Você já imaginou como as notícias sobre os conflitos travados pela independência brasileira chegaram a Portugal? Naquele tempo, as gazetas, folhetins e declarações oficiais demoravam cerca de 50 dias para desembarcar em Lisboa. A Batalha de Pirajá, aqui em Salvador, por exemplo, levou mais de dois meses para ser noticiada por lá. Era através de periódicos que muitos desdobramentos se delinearam. Esse trânsito de informações e a atuação de jornalistas no contexto da Independência foram discutidos no último dia do seminário “A imprensa e a Independência do Brasil na Bahia”, nesta quinta-feira (15), no auditório do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IHGB), em Salvador.
O evento realizado pela Associação Bahiana de Imprensa, com o apoio do IGHB, abarcou três palestrantes em seu encerramento. A coordenação da mesa ficou por conta do diretor de cultura da ABI, Nelson Varón Cadena.
Pesquisadores, professores e jornalistas dialogaram sobre os desdobramentos dos conflitos e suas personagens mais marcantes, sobretudo as que desempenhavam atividades de imprensa.
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O primeiro bloco foi conduzido pelo professor e historiador Manoel Passos, mestre em História e Patrimônio, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Portugal. Sua palestra “Os jornais como fonte de pesquisa sobre a história do 2 de julho” apresentou o panorama do conflito através do que era publicado em terras portuguesas. A noção do que vinha acontecendo era também uma guerra de sentidos, afinal, para não ferir a honra da metrópole, as tropas portuguesas não tardaram em alterar alguns detalhes, sendo desmentidas pouco tempo depois pela próxima edição ou outro veículo.
O professor e historiador Sérgio Guerra Filho, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, decidiu fazer um recorte em sua apresentação sobre a imprensa portuguesa e focou no “O Correio do Porto”. O docente traçou um paralelo com os conturbados cenários políticos do Brasil, com a Revolução de Pernambuco, as adesões às Cortes, as guerras de Independência e arranjos diplomáticos, e as revoltas e abdicação (1831); e de Portugal, com invasões pelas tropas francesas, perda de privilégios e uma guerra civil que durou cerca de quatro anos.
Segundo ele, o processo de Independência do Brasil gerou, na Bahia, intensos acontecimentos, desde o movimento constitucionalista originado no Porto (1820) até a abdicação do Imperador D. Pedro I (1831). Em suas pesquisas nos periódicos – tanto de Portugal como do Brasil – ele constatou que, além de narrativas informativas dos fatos, a imprensa estabeleceu um debate de posições políticas bastante diversas. (Saiba mais aqui)
A última palestra do seminário, “Jornalismo de Combate: Montezuma e o Diário Constitucional na luta contra Madeira de Melo e as Cortes”, foi comandada pelo jornalista e pesquisador Jorge Ramos, 2º secretário da ABI. Ele abordou o episódio do primeiro atentado à liberdade de imprensa no Brasil, quando, em 21 de agosto de 1822, soldados portugueses, cumprindo ordens do Brigadeiro Madeira de Melo – Governador das Armas da Província da Bahia, nomeado pelas Cortes Portuguesas – invadiram a gráfica “Viúva Serva & Carvalho”, na Cidade Baixa, em Salvador, e a empastelaram, quebrando equipamentos e danificando o prelo.
A ação acabou estragando as placas (contendo os tipos) prontas para a impressão de “O Constitucional”, jornal que tinha como principal redator o bacharel Francisco Gomes Brandão (1794-1870), cujo pseudônimo era Montezuma, também vereador em Salvador. “Montezuma teve um papel decisivo em todas as fases do processo que na Bahia levou à Independência e a consolidou”, explica.
O evento foi transmitido ao vivo e pode ser assistido no canal da ABI no Youtube: @abi_bahia
Assista abaixo: