A dedicação e a sensibilidade de Edna Nolasco deixaram uma marca permanente na história da imprensa conquistense. É o que se pode constatar ao ler as diversas manifestações de pesar pela morte da fotojornalista nesta quinta-feira (11), vítima de Covid-19. A diretora da Regional Sudoeste do Sinjorba – Sindicato dos Jornalistas da Bahia estava internada desde o final do mês de outubro, sendo transferida para a UTI. Ironicamente, Edna havia desempenhado um papel decisivo na luta pela vacinação dos colegas, em Vitória da Conquista, como destacou o Sindicato em nota divulgada no início da noite.
“Insubstituível companheira de lutas, Edna sempre mostrou espírito combativo, solidariedade e dedicação ao bem estar dos demais. Mesmo já estando vacinada, não descansou um único dia até que as prefeituras fizessem a imunização de todos aqueles que tinham direito”, diz o documento, no qual o Sindicato pede aos jornalistas que continuem atentos. “Não se abstenham dos protocolos sanitários e mantenham os cuidados necessários. Conquistamos a vacina. Mas não vencemos a doença”, alerta.
“Edna será sempre lembrada, não apenas pela profissional que foi. Mas todos os colegas de Conquista e do Sudoeste vão ficar com a imagem de solidariedade e coragem que ela demonstrou na luta por vacinas”, ressaltou Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa.
“Eu conheço essa menina desde os seis anos de idade. Uma lutadora, uma batalhadora do fotojornalismo em Conquista. Ela trabalhou comigo no jornal Hoje, que eu tinha impresso”, destacou o jornalista Paulo Nunes, membro da diretoria da ABI. Em depoimento emocionado, ele também falou sobre o empenho da amiga na vacinação dos colegas. “Teve um cuidado enorme com a gente, na questão da vacinação. Usou a sua própria casa, incluiu todos os profissionais envolvidos com comunicação, blog, rádio… uma coisa bonita”. Ainda sem acreditar na notícia, ele confessou não ter tido condições de publicar nada a respeito. “Embora eu já esperasse isso. Uma perda terrível para nós”, lamentou.
Fotografia é poesia
Filha de fotógrafos, Edna se orgulhava de ter como mãe a primeira mulher a fotografar profissionalmente em Conquista. Ela era a filha mais velha e em mais de uma oportunidade reconheceu a influência dos pais em sua decisão de seguir na fotografia. Mesmo tendo se bacharelado em Direito e passando por diversos cursos, a fotografia sempre “pesou mais”, como disse em entrevista ao colega Gabriel Pires, para a TV Uesb. “Você olha uma fotografia e não precisa de texto nenhum. Fotografar, para mim, é fazer poesia”.
Edna fez do trabalho a sua vida, ao longo de quase cinco décadas dedicadas à profissão. Em agosto de 2020, ela chegou a publicar alguns cálculos em seu perfil numa rede social. “Cerca de 132 mil horas da minha vida clicando, intensa vivência, exercitando o olhar com a fotografia profissional e autoral”. Foram inúmeros workshops, congressos, concursos, publicações em revistas, jornais, tvs, documentários, direção de fotografia e luz em diversos momentos, making of de curtas e longas metragem, ilustração de livros, campanhas publicitárias para muitas agências. Edna fotografou os mais variados temas, sempre atenta às tendências do mercado. Também foi responsável pela formação de diversos profissionais, que aprenderam com ela a “escrever com a luz”.
No mês de outubro, às vésperas do aniversário de 181 anos de emancipação política de Vitória da Conquista, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Comunicação (Secom), criou o concurso Edna Nolasco de fotografia, para homenagear um dos nomes mais importantes do fotojornalismo baiano. No mesmo período, Edna realizou a mostra “Saindo do Armário”, com a comunidade LGBTPQIA+ conquistense. A entrevista concedida à jornalista Lucineia Oliveira sobre a exposição serviu como lição de empatia, amor, respeito pelo próximo.
“Estou buscando a essência de cada pessoa. O fotógrafo tem que buscar isso, a alma. Eu me senti muito privilegiada por ter sido a pessoa que eles procuraram para dar esse apoio. Eu curto muito fazer fotografia e esse tema é tão importante, não somente para a comunidade mas também para as pessoas que estão saindo do armário ou já saíram. É uma forma de a gente ajudar a não existir discriminação em nossa sociedade. A fotografia, se ela não atingir a meta de mostrar a essência no retrato, ela foge totalmente do motivo de se fotografar”.
Confira o Especial Edna Nolasco, exibido pela TV Uesb: