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Jornalista Letícia Dornelles visita o Museu Casa de Ruy Barbosa

Na manhã desta terça-feira (13), a jornalista e escritora Letícia Dornelles, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), visitou o Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro Histórico de Salvador (BA). A gestora foi recebida na sede da Associação Bahiana de Imprensa pelo vice-presidente da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares, e pelo diretor do Departamento Casa de Rui Barbosa, Jorge Ramos. A visita também contou com a bibliotecária da Fundação, Luziana Lessa, e os advogados Ricardo Nogueira e Lucas Castelo Branco, representando o Instituto dos Advogados da Bahia (IAB). Na tarde de hoje, às 16h, Letícia Dornelles ministrará a palestra “Ruy Barbosa e a Corte de Haia”, no Museu de Arte da Bahia (MAB).

Gaúcha de Uruguaiana, além de novelista, Letícia Dornelles é jornalista, apresentadora com passagens pelas principais emissoras do país. Assumiu em 2019 a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, instituição que, assim como o Museu Casa de Ruy Barbosa, na Bahia, reúne documentos que reconstituem importantes transformações socioculturais do Brasil. Em entrevista à ABI, Dornelles destaca o legado do ilustre jurista baiano, semelhanças entre os espaços culturais e a necessidade de preservação da memória nacional.

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Confira a entrevista:

Depois de conhecer o Museu Casa de Ruy Barbosa, qual a sua impressão sobre acervo sob a guarda da ABI?

Eu fico impressionada com a qualidade dos documentos que a ABI possui. Algumas cidades brasileiras têm ilustres pensadores e não preservam sua memória. A Bahia honra os seus nativos, os seus ilustres personagens e isso é importantíssimo para a memória do Brasil. Um país sem memória é um país invisível. Um povo precisa preservar seus documentos importantes para que as futuras gerações saibam de sua história por quem a escreveu.

Quais os paralelos possíveis entre os acervos da Fundação Casa de Rui Barbosa e o nosso Museu Casa de Ruy Barbosa?

A Fundação Casa de Rui Barbosa tem uma estrutura grande porque tem recursos, e a casa onde Ruy nasceu tem um outro tipo de preservação. O aspecto físico do ambiente está necessitando de reformas, mas o que se encontra dentro é a alma de Ruy Barbosa, é o espírito dele, é a vivência dele na infância, são as memórias de uma família que criou um grande brasileiro, que aos cinco anos já era tido por seu professor como um gênio. Um casa que preserva essa aura da família já vale por si só uma visita.

Enquanto jornalista e dramaturga, a senhora tem uma relação de mais de 30 anos com os setores cultural e artístico. Como se sentiu ao ter contato com esse acervo?

Emocionante, porque eu sempre peço permissão a seu Ruy, quando eu entro na Fundação. Eu respeito o lugar onde ele trabalhou, viveu e foi feliz. Quando eu entrei na casa onde Ruy nasceu, o sentimento que eu tive foi quase como se eu estivesse visto a criança bricando naqueles corredores e já pensando no seu futuro. Com certeza, uma criança brilhante como Ruy Barbosa conseguia visualizar o que seria no futuro. Ele era uma pessoa inspiradora.

Qual o principal legado do jurista e sua importância nos dias atuais?

Eu não dato Ruy Barbosa, ele é um homem atemporal. Qualquer tempo pode se servir da obra dele, do pensamento ruyano, não só para trabalhar, mas para viver. Ele ensina como um grande personagem pode conduzir sua vida com ética, com dignidade, com respeito aos direitos humanos e à justica. Ele lutava pela liberdade não apenas das nações, mas das pessoas. Era um abolicionista. Ele respeitava a dignidade humana. Hoje, nós precisamos muito dessa solidariedade, generosidade, de um olhar carinhoso e afetuoso para o povo. E Ruy tinha isso. Ruy Barbosa não é um baiano. A gente roubou ele, viu? Ele é carioca, ele é brasileiro integral, ele é um cidadão do mundo.

Entidades baianas, num movimento iniciado pela ABI, estão unidas para celebrar o centenário de falecimento de Ruy, em 2023. No entanto, diversas iniciativas esbarram na falta de recursos e incentivo, principalmente por parte do poder público. Como a senhora avalia esse descaso com a memória?

Uma vergonha. Um país que tem Ruy Barbosa deveria honrá-lo diariamente. As pessoas, às vezes, citam Barbosa por uma frase que tiram do Google. Ruy Barbosa não é Google, ele é um pensador. Ele pensava o país. Quando ele caminhava pelos jardins de sua casa, estava pensando num país melhor para nossas crianças, nossas mulheres, para os negros do Brasil, para todos aqueles que se sentiam excluídos da socidade.

O que representa a sua visita à casa onde Ruy Barbosa nasceu?

É uma honra. Acho que devemos sempre trabalhar em parceria. Há algum tempo venho a Salvador por causa de Ruy Barbosa. Em 2019, nos 170 anos de seu nascimento, fizemos um evento, em associação com o Tribunal da Justiça, com o Fórum Ruy Barbosa. Enviamos acervos de Ruy para uma grande exposição que ficou exposta durante um tempo. Uma vez conhecendo Ruy a gente se apaixona de tal maneira que não pensa em outra coisa. Essa ligação da casa onde ele trabalhou durante grande parte de sua vida, escreveu a primeira Constituição da era republicana, está intimamente ligada à casa de Salvador, onde ele nasceu e vivem os 16 primeiros anos de vida. Eu cheguei a sentir o cheiro do bolo que a mãe de Ruy fazia quando entrei na casa onde ele nasceu. É lindo, poético e é de coração.

O que a Fundação tem feito para disseminar a importância de Ruy?

Eu consegui levar uma exposição sobre Ruy Barbosa à ONU, em Nova York. Meu trabalho foi destaque lá. Fizemos 10 painéis com a vida e a obra de Ruy Barbosa, um discurso para 200 delegados, conseguimos traduzir nos seis idipmas da ONU a obra principal de Ruy, que é a Oração aos Moços. Levamos Ruy ao mundo mais uma vez. Porque ele é conhecido. A gente precisa estar sempre relembrando, trazendo à tona aqueles que estão um pouco submersos, porque, às vezes, a gente vê tantas pessoas medíocres com visibilidade, e um brasileiro como Ruy Barbosa não é citado nos livros de História, nas escolas. Para se ter uma ideia: na casa dele, a cadeira principal da mesa era da mulher. Ele honrava as mulheres, num tempo em que as mulheres não tinham direito a voto. Com isso, você vê o grande ser humano que ele era.

Sua palestra desta tarde é sobre a participação de Ruy na Corte de Haia, na Conferência da Paz. Qual a sua leitura acerca do discurso do jurista na ocasião?

Quando ele foi à II Conferência de Haia, na Holanda, em 1907, ele deu voz às nações que não tinham voz, que não tinham representatividade. Ele entrou como um coadjuvante e saiu de lá como o ‘Águia de Haia’, como protagonista. Ele hoje provavelmente seria um dos homens mais respeitados do mundo, uma pessoa ouvida pelos grandes líderes da humanidade. Ele pensava em semear o país para o futuro. Tanto que em sua casa, no Rio, ele plantou uma lichia, que demora às vezes um século para nascer e dar frutos. Ele não colheu esses frutos. É o maior sinal de generosidade, porque ele sabia que no futuro alguém ia provar daquela lichia. Ruy semeou cultura, semeou justiça e igualdade social e direitos humanos, que nós colhemos ao longo dos anos.

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