Luis Guilherme Pontes Tavares*
Descontado o tempo de elaboração dos textos, da edição e design da publicação, da impressão, divulgação e lançamento, suponho que seja possível que, à semelhança do que a Imprensa Oficial do Estado (IOE), então dirigida pelo jornalista e político João Pacheco de Oliveira (1880-1951), fez em 02 de Julho de 1923, a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA) seja capaz de organizar e publicar, no 2 de Julho de 2023, edição especial do Diário Oficial comemorativa do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia.
Em 1923, o 1º centenário da Independência foi festejado pela IOE com a publicação de edição especial com cerca de 700 páginas, enriquecida com 53 textos assinados e outros produzidos por redatores da Imprensa Oficial e de outras instituições públicas e privadas. Só para citar alguns dos autores que trataram da conjuntura e da influência que teve o primeiro século do Brasil independente escolhi oito: Francisco Marques de Góes Calmon, que seria eleito governador no ano seguinte; o professor e político José Wanderley de Araújo Pinho; Aloysio de Carvalho e Aloysio de Carvalho Filho, pai e filho, ambos jornalistas e políticos; o historiador Braz do Amaral; o poeta e médico Egas Muniz Barreto de Aragão, conhecido como Péthion de Villar; o professor Octávio Torres e o cronista e engenheiro Silio Boccanera Júnior.
Para a edição de 02 de Julho de 2023, ouso sugerir estes poucos e fundamentais nomes para a espelharem o que fizeram os colaboradores da edição de 1923, tratando da conjuntura e da influência que recebeu do século anterior. Eis os nomes e respectivas áreas de exame: Armando Avena (Economia); Sergio Siqueira (Cultura); Eduardo Salles (Agricultura); Nivaldo Andrade (Arquitetura); Wlamyra Albuquerque (História); Luiz Freire (Artes Plásticas); Manoel Barral Netto (Medicina); Maria Teresa Navarro de Brito Mattos (Documentação & memória); e Nelson Pretto (Educação). Com esses nove nomes, abro a lista que poderia se assemelhar em número e qualidade à relação de convidados de cerca de 100 anos atrás.
Edição fac-similar de 2004 – Há 17 anos, o governador de então autorizou à Secretaria da Cultura e Turismo, através da Fundação Pedro Calmon (FPC)/ Centro de Memória e Arquivo Público, a publicar edição fac-similar (impressa e digital) do DO de 1923. Na ocasião se constatou que restavam poucos e já danificados exemplares, sob os quais se debruçavam com frequência pesquisadores nacionais e estrangeiros. A edição fac-similar tem nas páginas iniciais as apresentações assinadas pelo secretário Paulo Gaudenzi; pelo diretor da FPC, escritor Claudius Portugal; e pela diretora do Arquivo, professora Marli Geralda Teixeira. A introdução foi elaborada pelo professor Cândido da Costa e Silva, da FFCH/UFBA.
A apresentação do secretário Paulo Gaudenzi (1945-2004) esclarece: “No intuito de conservar os exemplares restantes do histórico Diário Oficial – que se encontram ameaçados de deterioração pelo intenso manuseio –, preservar a memória histórico documental e, principalmente, facilitar o acesso a tão importante documento, é que o Governo do Estado da Bahia, por intermédio da Secretaria da Cultura e Turismo e da Fundação Pedro Calmon, traz a público esta edição”. Em sua introdução, o professor Candido Costa e Silva, como que complementando o texto do secretário, acrescenta o seguinte comentário sobre os convidados do DO do centenário: “Oitenta anos adiante, imaginava fossem mais evidentes as referências aos colaboradores. O tempo, porém, foi mais esponja do que buril”.
Aprendi a valorizar o DO comemorativo do centenário da Independência do Brasil na Bahia nas pós-graduações que cumpri desde o final da década de 1980 até o início da década 2000. Em ambas, estudei a IOE – denominada depois de Imprensa Oficial da Bahia (IOB) e EGBA. Em 2005 e 2008, quando organizei a 1ª e a 2ª edições do Apontamentos para a história da Imprensa na Bahia, tive a oportunidade de incluir dois textos originais do DO de 1923: “A Imprensa na Bahia em cem anos”, do jornalista Aloysio de Carvalho (Lulu Parola) e “Imprensa Official do Estado”, do redator Honestilio Coutinho, textos que se avizinharam no famoso DO, um iniciando na página 215 e o outro na página 219.
Valorizemos, pois, o tesouro de informações que é o DO de 1923 e tentemos, quiçá, fazer com que a edição do DO comemorativa do bicentenário venha a ser tão admirável como a anterior.
Oxalá!
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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da
ABI. [email protected]
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