O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), organização sediada em Nova York, nos EUA, publicou em seu site que no Brasil “jornalistas são agredidos em protestos violentos e acusados de partidarismo”. Detalhando o caso do repórter Felipe Souza, da BBC Brasil, que foi agredido por policiais militares quando cobria uma manifestação no dia 4 de setembro, em São Paulo, o CPJ afirmou que o “incidente sinaliza o risco crescente enfrentado pelos jornalistas que cobrem os tumultuados movimentos políticos e sociais no Brasil”.
Segundo a matéria, Souza estava equipado com um capacete, máscara de gás e vestia um colete à prova de balas que o identificava como repórter da BBC Brasil. Com a aproximação dos policiais, o repórter se pôs de costas para a parede e ergueu as mãos para mostrar que não estava armado e que não oferecia resistência, mesmo assim foi agredido por, pelo menos, quatro policiais com golpes de cassetete no antebraço direito, na mão esquerda, no ombro direito, no peito e na perna direita. “Um deles ainda me chamou de lixo”, contou Souza ao site da BBC Brasil.
O levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), de que desde 2013 pelo menos 293 jornalistas foram vítimas de agressão, tanto de policiais como de manifestantes, durante a cobertura dos protestos foi também mencionado. Dentre as ocorrências documentadas pela associação constam casos de repórteres sendo alvos de gás lacrimogêneo e balas de borracha, agredidos com cassetetes e perseguidos por manifestantes. Segundo alguns dos relatos, a polícia tomou os equipamentos dos repórteres e apagou os dados de câmeras e celulares.
Quase metade dos incidentes ocorreu na cidade de São Paulo, a maior cidade do Brasil, “e mais da metade deles (62%) foi deliberada”, declarou a ABRAJI. “Em outras palavras, o profissional se identificou como jornalista em exercício da profissão. No entanto, foram ainda assim detidos ou vitimados”. A polícia foi responsável por 71% dos incidentes, mas muitos foram perpetrados por manifestastes furiosos com o suposto partidarismo da mídia, de forma que houve um aumento preocupante no número de ataques cometidos pelos mesmos.
Ouvidos pelo CPJ, editores de algumas publicações disseram que teriam de repensar a forma de enviar seus repórteres. “Nós temos dificuldades em cobrir os protestos”, disse Diego Escosteguy, editor-chefe da revista Época. “A nossa primeira preocupação é com a segurança dos jornalistas, e quando ocorre um protesto há um debate sobre como levar os nossos jornalistas de forma segura até lá. Eu gostaria de escutar as pessoas, mas não posso, e isto é um sinal do quão tóxicas as coisas se tornaram”. Ele adicionou que recebeu ameaças através de ligações e também por mensagens nas redes sociais.
Organizações como a BBC e a Reuters puseram seus jornalistas em treinamentos para ambientes hostis. O comportamento popular endureceu com o impeachment de Dilma e os jornalistas dizem que suas reportagens estão sendo amplamente perscrutadas. “Nós estamos sendo constantemente acusados de ser a favor da esquerda ou da direita, ou de estar escondendo algo”, disse ao CPJ Caio Quero, Editor-executivo da BBC Brasil.
“Eu trabalhei em muitos países que são extremamente polarizados ou onde as pessoas têm opiniões extremas – incluindo Israel, Haiti, Cuba, Venezuela, México – e isto me surpreendeu aqui, pois o Brasil não tem um histórico deste tipo de tensão política”, disse ao CPJ a repórter do NPR, Lourdes Garcia-Navarro via telefone, de sua casa, no Rio de Janeiro.
A matéria diz ainda que “a situação é ainda mais difícil para jornalistas locais, que enfrentam a pressão não apenas de editores e leitores, mas também dos amigos e da família e que é difícil prever o que acontecerá a seguir no Brasil, mas há um consenso de que, embora a turbulência institucional tenha passado, será apenas temporária a trégua com a mídia”.
*Informações Folha de S. Paulo e Andrew Downie para o CPJ .