Um dos grandes marqueteiros baianos, Duda Mendonça faleceu na manhã desta segunda (16), aos 77 anos de idade. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para tratar de um câncer cerebral. Em junho, contraiu covid e teve de ser intubado.
Sua trajetória foi marcada pelo trabalho com políticos cujas imagens estavam desgastadas por escândalos, como Maluf, ou pela reputação de “radical”, como Lula. Elegeu ambos, Maluf em 90 e Lula em 2002. Duda também emplacou a candidatura de Pedro Lopes, ex-primeiro-ministro de Portugal.
Colegas de profissão e políticos que trabalharam com Duda recordaram o papel que teve na comunicação política brasileira. O ex-presidente Lula (PT) o classificou como um “gênio”. “O seu trabalho na campanha de 2002 já está na história como uma das campanhas mais bonitas e sensíveis da nossa história. Em um momento em que o Brasil sofria com uma crise aguda, racionamento de energia e miséria, Duda Mendonça produziu filmes e mensagens de muita sensibilidade, de que a esperança venceria o medo”, afirmou em nota.
Mário Kertész, radialista e ex-prefeito de Salvador, também credita ao publicitário a sua vitória nas eleições municipais de 85. “Duda saía do óbvio. Ele buscava o diferente. Não era aquele bolodório de ‘emprego e renda’. Era campanha feita com emoção. Ele era isso”, diz Mário Kertész em entrevista à Rádio Metro1. A campanha de Kertész marcou a estreia de Duda no mundo da comunicação política.
O coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Robério Marcelo Rodrigues, afirma que a ausência de Duda será sentida por todos os comunicadores. “Conhecido por ser um dos grandes nomes do marketing político brasileiro e pelas suas memoráveis campanhas publicitárias, Mendonça foi um dos contribuintes para o reconhecimento do modo baiano de fazer comunicação”.
Para a Bahia, Duda deixa a herança de ter fundado a DM9, uma das principais agências brasileiras de publicidade, e de ter inspirado outros tantos profissionais da comunicação. “O editor deste blog perde um amigo e uma das maiores fontes de inspiração. Foi o genial Duda Mendonça que sugeriu, numa caminhada no Farol da Barra, o nome deste blog: ‘Amilcar, você não tem amigo nem inimigo, você é um repórter’. A partir daí nasceu este blog”, recorda o jornalista José Amílcar, Nem Amigo Nem Inimigo.
Para o Brasil, fica como legado a música “Cheiro de Amor”, gravada por Maria Bethânia. A letra, escrita por Duda em parceria com Paulo Sérgio Valle, foi originalmente formulada como um jingle para um motel. Bethânia a escutou durante uma visita à Bahia, se apaixonou pela canção e pediu a permissão de Duda para gravar. O resultado foi esse.
O cineasta e compositor, Jorge Alfredo, pensa nesse acontecimento como algo que sintetiza o modo como o marqueteiro trabalhou, com emoção e sensibilidade. “Aquele cara que fez um jingle de motel, assim; “de repente, ficou rindo à toa sem saber porque…” , o mesmo cara que com a música de Vinicius de Moraes fez aquela campanha da Óticas Ernesto! O cara que elegeu um metalúrgico Presidente do Brasil! Você vivia a vida com a intensidade dos sábios”.
Informações do Correio* e rádio Metro1.