Ao caminhar pelo Centro da cidade de Salvador é impossível não notar a presença de chineses no solo da capital baiana. Os imigrantes são em sua maior parte, donos de estabelecimentos comerciais do ramo alimentício, de varejo, destacando-se cada vez mais nos últimos anos, lojas de artigos eletrônicos. No entanto, pouco se sabe sobre a origem da relação brasileira e mais especificamente baiana com a China. É por essa razão que na quarta-feira (14), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) realizará a palestra “Passado, Presente e Futuro da presença chinesa na Bahia” com o economista Roberto Maximiano e o jornalista e escritor Carlos Navarro Filho. O evento é parte do ciclo Temas Diversos, realizado a cada reunião mensal da entidade.
O diretor da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares, destaca as notícias do cenário econômico em relação à presença chinesa na Bahia. “Chama a atenção o interesse de duas grandes empresas de infraestrutura na construção e operação da ponte Salvador-Itaparica”, lembra. Além disso, em maio deste ano, o governador Rui Costa, assinou um protocolo com uma empresa chinesa para investir U$ 7 bilhões na Bahia em outros projetos para além da ponte entre os municípios de Salvador e Vera Cruz, segundo nota da Seplan.
Para Maximiano, economista convidado para a palestra, “a ABI acerta em colocar este tema em discussão num momento que se agrava a crise comercial entre China e EUA”. Ele ressalta o panorama atual, com o Brasil se alinhando em nível federal com o governo estadunidense. “A discussão sobre investimentos chineses no Brasil e na Bahia é pertinente”, pontua. “O protagonismo da Bahia na atração de investimentos externos se mostra forte e amplo e a China é um parceiro importante no aporte de novos investimentos, principalmente em áreas tecnológicas, de energia e de infraestrutura”, analisa.
Roberto Maximiano é coordenador de Articulação e Integração de Políticas Econômicas Setoriais e integra Diretoria de Planejamento Econômico da Bahia (DPE) e a SEPLAN, Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia. Carlos Navarro é jornalista, escritor, ex-chefe da surcusal do O Estado de S. Paulo na Bahia e viajante regular ao Oriente Médio.
Caminhos migratórios
Com fim do período escravagista no século XIX, a mão de obra chinesa foi requisitada pelos europeus para trabalhar na agricultura. Como a escravização africana não era mais possível, os chineses saiam do oriente médio após a assinatura de um contrato de trabalho, de modo voluntário, porém, muitos eram forçados a atravessar a fronteira do oceano até chegar ao Brasil. Contudo, o discurso migratório no país impediu a contratação massiva desses trabalhadores em substituição à mão de obra escrava africana, fator que fez com que a migração até os primeiros anos a partir de 1900 decaísse no país.
Com o passar do tempo, já no ano da revolução de 1911, alguns chineses vieram voluntariamente para o Brasil e se estabeleceram como comerciantes, boa parte na Bahia e na região do Centro de Salvador. Algumas famílias permanecem até os tempos atuais na localidade.
Relação política sino-brasileira
As relações diplomáticas entre o governo brasileiro e chinês só se deram em 1974, quando o Brasil sofria com a ditadura militar e a China passava pelos radicalismos da Revolução Cultural. Ainda assim, os governos ressaltaram a possibilidade de uma ação conjunta com interesse no sistema e agenda internacional, como mostra a pesquisa de Henrique Altemani de Oliveira, em artigo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional. Henrique é professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
*I’sis Almeida é estagiária da ABI, sob a supervisão de Joseanne Guedes.