ABI BAHIANA

Debate sobre IA no jornalismo marca lançamento da 6ª Revista Memória da Imprensa

“Decifra-me ou te devoro”. A manchete da 6ª edição da Revista Memória da Imprensa, lançada na tarde deste sábado (14) pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), desafia o leitor a pensar sobre o futuro do jornalismo e da comunicação em tempos de Inteligência Artificial. Financiamento para o jornalismo local, mercado, modelos de negócio, desinformação e principais tendências foram alguns dos assuntos debatidos pelos especialistas convidados.

Além da discussão sobre os impactos da tecnologia na área, o evento, transmitido ao vivo pelo canal da ABI, celebrou o legado de comunicadores que fizeram história na imprensa da Bahia e do Brasil, em um encontro vibrante e cheio de afeto, ao som do maestro Fred Dantas e banda. 

O presidente da Associação, Ernesto Marques, iniciou o lançamento com uma explicação do projeto Memória da Imprensa, que nasceu há 18 anos como uma série de documentários sobre grandes nomes do jornalismo baiano, e transformou-se em revista em 2020. Ernesto também falou sobre o tema da edição, antecipando o debate com um alerta sobre a necessidade de refletir com urgência e criticidade.

“Apenas 2 anos depois do lançamento da Open AI, decifrar este enigma se tornou uma imposição em qualquer área. […] Decifrar o enigma não se resume ao manejo dócil e até servil, de tão acrítico, da ferramenta sedutora que encanta enquanto aprende a superar o usuário”, advertiu ele.

O lançamento reuniu jornalistas, profissionais da educação, da cultura, do mercado publicitário, e diversas outras áreas. Todos juntos, pensando, de forma crítica e urgente, sobre as últimas transformações que afetam diretamente a qualidade da informação consumida pela sociedade.

Articulistas da edição, Gabriela De Paula, Pyr Marcondes, Lucas Reis e Suzana Barbosa trouxeram os argumentos das páginas da revista ao Auditório Samuel Celestino, no terraço da ABI. A fotojornalista Margarida Neide e o jornalista José Raimundo representaram o time de entrevistados do sexto número da publicação, formado também por Paulo Roberto Sampaio, Perfilino Neto e Clementino Heitor de Carvalho. 

Um fotoclipe sobre a invasão da Universidade Federal da Bahia pela polícia militar, em 2001, abriu o bloco que homenageou três mestres da fotografia – Milton Mendes, Manoel Porto e Manu Dias, autores do ensaio “3M”, estampado na revista.

Os participantes aplaudiram a família de José Carlos Teixeira, falecido em outubro. O jornalista foi homenageado nas páginas da revista com um texto emocionante assinado por seu filho, João Pedro Pitombo, lembrando a força da escrita de Teixeira e seu legado como exemplo de ética e criatividade, além de uma charge de Borega e dos depoimentos da viúva Lenilde Pacheco e dos amigos Zé de Jesus Barreto, Pedro Formigli, Paolo Marconi, Carlos Navarro e Adilson Borges.

Debate

A roda de conversa começou com colocações da jornalista especializada em tecnologia e inovação e palestrante TEDx, Gabriela de Paula. A jornalista defendeu a posição de que a escalada da IA generativa traz um destaque maior ao domínio da linguagem, que tende a substituir a programação como interface homem-máquina a partir dessas tecnologias. Da mesma forma, ela acredita que as habilidades de articular, interpretar e questionar do jornalista também se tornam mais importantes nesse contexto.

“Eu queria muito provocar vocês sobre essas oportunidades que estão escondidas para nós que somos perguntadores, curiosos, temos esse senso de necessidade de investigar. A máquina tende a ter um banco de dados muito grande e ter respostas para a gente, mas a gente precisa de quem faça essas perguntas”, ponderou a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado Bahia (Sinjorba).

O presidente da Associação Baiana do Mercado Publicitário (ABMP) e doutor em Comunicação, Lucas Reis reiterou a ênfase nas oportunidades levantadas pela IA, apontando ainda algumas preocupações como os direitos autorais do conteúdo usado para “alimentar” os programas generativos, mas também ressaltando o despreparo de muitos jornalistas e veículos para aproveitar bem as oportunidades nesse âmbito. 

“69% dos jornalistas nunca receberam treinamento para usar Inteligência Artificial generativa no seu trabalho, mas a maior parte já usa. Então, você tem vários profissionais usando sem serem treinados, e sem existir uma política sobre como usar essa inteligência artificial”, pontuou ele, demonstrando visível preocupação com as implicações éticas. 

Essa necessidade de adaptação foi enfatizada pelo jornalista, investidor e palestrante Pyr Marcondes, que resumiu os argumentos do seu livro “Jornalismo 4.0”, lançado pela plataforma Aurora, da startup de mídia Alright, empresa com a qual a ABI firmou parceria para combater os chamados desertos de notícia e promover o fortalecimento do jornalismo local.

Pyr falou sobre a urgência de renovação dessa área, que ele acredita enfrentar um conservadorismo muito forte no que tange aos processos. “Acho que temos tudo para usar [a IA] da melhor forma possível e não deixar que ela nos use da pior forma possível. Então, quando eu digo que ‘haverá jornalismo 4.0 ou não haverá jornalismo’, é porque não haverá jornalismo sem tecnologia”,  afirmou.

A professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA) e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/UFBA), Suzana Barbosa, falou sobre o jornalismo local nesse cenário de plataformização e IA. Suzana advertiu para a fragilidade dos jornais locais diante desse cenário, e a necessidade especial de renovação nesse nível. 

“As empresas locais estão descapitalizadas e muito dependentes daquilo que é ofertado pelas chamadas big techs. Elas não têm como fazer frente a isso. A valorização das marcas, do seu jornalismo, dos profissionais, me parece que é o caminho que se indica para seguir”, sugeriu ela. 

O debate foi movimentado por rodadas de perguntas do mediador, Ernesto Marques, e do público, resultando em discussões sobre regulamentação das Big Techs, ensino de jornalistas em formação, mudança dos modelos de negócios dos veículos e legislações para conter consequências negativas do uso da Inteligência Artificial Generativa na esfera da comunicação.

A 6ª Revista Memória da Imprensa foi editada por Biaggio Talento e teve coordenação editorial de Ernesto Marques e Jaciara Santos, diretora de Comunicação da ABI. A Bamboo Editora assinou o projeto gráfico e a revisão foi feita por Guido Krieger e Raulino Júnior.

Assista no canal da ABI:


publicidade
publicidade
Artigos

Quem cuida de quem cuidou?

Por Liliana Peixinho*

A falta de cuidados com idosos, doentes, dependentes da atenção do outro, é problema social grave e crescente.

Quando o problema é pautado, é pouco aprofundado em questões importantes como afeto, alimentação preventiva, higiene, socialização, movimentos cognitivos, uso de remédios e efeitos colaterais. Falta um olhar atento, integral na diferença entre fazer de conta que faz e o fazer efetivo para potencializar a vida digna.

A recente, e tardia, denúncia sobre o tratamento criminoso, ocorrido no Lar dos Idosos Nossa Senhora das Candeias, estabelecimento clandestino e pago, localizado no bairro de Itapuã, em Salvador, revela a omissão da Sociedade, o descaso de órgãos públicos responsáveis pela garantia de direitos, e a conivência da família. O tripé: Família, Sociedade, Estado, é capenga e quem muito lutou uma vida inteira não tem a mínima garantia para se despedir da vida com dignidade.

Esse caso do Lar dos Idosos de Itapuã é apenas um recorte factual de um problema cuja desumanidade, criminosa, banaliza a vida e a morte, aí, aqui, acolá.

Tem sido regra histórica os cuidados de mães, pais, avós, avôs, tios, com cada um de nós, a cada dia, incansável e afetivamente, uma vida inteira.
Então, pensemos: como uma família- filhos, netos, sobrinhos- podem transferir, tercerizar, passar adiante, a desconhecidos, a instituições desatentas, os cuidados, inclusive os afetivos, de pessoas como nossos pais, avós, tios, irmãos, idosos, dependentes, fragilizados, de tanto lutar por cada um de nós?

Que sentimento tem alimentado essa ideia, essa prática desumana de um “Mercado Cuidador “, que faz de conta que cuida?

Entre uma visitinha rápida e outra a esses lugares chamados de: “Lar, Abrigo, Casa de acolhimento”… o nome que mais poderia se aproximar da realidade seria “Asilo”, já que o cotidiano revela isolamento, abandono, descaso, esquecimento, faz de conta que cuida. A morte vem lenta, sofrida, criminosa, e ainda assim, depois, justificam, continuam a transferir, de novo, a responsabilidade dizendo: “Foi Deus quem quis” .

NÃO É MORRER.
É COMO MORRE!

Morre de forma estúpida, violenta, criminosa.

Morre por doenças evitáveis
Morre sem os cuidados de quem muito cuidou

Morre com problemas preveníveis

Morre por falta
Morre por excesso
Morre por descaso
Morre por descuido

Morre por negligência
Morre por desatenção
Morre sem afeto
Morre em hospital
Morre em asilos, sofrendo, calados, sem direitos assegurados

Morre em UPAS, nas últimas

Morre sem carinho
Morre sozinho
Morre distante de entes queridos

Morre sem rever amigos
Morre sem a mão na mão

Morre em muita dor, sofrimento
Morre em silêncio
Morre sem expressar sentimentos
Morre sufocado, sem ar, em agonia

Morre esquecido
Morre sem memórias
Morre, como se a morte fosse o fim do existir

Morre, antes de morrer
Morre em faz de conta que vive

Vivas a quem morre, com vida digna, bem vivida

*Recorte do livro, pesquisa – “Não é morrer. É como morre”, que a jornalista Liliana Peixinho – fundadora do grupo: CUIDAR DE QUEM CUIDOU- está a escrever sobre a responsabilidade do tripé: Família/Sociedade/Estado, nos cuidados com idosos doentes, dependentes.

*Liliana Peixinho é jornalista, ativista humanitária, tem especialização em Jornalismo Científico, Meio Ambiente e Cultura. Fundadora de mídias independentes e grupos ativistas como o AMA – Amigos do Meio Ambiente. Colaboradora de mídias especializadas em ambiente, Educação, ODS, saúde, sustentabilidade.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

ABI comemora conquistas e desafios de 2024 com música e alegria

2024 foi um ano de muita atividade e obstáculos para a Associação Bahiana de Imprensa. Nesta quarta-feira (11), a equipe da ABI se reuniu para festejar a passagem deste ano em grande estilo. A tarde foi repleta de alegria, união e momentos inesquecíveis. Ao som de uma fanfarra, a diretoria realizou sorteios de prêmios, brindes e cesta natalina para os funcionários que se doaram ao longo do ano.

Com a disputa em torno dos alugueis do Edifício Ranulfo Oliveira para a Prefeitura de Salvador avançando com uma nova reunião com o prefeito Bruno Reis no horizonte, hoje foi o momento de parar, respirar, e recarregar as forças para encarar o ano que está chegando.

Na abertura da confraternização, o presidente da ABI, Ernesto Marques, aproveitou para reforçar a posição de conciliação e diálogo para superar os entraves dessa disputa, além do compromisso da Associação com o patrimônio histórico representado pelo Edifício Ranulfo Oliveira.

“Quando a gente defende o Edifício Ranulfo Oliveira, defende a Bahia, a cultura da gente, e, principalmente, defendemos as vidas de todas as pessoas que se dedicaram por mais de 20 anos para construir esse edifício”, declarou.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Espaço de Leitura A+Comunidade recebe doações da campanha #CirculeUmLivro

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) realizou, nesta terça-feira (10), mais uma ação no âmbito do projeto #CirculeUmLivro, da  Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF). Desta vez, 89 exemplares, entre romances, livros sobre jornalismo e outros gêneros, foram recebidos pelo Espaço de Leitura A+Comunidade, na Boca do Rio, em Salvador. A campanha também já doou 155 exemplares à Biblioteca Comunitária Mané Dendê, no Subúrbio, em setembro deste ano. 

As obras, que passaram por um processo de triagem pela Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, da ABI, foram entregues ao produtor cultural Fabiano da Silva, idealizador da A+Comunidade. 

Apresentando o espaço que ocupa no prédio da Associação Católica Kolping, organização filantrópica sem fins lucrativos que é parceira da A+Comunidade, Fabiano explicou que a doação do #CirculeUmLivro chegou justamente no momento em que o projeto social tenta transformar seu pequeno espaço de leitura infantil em uma biblioteca comunitária registrada.

“Às vezes, chegam aqui senhorinhas procurando livro e dizem ‘não tem para a minha idade’, e eu digo ‘esse aqui para 5 anos é para a sua idade também’. Mas agora, com esses livros que vocês trouxeram, podemos começar a expandir para uma biblioteca realmente de todas as idades”, comemorou ele. 

A equipe técnica da ABI foi representada pela bibliotecária Valésia Vitória, responsável pela Biblioteca Jorge Calmon, pela historiadora Débora Muniz, assistente do equipamento cultural e idealizadora da Odisseia Literária da ABI, clube do livro lançado em abril deste ano, e Pablo Sousa, assistente do Museu de Imprensa.

#CirculeUmLivro 

A campanha #CirculeUmLivro nasceu dos esforços da ABAF e da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), para incentivar a leitura e promover o acesso a livros em lugares públicos. Além de espalhar conhecimento, o projeto quer contribuir para a maior visibilidade das instituições/autores que trabalham com livro/leitura; incentivar a economia circular, para que um livro que já foi lido possa levar momentos especiais para outras pessoas e, com isso, aproveitar para conscientizar sobre a sustentabilidade do livro físico.

De caráter permanente, o projeto conta com a parceria de diversas instituições para arrecadar e circular livros paradidáticos. A ideia é realizar a troca de exemplares de diversos gêneros para que as pessoas possam retirar um livro gratuitamente e que também deixem outro no lugar para o próximo em um dos pontos disponibilizados.

A ABI é um dos pontos de circulação de livros e incentivo à leitura do projeto #CirculeUmLivro. Além de abrigar um estande de coleta e troca de livros paradidáticos, a ABI tem no clube literário um espaço para formar novos leitores e promover a circulação de conhecimento.

publicidade
publicidade