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Flori faz 91 anos! Ave, Flori!

Simone Ribeiro*

Ave, Flori! Assim diria Sante Scaldaferri ao seu amigo e contemporâneo de Geração Mapa. Pois tomo de empréstimo a saudação do querido artista para expressar a minha gratidão ao professor.

Quando nada indicaria um sentido, primos em comum fizeram um casamento, e um dia lá falaram sobre família, profissão, cacau, Ilhéus e Itabuna. E eu fiquei com aquele nome de flor gravado. Conheci bem mais tarde o jornalista e poeta, o mestre, e voltei a ouvir coisas rurais contadas por ele, às voltas com a vassoura de bruxa.

Na Faculdade de Comunicação da Ufba, um professor ora cerimonioso, ora mais solto, fala de ética, técnicas de jornalismo, apresenta o lead, sugere vasta bibliografia. Rabiscasem dó em laudas de papel os textos imaturos de garotos e garotas mal saídos da escola.

Jornalista eu só me tornei quando entrei numa Redação. É quando reencontro Florisvaldo, mais leve, palavroso e contagiante na alegria de dividir uma bancada com muitos dos seus ex-alunos e alunas. Tenho as pautas que me presenteava nas férias que cobria no caderno ATARDE Cultural. Escritas a mão ou datilografadas, orientavam o repórter sobre como, o que buscar e quem entrevistar, sem titubeios, a respeito de determinado tema.

O Cultural era resultado de vários acertos. Além do planejamento com folga, da visão de humanista e esteta, experiência por veículos como editor-chefe do Jornal do Brasil e chefe do Diário de Notícias, o trânsito do jornalista, professor e ex-gestor da Fundação Cultural do Estado com fontes múltiplas dava-lhe a liberdade para descolar a pauta do hard news, solicitar a custo zero artigos nas fases de penúria da empresa e pautar reportagens raras.

Conheci o Cultural antes e depois da informatização do jornal ATARDE. As ferramentas digitais deram fôlego ao processo duro de artesania. Flori foi um entusiasta e curioso das novidades. Mas de nada adiantaria a tecnologia, não fosse o ambiente lúdico criado em torno do caderno, o carisma e espírito de liderança do editor, capaz de enxergar talentos e prestigiá-los. Não à toa o suplemento ganhou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte em 1995.

Em 2011, ao anunciar sua demissão e se despedir por livre e espontânea vontade do cargo de editor-chefe do jornal A TARDE, foi uma comoção. Um farol havia se apagado. Não ouviríamos mais a risada nem os comentários com os contínuos (tratados mutuamente de “Catega”, corruptela de Categoria) sobre Vitória, Bahia, Barcelona e Real Madrid.

Em uma foto de 1958, que ele compartilhou faz alguns dias nas redes sociais, vemos o estudante com o canudo de Direito, topo alcançado para cumprir uma promessa ao pai. Mas como ele mesmo disse, “já havia optado por uma fatalidade, a de ser jornalista por toda uma vida”. Que sorte a nossa! Parabéns, Flori!

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*Simone Ribeiro é jornalista, conselheira fiscal da ABI.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
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