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Coronel da PM suspeito de incitar violência em protestos é exonerado no Rio

O secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, anunciou na manhã desta segunda-feira (5) que o governo exonerou o coronel da Polícia Militar Fábio Almeida de Souza, ex-comandante do Batalhão de Choque e do Bope (Batalhão de Operações Especiais). A decisão foi tomada após reportagem da revista “Veja” desta semana afirmar que o oficial incitou atos de violência policial contra manifestantes durante os protestos de 2013. O secretário se disse “horrorizado” com as revelações sobre a suposta conduta do coronel. “Quando fiquei sabendo, me certifiquei das mensagens do inquérito e o exonerei nesta manhã [de hoje]. Fiquei horrorizado. Quando ele veio para a segurança da secretaria, não havia procedimento algum contra ele. Esse procedimento será aberto e o pedido é meu”, afirmou Beltrame.

Um conjunto de documentos exclusivos obtidos pela publicação mostra mensagens de cunho nazista enviadas por policiais pelo WhatsApp. O ex-comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio, coronel Fábio, como era chamado, é o protagonista de milhares de mensagens trocadas entre oficiais da PM num grupo que se comunicava via WhatsApp entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Apesar de conter revelações gravíssimas, o único efeito das mensagens até agora tinha sido seu afastamento do comando do Bope, em março passado. O que não chegou a ser uma punição, já que o oficial passou a integrar a escolta do secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame. Em novembro, quando Beltrame decidiu trocar toda a cúpula da PM, o coronel Fábio foi reconduzido ao Batalhão de Choque. Fábio de Souza acabou promovido por merecimento, no último dia 25 de dezembro, ao posto de coronel, o maior da Polícia Militar.

Protesto contra aumento da tarifa do transporte coletivo no Rio - Foto: Julio Cesar Guimaraes/UOL
Protesto contra aumento da tarifa do transporte coletivo no Rio – Foto: Julio Cesar Guimaraes/UOL

Reunidas em 230 páginas de um inquérito da Corregedoria-Geral da PM, as mensagens mostram o então tenente-coronel revelando clara admiração pela filosofia do nazismo e deixando nítido que, para ele, o caminho era a agressão pura e simples. Numa das mensagens, quando um major sugere aos colegas o uso de uma técnica de imobilização com um bastão chamado Tonfa, ele reage: “Mata! Assim imobiliza para sempre”. E continua: “Tonfa é o c….! 7.62 (um tipo de fuzil) mata eles tudo”. Em outro trecho, confessa: “Na última manifestação que fui dei de AM640 inferno azul nas costas de um black bobo, no máximo 30 metros!!! Que orgulho!”. O AM640 é um lançador de bomba de gás não letal que, acionado a curta distância, pode até matar. Quando um colega observa “Coronel Fábio pela instauração do Reich”, ele retruca: “Isso”.

Também divulgada pela revista, mensagem atribuída ao coronel menciona despacho de umbanda deixado na porta do gabinete do tenente-coronel Márcio Rocha, que substituiu Souza por um período no Batalhão de Choque. Os dois seriam inimigos. “Faltou a galinha preta, as guias, as velas do Flamengo, a pipoca e aquela batata cheia de espeto.” A portaria do prédio de Rocha foi atingida por tiros disparados por dois homens numa moto em janeiro de 2014, uma semana após o episódio do despacho. Há suspeitas de que ele pode estar envolvido no ataque ao oficial.

O diretor da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, considerou muito grave o teor das mensagens. “Se confirmada a autenticidade dessa troca de mensagens, estamos diante de um fato de enorme gravidade: um oficial da ‘elite’ da polícia pregando abertamente o uso excessivo da força, o extermínio e a sedição, conspirando contra os próprios colegas policiais”.

Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, “esses diálogos capitaneados pelo comandante da tropa acabam por ratificar o que já se sabe há muito tempo: a PM acaba por se constituir em fator importante da cultura da violência que impera na política pública de segurança. Incitar os soldados a praticar violência contra manifestantes ou seja contra quem for, e com exortações de natureza inequivocamente nazista, é inaceitável e incompatível com as funções policiais”.

Vinícius Konchinski, para o UOL, com informações de Estadão Conteúdo e Revista Veja.

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