Em Reunião Extraordinária, na manhã desta quinta-feira (19), a Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa discutiu detalhes do projeto da Medalha Rubem Nogueira, como o layout, o diploma e a seleção de agraciados. Depois de aprovar o Regimento Interno da honraria, os dirigentes debateram, com a participação de associados, posicionamentos da ABI frente a fatos políticos que impactam o cotidiano da atividade jornalística.
O diretor de Cultura da ABI, Nelson Cadena, apresentou o projeto da Medalha e as justificativas de cada um dos 11 nomes destacados. O pesquisador lembrou que a comenda foi criada pela Associação, em outubro de 2021, com a finalidade de homenagear personalidades e instituições importantes para a história do Museu Casa de Ruy Barbosa. O Conselho avaliou a seleção e contribuiu com a lista inicial.
Foi o caso do vice-presidente da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares. O jornalista e pesquisador indicou o nome do artista plástico Presciliano Silva (1883-1965) e explicou a sua importância para o resgate da história de Ruy Barbosa na Bahia.
É de autoria de Presciliano Silva o croqui que permitiu a reconstrução da casa onde nasceu Ruy Barbosa, local no qual a ABI instalou o Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro Histórico de Salvador. A casa foi reerguida com base em imagens que retratavam a construção original. “Aquela casa ruiu. Há registro do terreno baldio no final dos anos 30. A ABI, com a liderança do presidente Ranulfo Oliveira, empenhou-se em refazer a casa”. Presciliano também é o autor do retrato em carvão do Águia de Haia que fica exposto na entrada da sede da ABI, na Rua Guedes de Brito.
A Medalha Rubem Nogueira integra as iniciativas da agenda do Centenário de Morte de Ruy Barbosa, em 1º de março. O professor e advogado serrinhense Rubem Nogueira tornou-se um dos grandes biógrafos de Ruy Barbosa, sobre o qual escreveu quatro livros, entre outras produções suas sobre o direito e a ordem social.
Imprensa e democracia
A segunda parte da Reunião Extraordinária foi dedicada a um intenso debate sobre o papel da ABI em defesa da democracia, da liberdade de expressão e também sobre os repetidos casos de violência contra os profissionais da imprensa.
O presidente da ABI, Ernesto Marques, explicou a necessidade de estender a sessão a associados interessados em discutir alguns posicionamentos da ABI, principalmente diante da atual conjuntura política no Brasil e suas implicações para o exercício da atividade jornalística.
Ele lembrou que a posição inicial da ABI sobre os atos terroristas do dia 8 de janeiro, por exemplo, não foi 100% consensual entre os diretores. O jornalista reforçou a importância de ouvir as posições divergentes. “Houve divergências e questionamentos. Então, eu entendi que, mesmo a posição minoritária, por princípio democrático, precisa ser exposta, conhecida e discutida. Foi o que fizemos aqui”, afirmou.
Relembre: Nota sobre os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023
A maioria do corpo diretivo da ABI manifestou apoio à nota divulgada pelo presidente em nome da entidade e acompanhou as preocupações em relação aos recentes atentados contra a democracia. “Não podemos ficar omissos. A ABI precisa tomar posições firmes contra esse processo antidemocrático que agride a todos nós”, opinou Amália Casal, 1ª secretária da ABI.
“Nós vivemos no dia 8 uma tentativa de golpe, que começou a ser engendrado com a palavra, com o discurso de ódio contra a imprensa. Esse discurso não foi repreendido e tomou as redes sociais, corroborado, inclusive, por alguns profissionais da imprensa apoiados em teorias conspiratórias. Precisamos ir além das notas e atuar junto aos órgãos competentes”, analisou a 2ª vice-presidente, Suely Temporal.
Uma das vozes dissonantes em relação ao entendimento do grupo foi a do fotojornalista Luiz Hermano Abbehusen. “Tudo agora que se fala é ‘antidemocrático’. Está certo isso? Ninguém fala sobre as atitudes do STF. Tem gente que está sendo condenada sem ver o processo. O que aconteceu no dia 8 foi planejado e precisa ser investigado. Existem muitas interrogações”, defendeu.
A opinião dele encontrou apoio na jornalista Laura Tanuri, que levantou a possibilidade de haver pessoas infiltradas na ação do dia 8 e também falou sobre a necessidade de investigação. “Acho que não devemos partir para o lado de esquerda e de direita. Cada lado fala uma coisa. Precisamos ter critério ao nos posicionar”, ponderou.
“A ABI não é de esquerda nem de direita. Nosso lado é o da imprensa livre”, enfatizou o presidente Ernesto Marques. Ele agradeceu as intervenções de todos os presentes e exaltou a importância do debate para o colegiado da ABI. “A harmonia não é ameaçada pela divergência. Não podemos fechar a porta para o debate”, completou.
A primeira Reunião Extraordinária da ABI em 2023 foi encerrada em clima de confraternização e gritos de “Viva a democracia!”.