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‘Satisfação com democracia tem a ver com economia e escolaridade’, diz pesquisador

Nos últimos anos, vários pesquisadores descobriram evidências de que a saúde da democracia está em declínio ao redor do mundo, usando termos como “derrocada democrática” ou “recessão democrática” para descrever uma deterioração dos direitos democráticos e institucionais. O Pew Research Center, centro de estudos com sede em Washington (EUA), conduziu uma investigação em 34 países, com mais de 38 mil pessoas, sobre a satisfação com a democracia. A pesquisa, realizada entre 13 de maio e 2 de outubro de 2019, concluiu que a satisfação dos cidadãos com a democracia está diretamente relacionada ao desempenho econômico de seus países, à escolaridade e à presença ou ausência do partido que apoiam no governo.

O apoio à liberdade de imprensa aumentou significativamente em algumas nações onde organizações como os Repórteres Sem Fronteiras e V-Dem têm documentado o declínio da liberdade midiática ao longo dos últimos sete anos, como na Turquia. Mas no Brasil, a história foi diferente. Enquanto a imprensa tem sofrido ataques do presidente Jair Bolsonaro e aliados, inclusive com insultos pessoais a jornalistas, o levantamento apontou a queda no apoio à liberdade de imprensa no país: 60% dos brasileiros entrevistados disseram considerar muito importante que a imprensa possa reportar as notícias sem sofrer censura. Em 2015, o apoio era de 71%.

O resultado também vai na contramão de outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, mesmo com os ataques constantes do presidente Donaldo Trump contra a imprensa, o índice de pessoas que defendem a imprensa livre cresceu 13 pontos percentuais e atinge 80% da população, mesmo índice da vizinha Argentina. Na França, 75% valorizam a liberdade de imprensa, enquanto 77% da população do Reino Unido a consideram importante.

O percentual de brasileiros insatisfeitos com o funcionamento da democracia no país passou de 83% para 56% período. Em entrevista concedida ao Estadão, o pesquisador Richard Wike, diretor do setor de Pesquisas de Atitudes Globais do Pew, destacou que a satisfação com a democracia tem  a ver com a economia e escolaridade. “O quão felizes estamos ou não com a democracia tem a ver com o desempenho da economia. Se você acredita que ela está em boa forma, tende a estar mais satisfeito. Algumas vezes, vemos que a insatisfação com a democracia diminui logo após uma eleição, o que foi o caso do Brasil”, diz Wike. “No país, a insatisfação caiu ao longo de todo o espectro ideológico, mas o declínio foi especialmente acentuado entre pessoas que se identificam como de direita”, analisa.

O apoio a eleições livres e imparciais caiu sete pontos percentuais no Brasil, na comparação com 2015, e ficou em 64%. Outros países que tiveram quedas fortes no período foram Itália (-14%) e Rússia (-17%). Apenas 36% dos brasileiros ouvidos disseram defender que partidos de oposição possam atuar de forma livre, e 52% afirmaram valorizam as entidades de defesa dos direitos humanos.

O objetivo do estudo foi entender a importância de nove valores democráticos: justiça igualitária, igualdade de gênero, liberdade religiosa, eleições regulares, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade na internet, liberdade de atuação de grupos de direitos humanos e liberdade de atuação de partidos de oposição.

Entre os princípios democráticos analisados, a livre atuação de partidos políticos de oposição foi o que apresentou menor importância para os entrevistados, inclusive entre os brasileiros. Outro princípio que foi mal foi o de atuação livre de organizações de direitos humanos. “Eu acho que o que nós vemos é que, quando se trata de sociedade civil, esses dois princípios são encarados como de menor prioridade, se comparados a outros, como liberdade religiosa, de expressão, ou igualdade de gênero, por exemplo”, ressalta Richard Wike.

Leia o estudo completo aqui

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90 anos de Anízio Carvalho

Era novembro de 1968. O governador da Bahia, Luís Viana Filho, desfilava em carro aberto ao lado da monarca inglesa Rainha Elizabeth II, pelas ruas de Salvador. Umas das paradas do conversível Lincoln 1935 projetaria Anízio Carvalho como um dos mais respeitados nomes da fotografia brasileira. “Liguei o automático, botei a Rolleiflex de cabeça para baixo. Quando ela colocou a perna para fora do carro, eu tossi para disfarçar o disparo e esperei. Tinha minha foto”, se diverte o velho Anízio, ao narrar como conseguiu a célebre foto que estampou diversas publicações mundo afora. O dono do registro do “joelho imperial” completa 90 anos neste domingo, dia 23 de fevereiro, e contou que seu maior desejo é a valorização e preservação do acervo reunido em 60 anos de atuação plena como repórter fotográfico.

Luís Viana Filho presenteia a Rainha Elizabeth com balangandãs de prata – Foto: Anízio Carvalho

Enquanto Anízio descreve o flagrante da rainha como sua “maior alegria”, ele confessa que o episódio mais marcante dos seus anos em campo foi um clique que não chegou a fazer: assistiu ao assassinato do guerrilheiro Carlos Lamarca, em Brotas de Macaúbas, em 1971, mas foi impedido de fotografar pelos soldados do Exército. “Não digo que foram traumas, mas fui marcado pelas vezes que testemunhei mortes e não pude ajudar”, lamentou. Essas foram apenas algumas das milhares de histórias que ele congelou em P&B com suas lentes ágeis, sempre atentas aos acontecimentos. “A fotografia autêntica é em preto e branco”, enfatiza o decano, que encontrou na fotografia sua profissão e seu hobby.

Foto: Romildo de Jesus

Anízio Circuncisão de Carvalho nasceu em Conceição da Feira, interior da Bahia, de uma família humilde que trabalhava no ramo da construção civil. Quando decidiu tentar a sorte longe de casa, seu pai, Manuel, lhe impôs uma condição. “Ele me disse que eu só ia para a Bahia [como Salvador era conhecida na época] se tivesse como me sustentar e ser alguém”, lembra Anízio. Assim que chegou a Salvador, na década de 1940, ele foi trabalhar como doméstico para a família do fotógrafo Leão Rosemberg. “Deus me iluminou”, constata. Não demorou e Anízio estava no “foto” [assim eram chamados os estúdios e laboratórios], aprendendo os segredos da profissão. De lá, foi para o extinto Jornal da Bahia (JB), em 1957. “Trabalhei com Valter Lessa, Domingos Cavalcanti, Aristides Baptista [filho de Gervásio Baptista, o ‘fotógrafo dos presidentes’] e outros grandes da área”, relembra, orgulhoso de sua trajetória.

REFERÊNCIA

A postura profissional colocou Anízio nas pautas mais importantes. E ele não descansava enquanto não conseguia a foto que tinha na cabeça, sem preocupações com o horário de acabar o trabalho. “Sempre digo aos meus filhos que eles tiveram um excelente pai a vida inteira, uma referência. Pessoa boa, cuidadosa, atenciosa, sensata. Tivemos paciência um com o outro, consideração, respeito. Sem essas coisas, não há relação que dure”, defende Dona Tereza (80), com quem Anízio de Carvalho é casado há 63 anos e tem seis filhos. “Tive que lidar com a rotina da profissão dele, às vezes, chegando tarde, na madrugada. Eu recebia de braços abertos. Ele sempre foi muito companheiro”, elogia a esposa.

Filho mais velho do casal, Iguatemi Circuncisão (62) teve oportunidade de acompanhar o pai no cotidiano da profissão. Aos 11 anos, ele começou a testemunhar das ruas a magia da fotografia. “Ele dizia ‘eu sou bom’ e trabalhava para ser o melhor. É exemplo para todos nós, muito ético, honesto, sempre pé no chão. Chegou à Secretaria de Comunicação do Estado através de Juracy Magalhães, mas manteve a lucidez. Dizia sempre ‘rei morto, rei posto’, porque sabia que todos são prestigiados quando estão na ativa”, recorda o administrador. Iguatemi se orgulha por seu pai ter participado de mostras individuais e de exposições coletivas, e destaca a homenagem recebida pelo Museu Afro-Brasil, em São Paulo.

Anízio exibe sua inseparável Rolleiflex – Foto: Lucas Rosário

Não é só a família que tem Anízio de Carvalho como referência. Ele conquistou o respeito dos colegas de profissão, sendo muito admirado principalmente pelos mais jovens. “Ele foi um companheiro muito leal, decidido, de personalidade. Enfrentou muitas batalhas, com coragem e determinação”, afirma o fotojornalista Valter Lessa, diretor da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). Segundo ele, o amigo foi um grande incentivador dos novatos. “Amava os companheiros como se fossem seus filhos, orientou e ensinou aos mais novos, levando sempre a tiracolo sua inseparável Rolleiflex e uma grandiosa carga de respeito e ética. Um caráter invejável. Com sua humildade, não foi difícil transmitir os caminhos da nossa profissão”, disse.

“Conheci Anízio em 1985. Aprendi fotografia no foto dele, que ficava no Relógio de São Pedro. Ele me indicou para o laboratório da Tribuna da Bahia em 86, onde sigo como repórter fotográfico até hoje. É uma pessoa que sempre gostou de ajudar e continua sendo humilde”, relata Romildo de Jesus, discípulo de Anízio.

Para Roque Leônidas (49), presidente da Arfoc-BA (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado da Bahia), o decano é uma “lenda viva do fotojornalismo baiano e brasileiro”. Anízio foi presidente da entidade de 70 anos por dois biênios e hoje integra o Conselho. “É uma felicidade tê-lo conosco, recebendo homenagens, vivo para se emocionar. Ele é um baluarte da Arfoc e eu sou um jovem aprendiz nessa construção. Ele escreveu essa história através de suas fotos”, observa o repórter cinematográfico.

“A Bahia rende todas as homenagens a Anízio de Carvalho, um dos maiores profissionais da fotografia, atividade para a qual dedicou mais de 60 anos de sua vida. Ele teve a oportunidade de realizar grandes coberturas. Um brilhante profissional que enobrece a arte da fotografia na Bahia”, comemora Walter Pinheiro, presidente do jornal Tribuna da Bahia e da Associação Bahiana de Imprensa, instituição que também completará 90 anos em 2020.

DORES E PROMESSAS

Anízio toma oito remédios diariamente, para controlar a pressão, para amenizar suas dores na coluna e ajudar a dormir. “Eu não tenho medo de morrer. Gostaria que meu corpo ainda acompanhasse a lucidez da minha mente, para poder estar ativo em minha profissão. Minha cabeça está boa, tenho vigor”, garante. Mas, apesar das dores físicas que seguem o seu envelhecer, a voz firme do início da conversa só deu lugar à tristeza quando Anízio falou sobre o seu acervo pessoal. Depois que fechou o seu foto, no Relógio de São Pedro, Anízio transferiu o material para um laboratório improvisado em sua casa, em Brotas. Lá, o fotojornalista detém mais de seis mil negativos com fotos que reconstroem memórias do período militar, de campanhas políticas e de fatos históricos da Bahia.

O fotojornalista mantém o acervo em sua casa – Foto: Lucas Rosário

“Recebo muitas visitas de pessoas que fazem promessas. Teve uma instituição que propôs digitalizar e ficar com uma cópia sem pagar nada por isso. Trabalhei muito para construir este acervo, é minha maior riqueza depois da minha família. Estou com livro pronto e até hoje não consegui editar. Dói não ser valorizado”, se queixa, emocionado. Ele conta que em visita à sua psicóloga, a profissional o aconselhou a “esquecer a fotografia” e ocupar a mente com outras atividades. “Mas o que é a minha vida sem a fotografia?”, indagou o fotógrafo, com a voz embargada.

O livro citado por Anízio foi escrito em 2008 pela jornalista e produtora audiovisual Jamile Barbosa (34), como fruto do Trabalho de Conclusão de Curso. Ela conheceu a brilhante história de Anízio enquanto produzia um documentário sobre Leão Rosemberg para uma matéria na faculdade. Já no final do curso de Jornalismo, em conversa com o orientador Luís Guilherme Pontes Tavares, ela decidiu escrever o livro sobre “Seu Anízio”, como se refere com carinho. “Ele deu uma contribuição enorme para o jornalismo. É criativo, curioso, tem um impressionante faro para notícias. É fascinante tudo o que ele viveu, as histórias que ele sabe sobre os bastidores da nossa profissão. Tudo isso com integridade, hombridade e muito amor pelo que ele faz. Presenciou marcos históricos, registrou grandes momentos”, destacou. Emocionada, ela afirma não ter desistido de publicar o livro. “Quero que vê-lo circulando de alguma forma. Tentei falar com algumas editoras, mas nunca tive resposta. Recorri até à Assembleia Legislativa, sem sucesso”, relata.

“Mais do que ídolo, tenho em Anízio um pai, um mestre, um amigo. Com ele, aprendi detalhes da profissão que nenhuma faculdade de jornalismo jamais poderia ter me ensinado. A forma de abordar a fonte, de ouvir sem atropelar, de sondar o que está por trás das palavras, de observar. Sobretudo, observar”, afirma a jornalista Jaciara Santos. Ela conheceu Anízio em 1978, quando atuou como estagiária no Jornal da Bahia. Jaciara discursou na solenidade que concedeu a Anízio o título de Cidadão de Salvador, em 2015, na Câmara Municipal. “O que eu e minha geração aprendemos com Anízio transcende regras escritas do jornalismo. Recebemos ensinamentos vivenciais de ética, lealdade, respeito à verdade, retidão de caráter e humildade”, avalia.

“De tempos em tempos, Anízio é alvo de homenagens, todas mais do que merecidas. E, no bojo dessas honrarias, surgem propostas de preservação do seu imenso acervo fotográfico, que acabam não se concretizando”, destaca. Ela lembra que em 2011, surgiu a proposta de criação do “Museu Anízio de Carvalho”. Em fevereiro de 2016, o memorial voltou à pauta, quando Anízio Carvalho e Valter Lessa emprestaram seus nomes à Sala de Imprensa do Carnaval. “Até hoje, a proposta não saiu do papel”, reclama a jornalista. “Aos 90 anos, um dos maiores anseios de Anízio é encontrar uma instituição que assuma a curadoria de seu acervo. Mais que novas homenagens, esse seria o maior dos presentes que ele poderia receber. A Bahia e nós, jornalistas, lhe devemos isso”, ressalta.

“Me sinto bem. Consegui fazer o que eu pensava, viver da fotografia, formar uma linda família. Claro que, se eu ainda estivesse ativo, iria fazer muitas coisas, porque a gente nunca pode estar totalmente realizado”, avalia Anízio. Ele ainda tem equipamentos fotográficos como ampliadores, banheiras de aço, tanques, cortadeiras, refletores e câmeras, entre as quais está a Rollei 6×6, que recebeu do próprio Rosemberg como indenização pelos anos trabalhados. “Tenho aqui no meu caderno uma anotação antiga de um sonho: fotografar todas as igrejas e fontes de Salvador. Por que os jornais não fazem isso?”, questiona o veterano. Na noite do seu aniversário, quando fechar os olhos, seu pedido vai ser encontrar um destino seguro para as mais de seis décadas de histórias guardadas em seu arquivo pessoal.

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Observatório resgata a história da imprensa negra

“A discussão sobre a relação entre jornalismo e equidade racial na sociedade brasileira diz respeito à busca de diversidade nas abordagens, pautas e narrativas da profissão. Sobretudo, trata da representatividade do negro dentro de espaços institucionais. A importância de existirem veículos que representem a população negra e abordem temáticas raciais demonstrou-se fundamental para o desenvolvimento histórico quanto às questões raciais e ainda tem muito a evoluir. É necessário incentivar iniciativas que ampliem a representação simbólica e política da população negra dentro da sociedade”, defende o Observatório da Imprensa, na abertura do especial “Equidade Racial”.

No editoral que apresenta a série de textos destinados a resgatar a história da imprensa negra no Brasil, o fórum de opiniões traz textos abordando personagens, veículos e curiosidades sobre a atividade, trazendo também algumas sugestões de acervos online, obras e outros conteúdos relativos ao tema.

Leia também:

A primeira pílula da série “Equidade Racial” foi publicada em janeiro:

O surgimento da imprensa negra e seus primeiros veículos

O primeiro jornal brasileiro feito por e para negros surgiu em 1833, no Rio de Janeiro – 55 anos antes da abolição da escravatura, que só ocorreria em 1888. Era O Homem de Cor, ou O Mulato, e foi idealizado por Francisco de Paula Brito, tipógrafo e jornalista, com bandeiras de denúncia contra o racismo e a luta pela cidadania da população negra no Brasil.

Seu surgimento deu-se juntamente com a proliferação de críticas contra o Primeiro Reinado e a insatisfação geral com o regime escravocrata. Editado em anonimato, como outros folhetos, tinha caráter altamente político: era utilizado para expor prisões arbitrárias de negros, expunha falas discriminatórias de governantes e trazia, em suas edições, a transcrição do parágrafo XIV do artigo 179 da Constituição de 1824, onde se lia: “Todo o cidadão pode ser admitido aos cargos públicos civis, políticos e militares, sem outra diferença que não seja a de seus talentos e virtudes”, afirmando o local do negro como pertencente à sociedade, e não à sua margem.

Foto: Museu Afro Brasil

O Mulato teve uma vida curta, de apenas cinco edições, mas abriu caminhos para outros veículos igualmente importantes da imprensa negra. O periódico foi produto da Typographia Fluminense, de Brito & Cia, fortemente marcada pela presença negra, e que acabou produzindo posteriormente O Meia Cara e tendo papel embrionário na produção de outros periódicos como O Brasileiro PardoO Lafuente e O Cabrito.

Sobre a história da imprensa negra, veja também:
– Periódicos USP: Imprensa negra paulista
– Biblioteca Nacional do Brasil
– Ana Flávia Magalhães Pinto – “De Pele Escura e Tinta Preta” (dissertação de mestrado)
– Ariovaldo Lima Júnior – Jornal Ìrohìn: Estudo de caso sobre a relevância educativa do papel da imprensa negra no combate ao racismo (1996-2006) (dissertação de mestrado)
– Gilmar Luiz de Carvalho – “A Imprensa Negra Paulista entre 1915 e 1937: características, mudanças e permanências”

*Informações do Observatório da Imprensa. creative commons

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ABI BAHIANA

NOTA PÚBLICA: ABI repudia abordagem da PM a jornalistas da Veja

Dois jornalistas da revista Veja foram detidos pela Polícia Militar da Bahia, na manhã desta sexta-feira (14), enquanto tentavam entrevistar uma testemunha-chave da morte do ex-PM Adriano da Nóbrega. O repórter Hugo Marques e o repórter fotográfico Cristiano Mariz tentavam falar com o fazendeiro Leandro Abreu Guimarães quando foram abordados pelos agentes. Os policiais teriam ordenado que os dois saíssem do carro, abrissem as pernas e colocassem as mãos atrás da cabeça mesmo após terem se identificado como jornalistas e apresentado as credenciais de imprensa.

O gravador de um dos profissionais foi apreendido, segundo a publicação, e eles teriam sido questionados sobre como conseguiram o endereço do fazendeiro. Depois da abordagem, teriam sido orientados a seguir os agentes até a delegacia, onde foram interrogados.

A ação foi repudiada por parlamentares e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que a classificaram como um atentado à liberdade de imprensa, de acordo com matéria da Veja. “Inadmissível, arbitrária e abusiva a detenção de jornalistas da revista Veja pela Polícia Militar da Bahia”, disse o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. “Deve receber repúdio de todos que defendem a liberdade de imprensa e de expressão”, acrescentou.

A Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que “após se identificarem como jornalistas, foram liberados” e que “nenhum equipamento foi danificado, alterado ou ficou apreendido”, diz o documento. O texto ressalta que a abordagem foi motivada por ligações de moradores que acionaram a PM depois de notar a presença de um “carro Gol, com placa de Belo Horizonte rondando a região”.

No início da noite, a Secretaria de Comunicação Social do Estado da Bahia (Secom) publicou nota na qual afirma que “a ação da Polícia Militar (PMBA) envolvendo repórteres da revista Veja, nesta sexta-feira (14), não teve a intenção de impedir o livre exercício da profissão jornalística. Vale ressaltar que os jornalistas não foram detidos. A defesa incansável da liberdade de imprensa é prerrogativa inviolável e nossa prática diária”, diz a íntegra do texto.

Confira a nota pública da ABI:

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI)  volta a repudiar  ações  de  órgãos  de segurança contra  profissionais da comunicação. Desta feita, o fato ocorre em nosso estado e praticado por integrantes da Polícia Militar da Bahia intimidando jornalistas da Revista Veja.  Uma atitude que atinge frontalmente a liberdade de imprensa, contrapondo-se com os ditames democráticos que regem a sociedade brasileira. É de esperar-se providências imediatas das autoridades estaduais, para apurar as responsabilidades dos policiais envolvidos, com a adoção de medidas que visem eliminar este clima de intolerância que vem marcando as relações entre imprensa e polícia.

Salvador, 14 de fevereiro de 2020

 

Walter Pinheiro

Presidente

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*Informações da revista Veja e do site UOL

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