Com olhos brilhantes e ouvidos bem atentos, ela observava o passear dos arcos sobre as cordas. Vez ou outra, a contadora Rosemeire Rodrigues, de 53 anos, se colocava de pé para aplaudir os músicos que se apresentaram ontem (11) à noite no Auditório Samuel Celestino, durante a sétima edição da Série Lunar. O ciclo 2019 da Série foi encerrado pela encantadora apresentação da Orquestra da Camerata Acadêmica da Universidade Federal da Bahia.
“Excelente projeto, nota 10. A apresentação foi maravilhosa”, destacou Rosemeire. Ela se define como “amante de boa música” e sai do bairro do Imbuí para prestigiar a Série Lunar desde a quinta edição. “Pena que não fiquei sabendo antes. Quando soube, não perdi mais. Participarei em 2020”, afirmou.
Fruto de uma parceria entre a Associação Bahiana de Imprensa e a Escola de Música da UFBA (EMUS), o projeto contou com apresentações da Orquestra de Violões da UFBA, Quarteto Gamboa, Ana Paula Albuquerque, do grupo de canto coral Madrigal da UFBA, Grupo de Violoncelos da UFBA e do violonista Mario Ulloa.
Novos espaços – De acordo com o diretor da EMUS, professor José Maurício Brandão, sua gestão busca pluralizar os espaços de escoamento de produção da escola. “Temos a própria Universidade, mas acabamos não atingindo outros públicos. Numa cidade como Salvador, com sérios problemas de mobilidade, é complicado as pessoas virem até nós. Então, é necessário criar capilarização, para que produtos da universidade cheguem à sociedade”, destacou.
Brandão também enfatizou a necessidade de fortalecimento das relações institucionais. “Através desse projeto, estamos estreitando relações com a ABI, assim como fazemos com outras instituições, em projetos diversos. Isso fortalece a sociedade. Deixamos de ser um monte de gente empurrando a pedra, sem saber para que lado iremos. No momento em que damos as mãos, os efeitos tendem a ser mais sólidos”, defendeu o professor.
Por último, ele ressaltou a importância histórica do prédio da ABI e a relação entre imprensa e arte. “Este espaço se relaciona com o ambiente histórico da cidade”. Segundo ele, a Série conseguiu conjugar aspectos históricos, sociais, naturais e culturais. “Muitos elementos que se juntam nessas quartas-feiras, uma vez por mês. É fundamental que façamos esse tipo de evento para fortalecer nosso tecido cultural. Ao final, o objetivo é que vivamos numa sociedade melhor”, concluiu.
Ernesto Marques, vice-presidente da ABI, avaliou como positivo o saldo do projeto. “Um sucesso de crítica. Estamos todos muito felizes com o que conseguimos fazer aqui e muito animados para a próxima temporada, com essa programação de qualidade”, destacou. Ele observou o fato de grande parte do público ter conhecido a ABI por causa da Série. “Isso tudo nos anima a fazer em 2020 um ciclo muito melhor do que foi em 2019. Vamos trabalhar para que mais pessoas tenham acesso”, garantiu o dirigente, acompanhado pelo diretor de Patrimônio da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares.
Camerata – Para o violonista Alexandre Casado, um dos coordenadores da Camerata, a parceria é de “extrema importância” porque leva a um público novo a oportunidade de ouvir música de concerto. “Escolhemos um repertório de clássicos populares, acessível à maioria das pessoas e que facilitam a ambientação”, explicou. Ele agradeceu a oportunidade e colocou a Camerata à disposição para participar das próximas edições. “É uma bela sala e uma vista maravilhosa. Um espaço muito adequado para concerto. Voltaremos!”, adiantou o coordenador da Camerata.
O grupo se apresentou com dois violinos, uma viola, um contrabaixo e um violoncelo. “A espinha dorsal de uma orquestra”, afirmou Casado. O grupo formado há cerca de 15 anos é reconhecido pela liderança artística compartilhada, onde as apresentações ocorrem, na maioria dos concertos, sem regência. Além de Alexandre Casado, colaboram como organizadores, as professoras Suzana Kato e Laura Jordão, e participam do grupo alunos da graduação, pós-graduação e técnicos da Escola de Música.
A Camerata Acadêmica nasceu quando um grupo de professores, inspirados na legendária Camerata Fiorentina, resolveu reunir artistas para discutir e executar especificamente música. A Fiorentina em seu apogeu, entre os anos 1577 e 1582, diferentemente, discutia além de música, literatura, ciências e artes em geral. Foi assim que o até então laboratório de cordas tornou-se a “Orquestra da Camerata Acadêmica”, com inspiração no grupo de aristocratas do período de 1500, porém, com propósito um pouco diferente. Além de professores, foram convidados ao grupo, os mais notáveis estudantes de música da UFBA, bem como profissionais que atuavam fora da academia.
Série Lunar 2019 – 1ª temporada (atrações)
– 18 de junho: Orquestra de Violões
– 17 de julho: Quarteto Gamboa
– 14 de agosto: Ana Paula Albuquerque
– 11 de setembro: Madrigal da UFBA
– 16 de outubro: Grupo de Violoncelos
– 13 de novembro: Mario Ulloa
– 11 de dezembro: Orquestra da Camerata