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Abraji revela que 60% das agressões a jornalistas foram intencionais

Um levantamento divulgado nesta quinta (12) pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) revela que jornalistas foram agredidos principalmente por policiais durante os protestos que marcaram o País em 2013. Pelo menos 70 dos 113 casos de agressão registrados teriam sido intencionais. Entre os episódios de agressão deliberada, 78,6% foram provocados por forças de segurança.

Foto: Fernando Rodrigues/UOL

De acordo com a Abraji, foram considerados deliberados os ataques realizados a despeito da identificação das vítimas como profissionais da imprensa. “Atos de violência contra a imprensa colocam em risco o direito à informação de toda a sociedade. O trabalho de repórteres de quaisquer meios ou empresas é tão essencial à democracia quanto os protestos”, afirma a associação.

As ocorrências foram registradas entre junho e outubro de 2013. A partir de novembro, a Abraji tentou entrar em contato com todas as vítimas para verificar se a agressão havia sido deliberada ou não. As agressões incluem intimidação, violência física, tentativa de atropelamento, ataque de cães policiais, furto ou dano de equipamentos (não incluídos carros de reportagem ou sedes de empresas de comunicação) e prisão.

Em 21 casos não foi possível localizar a vítima da violação ou ela não respondeu. Um dos repórteres localizados não soube dizer se a agressão havia sido deliberada ou não. Excluindo-se esses 22 casos, o universo analisado reduziu-se a 91 agressões, das quais 70 (ou 77%) foram deliberados. A divulgação dos resultados deste levantamento marca os seis meses do estopim das grandes manifestações: a repressão violenta da PM de São Paulo à marcha contra o aumento das tarifas de ônibus em 13 de junho.

Do total de 70 ataques deliberados, forças de segurança protagonizaram 55 episódios. As polícias militares de diversos estados respondem por 53 ataques; a Guarda Municipal de Fortaleza participou de uma agressão e seguranças do terminal rodoviário de Niterói, de outra.

Outros 15 casos de agressão deliberada foram perpetrados por manifestantes (o equivalente a 21,4%). A maioria dessas ocorrências se deu no Rio de Janeiro (5), seguido de São Paulo (3) e Belo Horizonte (2). Em três casos, os equipamentos dos profissionais foram roubados. Uma repórter foi atacada com jatos de vinagre e outro profissional ameaçado com uma arma.

Dentre as cidades com mais casos de agressão deliberada destacam-se São Paulo e Rio de Janeiro, com 26 e 15 casos, respectivamente. Em São Paulo, as agressões se concentraram no dia 13 de junho, quando houve 14 ataques propositais (todos de autoria da Polícia Militar). Foi nesse dia que os jornalistas Giuliana Vallone (TV Folha) e Sérgio Silva (Futurapress) foram atingidos por balas de borracha no rosto. Apesar de ter perdido a visão do olho esquerdo, Sérgio não acredita que o ataque tenha sido deliberado.

Para o presidente da Abraji, Marcelo Moreira, os dados revelam um retrocesso na liberdade de expressão e de imprensa no Brasil durante os protestos, com uma “restrição de fato ao trabalho dos jornalistas”. “Isso é grave porque impede a liberdade de expressão e atenta contra os direitos humanos. Quando impedem o jornalista de fazer o trabalho dele, estão impedindo que a sociedade tenha acesso à informação, o que configura uma realidade muito ruim para o nosso país”, aponta Moreira.

Tradição de violência

Nas manifestações de 7 de setembro foram contabilizados ao menos 21 casos de violação contra 20 profissionais da imprensa. A polícia foi responsável por 85% das agressões – 18 casos, na maioria das vezes por uso ostensivo de spray de pimenta. Os números podem aumentar conforme mais casos forem confirmados. Esse foi o levantamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Desde o dia 13 de junho, a Abraji já contabilizou 82 violações contra jornalistas durante a cobertura de manifestações. A planilha completa com os nomes de todos os profissionais agredidos, veículos para o qual cada um trabalhava, data e local da agressão está disponível para download neste link: http://bit.ly/13C5YKi.

Fonte: Igor Waltz com informações da Abraji e do site Brasil de Fato

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