Por Nelson Varón Cadena*
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) homenageia na manhã da próxima quarta-feira (14) a artista plástica e museóloga Lygia Sampaio, que receberá a Medalha Ranulfo Oliveira por proposição do jornalista Ernesto Marques, acatada pela diretoria da entidade presidida por Walter Pinheiro. A comenda foi instituída em 1998 com o objetivo de reverenciar profissionais que se notabilizaram pela sua contribuição à liberdade de imprensa e ao exercício pleno da atividade jornalística; no caso específico da homenageada, devemos falar em preservação da memória da imprensa baiana.
Cabe aqui uma breve explanação em torno de Ranulfo Oliveira – presidente da ABI desde 1932 até seu falecimento em 24/7/1970 – cujo maior legado foi a construção da sede da entidade na Praça da Sé, então denominada de Casa do Jornalista, inaugurada em 1960, após anos de campanhas e ações junto aos órgãos públicos e sociedade baiana com esse objetivo.
A obra de Lygia Sampaio já foi destacada por alguns críticos de arte, copio aqui o jornalista e crítico Reynivaldo Brito em texto publicado por ocasião de uma exposição da artista plástica realizada no Museu de Arte Sacra em 2014: “Estive na abertura da exposição de Lygia e fiquei realmente impressionado com os desenhos, as xilogravuras e os quadros a óleo que ela pintou durante seus 60 anos de arte. Sendo uma das pioneiras do modernismo baiano e brasileiro, Lygia Sampaio precisa ser melhor avaliada e valorizada pela qualidade de sua arte e por este legado que deixa para a arte brasileira. Senti de perto que esta mulher valorosa, hoje, frágil, devido aos seus 86 anos de idade, tem uma história de vida dedicada à arte”.
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Já a contribuição de Lygia à imprensa baiana não é tão conhecida até pelo seu estilo reservado, profile; aportou na ABI em 1975, se não estou enganado, para organizar o museu da entidade constituído por iniciativa de Afonso Maciel Neto em 16/1/1974, com base no acervo doado em 16/8/72 por Maria Koch de Carvalho, filha de Aloísio de Carvalho Filho e neta de Lulu Parola, o celebrado versista, epigramista e proprietário do Jornal de Notícias, um dos baluartes da imprensa baiana, destacado pela sua neutralidade num tempo de acirradas disputas políticas.
Lygia Sampaio na função de museóloga, a convite do então presidente da ABI, já referido, organizou o acervo composto de documentos e jornais antigos, entre os quais edições raras de jornais que fizeram história na imprensa local como As Coisas dos Rocero; preciosos exemplares da imprensa carnavalesca do século XIX;
“O Azorrage”, representante da imprensa satírica e outros de inestimável valor. Acervo esse que foi enriquecido com doações das famílias de Simões Filho, Ranulfo Oliveira, Aristóteles Gomes, Homero Pires, Jorge Calmon, José Augusto Berbert de Castro e uma raríssima coleção de O Noticiador Católico ofertada pelo historiador José Calazans.
Uma das preciosidades do museu, hoje, é a coleção quase completa da Revista Única, dirigida por Amado Coutinho entre 1929 e 1967. Pesquisei muito na década de 1980 nesse acervo diligentemente preservado por Lygia Sampaio que promoveu no local várias exposições, lembro especificamente da realizada em julho de 1980, de jornais católicos. Eu mesmo contribui com doações de vários jornais da Tipografia Gumes de Caiteté, alguns muito raros, confiado justamente no zelo e devoção da museóloga com a documentação e as coleções de periódicos. Justa esta homenagem da ABI em reconhecimento a quem serviu à entidade por mais de duas décadas.
*Nelson Varón Cadena é jornalista e escritor.