Centenas de integrantes da Polícia Bolivariana da Venezuela e tropas da Guarda Nacional dissolveram quatro acampamentos mantidos por estudantes que protestavam contra o governo do presidente Nicolás Maduro e detiveram 243 pessoas, em uma operação realizada na madrugada desta quinta-feira (8), em Caracas. Os acampamentos, formados por pequenas barracas, foram montados há mais de um mês por militantes das facções estudantis mais radicais de oposição, vanguarda dos protestos que acontecem em várias cidades venezuelanas desde o último mês de fevereiro. Denúncias nas redes sociais dizem que o número de detenções está acima do divulgado oficialmente, passando de 600. A ação gerou revolta de parentes e novos confrontos entre manifestantes e policiais em pelos menos três pontos da cidade até a noite.
No dia anterior às prisões, estudantes venezuelanos estiveram no Congresso Nacional brasileiro para pedir o apoio do país contra a repressão aos protestos na Venezuela e pedir que o Brasil não venda armas ao governo de Nicolás Maduro. Os estudantes classificaram o atual governo venezuelano de uma “ditadura”. O relatório entregue pelo grupo aponta 44 mortes nos protestos, centenas de detenções, além de casos de tortura.
O ministro do Interior da Venezuela, Miguel Rodriquez Torres, anunciou que os acampamentos haviam sido desmontados. Rodriquez declarou na TV estatal que as 243 pessoas detidas seriam encaminhadas ao tribunal. Rodriguez disse que na operação foram “apreendidas drogas, armas, explosivos, morteiros, gás lacrimogênio, tudo o que utilizam diariamente para enfrentar as forças de segurança”. A decisão foi anunciada horas antes do horário marcado para uma audiência judicial que determinará se o líder oposicionista Leopoldo Lopez, detido desde fevereiro em uma prisão militar fora de Caracas, será julgado por acusações relacionadas aos protestos contra o governo ou se será libertado.
A batida policial foi o ápice de uma escalada repressiva que começou algumas horas antes, na quarta-feira à noite. Na ocasião se soube que a polícia política Sebin (siglas do Serviço Bolivariano de Inteligência) prendia no aeroporto internacional de Maiquetía, que serve à capital venezuelana, Rodrigo Diamanti, dirigente da organização não governamental “Un Mundo sem Mordaza” (Um Mundo sem Mordaça). Já as autoridades venezuelanas tinham vasculhado na semana passada a sede da ONG, cujo trabalho se desenvolve na defesa da liberdade de expressão.
Também ao final da quarta-feira, dia em que havia sido suspensa a quarta reunião do diálogo de paz entre governo e oposição, o órgão diretor das telecomunicações, Conatel, anunciou o fechamento do programa Plomo Parejo, um popular espaço de denúncias e fofocas políticas conduzido na radioemissora capitalina RCR 750 por Iván Ballesteros. De acordo com os porta-vozes do órgão estatal, o programa contrariava o regulamento do setor ao “incitar à violência”.
O mais recente confronto surge no momento em que o Congresso dos Estados Unidos está se aproximando de impor sanções econômicas contra os líderes venezuelanos. Funcionários do Departamento de Estado norte-americano informarão um comitê do Senado na quinta-feira sobre os violentos protestos de rua que abalaram o país nas últimas semanas, e um comitê da Câmara dos deputados concluirá sua versão do projeto de sanções na sexta-feira.
O projeto de lei em debate no Legislativo norte-americano é relativamente modesto. A peça central é um fundo de US$ 15 milhões para a promoção da democracia e do Estado de Direito no país sul-americano. A medida restringiria a concessão de vistos a funcionários do governo venezuelano envolvidos na repressão aos protestos de estudantes e líderes oposicionistas, e congelaria seus ativos nos Estados Unidos.
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O país vem sendo sacudido por uma onda manifestações iniciadas em fevereiro que já causaram 41 mortes em todas as porções do espectro político, causando ferimentos a 785 pessoas. Ao menos 2,2 mil pessoas foram detidas em função dos protestos, nos últimos meses. O governo de Maduro está cada vez mais irritado com as manifestações, e na semana passada anunciou a detenção de 58 estrangeiros, entre os quais um norte-americano, por suspeita de incitação de protestos violentos de rua contra o governo.
Maduro e Rodriguez Torres denunciaram o que descrevem como “complô para promover a inquietação e derrubar o governo”. Os oposicionistas rejeitaram repetidamente as frequentes alegações do governo quanto a tentativas de golpe, definindo-as como esforço para desviar a atenção dos problemas do país.
Sem liberdade
A América Latina não é atualmente o melhor lugar para trabalhar como jornalista. Enquanto entidades denunciam a escalada da repressão na Venezuela, meios de comunicação do Equador se abstiveram de publicar uma ilustração que critica o presidente do país, Rafael Correa. O material gráfico trata da pressão que o governo faz à imprensa e foi produzido pela Associação Mundial de Periódicos e Editores de Jornais (WAN-IFRA) para ser divulgado no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Para os jornalistas do Equador, essa omissão reflete a autocensura a que os veículos de informação do país se submetem. “Os jornais que publicaram os anúncios da WAN-IFRA só colocaram os que se referiam à Etiópia e à China. Não publicaram nada sobre Correa nem na web, nem nos impressos”, disse Diego Cornejo, diretor executivo da Associação Equatoriana de Editores de Periódicos (Aedep) ao Centro Knight de Jornalismo nas Américas.
Já o governo de Cuba, prendeu e acusa de terrorismo quatro exilados cubanos residentes dos Estados Unidos e desconhecidos entre a oposição. A edição digital de terça-feira do diário Granma informou sobre a detenção em Havana. Cuba não revelou as circunstâncias da detenção dos quatro indivíduos, nem as idades ou fotografias dos detentos. Mas assegurou que todos eles “reconheceram que pretendiam atacar instalações militares com o objetivo de promover ações violentas” em Cuba e que com tais fins, “desde meados de 2013, três deles realizavam várias viagens à Ilha para estudar e modelar a sua execução”. Até o momento, nenhum membro das organizações mais ativas do exílio cubano no sul da Flórida diz ter escutado algo sobre os detentos e suas atividades em Miami ou Havana.
“Chamei vários outros grupos e ninguém os conhece. Tudo pode acontecer na vida, talvez façam parte de um grupo independente, mas eu o duvido muito. O estranho deste aparecimento é que acontece em um momento muito conjuntural para o Governo cubano. Tenho o temor de que o regime queira utilizar coisas como estas para justificar represálias contra a oposição interna”, disse ao El País o presidente do Movimento Democracia, Ramón Saúl Sánchez.
Esta nova denúncia de Havana ocorre justamente uma semana depois que o Departamento de Estado dos EUA decidiu manter Cuba, pelo trigésimo segundo ano consecutivo, em sua lista anual de países que patrocinam o terrorismo.
*Informações do jornal Folha de S. Paulo, El País (Edição Brasil) e Gazeta do Povo.