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Ícone do fotojornalismo, Anízio Carvalho completa 93 anos

Ele encontrou na fotografia sua profissão e seu hobby. Em 60 anos de atividade, as lentes de Anízio Circuncisão de Carvalho eternizaram acontecimentos marcantes da história da Bahia e do Brasil, com destaque para as coberturas do período da ditadura militar e campanhas políticas. Nesta quinta-feira, dia 23 de fevereiro, o baiano natural de Conceição da Feira completa 93 anos e segue à espera da valorização e preservação do seu valioso acervo, que reúne equipamentos históricos e mais de seis mil negativos.

É de sua autoria uma das fotografias mais inusitadas da visita da rainha Elizabeth II ao Brasil, em novembro de 1968. O célebre registro do “joelho imperial” é sempre lembrado por um Anízio saudoso e orgulhoso de sua trajetória no fotojornalismo.

O governador Luís Viana Filho desfilava em carro aberto ao lado da monarca inglesa pelas ruas de Salvador. Umas das paradas do conversível Lincoln 1935 projetaria Anízio Carvalho como um dos mais respeitados nomes da fotografia brasileira.

“Liguei o automático, botei a Rolleiflex de cabeça para baixo. Quando ela colocou a perna para fora do carro, eu tossi para disfarçar o disparo e esperei. Tinha minha foto”, se diverte Anízio, ao narrar como conseguiu a foto que estampou diversas publicações mundo afora.

Anízio nasceu em uma família humilde que trabalhava no ramo da construção civil. Quando decidiu tentar a sorte longe de casa, seu pai, Manuel, lhe impôs uma condição. “Ele me disse que eu só viria para Salvador se tivesse como me sustentar e ser alguém”, lembra.

Assim que chegou à capital baiana, aos 14 anos, ele foi trabalhar na casa da família do fotógrafo Leão Rosemberg. Não demorou e Anízio estava no “foto” [como eram chamados os estúdios e laboratórios], aprendendo os segredos da profissão.

De lá, foi para o extinto Jornal da Bahia, em 1957, permanecendo por mais de 30 anos, até o fechamento do diário. “Trabalhei com Valter Lessa, Domingos Cavalcanti, Aristides Baptista [filho de Gervásio Baptista, o ‘fotógrafo dos presidentes’] e outros grandes da área”, recorda.

A postura profissional inseriu Anízio nas pautas mais importantes. E ele não descansava enquanto não conseguia a foto que tinha na cabeça, sem preocupações com o horário de acabar o trabalho. Às vezes, colocava a própria vida em perigo.

“Eu arriscava minha vida por uma foto”

– Anízio Carvalho, fotojornalista

“Eu arriscava minha vida por uma foto”, confessou em entrevista ao jornalista Valber Carvalho para primeira edição da Revista Memória da Imprensa, da Associação Bahiana de Imprensa (leia aqui). Nas páginas da publicação, Anízio relembra aventuras de uma vida dedicada à fotografia.

Ele ainda tem equipamentos fotográficos, como ampliadores, banheiras de aço, tanques, cortadeiras, refletores e câmeras, entre as quais está a famosa Rollei 6×6 e a Pentax. Nos últimos anos, Anízio foi alvo de muitas homenagens. Mas, encontrar uma instituição que assuma a curadoria de seu acervo é o maior desejo do fotógrafo. “Já tive várias promessas e propostas que não foram adiante. Meu sonho é achar um destino seguro para meu arquivo pessoal”, reivindica o decano.

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