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Lydia Cacho discute o papel do jornalismo no combate à exploração sexual de mulheres e crianças

Jornalista investigativa participou da conferência Fronteiras do Pensamento, em Salvador

“A esperança é um ato político e pessoal”. A frase sintetiza a participação da jornalista e escritora mexicana Lydia Cacho nesta edição do Fronteiras do Pensamento. O evento realizado na noite desta segunda-feira (30/10), no Teatro Sesc Casa do Comércio, teve apresentação da jornalista e radialista Cristiele França e foi mediado pela jornalista e professora Malu Fontes. A conferência destacou a atuação do jornalismo da defesa dos direitos humanos, abordou censura, sexismo nas redações, corrupção e outros desafios enfrentados por Cacho em mais de três décadas.

Lydia é uma das vozes mais destemidas e incansáveis do jornalismo investigativo na América Latina. Ela acredita no poder da reportagem para promover mudanças sociais, e dedicou a vida a contar histórias de crianças e mulheres exploradas sexualmente. A jornalista de escrita visceral se negou a ser observadora distante e brigou para dar voz a pessoas silenciadas, por meio de narrativas que lançaram luz aos lugares mais sombrios da sociedade, onde as violações aos direitos humanos florescem.

Aos 23 anos, ela começou a escrever para jornais de Cancún sobre arte e cultura. Mais tarde, começou a investigar e expor a violência contra as mulheres, enfrentando censura, perseguições, tortura e ameaças de morte, depois de publicar sobre o envolvimento de políticos e empresários mexicanos na pornografia infantil. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, a jornalista sobreviveu a atentados violentos, sendo obrigada a conviver com escoltas armadas.

Na conferência, ela contou sobre a primeira vez que teve uma arma apontada para sua cabeça. “A partir daquele momento, entendi até onde poderia chegar um agressor contra uma jornalista que se atrevia a contar uma história verdadeira.” Cacho relembrou a traumática experiência do sequestro que sofreu, mas também dividiu com a plateia inúmeros casos em que enfrentou o crime organizado e conseguiu colocar poderosos na cadeia.

“Conseguimos condenar pela primeira vez na história da América Latina um líder de uma rede criminosa de tráfico e exploração de meninas e meninos. Ele era um empresário hoteleiro multimilionário com hotéis na praia. Foi condenado a 113 anos de prisão por exploração sexual, pornografia infantil e infantil”, relatou.

Os desafios não a impediram de treinar casas de acolhimento de mulheres e a colaborar para a elaboração de leis contra o tráfico de seres humanos, pornografia infantil e violência contra mulheres no México, Guatemala, Colômbia, República Dominicana, Bolívia, Espanha, Afeganistão e Nicarágua. Ela é a fundadora e diretora do Centro de Atendimento Externo para Mulheres Maltratadas em Cancun, CIAM.

Cacho publicou 23 livros, dirigiu e apresentou a minissérie educativa sobre ética na infância Somos Valientes (2018) e foi produtora e roteirista da série documental Peace Peace Now Now (2021), ambas da Apple TV.

“Eu aprendi algo com meu professor de Criminologia há muitos anos. Ele nos ensinou que esperança é simplesmente acreditar que o futuro será melhor que o passado. Mas a esperança é construída a partir do compromisso individual”, refletiu a jornalista.

“A esperança não vem do céu nem está nas igrejas ou nos desejos que você envia ao universo. A esperança é um fato e um ato político e pessoal. Tem a ver com o que eu estou disposto a fazer para que o futuro deste país, desta comunidade, desta família, seja diferente do passado”.

Lydia Cacho, jornalista

A professora Malu Fontes, em uma de suas intervenções com dúvidas do público, falou da expressão “mexicanizacao”, ao se referir à crescente violência que assola o Brasil. Questionada sobre como o país pode lidar com o processo de narcotização, Lydia evocou as pessoas a reagirem e terem esperança. “Há muito poucos criminosos poderosos. A sociedade civil e os jornalistas são mais e as pessoas boas são mais do que as pessoas más”, afirmou.

Nesta terça, 31 de outubro, às 20h, será a vez do poeta baiano James Martins, colunista do Jornal Metropole, mediar a conversa entre a psicanalista Vera Iaconelli e o neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro participarem da conferência.

Vera Iaconelli, renomada psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo, é autora de obras influentes, como “Mal-estar na Maternidade” e “Criar Filhos no Século XXI”. É uma das vozes mais respeitadas quando se trata de questões de parentalidade e psicanálise. Ao seu lado estará Sidarta Ribeiro: biólogo, doutor em comportamento animal e especialista em substâncias psicoativas. Autor do best-seller “O Oráculo da Noite” e do livro “Sonho Manifesto: Dez Exercícios Urgentes de Otimismo Apocalíptico”.

⚠️ O Disque 100 encaminha e monitora denúncias de violência contra crianças e adolescentes. O serviço atende de qualquer parte do Brasil. A ligação é gratuita, anônima e com atendimento 24h. Já o Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher.

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