Cláudia Albagli Nogueira*
No último dia 1 de março foi feita homenagem póstuma pela Associação Baiana de Imprensa (ABI) a meu avô, Rubem Nogueira, dando o seu nome a uma medalha entregue a propósito da passagem do centenário de morte de Ruy Barbosa. De fato, a biografia de Rubem Nogueira de alguma maneira se entrelaça à vida de Ruy Barbosa, considerando o quanto se dedicou ao estudo da vida e obra da “Águia de Haia”. Escreveu e publicou inúmeros textos e livros que percorrem a história de Ruy da sua infância ao seu leito de morte, fato esse reconhecido pelos inúmeros depoimentos que vão reproduzidos nas suas publicações.
Cresci vendo as prateleiras do gabinete de meu avô forradas pelos trabalhos de Ruy Barbosa, assim como me habituei a vê-lo de cabeça baixa anotando (sim, meu avô escrevia à mão) textos, informações, fragmentos, para aquilo que viria a ser, certamente, mais um livro ou documento sobre Ruy Barbosa. Mas o que teria movido meu avô a dedicar parte de sua vida a estudar Ruy? Quando começou esse interesse e de que forma ele reuniu tanto sobre a vida de Ruy? São perguntas que me fiz ao pensar na homenagem e que busquei resposta.
Em sua obra autobiografia, “O homem e o Muro”, Rubem Nogueira deixa a certa altura escapar que desde o seu tempo de estudante passou a se interessar por Ruy Barbosa e a guardar tudo aquilo que achava sobre ele, desde textos até obras que reunissem participações de Ruy em sua vida parlamentar, como Ministro, ou, ainda, da sua vida como advogado ou jornalista. Considerava-o um gênio. O resultado disso é que logo o seu primeiro livro publicado sobre Ruy Barbosa – “O advogado Ruy Barbosa” – foi premiado em concurso instituído por lei quando do governo baiano de Octávio Mangabeira. No mesmo ano de 1949, a propósito do centenário de nascimento de Ruy Barbosa, outra obra de Rubem Nogueira foi premiada, o livro “História de Ruy Barbosa”, que ganhou prêmio como melhor biografia sintética de Ruy. Esta obra, inclusive, foi reeditada em 1999 pela Casa de Ruy Barbosa, em celebração aos 150 anos do seu nascimento, o que reforça a sua importância.
Poderia meu avô ter se satisfeito com essas duas obras que alcançam boa parte da vida de Ruy Barbosa, mas não foi o que aconteceu. Ainda publicou as seguintes obras: RUY BARBOSA E A TÉCNICA DA ADVOCACIA (1956), RUY, a defesa dos bispos e a questão do foro dos crimes militares (1971), RUY BARBOSA contemporâneo do futuro (2006) e RUY BARBOSA, COMBATENTE DA LEGALIDADE (2007).
Como se vê, não é pretensão dizer que a biografia de Rubem Nogueira se entrelaça à de Ruy Barbosa, ele se dedicou até os seus últimos anos a escrever sobre as múltiplas faces daquele que para muitos é o maior jurista brasileiro: Ruy BARBOSA. Foi incansável nesse propósito.
Peço licença, ao final, para trazer o comparativo de meu avô com Ruy Barbosa em um aspecto, ambos dedicaram a sua vida à causa pública e assim o fizeram com absoluta ética até o final das suas vidas.
Meu avô em 25/1/2010, cercado pelo carinho de sua amada Gilka, dos seus filhos e netos, deixando como maior legado, além de seus escritos aqui já mencionados, uma existência pautada pela coerência e pela ética. Salve a bela homenagem da ABI.
Texto publicado originalmente no site Migalhas: https://www.migalhas.com.br/depeso/382596/rubem-nogueira-uma-vida-dedicada-a-biografia-de-ruy-barbosa
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*Cláudia Albagli Nogueira é professora da Faculdade de Direito da UFBA e da Faculdade Baiana de Direito.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)