O jornalismo baiano sofre mais uma baixa neste 2025 marcado por várias perdas de colegas: acaba de nos deixar, aos 88 anos, o jornalista Carlos Alberto González Passos, o González. A ABI expressa sua solidariedade e se une à família do colega neste momento de dor. O sepultamento será às 15h desta sexta-feira (23), no Cemitério Campo Santo, em Salvador.
Com mais de 40 anos de profissão, ele atuou nos jornais “A Tarde” e Estado de São Paulo (Estadão), revista “Placar” e Agência Estado. No serviço público, esteve à frente da Coordenação de Jornalismo da Prefeitura Municipal de Salvador nas gestões de Antônio Imbassahy, Lídice da Matta, Fernando José e João Henrique.
González fez parte da diretoria e do Conselho Fiscal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba). Atualmente estava aposentado e residia em Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, com a esposa, a também jornalista Nona Fernandes.
De acordo com familiares, ele estava na capital baiana para participar das comemorações dos 80 anos do irmão, o professor universitário e publicitário Fernando Passos. Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Salvador, na quarta-feira (21), sentiu-se mal e foi levado ao Hospital Jorge Valente, na Avenida Garibaldi, onde foi diagnosticado um quadro de embolia pulmonar, que evoluiu para óbito, nesta quinta.
Presidente da Associação Bahiana de Imprensa, o jornalista e radialista Ernesto Marques, comenta que “González marcou todas as redações por onde passou e está na memória de quem teve o privilégio de trabalhar com ele. A aposentadoria não foi o fim da sua carreira vitoriosa porque González foi jornalista até o fim”.
“Mídia, Raça e Punitivismo” foi o tema da aula aberta ministrada pela professora, pesquisadora e ativista Carla Akotirene, na manhã de hoje (21/05) na Faculdade de Comunicação da UFBA (@facom.ufba ). A atividade foi uma iniciativa do professor Fernando Conceição, que faz esforços contínuos na instituição de ensino para promover debates que enfrentem criticamente as estruturas de poder e comunicação.
Com uma trajetória intelectual marcada pelo rigor acadêmico e compromisso político, Carla é mestre em Desenvolvimento e Gestão Social e doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (UFBA). Autora de obras fundamentais como “O que é Interseccionalidade?”, “Ó pa í, prezada!” e “É fragrante fojado dôtor vossa excelência”, ela tem contribuído de maneira decisiva para o pensamento crítico no Brasil sobre raça, gênero e classe.
Com a sala 11 lotada, Akotirene analisou como o punitivismo se entrelaça às práticas da mídia brasileira, sobretudo quando esta retrata a população negra. Segundo ela, o jornalismo muitas vezes reforça o racismo estrutural ao criminalizar corpos negros e ao invisibilizar violências institucionais e históricas que atravessam essa população.
“O racismo impregna a nossa aparência”, refletiu, enquanto fazia uma dura crítica ao sistema penitenciário e defendia a necessidade de lutar contra o racismo, contra o patriarcado, contra o capitalismo.
Ela explicou que o sensacionalismo midiático, em especial na cobertura policial, opera como uma engrenagem do racismo, legitimando o encarceramento em massa e a morte simbólica e física da juventude negra.
“A nossa sanha punitivista encontra lugar no jornalismo, na comunicação. Convido vocês a terem responsabilidade discursiva.”
Carla Akotirene
A professora também destacou a importância da interseccionalidade — conceito cunhado por Kimberlé Crenshaw e amplamente desenvolvido por ela no contexto brasileiro — como ferramenta analítica essencial para compreender como opressões se articulam de forma simultânea. A mídia, nesse sentido, não apenas informa, mas produz representações que reforçam desigualdades ao ignorar marcadores sociais como raça, gênero, classe e território.
“A identidade é interseccional. Não dá para o movimento antirracista lutar contra a discriminação racial e esquecer que negros sofrem com gordofobia, por exemplo. É preciso sensibilidade analítica para não hierarquizar esses marcadores”, defende a pesquisadora.
O jornalista Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa – ABI, enfatizou a relevância da atividade realizada com os graduandos de Jornalismo. Para ele, “a presença e a escuta de intelectuais como Carla Akotirene são fundamentais para pensar uma mídia mais ética, plural e comprometida com justiça social.”
A Faculdade de Comunicação da UFBA (Facom) iniciou hoje (21) as atividades do “Seminário GJOL 30 anos de jornalismo digital”. Composto por palestras, apresentações de trabalhos e minicursos, o evento semipresencial reúne pesquisadores, estudantes e profissionais da área para refletir sobre as transformações do jornalismo na era das redes.
O presidente da Associação Bahiana de Imprensa, Ernesto Marques, e a 1ª secretária da entidade, Amália Casal, estiveram presentes durante a abertura no auditório da Facom, em Salvador, assim como a diretora do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Gabriela de Paula, Fernando Duarte, editor do Bahia Notícias, Shizue Miyazono, editora executiva do Bnews, e outros profissionais da área.
O Seminário é organizado pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) da Facom, e faz parte de uma rede de celebrações ibero-americanas, com eventos semelhantes celebrando o jornalismo digital em Portugal e na Espanha ao longo de 2025. O evento conta com o apoio institucional da ABI, do Sinjorba e de outras entidades ligadas à atividade jornalística.
A abertura do evento também teve presença do diretor da Facom, Leonardo Costa, do vice-diretor Washington Souza Filho. Foram exibidos três vídeos com falas de fundadores do GJOL, os professores Marcos Palacios e Elias Machado, que lembraram como a ascensão do jornalismo digital parecia improvável há 30 anos, além de um vídeo da pesquisadora Luciana Mielniczuk, falecida em 2018. Já a atual coordenadora do grupo de pesquisa, a professora Suzana Barbosa, explicou o propósito de comemorar esse marco.
“Nós marcamos muito isso do Jornalismo Digital porque defendemos esse campo de estudos que, como bem disseram Marcos e Elias, desacreditava-se que podia se estabilizar, e hoje podemos ver a preponderância dessa área de formação e de prática que impacta o jornalismo como uma instituição social”, explicou ela.
Foto: Joseanne Guedes
Além da abertura, pela manhã o auditório da Facom também recebeu a palestra “E tudo a Internet levou: memórias póstumas do jornalismo tal como o conhecemos”, do professor português João Canavilhas. Ao longo da palestra, o professor fez um apanhado das transformações que o ambiente digital trouxe ao jornalismo ao longo desses 30 anos, situando a internet dentre outros avanços tecnológicos como a prensa de caracteres móveis e as estradas de ferro, que mudaram o alcance e a velocidade do jornalismo.
“Ao longo do tempo o que tentou-se foi combater a distância e fazer o jornalismo chegar o mais longe possível o mais depressa possível. Então, quando aparece um novo meio que pode ajudar nestes aspectos [como a internet], evidentemente que nós percebemos que algo de importante estava a acontecer”, relatou ele.
Refletindo sobre as mudanças que o meio digital trouxe para a área, como relações mais próximas com as fontes e um acúmulo de funções ao jornalista, João Canavilhas insistiu na importância da escrita e da leitura qualificada como habilidade central do fazer jornalístico. “O fundamental é a língua portuguesa, saber escrever, saber entender aquilo que nos estão a dizer, e depois termos algumas competências técnicas”, pontuou.
Entre as atividades previstas nos próximos dias estão a palestra “Para onde estamos indo? Tendências para o Jornalismo Nativo Digital”, com Paula Miraglia e Marília Moreira, uma entrevista com a chefe da Assessoria Especial da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Nina Santos, e apresentações de trabalhos acadêmicos inscritos no seminário.
GJOL
Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Póscom) da Facom, o Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line desenvolve pesquisas no campo do Jornalismo em Redes Digitais e das Novas Tecnologias de Comunicação desde 1995. Criado pelos Professores Elias Machado (hoje na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC) e Marcos Palacios (Coordenador Emérito / Consultor Sênior), o GJOL é hoje coordenado pela Professora Suzana Barbosa (UFBA). Aborda temas relacionados às inovações no jornalismo, jornalismo digital e intersecções com aspectos da comunicação e da cultura digital.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) divulgou, nesta terça-feira (20/05), o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2024, revelando que, embora o número total de ataques tenha diminuído em relação aos anos anteriores, o cenário permanece grave e preocupante.
Foram 144 casos de violência registrados ao longo do ano — uma média de uma agressão a cada dois dias e meio. Em relação a 2023, quando foram registrados 181 episódios, houve uma queda de 20,44% nos casos de violência contra jornalistas e veículos de mídia no país.
Entre os principais destaques do relatório estão o crescimento do assédio judicial, que representou cerca de 16% dos casos, e a censura, que mais que dobrou em relação ao ano anterior (de 5 para 11 casos). A instrumentalização da Justiça por políticos, empresários e líderes religiosos tem sido usada como forma de intimidação e tentativa de silenciamento da imprensa.
O período mais violento foi entre maio e outubro, durante as campanhas eleitorais, quando ocorreram 38,9% dos ataques. Em julho, mês com o maior número de casos, jornalistas foram ameaçados com armas, alvos de disparos durante coberturas e até tiveram suas casas atingidas por tiros.
Embora nenhum jornalista tenha sido morto no exercício da profissão no Brasil em 2024, a FENAJ alerta para a persistência de práticas violentas — físicas, simbólicas e digitais — especialmente contra mulheres jornalistas. A entidade também denuncia a continuidade de ataques promovidos por políticos, assessores e apoiadores da direita e extrema direita, que respondem por mais de 40% dos casos.
No cenário internacional, a situação é ainda mais dramática: a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) registrou 122 assassinatos de jornalistas em 2024, a maioria em Gaza, durante o genocídio palestino promovido por Israel.
A FENAJ defende a regulação urgente das plataformas digitais e políticas públicas que assegurem liberdade de imprensa, proteção aos profissionais e combate ao discurso de ódio.
“A redução nos números não pode ser usada para minimizar a gravidade da situação. A liberdade de imprensa está sob ataque constante, e proteger o jornalismo é proteger a democracia”, afirma Samira de Castro, presidente da entidade.