A Comissão de Mulheres do Sinjorba proporcionou um momento de interação e debate entre comunicadoras e profissionais da área da segurança pública, durante a “Roda de Conversa – Lute Como uma Jornalista e Combata a Violência de Gênero”, na tarde desta sexta-feira (10). No âmbito da 4ª Jornada de Mulheres do Sinjorba, o evento ambientado no Auditório Samuel Celestino, da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), discutiu medidas de combate e de empoderamento da luta no exercício profissional. A atividade teve programação lúdica e de relaxamento, com stands voltados para a saúde e bem-estar, além de sorteio de brindes.
As jornalistas Tarsilla Alvarindo e Alana Rocha relataram alguns episódios de violência física e psicológica a que foram submetidas em pleno exercício profissional.
“Ser mulher neste país é lutar muito mais por tudo. Precisamos conversar sobre violência. O grande segredo para combatermos é desnaturalizar violências disfarçadas de ‘brincadeirinhas’”, pontuou Tarsilla Alvarindo. Em janeiro, a jornalista teve a equipe de reportagem atacada por dois homens enquanto cobria um acidente de trânsito em Salvador. Na ocasião, Tarsilla foi atingida com um soco.
Já Alana Rocha, que atua em Riachão do Jacuípe (BA), a cerca de 200 km de Salvador, relatou perseguições de funcionários da prefeitura da cidade e a violência que transbordou do ambiente on-line, resultando em ameaças e ofensas diretas, além de processos na Justiça. Segundo a profissional, os ataques sempre vêm acompanhados de xingamentos transfóbicos. “Desde que começamos um trabalho fiscalizador na cidade, sofro muitos ataques. A cobertura incomoda principalmente os políticos. É dessa forma que tenho vivido”, denunciou.
Em seguida, mulheres que atuam no setor da segurança pública traçaram um panorama da violência de gênero, com a apresentação de dados estatísticos e perspectivas. Participaram a delegada Christiane Inocência Xavier Rodrigues Coelho, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana; a major Tereza Raquel, comandante da Ronda Maria da Penha; e a defensora pública titular da 5ª DP de Defesa da Mulher, Izabel Martins do Carmo. Por problemas técnicos, foi suspensa a participação online da presidente da Fenaj, Samira de Castro. Ela apresentaria o Relatório de Violência contra Jornalistas. (Acesse aqui)
Estigma
A coordenadora da Comissão de Mulheres do Sinjorba, Isabel Santos, destaca que mais de 18 milhões de mulheres brasileiras foram vítimas da violência no último ano. São mais de 50 mil vítimas por dia, o que representa um estádio de futebol lotado, aponta o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por meio do Instituto Datafolha.
No entanto, agressões ligadas ao gênero ainda são estigmatizadas. O que, segundo a defensora Izabel do Carmo, leva à subnotificação desses episódios. “A violência contra a mulher não aumentou. Ela é mais visibilizada hoje. Antes, as mulheres eram desestimuladas a denunciar”, ponderou.
De acordo com a advogada, as cartilhas distribuídas pela Defensoria Pública desempenham papel fundamental na educação em direitos. “É através delas, muitas vezes, que as mulheres recebem as informações necessárias para romperem o ciclo de violência”, contou. Izabel do Carmo também destacou o trabalho realizado pelo Núcleo Especializado na Defesa da Mulher da DPE-BA em parceria com a Rede de Proteção à Mulher.
Tarsilla Alvarindo contou sua decepção ao chegar na delegacia para registrar o caso de agressão. “Queriam registrar como ‘vias de fato’. Eu não aceitei. Não entrei em luta corporal com o meu agressor, não houve uma briga ali. Fui covardemente atacada com um soco no rosto, sem chance de me defender”, lembrou a jornalista. Alvarindo também comentou sobre todo o processo de revitimização ao qual foi exposta na internet, por meio de comentários com discursos de ódio nas redes sociais, para além da falta de acolhimento encontrada na unidade policial.
Questionada sobre a conduta de policiais no atendimento a mulheres vítimas de violência, a delegada Christiane Coelho disse que ainda há muito a se fazer para melhorar a atuação da polícia. “Infelizmente, há servidores que refletem a nossa sociedade patriarcal, misógina e racista”, reconheceu.
Em 2022 foram registrados 107 feminicídios na Bahia. “De cada cinco mortes violentas de mulheres, três são feminicídios. Em 92,2% das ocorrências, o crime é praticado por companheiros ou ex-companheiros da vítima. 84% das vítimas são pretas ou pardas”, informou a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.
Somente em 2022, a Ronda Maria da Penha realizou quase dois mil atendimentos. A major Tereza Raquel falou sobre os cinco tipos de violência doméstica e familiar previstos pela Lei Maria da Penha (física, psicológica, moral, sexual e patrimonial) e todos os programas educativos da unidade. De acordo com a comandante, um dos papéis da PM é trabalhar na fiscalização das medidas protetivas. “Nas capacitações com os policiais, temos batido na questão da violência institucional, para melhorar nossos atendimentos”, afirmou.
A 4° Jornada de Mulheres do Sinjorba marca o retorno da Comissão às atividades presenciais, que haviam sido interrompidas devido à pandemia. Ao lado de integrantes da Comissão de Mulheres do Sinjorba, a vice-presidente da entidade, Fernanda Gama, destacou a campanha contínua por igualdade de gênero no jornalismo. Ela também comentou sobre os números alarmantes da violência contra jornalistas mulheres. Para a dirigente, é importante que os homens também se engajem no combate a esse tipo de violação.
O Sinjorba teve o apoio da ABI, além das empresas Spavo – Espaço de Cura e Consciência, Intimidade Moda Íntima e Sex Shop, Clínica Vertebralle e Stoli Intimates.
>> Cartilhas educativas DPE/BA:
>> Onde buscar ajuda:
- Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher (Atendimento 24 horas)
- Delegacia Especial de Atendimento à Mulher – DEAM: 71 3116-7000 | Rua Padre Luiz Figueira, s/n, Engenho Velho de Brotas, Salvador, Bahia 40301-110, Brasil
- Núcleo Especializado na Defesa da Mulher – Nudem/DPE-BA: Ligue 129 | 71 3117-9160 |Aplicativo Defensoria Bahia (baixe nas lojas)
- Aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH)