Literatura

Outono

Aloísio da Franca Rocha Filho

eis o outono passante
de sol, de lua brilhantes
seus tempos arrastam cores
suas cores atraem amores
nos céus de Kirimurê…
tempo espaço finito
do tempo espaço infinito
outono de todos os anos
como a física dos astros
explode em silêncio
imagens…
destroços transcendentes
de rara beleza… de tantos mistérios…
a razão roga explicação sem
os sentidos fruem a sedução
dos céus de Kirimurê…
metamorfose das cores
matizes do amarelo
se despedaçam
o amarelo sangra
enquanto imagens nascem
em instantes…
imagens morrem
em instantes…
daqui de Salvador
vi O Sono de
Salvador Dalí levado por
um pássaro de uma única asa
ele cruza nuvens que dançam…
se encostam… se abraçam…
se separam…
a todo instante
a todo agora
agora não mais
quem viu, viu
quem não viu, não mais verá
essas imagens únicas
sucessão dos hic et nunc
ensaiam o ritual da despedida
do incandescente sol
lento ruma para seu túmulo
morrer bem no seio da ilha de Itaparica
sem levantar uma única poeira
um cisco sequer…

Foto: Aloísio da Franca Rocha Filho

e

antes do raiar da aurora
a dicção das estrelas diz
é noite ainda e a lua
já lançava seu rosto narcísico
seus cabelos prateados
flutuavam antes do mergulho fatal
nas águas de Kirimurê
por trás da ilha de Itaparica
sem salpicar um único pingo
Iemanjá… os Orixás… Todos os Santos…
em sagrado ritual
e reverências lhe recebem
com cantos e danças…

e

enquanto o horizonte crepuscular do
universo segue magnificamente
belo e harmonioso
na Terra dos homens
ele destrói florestas
faz guerras, genocídios
homem, por que não ser mais natureza?
por que não ser mais animal?
para ser Homem mais humano?

_______

*Aloisio da Franca Rocha Filho é professor e jornalista; ex-diretor da Associação Bahiana Imprensa (ABI)
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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