Notícias

Abraji lança curso online de jornalismo local

Uma pesquisa feita pelo ​Atlas da Notícia​ mostra que há vastas regiões do país onde a imprensa local inexiste. Em muitos outros lugares, ela está em crise ou é dominada por grupos políticos ou religiosos. Com o objetivo de contribuir para revigorar a imprensa local, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) está lançando o ​Jornalismo Local Sustentável​. O curso online é voltado para profissionais que trabalhem em meios de comunicação de abrangência local ou que tenham projetos para empreender nesse setor. Gratuito e aberto a jornalistas, o ​Jornalismo Local Sustentável​ será realizado em oito semanas, entre 21 de outubro e 13 de dezembro de 2019. As inscrições podem ser feitas até o dia 18 de outubro de 2019.

O conteúdo será desenvolvido em quatro módulos: ​Jornalismo local de qualidade​; ​Territórios e comunidades​; ​Ferramentas digitais para jornalistas​; e ​Jornalismo economicamente sustentável​.

Nesses módulos, os participantes serão conduzidos por uma equipe de professores experientes para revisar os fundamentos do jornalismo; explorar novas linguagens como dados, podcasts e vídeo produzido com smartphones; dominar técnicas para analisar redes sociais e fazer gestão de comunidades de leitores; conhecer ferramentas digitais que darão produtividade ao trabalho jornalístico; entender como funciona uma empresa de mídia e seus modelos de negócios; e aprender a usar técnicas e ferramentas para medição de audiência.

Com coordenação acadêmica de Sérgio Lüdtke, o programa prevê componentes como Jornalismo de dados, Podcast, Vídeo, Storytelling, Questões legais na internet, Segurança Digital, além de Visão empreendedora, Modelos de negócios e Noções de tecnologia para jornalistas. Os conteúdos estarão disponíveis em formato de vídeo, texto e indicações de leitura complementar. O curso é uma parceria com o Facebook Journalism Project.

O formulário de inscrições e a lista de espera para estudantes estão disponíveis no ​site do curso Jornalismo local sustentável​. O número de participantes é limitado a 3 mil profissionais. Caso esse número não seja alcançado, a Abraji abrirá a participação a uma lista de espera criada para estudantes de jornalismo.

 Formulário para profissionais

Formulário para estudantes

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Série Lunar recebe o Grupo de Violoncelos da UFBA

A Série Lunar, projeto criado pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) em parceria com a Escola de Música da UFBA (EMUS) chega à quinta edição. O evento, que já é admirado pelos amantes da boa música, vai contar com a apresentação do Grupo de Violoncelos da UFBA. A série acontece no dia 16 de outubro, às 19h, no Auditório Samuel Celestino, na sede da ABI (Praça da Sé – Centro).

Criado em 2016, o Grupo de Violoncelos é um projeto de extensão da EMUS/UFBA, idealizado é coordenado pela professora Suzana Kato. O grupo tem como principal objetivo, promover o desenvolvimento do ensino do violoncelo, tendo a prática de conjunto como principal elemento motivador, divulgando o amplo repertório existente, além de integrar alunos do bacharelado de Instrumento e de outros cursos de extensão e pós-graduação.  Em seu repertório, grandes clássicos de Chiquinha Gonzaga, Alfredo Moura, Miguel Angel Scebba, Villa Lobos, entre outros.

Em edições anteriores, a Série Lunar apresentou a Orquestra de Violões da UFBA, o Quarteto Gamboa, a cantora Ana Paula Albuquerque e, no mês de setembro, o Madrigal da UFBA. A programação segue até o mês de dezembro, sempre em noites de lua cheia.

SERVIÇO

5ª edição da Série Lunar - com Grupo de Violoncelos da UFBA
Dia 16/10, às 19h
Local: Auditório Samuel Celestino (8º andar da sede da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) – Rua Guedes de Brito, 1 – Edifício Ranulpho Oliveira, Praça da Sé (Centro)
Informações: [email protected] | (71) 98791-7988
Entrada franca
publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

“Future-se”: Reitor em exercício da UFBA fala na ABI sobre os impactos do projeto

“Como é possível pensar o futuro sem pensar o presente?”, questionou o economista e professor Paulo Miguez, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), durante reunião da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), na manhã de hoje (10). O reitor em exercício foi recebido pela entidade para falar sobre o “Future-se”, projeto do Ministério da Cultura (MEC) que prevê, entre outras mudanças, a possibilidade de cessão de “naming rights” (direitos de nome, em português) de universidades públicas a empresas privadas (ler minuta aqui). A participação de Miguez integra o ciclo “Temas Diversos”, projeto mensal da ABI onde acontecem debates para discutir assuntos relevantes sobre imprensa e sociedade.

A proposta quer alterar o modo de financiamento do Ensino Superior público no Brasil, ao ampliar o papel das verbas privadas no orçamento das universidades. O projeto apresentado pelo MEC, no dia 17 de julho de 2018, também relaciona a permissão para as universidades celebrarem contratos de gestão compartilhada do patrimônio imobiliário com empresas privadas; a criação de fundos patrimoniais com doações de empresas ou ex-alunos, para financiar pesquisas ou investimentos de longo prazo; e a criação de ações de cultura que possam se inscrever em editais da Lei Rouanet ou outros de tipos de fomento.

De acordo com Paulo Miguez, o projeto destrói os pilares da universidade pública e não se sustenta juridicamente. “Tem pouca possibilidade de prosperar porque é inconstitucional. Ele prevê, entre outros pontos inaceitáveis, a abertura dos hospitais universitários ao atendimento privado. Sabemos da necessidade de um programa que enfrente os problemas das instituições de ensino, mas esse não é o caminho”, avalia. “O Future-se inviabiliza a assistência estudantil, a expansão e a diversidade, torna insustentável o tripé ensino-pesquisa-extensão, e compromete a autonomia da universidade”, explicou.

Sufoco orçamentário

Miguez apresentou a estrutura da UFBA e ressaltou a importância de “desmistificar a ideia de que o professor universitário não trabalha e é bem remunerado”. Ele ironizou o argumento de Abraham Weintraub, ministro da Educação, sobre as universidades estarem promovendo “balbúrdia” em seus campi. “A Universidade adora uma balbúrdia, mas nunca a barbárie”, disse.

Ele denunciou ataques à universidade e as tentativas de “quebrá-la”, por meio de contingenciamentos e bloqueios de verbas. “O sufoco orçamentário a que estamos submetidos no governo atual prejudica o funcionamento de uma instituição que contribui para a redução da desigualdade. A universidade é um projeto de futuro da sociedade. Não é propriedade de nenhum governo. Uma imprensa livre e uma universidade crítica são fundamentais para a vida democrática”, enfatizou.

Miguez também destacou o caráter combativo da ABI e sua atuação nos períodos de censura no Brasil. “Os conselheiros da ABI, como representantes de um importante segmento da sociedade, são fundamentais para que os baianos compreendam o papel relevante da universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade”.

Walter Pinheiro, presidente da ABI, e Paulo Miguez – Foto: Joseanne Guedes

Segundo o presidente da ABI, Walter Pinheiro, a imprensa tem um papel forte e não tem se omitido nas denúncias. Ele também destacou “os sucessivos erros cometidos pelo MEC” e a “dança das cadeiras” na pasta. “Seria bom se os governantes pudessem exercitar aquilo que prometeram antes de serem eleitos. Não tem esse que, em campanha, não reconheça a importância educação. Quando eles sentam na cadeira, as coisas mudam. Infelizmente, o MEC deste governo tem desacertado constantemente”, criticou.

“Espero que este debate contribua para que a imprensa compreenda as possíveis implicações do Future-se como uma ameaça à educação superior no país, trazendo à luz as ambiguidades e incertezas não suficientemente esclarecidas pelos seus proponentes”, afirmou Paulo Miguez. “É preciso que a sociedade compreenda, sem sombra de dúvida, a ameaça que o projeto pode representar para o futuro da educação pública superior do Brasil, a partir da discussão de suas proposições nos mais diversos fóruns”, pontuou.

Rejeição

A maioria das universidades federais já decidiu não aderir ao Future-se ou manifestou críticas ao programa. As principais críticas das instituições estão concentradas na perda da autonomia acadêmica e financeira, uma vez que os contratos de trabalho ou para pesquisas seriam fechados por meio de organizações sociais (OSs).

A UFBA ainda não emitiu comunicado. No dia 29 de outubro, às 14h, uma reunião extraordinária do Conselho Universitário (Consuni), será realizada no Salão Nobre para definir o posicionamento oficial da instituição. “Não fomos consultados e a minuta do projeto veio em tom de chantagem, embora o ministro tenha dito que a adesão não é obrigatória. Tivemos uma atitude cuidadosa e pedimos que as unidades analisem antes de nos pronunciarmos formalmente”, completou Miguez.

O Ministério Público Federal ingressou com Ação Civil Pública na Justiça para que o MEC realize Consulta Pública sobre o programa Future-se, obedecendo as regras estabelecidas pela lei. O MPF quer que o MEC refaça a Consulta Pública sobre Future-se e ouça a sociedade. A petição ressalta que a Consulta foi realizada por uma organização social, embora a legislação determine que consultas públicas sejam efetuadas, em todas as suas etapas, pelo Poder Público. Segundo o MPF, o MEC encaminhará ao Congresso Nacional propostas obtidas através de consulta irregular.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Livros “raros” furtados da Biblioteca Jorge Calmon são devolvidos

Por Ernesto Marques*

Entre aficionados por livros, diz-se que livro raro é todo aquele que, uma vez emprestado, é devolvido. O que dizer, então, de livros furtados, devolvidos a uma biblioteca? É o caso de três títulos da coleção do pai da crítica cinematográfica brasileira, Walter da Silveira, cuja biblioteca pessoal integra o acervo da Biblioteca Jorge Calmon, da Associação Bahiana de Imprensa. “Plano 2-3” título de uma edição dos Cadernos Antológicos de Cinema e Teatro, “A aventura do Cinema” e “Menaces – sur le cinema” foram deixados como encomenda anônima na recepção do Ed. Ranulfo Oliveira alguns meses atrás. Devolvidos assim, quase tão furtivamente quanto foram subtraídos do acervo da Biblioteca, quase 20 anos atrás.

O larápio arrependido não precisou a data exata do furto, mas a “confissão” se deu numa noite de abril ou maio de 2003. No meio de uma maratona para editar um documentário sobre o Vale do Pati, lugar especialmente encantado da Chapada Diamantina, pausa para uma pizza, depois de longas horas em frente aos monitores da ilha de edição.

O produtor e aspirante a assistente de direção providenciou pizza e refrigerantes para todos. Extasiados com as imagens capturadas em seis dias de caminhada pelo diretor de fotografia, Fábio Marconi, e a singeleza do depoimento de Seu Massú, patizeiro sábio e resiliente, discutíamos os rumos do meu roteiro para o filme dirigido por Péricles Palmeira. Referências de documentários, filmes e diretores. A câmera na mão de Dib Lutfi elevou a conversa para as técnicas de fotografia em cinema e aos livros sobre o assunto.

Eis que o aspirante a assistente de direção, querendo fazer bonito na cena, resolve se gabar, narrando visita à biblioteca da ABI – como se referia à Biblioteca Jorge Calmon. Lá estavam cerca de 500 títulos sobre cinema, comprados junto à família de Walter da Silveira alguns anos após sua morte. Discorreu sobre o acervo com empolgação e destacou o que considerava o melhor do melhor: não era possível pegar livros por empréstimo, mas era fácil roubar, porque não havia câmeras. Bastava um instante de desatenção dos funcionários para destacar páginas ou esconder livros na mochila.

Ouvia um testemunho precioso, que não ouviria se aquele larápio soubesse da minha relação com a entidade e com a própria Biblioteca Jorge Calmon. Até que veio a confissão do crime: tinha levado alguns livros e vandalizado outros.
Aliviei no tom, mas não nas palavras. “Você se acha muito esperto por ter abusado da confiança da bibliotecária, mas, como malandro demais se atrapalha, você confessou o roubo para um diretor da ABI”. Os demais rolavam de rir com a cara do sujeito.

E avisei: se não devolvesse os volumes roubados, era melhor nunca mais aparecer por lá, ou eu o constrangeria, pedindo aos funcionários para não tirar os olhos dele. “A ABI faz um esforço para manter o acervo em boas condições e acessível a pessoas como você, para ter aquele comportamento como retribuição? Não tem vergonha de contar um ato covarde e desonesto como se fosse um grande feito, diante de pessoas que poderiam se interessar por pesquisas na área?”

Passei quase mais de 15 anos encontrando o sujeito em eventos ou via redes sociais e sempre cobrava a devolução, mas nunca o expus. Quando, em 16 de setembro de 2015, a família Walter da Silveira nos doou todo o acervo, mandei mensagem para o dito cujo e reforcei a cobrança. Prometeu devolver algumas dezenas de vezes, sempre com desculpas criativas. A última: após mais uma separação, os livros estavam em alguma caixa, mas sabia onde.

Um belo dia nos “encontramos” numa rede social, comentando uma postagem do jornalista e editor de livros, Gonçalo Jr. O assunto era corrupção e o ladrão de livros fez um comentário falso-moralista. Respondi duramente com indiretas compreensíveis somente ao meliante. Gonçalo não entendeu a minha virulência e eu expliquei em mensagem privada. Talvez isso tenha ajudado o sujeito a refletir sobre seus mal feitos. Talvez Gonçalo o tenha repreendido, por serem amigos. Ou foi aquela velha história de água mole em pedra dura – neste caso, em cara dura.
O importante, descontada a demora, é que o ladrão arrependido, ainda que tardiamente, devolveu três livros. Não estou seguro de serem todo o produto do furto e não há como sabê-lo.

E o acervo de Walter da Silveira está lá, sendo restaurado página por página, livro por livro. Já chegamos a investir R$ 3 mil no restauro de um único livro. Sem apoios ou patrocínios. Dele se serviram o jornalista Cláudio Leal, em sua pesquisa para o mestrado na USP; a professora da Uneb, Isabel Melo, no seu doutorado; a jornalista e professora da UFRB, Cyntia Nogueira. Coordenando uma equipe de pesquisa, ela finaliza um trabalho de fôlego sobre o pai da crítica cinematográfica brasileira e marejava os olhos, emocionada a cada foto, carta ou rabisco do mestre, guardados em caixas há décadas. Um tesouro redescoberto aos poucos. Porque formar acervos bibliográficos, documentais ou de qualquer natureza, só faz sentido se for para isso: compartilhar e produzir conhecimento.

*Jornalista e vice-presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). Texto originalmente publicado no Facebook do autor, no dia 7 de outubro de 2019.

publicidade
publicidade