A tentativa dos Estados Unidos de influenciar a política brasileira não é de hoje. Bem antes do tarifaço de Donald Trump, o Brasil já havia sofrido as consequências da interferência norte-americana. O mundo vivia a Guerra Fria quando os EUA decidem, em nome do combate ao comunismo, remover o presidente brasileiro João Goulart, o Jango, do seu cargo.
É sobre isso que o Cineclube ALB vai tratar em sua próxima sessão, no dia 20 de agosto (quarta-feira), quando será exibido o documentário ‘O dia que durou 21 anos’ (2012), de Camilo Tavares.
O filme explora o papel que os EUA tiveram no golpe de 1964 e no regime militar que se estendeu por 21 anos, até 1985. Investiga, ainda, o papel do embaixador Lincoln Gordon, gerenciando um polpudo orçamento destinado a financiar estudos e disseminar propaganda para desestabilizar o governo do presidente João Goulart.
A exibição será seguida de um debate com o público, que terá como convidados o historiador e professor Rafael Dantas e o geólogo e professor Arno Brichta, ex-preso político. A mediação é dos Acadêmicos Carlos Ribeiro e Décio Torres Cruz, idealizadores e coordenadores do Cineclube. A realização acontece em cooperação com o Goethe-Institut Salvador. A entrada é aberta ao público e gratuita.
A ALB tem apoio financeiro do Governo da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda (Sefaz-BA), Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA) e da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).
SERVIÇO O QUÊ: CINECLUBE ALB – ‘O dia que durou 21 anos’ (2012), de Camilo Tavares Convidados: Rafael Dantas (historiador e professor); Arno Brichta (geólogo, professor e ex-preso político) QUANDO: 20 de agosto, quarta-feira, 16h ONDE: Auditório do Goethe-Institut Salvador – Av. Sete de Setembro, 1809, Corredor da Vitória QUANTO: Aberto e gratuito
Artigo publicado pelo jornal Tribuna da Bahia em 18/08/25
Inaldo da Paixão Santos Araújo*
Há um silêncio que fala mais alto do que qualquer discurso. Um silêncio que ecoa, por exemplo, pelas paredes do Edifício Ranulfo Oliveira, no coração do Centro Histórico de Salvador. Quem já subiu até lá — com os olhos atentos e o coração curioso e se encantou com a vista de 360° graus da Cidade-Mãe que somente ele proporciona — sabe que aquele espaço não é apenas concreto, vidro e aço. É memória. É vida. É história.
Ali é a sede da nossa Associação Bahiana de Imprensa (ABI), que foi fundada por 73 jornalistas, em 17/8/1930, com o objetivo de defender a liberdade de expressão e zelar pelo respeito às leis.
Durante 13 anos, foi ali que pulsou o centro do debate democrático da Bahia. A antiga sede da Assembleia Legislativa, entre 1960 e 1973, ocupava o plenário cuidadosamente adaptado pelo arquiteto Diógenes Rebouças, um dos nomes mais inspirados da arquitetura modernista brasileira. Ele transformou o auditório Ruy Barbosa em uma caixa de ressonância para as ideias, as divergências e, claro, para as vozes que buscavam representar um povo inteiro.
Ali, por certo, foi o espaço que viu a primeira mulher presidir uma sessão legislativa. Ali ouviram-se discursos inflamados, testemunharam-se decisões marcantes e até silêncios carregados de medo nos tempos duros. Ali também se calaram vozes à força. Ali foi onde 13 deputados foram cassados pelo AI-5 dos tempos trevosos. Ali há um chão carregado de significados.
É uma memória viva, ou, pelo menos, assim deveria ser.
O projeto era ousado desde a origem. A ABI, sob a liderança visionária de Ranulfo Oliveira, pensou um edifício que unisse o jornalismo à sustentabilidade: onde se pudesse locar espaços para garantir a autonomia financeira. Assim, projetado entre 1945 e 1951 por Hélio Duarte e pelo engenheiro civil Ernesto de Carvalho Mange, o edifício foi erguido graças à mobilização popular e às doações provenientes da “Campanha do Tijolo”. Ele foi o primeiro prédio da Cidade Alta projetado de acordo com os novos parâmetros urbanísticos da arquitetura moderna.
O Legislativo baiano foi o primeiro inquilino, saindo das limitações de um velho casarão para um espaço à altura de sua missão.
O edifício foi pensado para ser um espaço vivo, uma fonte de autonomia para a nossa ABI. E por décadas foi. A Assembleia, a Prefeitura, entre tantos inquilinos, passaram por ali, adaptando-se à estrutura sem apagá-la. Hoje ocupam parte do espaço repartições da Prefeitura da Cidade Primeira.
Assim, hoje, o que se vê é outra coisa. Um “almoxarifado” instalado no mesmo local onde, um dia, se discutiu o futuro da Bahia. Os sanitários, assim soube, estão interditados, o foyer virou um abrigo de sucatas, e a sala atrás da antiga mesa diretora — onde tantos destinos foram debatidos — virou um depósito de lixo. O painel de Mário Cravo Jr., que um dia foi o orgulho de um concurso disputado, agora observa tudo em silêncio.
Há também o golpe invisível, o que vem pelas contas atrasadas, pelos pagamentos não atualizados que nunca caem, pelos números frios que decretam, sem alarde, o fim de um ciclo. Esses fatos atuam, assim penso, contra o patrimônio da ABI, contra a história do nosso Estado, contra a cultura que deveria estar sendo reverenciada, não empilhada em meio a garrafões de água e móveis quebrados.
A ABI tem feito sua parte em busca de uma proposta sensata: resolver o impasse do aluguel, sim, mas tendo como o mais importante a preservação do espaço sagrado da memória política baiana. Quanto admiro o velho Clarindo e sua luta!
A esperança agora repousa sobre a sensibilidade do Alcaide Bruno Reis, que já foi deputado estadual e com certeza, entre as atribulações do Executivo, não se esqueceu do lugar onde um dia o poder se sentou.
Mas há tempo. O que foi construído com dignidade pode ser reconstruído com respeito. O sexto andar ainda está lá, esperando por vozes que o honrem. Ainda há história a ser contada — e, quem sabe, continuada.
A cidade muda, se transforma, se reinventa. Mas esquecer suas próprias pegadas é um risco. Porque a história ignorada, um dia, cobra seu preço, e a nossa ABI não pode pagar a conta.
*Inaldo da Paixão Santos Araújo é Mestre em Contabilidade, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, Professor da Universidade do Estado da Bahia, Vice-presidente de Auditoria do Instituto Rui Barbosa, Escritor. <[email protected]>
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) recebeu na tarde desta segunda-feira (18) a visita da gestora administrativa-social da Legião da Boa Vontade (LBV), Rita de Cássia Alves, e Nizete Souza, do Relacionamento Institucional, que estiveram na sede da entidade para prestar uma homenagem pela passagem dos 95 anos da ABI.
O encontro marcou também um gesto de reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo presidente Ernesto Marques em sua gestão, que termina no próximo dia 10 de setembro.
Durante a visita, o diretor social da ABI, Nelson José de Carvalho, recebeu o diploma da LBV. “Foi brilhante essa iniciativa nacional e regional em prestar homenagem à ABI e ao nosso presidente pela administração coroada de êxito. Vocês sempre terão acolhida aqui. As portas estão abertas”, disse ele, acompanhado pelo advogado e escritor Joseval Carneiro, associado da ABI.
“A LBV surgiu dentro da comunicação, na Associação Brasileira de Imprensa, através do nosso fundador, o exímio jornalista Alziro Zarur. E hoje, é uma honra muito grande estar aqui representando o nosso presidente José de Paiva Netto”, afirmou Rita Alves, recordando os estreitos laços entre a LBV e os profissionais de imprensa.