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Em julgamento histórico, Comissão de Ética do Sindjorce expulsa blogueiro envolvido em atentado

Em decisão unânime, a Comissão Estadual de Ética dos Jornalistas do Ceará, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará (Sindjorce), expulsou dos quadros da entidade o blogueiro Wellington Macêdo de Souza, no último dia 24 de julho. Wellington está preso pela tentativa de explosão de uma bomba no aeroporto de Brasília, em 2022.

De acordo com o Sindicato, o procedimento teve por base o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e o Regimento Interno das Comissões de Ética, estabelecido pela Resolução CNE Nº 01/2009.

Participaram da sessão os jornalistas Telma Costa, Mirton Peixoto, Ivan Moura e Angela Marinho, presidente da Comissão. Atendendo aos requisitos do regimento da Comissão, a decisão do colegiado foi publicada nos jornais cearenses no dia seguinte ao julgamento, considerado como “histórico” pela entidade.

Foto: Sindjorce

Jornalista registrado no Ministério do Trabalho e Emprego com o número 092CE, e associado ao Sindicato dos Jornalistas do Ceará desde 2001, inicialmente como repórter fotográfico e depois como jornalista, Macêdo foi suspenso dos quadros do sindicato em assembleia da categoria, em 23 de janeiro de 2023, com base no art. 9° do estatuto,  por “agir contra os interesses da categoria ou tomar qualquer deliberação que comprometa os princípios éticos da profissão” (art. 10°). Como as comissões de ética são autônomas nos procedimentos, o colegiado decidiu aguardar uma decisão da Justiça sobre o acusado, para dar novo encaminhamento.

Era de conhecimento nacional, e fartamente divulgados, os crimes que lhe eram imputados. Wellington foi acusado e denunciado na Operação Nero, por tentativa de invasão ao edifício-sede da Polícia Federal, em dezembro de 2022. Frequentava o acampamento formado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, onde se envolveu com George Washington Oliveira de Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues na organização do atentado a bomba, em 24 de dezembro de 2022, nas proximidades do aeroporto de Brasília. Os três foram denunciados pela Justiça do Distrito Federal, julgados e condenados. Wellington estava foragido e foi julgado à revelia pela 8ª Vara Criminal de Brasília, que o condenou, em 17 de agosto de 2023, a seis anos de prisão, em regime inicial fechado, e multa de R$ 9,6 mil. Foi capturado no Paraguai, em 5 de outubro de 2023. Atualmente está recolhido no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

Processo administrativo

Após a publicação da sentença e posterior prisão, a comissão abriu o processo administrativo ex-officio, como permite o art. 7° do Regimento Interno, sendo o jornalista Ivan Moura sorteado relator.  A representação teve por base o artigo 17:

“Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética estão sujeitos às penalidades de observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro social do sindicato e à publicação da decisão da comissão de ética em veículo de ampla circulação”.

Wellington Macêdo de Souza incorreu na desobediência do artigo 6° do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros nos seguintes incisos: Art. 6° É dever do jornalista: I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos; V – valorizar, honrar e dignificar a profissão; X – defender os princípios constitucionais e legais, base do estado democrático de direito; XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias; e XII – respeitar as entidades representativas e democráticas da categoria.

A representação foi encaminhada ao Centro Penitenciário da Papuda, em Brasília, para dar oportunidade de defesa ao acusado, que não se manifestou. Decorrido o prazo regimental, o processo teve sua conclusão em sessão do colegiado e a apresentação do voto do relator pela expulsão, aprovado em decisão unânime.

O relator Ivan Moura considera o processo um momento histórico para o sindicato dos jornalistas do Ceará e para a categoria de uma forma geral. Para Angela Marinho, a decisão terá repercussão nacional, necessária para reforçar o zelo da categoria pelos princípios democráticos que devem reger o exercício da profissão.

As informações são do Sindjorce.

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Jornalismo de dados e eleições: Abraji ensina a usar a teoria dos grafos em apurações jornalísticas

Na matemática, a teoria dos grafos permite encontrar as relações entre os objetos de um determinado conjunto. Nesse caso, as conexões entre vértices e arestas que os grafos mostram podem ser utilizadas para investigar grandes bancos de dados de forma visual e interativa. Assim, é possível estabelecer o elo entre empresas, políticos, pagamentos, obras públicas, entre outros dados. Essa teia pode ser explorada e visualizada com o auxílio de grafos. E é isso que a Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo traz com o Manual do CruzaGrafos.

CruzaGrafos é uma ferramenta gráfica, de software livre, que permite verificações cruzadas e investigações avançadas de dados públicos. O projeto existe desde 2020 e é fruto da parceria entre a Abraji e o Brasil.IO

Grafos ganharam muita visibilidade com o Panamá Papers, trabalho de 2016 do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Entre as tecnologias utilizadas estavam os sistemas de gerenciamento de banco de dados em grafos Neo4J e Linkurious para busca e visualização dos dados.

A equipe do projeto CruzaGrafos faz análise exploratória de dados em bases de dados de interesse público no Brasil. O trabalho foi feito por meio de pesquisas sobre portais de acesso a dados abertos no Brasil, conversas com especialistas.

No momento, por exemplo, o CruzaGrafos já tem 29,4 milhões de registros, sendo que são 20 milhões de pessoas e 9 milhões de empresas. E nos grafos podemos ver as relações de proximidade e sociedade de todas essas informações. Os programadores do projeto usaram linguagens de programação como Python, CSS, JavaScript, HTML, Shell e PLpgSQL para traduzir isso em cruzamentos e visualizações interativas de grandes bases de dados da Receita Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

Atualmente o CruzaGrafos tem dados de candidaturas eleitorais coletados no Tribunal Superior Eleitoral, com as informações gerais como ano da eleição, cargo, nome completo, nome urna, número sequencial no pleito, partido político, unidade eleitoral, unidade federativa e CPF completo do candidato.

E ainda dados da Receita Federal do Brasil sobre empresas com QSA (Quadro de Sócios e Administradores), com informações como nome fantasia, razão social, nomes completos dos sócios, CNPJ e o CPF “mascarado” dos sócios – a Receita e outras instituições públicas não publicam o conteúdo inteiro do CPF, de 11 dígitos, mas coloca asteriscos em alguns números, como nesse exemplo: ***.270.068-**
As conexões e grafos da plataforma são então produzidos com o cruzamento das principais chaves de identificação – no caso aqui CPF, CNPJ e nome completo.

Essas bases dados são periodicamente atualizadas pelos órgãos públicos e também serão da mesma forma atualizadas no CruzaGrafos. O projeto também irá incluir outras bases de dados de interesse público e jornalístico ao longo dos meses.

Confira o que é possível fazer:

  • Procurar todas as empresas ligadas a um político/candidato a cargo público nas quais ele ou ela seja sócio(a) ou administrador(a);
  • Nessas empresas ver quais são os outros sócios(as);
  • Verificar também a rede proximidade desses sócios(as), isto é, de quais outras empresas eles são sócios(as) e os outros respectivos sócios(as), em diferentes graus de proximidade;
  • Descobrir se o caminho que separa uma pessoa/empresa de outra pessoa/empresa é curto ou se existe realmente;
  • Tendo de antemão a lista de parentes ou assessores de políticos ou de pessoas de interesse público, saber se eles têm empresas (tática que poderia ser usada para encobrir patrimônio, por exemplo);
  • Verificar se político(a) ou candidato(a) nas eleições têm empresas de ramos econômicos possivelmente conflitantes com seu cargo público;
  • Saber se um político(a)/candidato(a) ou pessoa de interesse público têm várias empresas em seu nome do mesmo ramo e/ou com nomes semelhantes (tática que poderia ser usada para lavagem, por exemplo).

Para mais detalhes, conheça o manual do CruzaGrafos e estes dois arquivos: tutorial1 e tutorial2.

https://cruzagrafos.abraji.org.br

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FGM abre inscrições para edital de apoio a bibliotecas comunitárias de Salvador

A Fundação Gregório de Mattos (FGM) está com inscrições abertas para o Edital Caminhos da Leitura – Apoio a Bibliotecas Comunitárias. Os interessados em participar têm até o dia 18 de agosto para a submissão de propostas por meio do site http://fgm.salvador.ba.gov.br.

A chamada tem o objetivo de oferecer apoio financeiro a projetos apresentados por bibliotecas comunitárias que visam contribuir para a manutenção, dinamização e fortalecimento das entidades, estimulando a democratização do acesso do público às atividades por elas desenvolvidas. As propostas inscritas devem estar vinculadas a Bibliotecas Comunitárias localizadas em áreas periféricas de Salvador.

As instituições contempladas poderão ter sido criadas por iniciativa da comunidade, mantida pela iniciativa privada ou por organizações não governamentais. Serão concedidos até 20 apoios financeiros no valor de R$ 20 mil para cada biblioteca comunitária contemplada.

Somente serão aceitas propostas de bibliotecas comunitárias sediadas no município de Salvador há, pelo menos, dois anos. Aquelas sem constituição jurídica poderão indicar como proponente uma pessoa física, um microempreendedor individual ou pessoa jurídica de direito privado com ou sem fins lucrativos.

Para este edital, será aplicada a reserva mínima de 50% do aporte financeiro para proponentes autodeclarados negros (pretos e pardos), 10% para proponentes autodeclarados indígenas e 5% para proponentes pessoa com deficiência (PCD). As dúvidas podem ser enviadas para o e-mail [email protected] .

Fomento – As ações de fomento da Prefeitura de Salvador, por meio da FGM, têm como objetivo a democratização da produção, acesso e fruição de projetos e bens culturais. Os editais lançados integram a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), que pretende realizar investimentos no setor cultural até 2027.

O Ministério da Cultura repassa a estados e municípios recursos para abertura de editais públicos, visando a concessão de prêmios, cursos, oficinas e performances. Em Salvador, além dos recursos provenientes da PNAB, os investimentos são realizados também com aporte do município.

Fonte: Ascom/FGM

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Luiz Tarquínio, 180º ano do nascimento: disciplina e solidariedade na relação capital & trabalho

Luís Guilherme Pontes Tavares*

Frontispício do Aparas Jornalísticas

É provável que pesquisadores mais habilidosos em navegar na web cheguem à identificação do jornalista e dramaturgo J. Cardoso, que, em 02 de Julho 1923, publicou, no periódico O Democrata, o artigo “Luiz Tarquínio e sua obra de Grande Industrial”. O mesmo texto foi incluído na coletânea Aparas jornalísticas… (Salvador: Imprensa Oficial do Estado, 1925, 142 p.). Localizei o citado texto no IGHB, como parte de miscelânea (encadernação de impressos distintos) organizada e doada pelo artista plástico baiano Presciliano Silva (1883-1965). Em Aparas, o texto sobre Tarquínio, a quem o autor distinguira na festa do centenário da Independência do Brasil na Bahia, ocupa as páginas 1 a 20.

Nele, J. Cardoso fala da disciplina imposta aos operários na Fábrica da Boa Viagem e na Vila Operária e contrapõe tais observações ao comportamento solidário e respeito que Luiz Tarquínio cultivava.

Fábrica da Boa Viagem

Eis o trecho (p. 12-13) a que me refiro:

“A organização do trabalho nos estabelecimentos da Empório começou com certa severidade, como exigiam circunstâncias especiais do momento, oriundas de irregularidades que se observavam por quase todos os nossos departamentos industriais.

A instituição das multas, aplicadas com rigor e com rigor cobradas, produziu uma espécie de pânico entre os trabalhadores. Luiz Tarquínio, com aquela adorável mansuetude – que era todo um reflexo de seu coração boníssimo, não perdoava faltas.

Uma vez, tendo ele próprio observado em deslize um pobre operário, aplicara uma multa de 20$000 [vinte mil Réis].

Era a feria de uma semana perdida.

No sábado, antes da hora do pagamento, o operário procurou-o.

– Que deseja? perguntou-lhe Luiz Tarquínio. 

O pobre homem, a quem nesse dia faltariam recursos para comprar o indispensável à alimentação de sua família, explicou-se. Nada podia fazer. Se tinha aplicado a multa, não o fizera por absurdo. Que cumprisse os seus deveres para evitar situações difíceis em sua vida. Assim lhe respondeu Tarquínio.

Entanto… o administrador possuía um coração: e quando, desiludido, ia partir o operário, Luiz Tarquínio chamou-o.

– Aqui tem a importância de sua multa. Mas tem que m’a restituir em parcelas pequenas, semanalmente:

E assim foi cumprido. Fatos inúmeros dessa natureza foram observados. De outra vez um operário foi pedir-lhe um adiantamento dos seus salários, na importância de 60$000 [sessenta mil Réis].

Era para comprar materiais destinados à construção de uma pequena casa para a residência de sua família.

– Não era possível, respondeu Luiz Tarquínio, Entretanto, no dia seguinte, obtidas informações seguras sobre o procedimento do operário e sobre a edificação apenas iniciada de sua casinha, o escritório da empresa tinha ordem para fornecer todo o material necessário à aludida construção que, dentro de pouco tempo, estava concluída.

Todas as despesas foram cobradas a prazo demorado e sem dificuldades para o operário.

 Como esse, outros casos idênticos se passaram.”

As observações feitas em 1923 e 1925 por J. Cardoso ecoam no livro O viver na “Cidade do Bem”: tensões, conflitos e acomodações na Vila Operária de Luiz Tarquínio, na Boa Viagem – Bahia (1892-1946/47), de autoria da professora doutora Marilécia Oliveira Santos, publicado pela Editora da Universidade do Estado da Bahia (EDUNEB) em 2017. A propósito, a professora, assim como a escritora Eliana Dumêt, bisneta e biógrafa de Luiz Tarquínio, participam, no IGHB, na tarde de 24 de julho 2024 (quarta-feira), da mesa redonda que relembra Tarquínio na passagem dos 180 anos do nascimento dele.

Outras aparas

O jornalista e dramaturgo J. Cardoso sequencia seu texto, publicado pela primeira vez  no Dois de Julho de 1923, lembrando que Luiz Tarquínio:

“Simples auxiliar, tendo se revelado hábil desenhista em especialidades de padronagem de fazendas apropriadas aos costumes e aos gostos da freguesia da praça, os seus patrões o enviaram a Londres em 1873, onde se demorou por muito tempo. Depois, em sucessivas viagens, sempre a serviço da casa Bruderer & Cia, visitou Manchester e outros centros industriais importantes, demorando-se sempre mais em Londres, ponto certo onde exercia sua atividade artístico-industrial e tratava de outros assuntos de caráter estritamente comercial.” p. 7

O autor acentua que:

“Luiz Tarquínio uma só vez não viajara para a Europa que não voltasse trazendo lembranças para todas as suas operárias; e como os presentes variavam de qualidade e valor, a sua distribuição era feita por um sorteio, que se realizava sempre em meio da mais intensa alegria, doce espetáculo a que era raro não assistir Luis Tarquínio, a sorrir, carinhoso e feliz, no meio d’aquela pobre e boa gente que lhe era prolongamento de sua família.” p. 13-14

Encerro com este trecho da página 8 em que lista os filhos que teve com dona Adelaide. Temo, todavia, que falte o nome de um deles:

“Do seu consórcio feliz, teve os seguintes filhos: Luiz Tarquínio Filho, D. Adelaide Tarquínio de Bittencourt, D. Celina Tarquínio Pontes, Alvaro e Juvenal Tarquínio, já falecidos [na altura de 1923]; D. Noemia Tarquínio Bittencourt, Sr. João Tarquínio, Sr. Eduardo Tarquínio, D. Djanira Bittencourt Miranda, D. Stella Tarquínio Porto de Souza, esposa do Dr. Gonçalo Porto de Souza: Dr. Mario Tarquínio, senhorinha Maria Luiza Tarquínio e Sr. Raphael Tarquínio.”

Viva Luiz Tarquínio, sempre!

Festejemos o 180º ano do aniversário de nascimento dele.

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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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