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Na Bahia, decretou Mangabeira, Ruy é com “y”

Por Luis Guilherme Pontes Tavares*

Surpreendente! A polêmica sobre a grafia do nome do jornalista, advogado e político Ruy Barbosa (1849-1923) anima, na atualidade, o debate, sobretudo em torno de sites biográficos, devido à posição de se manter no verbete respectivo o Ruy com i. A mudança ocorrida outrora e o debate atual têm a ver com as reformas ortográficas de 1943 (Formulário Ortográfico) e de 2009 (Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa).

O Formulário foi instituído pelo Decreto Lei 5186, de 13jan1943, e facultou ao arbítrio do interessado a substituição, em nome próprio, da letra k, y e w por c, i e v. Foi assim que a Casa de Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, criada em 1929, mantendo então o y no nome do ilustre brasileiro, mudou de nome e o Ruy, como se fosse possível haver dois nomes para uma pessoa, passou a ser grafado Rui. Assim, que há na web e no bairro carioca de São Clemente, no RJ, é a Fundação Casa de Rui Barbosa; Rui com i.

Em 2009, com o Decreto 6583, de 29set2008, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, consignado pelos países lusófonos, foi adotado também pelo Brasil e, assim, restabelecido o uso das letras k, y e w. Por isso abriu-se, na internet, o debate sobre o nome correto de Ruy, se com y ou i. Alterar agora a decisão carioca de quase 80 anos resultaria em mudar letra no nome da Fundação, em que a Casa de Rui Barbosa, criada em 1929, foi transformada em 1966 pela Lei 4943, de seis de abril daquele ano. Mudar de i para y requereria análise e decisão orientada pelo bom senso; há que se avaliar o quanto dispendioso isso seria.

A Bahia, cujo nome mantivera o h por determinação excepcional do DL 5186, de 1943, firmou posição a favor do y no nome de Ruy Barbosa pouco tempo depois da reforma ortográfica e dias antes das celebrações do primeiro centenário de nascimento do abolicionista baiano. Foi por isso que o governador Octávio Mangabeira (1886-1960) decretou, em 12out1949: “Artigo 1º – Fica respeitada a grafia original do nome de RUY BARBOSA com Y em todos os atos e referências oficiais do Estado. Artigo 2º – Revogam-se as disposições em contrário”.

Fac-símile de recorte da página 1 do Diário Oficial do Estado da Bahia de 22out1949

Essa decisão do governador baiano repercutiu no país e provocou a advertência que a revista Ilustração Brasileira (Ano LX, n. 175, de novembro de 1949) estampou no rodapé da página 1: “Ao leitor, ‘Ilustração Brasileira’, na presente edição, adotou grafia oficial do nome de Rui, nos textos de sua redação. Entretanto, respeitou, no texto de seus colaboradores, a grafia em que, coerentes com a decisão ultimamente adotada pelo governo da Bahia, escrevem com y o nome do grande brasileiro”. E edição 175 foi dedicada ao centenário do nascimento de Ruy Barbosa e a coordenação foi protagonizada pelo historiador baiano Pedro Calmon (1902-1985).

Advertência ao leitor, publicada pela revista Ilustração Brasileira (Ano LX, n. 175, de novembro de 1949)

O Ruy, com y ou com i, a quem reverenciamos como brasileiro notável, é o Barbosa que nasceu na Rua dos Capitães, 12, sobrado que a ABI mantém de pé com o auxílio da sociedade que reconhece no imóvel o “Ninho da Águia”.

*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]

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