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VI Fórum Liberdade de Imprensa repudia ameaças ao trabalho jornalístico

O 6º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, organizado por Imprensa Editorial, reuniu ontem (6), em Brasília, jornalistas, entidades, professores e estudantes para debater os rumos do jornalismo no país, em ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais. No encontro, que discutiu a cobertura política, a censura prévia nas eleições e a difícil tarefa de conciliar a liberdade de imprensa e os interesses partidários, as investidas de líderes do PT contra a imprensa foram repudiadas.

O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, avaliou que há uma tentativa de distorcer conceitos jornalísticos e jogar a sociedade contra repórteres e empresas de comunicação. “A tentativa de tachar a imprensa de partido da oposição é no mínimo perigosa para a democracia. O grande perigo que o jornalismo enfrenta é essa percepção distorcida da profissão que, infelizmente, alguns líderes importantes estão fomentando”, afirmou.

O segundo painel do Fórum bordou as  censuras judiciais contra a imprensa em anos eleitorais/ Foto: Portal Imprensa
O segundo painel do Fórum abordou as censuras judiciais contra a imprensa em anos eleitorais/ Foto: Portal Imprensa

Nas últimas semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins (Comunicação Social) focaram seus discursos contra veículos de comunicação. Documento elaborado por Falcão sobre a campanha eleitoral classificou a imprensa como “mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição”.

Ricardo Gandour avaliou que a estratégia dos “líderes influentes” desconsidera uma atividade profissional que tem por característica mostrar o que está oculto e incomodar quem está no poder. “Não existe jornalismo que não incomoda”, ressaltou. “Agora, jogar o incômodo natural que o jornalismo provoca, transladado para o conceito de oposição, acoplado à palavra ‘partido’, é uma injustiça contra a imprensa”, completou. “Todos nós precisamos de uma imprensa livre.”

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No evento realizado no auditório do Museu da Imprensa Oficial, Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de S. Paulo, disse que a investida de Lula contra a imprensa se agrava pela força da “figura” política do ex-presidente. Ela observou que a relação entre jornalistas e o PT era muito próxima quando o partido estava na oposição no âmbito federal. “É muito grave quando um líder com a influência e a visibilidade do ex-presidente Lula mantenha o mantra de que a imprensa persegue o bem”, afirmou. “A imprensa é um fator importante para a democracia de qualquer parte do mundo”, completou. “O PT e o Lula incitam manifestações contra nós. O ex-presidente está fazendo um grande mal à democracia.”

Em tom de desabafo, Denise Rothenburg, colunista do jornal Correio Braziliense que acompanha o cotidiano político de Brasília, reclamou do clima gerado contra a imprensa. “Ninguém aguenta mais a acusação de que fazer uma matéria crítica é um golpe”, disse. “O que falta é equilíbrio.” A jornalista Cristina Serra, da TV Globo, disse que a sociedade brasileira vive um clima de litigância e os jornalistas enfrentam pressões da política e do Judiciário. Cristina disse ainda acreditar “no papel de mediação do jornalista”.

post-face_liberdade_500x500pxRicardo Gandour observou que o jornalismo brasileiro fiscaliza os poderes municipal, estadual e federal. Ele afirmou que é natural que o governo central seja mais exposto à fiscalização. “A história está aí mostrando que todos os atores políticos são sujeitos e pacientes da imprensa, que amadure e melhora com a liberdade de informação”.

O jornalista destacou que a estratégia dos políticos de atacar a imprensa aproveita o desconhecimento das novas gerações e dos novos públicos das redes sociais em relação aos gêneros jornalísticos. Ele observou que antes se diferenciava mais um texto editorial, opinativo e informativo. “Eles distorcem conceitos essenciais da imprensa num momento em que a gente pode estar correndo o risco de deseducação midiática na alternância de gerações”, afirmou.

“Há um reducionismo e uma simplificação que ajuda a jogar a opinião pública e a sociedade contra a imprensa.” Avaliou ainda que os veículos de comunicação já passaram, nos últimos tempos, por riscos provocados pela mudança de plataforma, como a fragmentação da publicidade e a transição do impresso para novas mídias. Resta, na análise de Gandour, o “perigo” das investidas dos políticos contra o trabalho dos repórteres e empresas de comunicação.

O Ministro Ayres Brito, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ressaltou que liberdade de imprensa é um valor constitucional. “Não existe liberdade de imprensa pela metade. Ela é plena, e isso significa que é íntegro e não há brecha. A liberdade de imprensa se autoexplica. O artigo 5º da Constituição fala de inviabilidade dos direitos à vida, e que a vida só é inviolável em condições de liberdade, igualdade e segurança. A liberdade vem em primeiro lugar e é referida na Constituição como liberdade de informação jornalística”, destacou o ministro.

Relatórios

O Fórum marcou, ainda, o lançamento do relatório especial sobre a liberdade de imprensa no Brasil elaborado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), uma organização não governamental que monitora violações contra jornalistas de todo o mundo. Ele inclui capítulos sobre a violência e a impunidade, o marco civil e legislação sobre a internet, a censura judicial, obstruções para cobrir os protestos, além das recentes medidas do governo e as conclusões do Grupo de Trabalho. Inclui também recomendações do CPJ para o governo brasileiro sobre a forma de abordar estas questões.

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Outro relatório, apresentado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) vem, desde os protestos de junho de 2013, compilando casos de violações contra jornalistas. A Abraji decidiu ouvir os jornalistas agredidos, presos ou hostilizados nas ruas desde o ano passado e produzir, a partir da experiência deles, um guia prático com algumas informações sobre o que acontece nas manifestações e como os jornalistas podem se proteger.

O levantamento anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), publicado em dezembro de 2013, aponta que a situação da liberdade de imprensa foi “grave” no Brasil. Segundo a RSF, a violência contra jornalistas na campanha para as eleições municipais de 2012 agravou ainda mais a situação, principalmente longe dos grandes centros de poder do País. A imprensa regional está exposta a ataques, violência física contra seus funcionários e ordens judiciais de censura, que também atingem os blogs.

*Informações de Portal Imprensa, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

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