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Decapitação de britânico fortalece resposta internacional contra Estado Islâmico

Militantes do Estado Islâmico (EI), organização fundamentalista sunita que controla amplas áreas do Iraque e da Síria, divulgaram na noite deste sábado (13) um vídeo que mostra a terceira decapitação realizada pelo grupo em menos de um mês. Dessa vez, o alvo foi o britânico David Haines, de 44 anos, funcionário de ajuda humanitária que havia sido sequestrado no território sírio em março de 2013. Ele coordenava a distribuição de água potável e mantimentos, e a instalação de tendas no campo de refugiados de Atmeh, junto à fronteira com a Turquia. A nova decapitação dá força à resposta internacional contra o EI. Países que formam a “frente unida” de combate aos islamistas da Síria e do Iraque reúnem-se esta segunda-feira (15), em Paris, e os Estados Unidos garantem participação de estados árabes na campanha.

As imagens são similares às que exibiram as decapitações dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff no mês passado. O vídeo foi publicado pelo Estado Islâmico um dia depois de a família de Haines, que cresceu na Escócia, ter divulgado uma mensagem àquela organização implorando por um contato, e na véspera da realização de uma conferência internacional sobre o Iraque, promovida pelo Presidente da França, François Hollande. A reunião em Paris juntará representantes de dezenas de países, entre os quais o ministro britânico da defesa, Philip Hammond, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, prometeu “perseguir e caçar” os islamistas que raptaram e decapitaram o britânico David Haines, na Síria, e garantiu que o seu Governo tomará todas as medidas para pressionar, desmantelar e extinguir o Estado Islâmico, tanto a nível doméstico como no estrangeiro. “O assassinato de David Haines é um ato de pura maldade. Meu coração está com a família dele, que mostrou extraordinária coragem e força. Vamos fazer tudo que estiver em nosso alcance para caçar esses assassinos e garantir que eles enfrentem a Justiça, não importa quando tempo isso leve”, tuitou o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

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David Cameron não assumiu novos compromissos – a novidade foi a urgência e a dureza de Cameron após a morte de David Haines. “Passo a passo, vamos pressionar, desmantelar e no fim destruir o EI e o que ele representa. Vamos fazê-lo de forma calma e deliberada, com uma determinação de ferro”, declarou. Uma escalada na ação contra o EI parece inevitável, embora o líder britânico tenha resistido a confirmar um papel ativo da Royal Air Force na campanha aérea em curso no Iraque. Mas “à medida que esta estratégia se intensifica”, Londres “está preparado para assumir o papel que for necessário para erradicar esta ameaça e garantir a segurança do país”, indicou.

Haines tinha sido exibido como refém e ameaçado de morte no fim do vídeo da decapitação de Sotloff. Nas imagens divulgadas neste sábado, outro refém britânico, identificado como Alan Henning, é apontado como a próxima possível vítima. “Se você, Cameron, persistir em lutar contra o Estado Islâmico, você, assim como seu mestre Obama, terá o sangue do seu povo em suas mãos”, disse no vídeo, em inglês com sotaque britânico, um militante do EI que, acredita-se, seria o mesmo que executou Foley e Sotloff. O EI ainda mantém reféns dois britânicos e dois americanos. As identidades deles são mantidas em segredo a pedido das famílias – os radicais ameaçaram matar os reféns que tenham as identidades reveladas.

Opinião pública

Para os analistas, a sucessão de vídeos grotescos de decapitações de ocidentais demonstram a raiva e a frustração do EI com a intervenção militar internacional que travou a sua expansão territorial no Iraque e na Síria e põe em causa a sua ideia de consolidação de um califado nos dois países. A capacidade bélica dos jihadistas não é proporcional à dos seus inimigos: incapazes de abater os jactos e drones norte-americanos, os militantes respondem com outras armas – o terror e a opinião pública.

Alguns analistas se questionem sobre o calendário das publicações dos vídeos, que podem não corresponder às datas exatas das decapitações. As imagens da morte dos dois jornalistas norte-americanos, James Foley e Steven Sotloff, foram divulgadas num intervalo de duas semanas, mas desta vez passaram dez dias: estará o EI a sentir-se acossado ou em desespero? Poderá a decapitação de Haines ter sido adiantada para condicionar os participantes na conferência de Paris sobre o Iraque? Poderá ter alguma coisa a ver com a realização do referendo para a independência na Escócia, esta quinta-feira?

A votação poderá ter refreado os ímpetos de David Cameron na resposta aos islamistas, de forma a não alienar os eleitores escoceses, tradicionalmente mais céticos quanto ao uso da força militar. Numa entrevista à BBC, o primeiro-ministro escocês e líder do partido nacionalista, Alex Salmond, frisou que “não é possível ceder ao terrorismo”, mas considerou que “atos bárbaros” como os do EI “exigem uma deliberação coletiva” sob os auspícios das Nações Unidas.

*Informações de Rita Siza para o Público e O Estado de S. Paulo (NYT, Reuters e AP).

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