Associações de imprensa e lideranças políticas repudiaram os insultos feitos contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, durante depoimento de um ex-funcionário de uma empresa de disparos em massa à CPI das Fake News. Ao falar ao colegiado, na última terça-feira (11), Hans River do Rio Nascimento afirmou que a jornalista queria um “ determinado tipo de matéria a troco de sexo”. A insinuação foi repetida pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República. A Folha publicou trechos de conversas que desmentem Hans, inclusive com documentos, enviados por ele a Patrícia, que embasaram a reportagem, publicada durante a campanha eleitoral de 2018.
Por meio de nota, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudiaram o “caráter misógino, violento e sexista do ataque à profissional jornalista, utilizado para colocar em dúvida a credibilidade das informações apuradas por Patrícia, uma das profissionais mais respeitadas e premiadas do país”.
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) também se manifestou sobre o caso. “Assim como em quaisquer outras situações onde exista ato que fira a integridade, moral ou física, de jornalistas e profissionais da área da comunicação, externamos o nosso repúdio e dirigimo-nos às autoridades responsáveis para a aplicação das medidas penais cabíveis”, diz a nota, assinada pelo presidente da ABI, Walter Pinheiro. Um manifesto em defesa de Patrícia foi divulgado por mulheres jornalistas, mas também de outras áreas.
Presidente da Comissão dos Direitos da Mulher na Assembleia Legislativa da Bahia, a deputada Olívia Santana (PCdoB) defendeu um movimento de setores da política e da comunicação em reação aos insultos. “A atitude deveria ter sido rechaçada já na própria CPI. São coisas que não se pode deixar correr”, criticou.
Presidente da CPI, o senador Ângelo Coronel (PSD) disse achar “muito triste um parlamentar reverberar ataques a uma mulher e jornalista”, ao comentar a fala de Eduardo. O senador afirmou, no entanto, que não poderia interceder quando ocorreu a declaração do depoente, para não ter sua imparcialidade questionada. “Cabe a ela entrar com um processo contra ele. As notas taquigráficas estão à disposição”, declarou.
Diante do material publicado posteriormente pela Folha, a CPI deverá pedir ao Ministério Público o indiciamento de Hans por falso testemunho, confirmou Coronel. A ideia de acionar o MP foi da deputada federal Lídice da Mata (PSB), relatora do colegiado.
*Texto de Rodrigo Aguiar para o Jornal A Tarde.