ABI BAHIANA

Roda de choro na ABI expõe falta de apoio a iniciativas culturais

Na abertura da Série Lunar 2024, público e integrantes do Núcleo de Choro da Emus/Ufba compartilharam vivências sobre os cenários artístico e cultural baianos

Com nova formação e novo repertório, o Núcleo de Choro da Emus – Escola de Música da Ufba – retornou ao Auditório Samuel Celestino, da Associação Bahiana de Imprensa, para encantar o público da Série Lunar com clássicos desse ritmo que é a cara do Brasil. A noite desta quarta (20) foi marcada pela troca de experiências entre o público e os integrantes do grupo, que aproveitou para fazer um pedido ao poder público e à sociedade baiana: mais atenção aos artistas locais e incentivo aos eventos culturais como os encontros musicais que acontecem no Centro Histórico de Salvador. 

A Série Lunar, fruto da parceria entre a ABI e a Escola de Música da UFBA, proporciona concertos mensais com professores, servidores do corpo técnico-administrativo e alunos vinculados à Emus.

Importante iniciativa de fomento à cultura do choro no ambiente acadêmico e na capital baiana, a Roda de Choro da Escola de Música da UFBA (Emus) é um projeto criado em 2019 pelo professor Joel Barbosa, que convidou os estudantes Eduardo Brandão (violão 7 cordas), Tadeu Maciel (pandeiro) e Washington Oliveira (cavaquinho), para tocarem choro no pátio da Emus.

A formação passou por mudanças, dando boas-vindas aos membros Caio Brandão (violão 6 cordas), Jarder Ryan (clarineta), Leandro Tigrão (flauta transversal) e Natan Drubi, novo responsável pelo violão sete cordas.

“A principal característica dos nossos encontros é acolher pessoas com diferentes níveis de conhecimento, promovendo o aprendizado da linguagem, repertório e valores sociais do choro, de forma democrática e genuína, na própria roda”, destaca Maciel.

A escolha do repertório foi um show à parte. O grupo reverenciou grandes compositores e intérpretes do choro, executando um misto de estilos derivados do choro, como polca, maxixe, choro canção e frevo. “Nós apresentamos choros dos grandes mestres, dos pilares do gênero do choro”, comentou o flautista e compositor Leandro Tigrão. 

Na primeira parte, foram só composições de Pixinguinha. “Ele ajudou a construir e consolidar o gênero”, explicou. Na sequência, muitos outros expoentes tiveram suas canções interpretadas pelo conjunto, como Joaquim Antônio da Silva Calado, Chiquinha Gonzaga, Zequinha de Abreu e o Waldir Azevedo. “Todos eles foram referências em seus instrumentos, inspirando várias gerações”, completou o músico paulistano. 

Toda terça-feira, às 18h, o Núcleo se reúne no pátio da Emus para uma roda de choro. Também é possível apreciar o gênero em outros espaços, para além dos muros da Universidade. Às segundas-feiras, os músicos se apresentam na Gamboa, a partir das 17h. Às quartas-feiras, 20h30, é a vez do Bar do Batatinha, na Ladeira dos Aflitos. Dia de quinta-feira, eles estão no Centro Cultural A Casa do Espanto, às 19h. (confira a agenda nos perfis de Instagram @rodadechorodaemus e @acasadoespanto)

Incentivo

Quem ficou impressionado com a beleza do projeto foi o engenheiro Eduardo Topázio, estreante na Série Lunar. Servidor público da área de meio ambiente, ele acredita que os governos estadual e municipal, por meio de suas secretarias de turismo e cultura, têm um papel fundamental.

“Precisamos fazer esse projeto ser conhecido por outras pessoas. Como um projeto como esse pode ser colocado de lado? É muito talento, música, educação. Essa música tem tudo a ver com nossa vida, é a raiz brasileira, nossa arte. A gente precisa trabalhar, fazer um esforço para levar aos setores públicos essas questões que impactam a sociedade.”

O jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente da ABI, reforçou o empenho da instituição com a pauta cultural. Segundo ele, desafiando as dificuldades atravessadas atualmente pela entidade, o desejo da Diretoria Executiva é seguir apoiando e incentivando projetos como esse. 

“A gente gosta muito de fazer esse tipo de atividade. A reconstrução que iniciamos aqui nessa casa é pautada em uma série de iniciativas culturais. É impossível construir uma sociedade justa, digna, se não tiver cultura na base de tudo”, enfatizou o dirigente. 

“De uma forma muito modesta, muito simplória, a casa é nossa. A casa do jornalista também é a casa de vocês”, afirmou o dirigente, convocando o público a frequentar o Centro Histórico e a fortalecer as iniciativas. “A presença de vocês é muito importante para que a gente consiga se manter, se sustentar aqui. Nossa presença também é um ato de resistência. Espero que a gente consiga manter porque estamos passando por uma dificuldade séria. Vamos fazer de tudo para levar a Série Lunar até o final. Obrigada por terem vindo”, agradeceu.

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