ABI BAHIANA

Diretoria da ABI discute protocolo antifeminicídio para cobertura jornalística

Iniciativa visa propor boas práticas para veículos de comunicação e ajudar no enfrentamento à violência contra as mulheres

Os números alarmantes de feminicídios ocorridos no Brasil destacam a urgência de uma abordagem mais cuidadosa e comprometida por parte dos veículos de comunicação. Esse é o entendimento expressado pela Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa, nesta quarta (08/11), durante a reunião mensal da entidade. Uma comissão formada pelas diretoras da ABI prepara agora a minuta de um protocolo antifeminicídio, com o intuito de recomendar boas práticas aos veículos de comunicação e ajudar no combate à violência contra a mulher.

O Brasil registrou 1.153 feminicídios até julho de 2023, de acordo com dados divulgados pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM). O levantamento é realizado a partir do tratamento de notícias da imprensa escrita e compila casos novos de feminicídios consumados e tentados. Aproximadamente 70% dos feminicídios foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros de relacionamento íntimo.

Somente em 2023, a Bahia já registrou 78 feminicídios, segundo apuração da jornalista Raquel Brito, publicada hoje pelo Correio*, com dados da Polícia Civil.

O caso da cantora gospel Sara Mariano, cujo marido é o principal suspeito da autoria do crime, foi citado na apresentação feita pela jornalista Suzana Alice, conselheira consultiva da ABI. Para ela, a forma como a imprensa aborda episódios do tipo é fundamental para a compreensão pública do problema.

Suzana Alice criticou a cobertura oferecida pela mídia, que, segundo a diretora, quase sempre traz as histórias de maneira sensacionalista, focando nos detalhes mórbidos em detrimento de uma análise mais profunda. “Esse enfoque pode perpetuar estereótipos prejudiciais e desviar a atenção de medidas eficazes de prevenção”, ressaltou.

Além da sugestão de um adendo final nos textos, contendo orientação sintética sobre os procedimentos a serem adotados pelas vítimas, o protocolo poderá avançar em algumas recomendações sobre a abordagem noticiosa do assunto, as fontes de informação , entre outros aspectos. O protocolo constituirá a recomendação oficial da ABI para o tratamento do assunto no noticiário, e conterá um apelo institucional – uma espécie de chamamento à responsabilidade social da mídia.

O documento terá papel educativo, incentivando reflexões sobre como o feminicídio é noticiado pela mídia e propondo caminhos para aprimorar a cobertura acerca desse fenômeno. “É um protocolo de recomendação. Não é uma norma. Não queremos ensinar aos veículos como trabalhar, são recomendações de boas práticas antifeminicídio para aqueles que ainda não incorporaram medidas nesse sentido. Precisamos de uma imprensa livre e responsável”, afirma a 2ª vice-presidente da ABI, Suely Temporal.

De acordo com Amália Casal, 1ª secretária da instituição, é essencial que a mídia assuma a responsabilidade de não apenas informar, mas também educar e promover a conscientização. “Esses casos merecem reportagens sensíveis e análises contextualizadas. A iniciativa constitui um avanço para a imprensa baiana e para o trabalho da Associação, que prestará um serviço de utilidade pública.”

Laço branco, memória e ação

“A cobertura do caso Sara Mariano pecou em aspectos importantes e causou uma dor ainda maior à família”, avaliou o presidente da ABI, Ernesto Marques.

O dirigente aproveitou para fazer uma importante convocação aos colegas, propondo aos homens que se engajem na campanha do Laço Branco, um movimento que chama a atenção para a participação masculina na defesa das mulheres. “Queremos mobilizar os colegas, os jornalistas baianos, como aliados na busca por uma sociedade mais segura e igualitária”.

O Dia Nacional da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres será celebrado no próximo dia 6 de dezembro. A data integra o calendário anual do movimento “Laço Branco”, realizado pela primeira vez em 1991, no Canadá.

A campanha teve origem a partir do “Massacre de Montreal”, ocorrido em 6 de dezembro de 1989, quando um homem entrou armado em uma escola, matando 14 mulheres e ferindo outras dez. Antes de cometer suicídio, o atirador fez disparos pelos corredores e gritou ofensas contra as mulheres. Os canadenses transformaram a data no Dia Nacional de Memória e Ação contra a Violência contra a Mulher. Já o próximo dia 25 de novembro, marca o Dia Internacional para a Erradicação da Violência contra as Mulheres, estabelecido pela ONU.

publicidade
publicidade