ABI BAHIANA

Debate no Intercom mostra que interiorização, plataformas e valorização desafiam jornalistas baianos

Dois representantes da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) integraram, nesta quinta-feira (03), a mesa do Colóquio “A Identidade do profissional da Bahia no jornalismo”. O evento faz parte do VII Encontro Internacional do Colégio dos Brasilianistas da Comunicação, que acontece dentro da programação do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020), este ano organizado em modalidade virtual pela UFBA.

O presidente da ABI, o jornalista Ernesto Marques, e o vice-presidente da Assembleia Geral da ABI, o professor e pesquisador Sérgio Mattos, juntaram-se à professora Suzana Barbosa, diretora da Faculdade de Comunicação da UFBA (Facom), sob a mediação da também professora Tattiana Teixeira (UFSC), para discutirem o presente e o futuro da atuação dos jornalistas da Bahia. 

As palestras dos três convidados se complementaram. Foi possível entender como o jornalismo baiano busca se encontrar entre o nacional e o regional, que seus profissionais querem valorização profissional e cobram maior atuação das entidades de classes, que há uma preocupação com a interiorização da atuação e um interesse de engajamento com as discussões sobre os efeitos de grandes plataformas, como Google e Facebook, no mercado de notícias, além de haver pressões para mudanças na formação dos novos jornalistas. 

Traçando um perfil
Uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos profissionais de imprensa feita pelo coletivo Eu Sou Jornalista em 2017 serviu de ponto de partida para a palestra de Ernesto Marques. O presidente da ABI interpreta que o levantamento independente e a própria articulação do grupo são uma demonstração de que as entidades de classe, como a própria ABI e os sindicatos, precisam buscar se engajar com os profissionais, especialmente os mais jovens, público que, acredita Ernesto, majoritariamente não se identifica e não tem filiação com essas associações. 

Os dados apresentados e comentados por Ernesto, baseados em uma pesquisa com 157 profissionais, mostram, entre outras indicadores, que há jornalistas na Bahia que chegam a trabalhar 12 horas por dia; que há uma taxa de desemprego acima da média nacional na categoria; e que tem se fortalecido o fenômeno da atuação freelancer ou os chamados PJs – contrato de prestação de serviço como Pessoa Jurídica, o que, para Marques, é uma demonstração de uma tendência de informalidade no mercado de comunicação. 

“O maior desafio é a luta e a reivindicação por salário justo, mas é paradoxal, parece uma contradição por conta do baixíssimo nível, que a gente vê na pesquisa, de organização em torno do sindicato que representa a categoria. Essa demanda não pode, em hipótese alguma, ser atendida pela Associação Bahiana de Imprensa por ela ter um outro caráter, inclusive por congregar não apenas profissionais, mas também empresários e dirigentes de empresas de comunicação”, comenta o presidente da ABI. 

Para Ernesto, os jornalistas discutem pouco suas questões, inclusive relata um debate ainda incipiente por parte dos profissionais sobre a necessidade de buscar remuneração das plataformas como Google e Facebook pelos conteúdos produzidos.

Interiorização e identidade
O professor Sérgio Mattos conduziu sua palestra na busca de responder se existe um jornalismo brasileiro, de caráter nacional, se há um modo de fazer particular no Brasil e na Bahia e se a produção local tem se diferenciado da produção do sul do país. Para Mattos, estamos longe de uma homogeneidade. Ele acredita que há uma preponderância de um “sabor” regional nas produções. A partir disso, o pesquisador defendeu que não se pode bater o martelo sobre uma única identidade profissional, mas a necessidade de pensar algo que está em processo, que precisa ser mais estudado e que é variável por conta dos aspectos regionais.

Como professor da UFRB, Mattos ouviu dos colegas da mesa e da participação do público indagações sobre o fazer jornalístico no interior e sugestões sobre a formação de novos profissionais. Sérgio defendeu que o jornalista precisa investir no empreendedorismo, o que teve coro da professora Suzana Barbosa. 

O desafio agora é outro
Pesquisadora do jornalismo em redes digitais, a professora Suzana Barbosa recuperou a memória do período em que, ainda atuando em redações, presenciou as resistências de profissionais baianos para as mudanças na atuação quando o jornalismo “passou a habitar a web”. Resistência essa que também está na memória de Ernesto. Hoje, relatou Suzana, o desafio do jornalismo é achar soluções para um modelo de negócio que resista aos efeitos da dependência de empresas como Google e Facebook para circular as notícias. “É preciso que o mercado, no contexto baiano e de Salvador, pense em como pode inovar. E quando eu digo inovar é para além da tecnologia. É preciso inovar em processos, na produção, em formatos, em linguagem”, sugere Barbosa. 

Suzana fez um chamamento para a ABI, e estendeu também para o SinjorBA (Sindicato dos Jornalistas da Bahia), sobre a necessidade de levar para as escolas de ensino Fundamental e Médio formações que ensinem a leitura correta da mídia e destaque sua importância.

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