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Ciberguerra: Vírus para espionagem política através do WhatsApp foi usado no Brasil

Em meio aos escândalos recentes sobre a utilização de programas de espionagem para monitorar jornalistas, advogados e defensores de direitos humanos, o WhatsApp descobriu uma ampla vulnerabilidade que permitiu a instalação —silenciosa e sem qualquer descuido do usuário— de um software de espionagem política em celulares. O Facebook, dono do WhatsApp, acusou a NSO Group, uma empresa israelense que fabrica cyber warfare (softwares de guerra cibernética), de ser a responsável pelo vírus infiltrado, chamado Pegasus.

De acordo com reportagem do Financial Times, ao infectar o aparelho por meio de uma chamada de voz, o vírus é capaz de acessar informações sensíveis e executar ações, como ativar remotamente a câmera e o microfone. O WhatsApp não informou quantas pessoas foram afetadas no Brasil, mas já há rastros do uso do Pegasus no país entre agosto de 2016 e agosto de 2018, em plena corrida eleitoral.

Alvos políticos

Pesquisadores do Citizen Lab, um renomado laboratório da Universidade de Toronto, encontraram o rastro digital do mecanismo vendido a Governos como uma verdadeira arma de guerra. O relatório Hide and Seek, publicado pelo grupo em setembro de 2018, identificou 45 países com suspeita de infecção pelo mesmo vírus da NSO Group. Um dos países do informe é o Brasil. O estudo canadense apontou que a estratégia dos espiões para infectar seus alvos era a inserção de links maliciosos em conteúdos políticos. Quando o alvo clica no link, tem seu aparelho infectado. O principal link associado ao vírus no Brasil é o ‘signpetition[.]co’, o que, para o pesquisadores, é mais um indício de que os objetivos da espionagem seriam ativistas políticos.

O caso revelado pelo Financial Times transforma a operação em potencialmente muito mais grave. Segundo o WhatsApp, a NSO Group  não precisa mais nem que o usuário descuidado clique no link esquisito. A empresa, segundo a reportagem, encontrou um atalho para operar por meio de uma falha de segurança no próprio Whatsapp —não importa o tipo, se para uso de negócios, Androide, Apple ou Windows.

Arma de guerra

Não se sabe quem teria comprado a ferramenta de guerra cibernética para usar em território brasileiro. A empresa israelense não a vende para clientes privados —só para Governos nacionais. O Citizen Lab identifica pelo menos 33 possíveis clientes da empresa, entre eles, países já conhecidos pelo uso abusivo destas ferramentas de vigilância contra a sociedade civil, mas os pesquisadores optaram por não revelar quais são eles. Eles dizem que os Estados que consomem o produto podem o estar utilizando para finalidades lícitas, como combate ao terrorismo e crimes virtuais.

O que se sabe é que o mesmo comprador que usou o Pegasus no Brasil também deixou rastro digital em Bangladesh, Hong Kong, India e Paquistão. As infecções em território brasileiro foram associadas a Telemar Norte Leste S.A., que pertence a Oi e fornece serviço de telefonia e banda larga para dezenas de milhões de pessoas, especialmente no Nordeste. A Oi é a única provedora de telecomunicações brasileira que aparece no relatório. Questionada pelo El País, a empresa informou que não há qualquer relação entre a segurança de seus serviços e suposto impacto do Pegasus para clientes da companhia. E ressaltou, ainda, que não controla nem tem responsabilidade legal sobre os conteúdos acessados e transações realizadas por seus clientes.

À diferença de outros escândalos envolvendo dados pessoais, como o da Cambridge Analytica, que explodiu após eleições norte-americanas de 2016 e obrigou o Facebook a repensar radicalmente sua política de privacidade, programas como o Pegasus não se dedicam à coleta massiva de dados, mas são empregados para monitorar alvos específicos. Trata-se de espionagem política perpetrada pelos Governos e suas Agências, podendo ser vigilância doméstica ou internacional.

*As informações são de Fernanda Becker e Regiane Oliveira (El País).

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ABI BAHIANA

ABI realiza oficina para orientar jornalistas e radialistas em pautas sobre deficiências

Chegou a vez de Salvador abrigar o projeto “Pauta Eficiente: como abordar a deficiência na imprensa”, do jornalista e historiador Ednilson Sacramento. Depois de passar por diversas cidades, o primeiro jornalista cego formado pela Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM) realizará a oficina na sede da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), na Praça da Sé. Com vagas para 20 profissionais, a atividade acontece no dia 8 de junho (sábado) e visa orientar jornalistas e radialistas na cobertura de pautas relacionadas à pessoa com deficiência. Inscrições neste link.

Segundo Ednilson, a formação é um desdobramento de sua pesquisa de conclusão do curso de Jornalismo. “A intenção é capacitar os colegas para abordar, de forma ética e adequada, a temática da deficiência em reportagens, programas de rádio e TV, além de publicações na internet”, explica o maragogipense, que planeja lançar um guia prático sobre o assunto.

Entre os principais conteúdos que integram a atividade proposta por ele estão os tipos de deficiência, a preparação da cobertura jornalística (impresso, rádio e TV, internet), como entrevistar pessoas com deficiência, critérios e sugestões de pauta, como encontrar fontes e especialistas, além de tratar da legislação e de terminologias.

Cego desde os 20 anos por conta de uma retinose pigmentar, Ednilson Sacramento é graduado em Jornalismo (2017) pela UFBA e licenciado em História (2010) pela FTC. Tem estudos e pesquisas nas áreas de acessibilidade cultural, direitos humanos, mídia e diversidade. Ele é o autor do audiolivro “Rock Baiano – História de uma Cultura Subterrânea”.

Serviço

Oficina Pauta Eficiente: como abordar a deficiência na imprensa
Facilitador: Ednilson Sacramento
Carga horária: 4h
Data: 8 de junho de 2019, 8h-12h
Local: Sede da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) – Rua Guedes de Brito, 1 – Edifício Ranulpho Oliveira, Praça da Sé (Centro)
Inscrições: https://forms.gle/hNgbQDbJPU2ZeX7U7
Informações: <[email protected]> / (71) 98791-7988
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Jornalistas discutem a atuação do negro na imprensa baiana

Estudantes do curso de Jornalismo da Faculdade 2 de Julho (F2J) resolveram driblar a escassa representatividade negra nas atrações jornalísticas das grandes emissoras. Na noite desta segunda (20), eles montaram uma “bancada” com comunicadores pretos, para discutir a atuação de profissionais negros na imprensa baiana. Falando para uma plateia majoritariamente negra, os jornalistas Tarsilla Alvarindo, Tiago Reis e Vanderson Nascimento abordaram questões raciais, a partir de suas experiências acadêmicas e profissionais. O debate intitulado “O Negro no Jornalismo Soteropolitano” reuniu jornalistas, professores e membros de instituições ligadas à atividade jornalística.

O evento acontece num momento em que o racismo volta a ser tema de discussão intensa, depois que o presidente Jair Bolsonaro declarou, em entrevista à RedeTV, que “no Brasil é uma coisa rara o racismo” (sic). Estudos da ONU revelam que a população negra é o alvo principal dos assassinatos no país em que a polícia arrastou o corpo de Claudia Ferreira; o Exército disparou 80 tiros contra o carro de uma família negra. O mesmo país onde o negro tem a menor escolaridade e salário, maior taxa de desemprego, menor acesso à saúde, é maioria no cárcere e quase não ocupa cargos eletivos ou posições de chefia nas empresas.

“A gente precisa sempre de algo a mais para oportunidades acontecerem e sermos notados. Para mim, foi muito difícil”, afirma o repórter Tiago Reis. Ele chegou na TV Bahia há 13 anos, para trabalhar como agente de viagens. Depois, passou a atuar como auxiliar administrativo dentro do setor de jornalismo da emissora. Um dia, um repórter lhe convidou a acompanhar uma matéria no Esporte Clube Bahia. “Foi quando a abelhinha do jornalismo me picou e eu decidi estudar. Desenvolvi a vontade de ser jornalista a partir do esporte”, conta. Começou o curso na F2J e até tinha colegas negros, mas na formatura… “Só eu. Muita gente ficou pelo caminho”, lamenta. “Aprendi todas as funções do jornalismo esportivo. Trabalhei na produção, na edição… Comecei a fazer reportagem numa oportunidade que caiu no meu colo”, brincou.

Perto da Copa das Confederações, um repórter de rede estava escalado para fazer o sorteio em Sauípe (Litoral Norte), mas ficou doente. “Só tinha eu. Fiz a matéria, outro repórter gravou”. Segundo ele, foi um longo caminho até aparecer no vídeo. “Demorou ainda mais”. Sempre que escrevia um texto para alguém gravar, Tiago fazia uma passagem e guardava como portfólio. “Claro que bate o desânimo, porque você está trabalhando muito, já fez tudo o que disseram que precisava ser feito e não acontece”, destacou. “Felizmente, o cenário está mudando. Não desistam. As pessoas estão notando que não faz sentido a maioria da população de Salvador ser negra e não encontrar essa representatividade na TV. A gente tem essa função de abrir caminhos para outros”, completou.

Representatividade

Em janeiro deste ano, o jornalista Vanderson Nascimento recebeu da TV Bahia um dos maiores desafios de sua carreira, ao realizar a cobertura do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). Direto da cidade, ele acompanhou o drama das famílias dos baianos que trabalhavam para a mineradora e estavam entre os desaparecidos registrados. “Na TV, já fiz de tudo. Faço polícia, política, serviço. É assim que a gente ocupa espaço. É assim que a gente luta para deixar de ser cota. Não basta estar lá para compor. A gente tem que mostrar que pode fazer de tudo”, defende.

Para o repórter, formado pelo Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge) e mestre em Comunicação pela Universidade de Coimbra, em Portugal, o racismo é uma construção social. Ele narrou alguns episódios em que se deparou com o preconceito. “Em uma cobertura, uma menina negra perguntou pelo repórter, mesmo vendo o microfone em minha mão. Ela parecia não acreditar e soltou ‘você não parece repórter’. A ideia do que era um repórter já estava enraizada nela. Por isso é importante discussões como essa”, avalia.

O jornalista destacou a relevância do evento, que recebeu apoio da Associação Bahiana de Imprensa. “É tão importante a ABI estar presente e mais atuante, participando da academia, da vida do jornalismo, se envolvendo nesses temas que são tão fundamentais, de reflexão com a gente”. Para ele, ainda há um longo caminho para desconstruir a estrutura racista que continua a afetar mentalidades. “A situação está longe de ser a ideal, mas nunca estivemos tão bem representados, apesar de sermos muito poucos. Temos Lise Oliveira, Rita Batista, Emanuele Pereira, Georgina Maynart. É pouco, muito pouco, mas é uma caminhada que a gente está fazendo com muito trabalho e orgulho”, disse.

Jornalistas negras

Decorridos 131 anos da Abolição da Escravidão, lembrada no último dia 13, às mulheres negras ainda é atribuído lugar de servidão, em postos de trabalho desprestigiados e com os menores salários. Tarsilla Alvarindo faz parte de um grupo que está mudando a cena. Repórter na Record TV Itapoan e apresentadora na TV Câmara Salvador, a jornalista formada pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA) falou dos desafios encontrados já na graduação. “Hoje, eu fiquei tão feliz quando vi essa sala com tantos negros. O cenário é diferente na pública”, afirmou, registrando a predominância de estudantes negros na turma orientada pela professora Camila Botto. “Muitos que começaram comigo nem terminaram o curso. Precisamos começar a garantir que essas pessoas consigam se formar, para que o mercado tenha mais negros”, disse.

Tarsilla ponderou que fatores cumulativos de racismo contribuem para a inferiorização dos negros, como o fato de alguém ser pobre, mulher e homossexual, por exemplo. “Quando a gente se forma, precisa provar que é muito bom. Outras pessoas podem ser medianas, nós não. A gente precisa lutar contra o machismo e contra o racismo. Chega a ser cansativo”, admitiu.

A jornalista concluiu que o racismo no Brasil é estrutural e institucionalizado, e alertou para a falácia da democracia racial na sociedade brasileira, onde se nega a existência do racismo. “O mercado ainda não está pronto para se despir dos seus preconceitos. As pessoas ainda têm dúvidas se vão nos colocar. Eu fui chamada porque precisavam de uma repórter negra”, contou. “Nos últimos anos, a internet conseguiu trazer essas vozes. Colocar as mulheres negras. ‘Tia Má’ é prova disso. Maíra Azevedo já fazia um trabalho sensacional no jornal A Tarde, mas foi a internet que alavancou”, lembrou.

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Imprensa e História

Bahia é pioneira em gráfica privada

Por Luis Guilherme Pontes Tavares*

Quando o empresário Manoel Antônio da Silva Serva inaugurou sua tipografia em 13 de maio de 1811 no Morgado de Santa Bárbara, no bairro do Comércio, na Cidade do Salvador, tornou-se, desde então, o pioneiro da indústria gráfico-editorial privada brasileira. No Brasil, naquele instante, o que existia no ramo gráfico era a Impressão Régia, no Rio de Janeiro, a serviço da Corte, o que significa dizer que o empreendimento não era do setor privado.

Exibo esse fato, mais uma vez nesta página, agora com dois propósitos. O primeiro é o de nos advertir de que o reconhecimento dessa primazia proporcionada por Silva Serva no início do século XIX deve ser reclamado pela Bahia. Tomemos o exemplo dos gaúchos que, no Governo Fernando Henrique Cardoso, obtiveram o privilégio de antecipar o Dia da Imprensa de 10 de Setembro para 1º de Junho e assim homenagear o jornalista Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774-1823) e acentuar o pioneirismo como periódico brasileiro para o seu Correio Braziliense ou Armazem Literario, que imprimiu em Londres entre 1808 e 1822.

Os gaúchos, portanto, conseguiram cassar o destaque que fora dado à Gazeta do Rio de Janeiro, que, em 1808, fora lançada em 10 de setembro pela Impressão Régia, e anteciparam em pouco mais de dois meses a celebração do Dia da Imprensa.

Poderíamos, nós, os baianos, distinguir, no calendário das comemorações nacionais, o 14 de Maio, data de estreia do Idade d’Ouro do Brazil, como marco do início da produção gráfico-editorial privada brasileira, assim como o 26 de Setembro, dia em que nasceu, em Salvador, o jornalista Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), de quem legamos exemplo de bravura e amor ao Brasil através das páginas do seu Sentinela da Liberdade.

Eis o outro propósito deste artigo: em 03 de agosto vindouro, completam-se 200 anos da morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 1819, de Manoel Antônio da Silva Serva e, se o distinguimos como pioneiro, devemos, pois, lembrá-lo. A propósito, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) promoverá no seu Auditório Samuel Celestino (8º andar do Edifício Ranulpho Oliveira), na manhã da véspera, portanto na sexta-feira 02 de agosto, a palestra do professor doutor Pablo Iglesias Magalhães, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). Ele avançou os estudos sobre o personagem e sobre os produtos que foram impressos na sua tipografia e soma, com destaque, entre os especialistas do tema (falo do bibliófilo Renato Berbert de Castro (1924-1999) e das professoras doutoras Cybelle Moreira de Ipanema e Maria Beatriz Nizza da Silva).

O primeiro esboço do programa das reverências ao empreendedor nascido na segunda metade do século XVIII, no Norte de Portugal, foi apresentado a instituições locais, nacionais e até internacionais, pois imaginávamos que os organismos de representação da indústria gráfica nacional, sobretudo a Associação Brasileira de Indústria Gráfica (Abigraf), sediada em São Paulo, assim como a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), e outros organismos afins, pudessem patrocinar evento que viesse a reunir, por exemplo, o professor português Manoel Cadafaz de Matos, diretor do Centro de Estudos da História do Livro e da Edução (Cehle), as citadas professoras Cybelle (UFRJ) e Maria Beatriz (USP), assim como o jornalista Leão Serva, descendente e biógrafo de Silva Serva, e a bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, chefe do Setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional, a quem devemos o zelo, também, de Servinas que estão guardadas lá.

Viva o impresso! Viva Silva Serva!

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* Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É diretor da ABI.< [email protected]>

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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