No auditório lotado, era possível ouvir o ranger de uma cadeira, o farfalhar de um papel ou o rufar de um tambor distante como se estivesse aqui, ao pé do ouvido. Esse foi o silêncio comandado pelas notas – e o espaço entre as notas – do violão de Vladimir Bomfim. O músico premiado internacionalmente fez sua estreia na Série Lunar, projeto de concertos mensais da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), nesta última quarta-feira (14). Com os tambores do Pelourinho ao fundo, na penumbra do auditório Samuel Celestino, Vladimir levou a plateia por uma viagem musical à sua juventude no Centro de Salvador.
O programa do recital passou por nomes da música erudita para violão entre Espanha e Brasil, como Francisco Tarrega, Heitor Villa-Lobos e Baden Powell. Nativo de Salvador, de onde partiu para fazer sucesso na França e no mundo, Vladimir explicou o pensamento por trás da seleção de músicas: ao ser convidado para tocar na Série Lunar, lembrou-se de quando comprava discos de vinil na Praça da Sé, bem ao lado da sede da ABI, ainda adolescente. E decidiu elaborar o recital a partir dessa memória:
“Essa região aqui tem uma ligação muito grande com os meus primeiros discos comprados de violão. […] Fiz questão de colocar no programa alguns deles, coisas diversas de música latino-americana, espanhola, que eu estava escutando na época que eu frequentava muito aqui a Praça da Sé”, contou o músico.
No auditório podia-se ver desde o público usual da Série Lunar até ex-professores e alunos de Vladimir – e, ainda mais crucialmente, sua mãe. Homenageada pelo violonista, que agradeceu a oportunidade de ver sua genitora na plateia após muitas apresentações no exterior, Wanda Bomfim lembrou de quando começava a ensinar violão ao seu filho aos doze anos, com resultados surpreendentes:
“Ensinei a ele os rudimentos, os acordes de dó, os acordes de ré, e tal. Quando demorou uma semana, ele estava tocando Djavan, Raul Seixas, Chico Buarque, e eu disse: ‘Oxente, eu nem toco isso ainda!’ Me passou a perna”, brincou a mãe do violonista.
Já a coordenadora da Série Lunar, Amália Casal, comemorou a oportunidade de mostrar esse talento aos baianos que talvez ainda não o conheçam. “Vladimir é uma figura muito simpática, ele é acolhedor, talentosíssimo e empenhado. É tanto o que ele faz e que se empenha e já mostrou ao mundo, que de qualquer maneira vale a pena a gente levar esse baiano ao conhecimento dos que não conhecem”, disse.
Outra voz elogiosa veio do jornalista e agitador cultural Clarindo Silva, talvez o espectador mais assíduo da Série Lunar. Clarindo parabenizou não só a habilidade musical de Vladimir como seu papel em trazer público ao Centro Histórico, junto à ABI. “A maneira como esse cidadão dialoga com o violão é algo que emociona e toca profundamente. Quero lhe parabenizar porque quando você faz um evento desse, quando a minha ABI faz um evento que traz uma plateia com essa qualidade, fortalece a nossa luta pela revitalização do Centro Histórico”, disse ao músico.
Apoio
Em meio às dificuldades financeiras da ABI, a Série Lunar esteve sob risco de ser cancelada em 2024, mas sua coordenadora Amália Casal mobilizou o apoio de empresas e instituições comprometidas com cultura e educação na Bahia, a fim de manter essa ideia de pé. “Desta vez quem está patrocinando é a ACBEU. Então eu me sinto na obrigação, quase até por dever de agradecimento, de mostrar que eles são muito mais do que uma escola de idiomas, e mostrar o quanto eles trabalham o desenvolvimento social da Bahia através de projetos e soluções educacionais”, agradeceu Amália.
“É a primeira vez que eu vejo ele tocar presencialmente, e eu tô achando incrível. Eu já sabia que ele era muito talentoso, mas vendo com meus próprios olhos e ouvindo com meus próprios ouvidos, estou impressionada e impactada.
Maria Eduarda Freire, advogada
“Que bom que tem uma ABI para nos apresentar a esses talentos como o de Vladimir. Ele tem uma leveza para tocar naquelas cordas, uma sensibilidade impressionante. Eu vou sair daqui hoje completamente embevecida com a beleza dos acordes. Que a ABI continue com esse projeto e não pare nunca”
Maria de Lurdes Araújo, advogada
“Sou aluno do Professor Vladimir na EMUS. Ver como ele tocou hoje, como se pode dizer, mais polido, é totalmente diferente do que em sala, por exemplo. É realmente uma certa maestria“
Pierre Sanches, estudante