Por Ernesto Marques*
O renomado restaurador José Dirson Argolo começa a recuperar o retrato de Ruy Barbosa em carvão sobre tela, do renomado artista plástico baiano Presciliano Silva (1883-1965). É uma das preciosidades do acervo do Museu Casa de Ruy Barbosa, criado pela Associação Bahiana de Imprensa em 1949, nas comemorações pelo centenário do nascimento do Águia de Haia.
Ao lado do busto do jornalista e jurista, única peça recuperada das 15 subtraídas em rumoroso arrombamento (out/2018), e de outra dezena emprestada ao Tribunal de Justiça da Bahia para as comemorações pelos 170 anos de Ruy, a obra de Presciliano é o retrato fiel da situação que opõe a ABI e o Centro Universitário UniRuy. O que está fora da Casa, está intacto.
A antiga Faculdade Ruy Barbosa, ainda sob o controle de seu fundador, o educador Antônio de Pádua, assumiu a gestão do Museu. Ao comprar a instituição, a UniRuy, manteve o convênio e assumiu a gestão da Casa em 2011, encontrando-a restaurada, limpa e arrumada.
Em visita ao Museu em junho de 2015, ao lado do então diretor de Cultura da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares, constatamos sinais preocupantes de abandono. Danos aparentes nas paredes sugeriam falta de manutenção do telhado (ver na galeria abaixo). A água infiltrada favoreceu a proliferação de colônias de fungos nos móveis e expositores, contaminando o acervo. Quadros raros de Ruy e familiares também danificados. Cobrado, o Centro Universitário fez reparos limitados no telhado. E só.
Como dito por este jornal, fundado por quem nos doou a Casa de Ruy, precisamos, de fato, crer na boa vontade e no decoro dos gestores do Centro Universitário. Mas, se é preciso ver para crer, basta passar pela frente do Museu há anos fechado para considerar crível a hipótese de abandono. Compreende-se, no entanto, a dificuldade de considerar tal possibilidade. Ainda mais em se tratando de estabelecimento de magistério superior que assume o nome de figura da magnitude do jornalista, jurista, político e diplomata.
Crendo na boa vontade e no decoro dos gestores desse estabelecimento, renovamos o crédito de confiança em 2015. Quem, com a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros, arriscaria fazê-lo hoje, ao ver apenas a fachada do casarão? Apesar dos muitos pesares, seguimos à espera de algum sinal de boa vontade para entendimento mútuo. Começando pela restituição imediata da posse e pela pactuação justa e honesta de formas e meios restituição de imóvel e acervo, a nós confiados por Simões filho e pela sociedade baiana, nas condições encontradas pela UniRuy.
Antes disso, apostamos, como dito no editorial (16.09) deste jornal, na união de todos quantos possam contribuir para zelar pela memória de Ruy, como fez Pádua, a quem a ABI será para sempre muito grata. Cremos na Bahia de Ruy Barbosa.
>> Texto originalmente publicado pelo Jornal A Tarde do dia 25 de setembro.
*Jornalista e radialista, presidente da ABI.
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