Blog das vidas

Lúcia Berbet, presente!

Clarissa Amaral*

Conheci Lucinha no início dos anos 1980, logo depois que me formei e deixei a Facom.

Trabalhamos juntas na Secom, no Correio da Bahia, na Tribuna e no Jornal da Bahia, até início dos anos 1990.

Nesses 10 anos de convivência intensa estivemos juntas em momentos cruciais da nossa vida profissional. O primeiro foi na Secom, quando nos insurgimos contra as diretrizes do secretário de Comunicação de João Durval e que resultou na promoção de todos os jornalistas da Secretaria menos de quatro: eu, ela, Lúcia Ferreira (que também já partiu) e Welinton Aragão.

Em 1986, no dia que ACM deu um pontapé no repórter Antonio Fraga, da TV Itapoan, e Waldir Pires venceu Josaphat Marinho, nós duas trabalhávamos no Correio da Bahia de manhã e, à tarde, na Tribuna da Bahia. Alguns jornalistas decidiram iniciar uma greve no Correio de ACM em solidariedade ao repórter que apanhou do dono do jornal. Audácia era pouco naquela época. Novamente, estávamos lá, eu e ela, dentre outros. Ficamos presos na redação enquanto o Sindicato negociava com a direção. Como não podíamos sair de lá para falar com os jornalistas de outros veículos que faziam a cobertura da greve, nossas mães, sim, a minha e a dela, ambas anticarlistas ferrenhas, foram para os estúdios da TV Itapoan e contaram o que estava acontecendo na redação do Correio. Sempre nos orgulhamos deste feito das nossas mães e choramos juntas ao assistir a entrevista das duas.

Anos mais tarde, em 1989, na época do dissídio coletivo, uma assembleia do Sindicato dos Jornalistas decidiu por uma greve geral nos três jornais impressos que circulavam naquela época (A Tarde, Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia). Sim, novamente, estávamos lá, eu, ela e agora com Suzana Alice Pereira, juntas durante os nove dias de greve. Negociamos o apoio e a paralisação conjunta com o Sindicato dos Gráficos, pois jamais conseguiríamos parar a circulação dos jornais sem a adesão deles, porque o jornal poderia ser fechado por apenas duas pessoas (editor e diagramador), graças aos materiais enviados pelas assessorias de imprensa e agências de notícias. Foram dias muito tensos, mas finalmente vencemos e recebemos o percentual de aumento desejado e mais algumas vantagens.

No início dos anos 1990 tomamos caminhos diferentes. Lúcia e Marquinho (seu querido e amado “Xuxu”) resolveram migrar para Brasília e lá passaram mais de 20 anos. Tivemos alguns encontros em Brasília e também aqui em Salvador, quando eles vinham de férias e ficavam quase o tempo todo em Itaparica. Mas, por mais longa que fosse a distância e o pouco tempo que ficávamos juntas, nossos encontros eram sempre cheios de afeto e confiança mútua, porque sabíamos quem erámos,

Lucinha e Marquinho se aposentaram, voltaram para a Bahia e se estabeleceram na Ilha de Itaparica. Em 2019, Marquinho partiu e deixou Lucinha em frangalhos, depois de mais de 40 anos de casamento. Com o suporte da sua família, sempre muito unida, ela resistiu até ontem.

Depois de alguns meses muito doente, Lucinha foi encontrar seu amor da vida inteira. Para nós, ficam as boas lembranças e aquele vazio do ombro amigo de sempre. Vá em paz, minha querida amiga.

Não esqueça de dar meu abraço em Marquinho e d. Dora. Aqui a luta vai sempre continuar.

Lúcia Berbet, presente!

Clarissa Amaral é jornalista, mestra em Ciência da Informação e doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia.

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