes.

O #MeToo é um movimento contra assédio e agressão sexual a mulheres que começou a se espalhar em outubro de 2017 nos Estados Unidos. O uso da hashtag nas mídias sociais tentava mostrar a prevalência generalizada de agressão sexual e assédio sofrido pelas mulheres, especialmente no local de trabalho.

Vencedoras do Prêmio Pulitzer, outorgado a pessoas que realizam trabalhos tidos como de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical, as jornalistas Jodi e Megan contaram detalhes dos bastidores da reportagem no livro “She Said” (Ela Disse), cuja versão em português foi publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras.

“Lute Como Uma Jornalista”, da Fenaj (2020)

Jornalistas em frente ao farol da Barra, vestidas e vestidos com a camisa roxa "Lute como uma jornalista" e com banner em roxo referente ao 8 e março
Foto/reprodução: Fenaj e Sinjorba

Em 8 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aproveitou a data para alertar sobre os dados de violência doméstica e feminicídios no Brasil. Com cards em tons de lilás e roxo publicados nas redes sociais, a Federação, junto a sindicatos de todo país, incluindo o Sinjorba, além de outras entidades, publicaram diversos dados sobre a violência contra as mulheres. Diversas jornalistas aderiram a campanha, e uma a camisa “Lute Como Uma Jornalista” se tornou símbolo do movimento.

#ElaNãoPediu, Catraca Livre (2020)

O site de notícias diárias Catraca Livre resolveu, em novembro deste ano, lançar a campanha #ElaNãoPediu. O objetivo é trazer reflexão para o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, celebrado no dia 25. De acordo com o site, “a campanha se baseia em três eixos: – o primeiro é a divulgação de conteúdos que destrincham o problema e mostram caminhos possíveis para resolvê-lo; – o segundo, uma websérie nas redes sociais da Catraca”. Em quatro episódios, o Catraca Livre conta histórias de mulheres vítimas da violência doméstica pelo Brasil e discute a questão a partir da análise de especialistas.

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