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Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres

Celebrado no dia 25 de novembro, o Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1999. A data é uma homenagem às irmãs Maria Teresa e Minerva, conhecidas como as irmãs Pátria. Elas foram torturadas e assassinadas em 1960, a mando de  Rafael Trujillo, ditador da República Dominicana. Conhecidas como “Las Mariposas”, ambas lutavam por soluções para problemas sociais.

No Brasil, de acordo com o Balanço 2014 do Ligue 180 da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), 43% dos casos de violência registrados ocorriam diariamente; em 35%, a frequência era semanal. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública conclui que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país. Embora para os casos de violência doméstica as mulheres brasileiras estejam protegidas pela Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, os dados nacionais são alarmantes.

Na Bahia, o Mapa da Violência de Gênero de 2019 revelou que o próprio lar é o local mais perigoso para as mulheres. De acordo com a pesquisa, em 2017, dos 2.731 casos registrados, 1.069 aconteceram dentro de casa. A cor também é um agravante. O levantamento aponta que 169 das mulheres que sofreram violência na Bahia eram brancas e 1.491 negras. 

Além da violência doméstica, agressões verbais e psicológicas, assédio moral, dentre outras formas de opressão, são motivo de receio por partes das mulheres dentro e fora de casa. Para Amália Casal Rey, jornalista, psicóloga e assistente social, suplente da diretoria de patrimônio da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), já passou da hora de o Brasil criar, através dos órgãos competentes, políticas públicas sólidas e eficazes. “É necessário um novo olhar. Um novo tratamento dado às notícias de tragédias que tornam as mulheres vítimas, muitas vezes, abordadas de forma pontual, superficial e veloz para serem logo substituídas por outras tragédias que lhe roubam a cena”.

A jornalista e secretária da diretoria executiva da ABI, Suzana Alice, chama atenção para o papel da imprensa no enfrentamento da desigualdade e da violência de gênero. “A imprensa é um instrumento fundamental para a denúncia e para a reversão desse quadro persistente, que no Brasil se expressa em estatísticas alarmantes de feminicídio e no surgimento de figuras icônicas, como Maria da Penha e Marielle”, afirma a jornalista. 

De acordo com Suzana, “o esforço que a sociedade brasileira empreende neste momento para erradicar a violência contra a mulher requer uma imprensa livre e ética, capaz de se opor à naturalização da desigualdade e da violência, de combater a impunidade e de sensibilizar a opinião pública para urgente necessidade de superação desse grave problema social”.

Para não esquecer do quão importante é a imprensa tratar deste assunto, reunimos momentos em que o jornalismo na Bahia, no Brasil e fora dele, movimentou-se em prol da causa através de campanhas e reportagens especiais.

Reportagem especial ‘O Silêncio das Inocentes’ – Correio* (2015)

Foto: I’sis Almeida (ABI)

Publicada em 2015, a reportagem especial ‘O Silêncio das Inocentes’, do Correio*, jornal de Salvador, foi produzido pelos repórteres Thais Borges, Clarissa Pacheco e Alexandre Lyrio. Em estilo de ‘reportagem produto’, com um site dedicado a diversas apurações e informações sobre o crime de estrupo, conteúdos em foto, vídeo, áudio e infográficos, chocam certamente até os dias atuais cada leitor. Ao abrir o endereço da web, muitas vozes se misturam e é possível ouvir relatos chocantes de violências sofridas por mulheres do estado da Bahia. O site alerta: “as frases que você ouve a cada instante aqui são regravações de relatos reais. E você não tem como interrompê-las. Assim como as vítimas não podem interromper seus estupros”. 

Em 2017, o Correio* levou o Prêmio Petrobras de Jornalismo com o especial. A equipe concorreu com mais de 1.700 trabalhos e venceu na Regional Nordeste. Além do Prêmio Petrobras, o trabalho conquistou o INMA Global Media Awards – prêmio mundial, considerado o “Oscar dos jornais” -, foi finalista do Latam Digital Media Awards e recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

“Sou Mulher, Quero Respeito”- Rede Bahia/Filiada da Rede Globo (2017)

Marca da campanha “Sou Mulher, Quero Respeito” da Rede Bahia

Quantas vezes mulheres baianas ouviram essa frase? A campanha “Sou Mulher, Quero Respeito” foi criada em função do aumento considerável de casos de violência contra a mulher ocorridos na Bahia. Lançada em abril de 2017, a TV Bahia e suas cinco emissoras no interior do estado exibiram matérias sobre casos de violência. Nelas os jornalistas opinavam sobre os acontecimentos relembrando a campanha marcada pelo símbolo de uma mão aberta, que simboliza o gesto de ‘pedir para parar’. O movimento ainda incentivou a participação dos homens no combate a todas as formas de opressões contra as mulheres.

O caso de Harvey Weinstein nos Estados Unidos – #MeToo  (2017)

Jodi Kantor e Megan Twohey, autoras do livro “She Said” (Ela Disse) | Foto/reprodução: The New York Times

Duas jornalistas do The New York Times conquistaram em 2017 a confiança de dezenas de mulheres, expuseram os casos de assédio de Harvey Weinstein,  ex-produtor de filmes hollywoodianos, e deram um dos maiores furos jornalísticos da década, alcançando o movimento #MeToo à escala global. Quando Jodi Kantor e Megan Twohey começaram a investigar Harvey para uma reportagem do NYT, boatos sobre a forma em que ele tratava as mulheres corria pelas redações, mas nunca alguém ou alguma mulher havia feito uma denuncia publicamente. A apuração contou com uma longa e delicada pesquisa que incluiu entrevista com atrizes, ex-funcionárias das empresas do produtor e outras diversas fontes.

O #MeToo é um movimento contra assédio e agressão sexual a mulheres que começou a se espalhar em outubro de 2017 nos Estados Unidos. O uso da hashtag nas mídias sociais tentava mostrar a prevalência generalizada de agressão sexual e assédio sofrido pelas mulheres, especialmente no local de trabalho.

Vencedoras do Prêmio Pulitzer, outorgado a pessoas que realizam trabalhos tidos como de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical, as jornalistas Jodi e Megan contaram detalhes dos bastidores da reportagem no livro “She Said” (Ela Disse), cuja versão em português foi publicada no Brasil pela editora Companhia das Letras.

“Lute Como Uma Jornalista”, da Fenaj (2020)

Jornalistas em frente ao farol da Barra, vestidas e vestidos com a camisa roxa "Lute como uma jornalista" e com banner em roxo referente ao 8 e março
Foto/reprodução: Fenaj e Sinjorba

Em 8 de março deste ano, Dia Internacional da Mulher, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aproveitou a data para alertar sobre os dados de violência doméstica e feminicídios no Brasil. Com cards em tons de lilás e roxo publicados nas redes sociais, a Federação, junto a sindicatos de todo país, incluindo o Sinjorba, além de outras entidades, publicaram diversos dados sobre a violência contra as mulheres. Diversas jornalistas aderiram a campanha, e uma a camisa “Lute Como Uma Jornalista” se tornou símbolo do movimento.

#ElaNãoPediu, Catraca Livre (2020)

O site de notícias diárias Catraca Livre resolveu, em novembro deste ano, lançar a campanha #ElaNãoPediu. O objetivo é trazer reflexão para o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, celebrado no dia 25. De acordo com o site, “a campanha se baseia em três eixos: – o primeiro é a divulgação de conteúdos que destrincham o problema e mostram caminhos possíveis para resolvê-lo; – o segundo, uma websérie nas redes sociais da Catraca”. Em quatro episódios, o Catraca Livre conta histórias de mulheres vítimas da violência doméstica pelo Brasil e discute a questão a partir da análise de especialistas.

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Antonieta de Barros, um nome para se inspirar

Se a imagem de Maju Coutinho provoca reações diversas no público brasileiro, imagine nos anos 30, como a sociedade reagiu à primeira jornalista negra assumindo um cargo político?  Antonieta de Barros é o nome que protagoniza essa história. Filiada ao Partido Liberal Catarinense (PLC) e eleita como suplente no primeiro ano em que mulheres puderam votar e serem votadas no sistema Executivo e Legislativo do Brasil, Antonieta se tornou deputada estadual na Assembleia catarinense em 1934, exercendo o cargo entre 1935 a 1937. Foi reeleita em 1947, levando o mandato até 1951 pelo PSD (Partido Social Democrático).

A vida e obra de Antonieta de Barros inspirou e inspira muitas mulheres negras todos os dias, mas, infelizmente, o Brasil de 2020 ainda deixa muito a desejar. Em Joinville (SC), a primeira vereadora negra eleita pela cidade sofreu com ataques em suas redes sociais. Ana Lucia Martins registrou boletim de ocorrência ontem (19) em uma delegacia da região em função dos comentários racistas, comentários de ódio e, até mesmo, ameaça de morte. Ana foi eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no último domingo com 3.126 votos – a sétima pessoa mais votada na cidade.

Inspiração no presente

Antonieta nasceu em 11 de julho de 1901, em Santa Catarina, Florianópolis. Hoje, de Barros é considerada personagem fundamental de SC, e cada vez mais, seu nome tem se tornado conhecido em diversos estados brasileiros por sua representatividade. Antes de sua participação na política, aos 21 anos, Antonieta fundou e foi diretora do jornal “A Sema­na”, entre 1922 a 1927. Também diri­giu, em 1930, a revista quinzenal “Vida Ilhoa”. Foi cronista dos jornais “O Estado” e “República”, e assumiu nele, por diversas vezes, o pseudônimo de ‘Maria da Ilha’. Em 1937, publicou o livro “Far­rapos de Ideias”. 

Antonieta, única mulher negra entre diversos parlamentares brancos
Antonieta de Barros entre outros parlamentares em 1935

Hoje, diversos prêmios, coletivos e outros movimentos levam o nome de Antonieta de Barros, dentre eles, o que a jornalista e doutora Cleidiana Ramos recebeu pela Secretaria Municipal da Reparação de Salvador (SEMUR). Ela conta que, embora não possua conhecimento profundo de dados biográficos de Antonieta, em 2011, ter sido  facilitadora em um curso de gênero e raça para jornalistas a ajudou poder conhecer e contar histórias que durante muito tempo foram apagadas no Brasil.

De acordo com a jornalista, o processo de desconhecimento da contribuição de personalidades negras em nosso país é reflexo do histórico escravista. “A colonização é tão recente, que ainda não acabou. A escravidão é um sistema ecônomico e quando falamos sobre movimento negro, estamos falando sobre várias pessoas, não existe como falar de Brasil sem o binômio ‘Casa Grande, Senzala’”, afirma a jornalista. 

Para Cleidiana, o problema nacional é que “o brasileiro tem vergonha de dizer que tem preconceito”, e não assumir o preconceito, dificulta reconhecer a necessidade de estudar a história. O fato de as escolas de jornalismo terem se voltado para aspectos tecnicistas a exemplo, dificulta que os alunos possam conhecer a linha do tempo do Brasil. “Os alunos são ótimos em big data mas não conhecem a história”, reclama a jornalista. Cleidiana instrui que se jovens e adultos querem adquirir conhecimento sobre quem foi importante em nosso país, que se debruce a estudar. “Estudar no sentido de pesquisar, procurar historiadores, antropólogos. O jornalismo dá trabalho, reportagem dá trabalho! É preciso correr atrás”. 

Em 2017, um coletivo formado por alunas negras da Faculdade de Comunicação da UFBA resolveu adotar o nome de Antonieta de Barros. “Começamos com uma iniciativa de estudantes negras para realização do I Encontro Antonieta de Barros de Mulheres da Facom, que aconteceu nos dias 7 e 8 de agosto daquele ano, em um evento de duas tardes,  relatam as estudantes e integrantes do grupo. A partir dos desdobramentos desse evento, o interesse de outras estudantes negras e negros nas questões discutidas, e o crescente envolvimento das estudantes nas questões institucionais relativas a raça e gênero, o grupo decidiu pela criação do Coletivo Antonieta de Barros. 

Formado pelas alunas Mariana Gomes, Glenda Dantas, Rebeca Almeida, Laila Nery, Tainã Souza e Raquel Franco., para o coletivo é importante pensar na construção de um conhecimento interseccional de gênero e raça como auxílio na formação de futuros profissionais da comunicação. “É preciso pensar na consolidação dos valores democráticos em torno de nossas atuações, da construção de um país mais justos e igual para os cidadãos e cidadãs”, relatam as estudantes que responderam à entrevista da ABI de forma coletiva.

Para conhecer Antonieta de Barros

É o trabalho de pesquisadoras como Carol Carvalho, formada em história pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e doutoranda em história também pela UDESC, que tem feito o nome de Antonieta e outras mulheres negras importantes da história do país se tornarem cada vez menos inédito no Brasil. “Entendo Antonieta como uma potência de mulher e alguém que está diretamente articulada com a educação. Suas idéias e seus posicionamentos são muito pertinentes para pensarmos uma educação antirracista, não só de acesso, mas também para pensarmos na permanência dessas pessoas”, afirma Carol. 

Além de historiadora, Carvalho é vice-presidente da Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros (AMAB). De acordo com a pesquisadora, esse ano houve uma articulação muito grande de mulheres negras para se elegerem e lembra. Seu alerta é para que possamos acolher e proteger essas mulheres a fim de que não aconteça com elas o que aconteceu com a vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, assassinada em 2018 junto ao motorista Anderson Gomes, em função de sua atuação Política.

“Precisamos estar atentos e atentas a essa questão, defender pessoas que estão ocupando esses espaços para que nossos direitos sejam garantidos. Os direitos da população negra, LGBTQIA+, combatendo todas as outras formas de opressão”, alerta Carol. “Temos que proteger essas pessoas porque não queremos que aconteça com essas mulheres o que aconteceu com Marielle”, conclui.

*Graduanda de Jornalismo, estagiária da ABI.

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Imprensa e História

60 anos: a história da TV na Bahia é também a história da TV no Brasil

Aos 60 anos, ela está ativa e experimenta novidades, apesar de um tanto insegura com os interesses dos mais jovens. É baiana, com orgulho, mas também reivindica o lugar de brasileira. Ela tem muita história para contar. Esse pode ser um perfil da televisão na Bahia traçado, na última quinta-feira (19), em um debate que reuniu jornalistas, pesquisadores e profissionais da TV para discutir a história e o futuro da produção televisiva na Bahia, em seu sexagenário.

O evento foi a 30ª edição do Em Casa com a Facom, encontro virtual da Faculdade de Comunicação da UFBA, que teve a participação do pesquisador e diretor de televisão Gabriel Priolli, do professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Sérgio Mattos e do apresentador e produtor da TV Aratu Pablo Reis.

A mediação ficou por conta do também jornalista e professor da Facom Washington de Souza Filho. Para ele, com o evento, a UFBA fortalece seu lugar de preservação da memória e discussão das práticas atuais da profissão. Em entrevista à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Washington lembrou que, há 10 anos, a única lembrança dos 50 anos da TV na Bahia foi um livro publicado pela Edufba. Agora, novamente, coube à universidade marcar os 60 anos. “É importante esse diálogo de quem está na academia com quem está no mercado, termos um debate ampliado sobre as transformações político, econômicas e sociais que a TV tem promovido”, afirma o professor. 

Baiana boa
Paulista, Gabriel Priolli dedicou sua exposição para mostrar seu incômodo com os rótulos e discussão sobre o que é uma televisão regional e o que seria a TV nacional, quase sempre entendida como a produção do eixo Rio–São Paulo. “Em setembro, aqui, comemoramos os 70 anos da TV. Não os 70 anos da TV em São Paulo, mas os 70 anos da TV. Enquanto agora comemoramos os 60 anos da TV na Bahia, como se fosse um assunto apenas dos baianos”, provocou Priolli, que lembrou que apenas eventos pontuais, como o Carnaval de Salvador, tornam-se produtos televisivos alçados às redes nacionais. “A TV nacional é a TV do sudeste projetada nacionalmente ou ela pode vir a ser a somatória do que é produzida nas diversas regiões do país?”, indagou. 

A primeira emissora da Bahia foi a TV Itapoan, lançada exatamente no dia 19 de novembro de 1960. Ao resgatar o histórico e o protagonismo da emissora, o pesquisador Sérgio Mattos lembrou que a importância da TV baiana para a história da TV nacional passa por experimentações, pela projeção de artistas como Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, pela atração e fundação das primeiras agências de publicidade no estado e o pioneirismo até mesmo em formatos, como a exibição do primeiro seriado de aventura e a primeira adaptação televisiva do livro Senhora, de José de Alencar – fato contestado pelos paulistas, lembra Mattos. 

TV Itapoan foi a primeira emissora na Bahia | Foto: Reprodução/RecordTV Itapoan

“A Bahia ainda carece de uma história da sua imprensa. Temos alguns recortes dessa história, mas a história da imprensa da Bahia não foi contada”, sugere o professor, que é o autor de História da Televisão Brasileira: Uma Visão Econômica, Social e Política. “Essa história da TV na Bahia é repleta de lutas, êxitos, gafes e pioneirismo. A TV Itapoan contribuiu para a mudança de mentalidade da população como um todo e dos profissionais de comunicação, mudou a cabeça dos empresariados”, avalia Mattos.

Apesar dessas mudanças, os integrantes da mesa concordaram que os interesses comerciais ainda mandam e desmandam na televisão. “A gente tem uma televisão que não existe para fazer cultura e educação, mas para fazer dinheiro. O conteúdo se subordina um pouco a isso e sufoca a cultura regional”, resumiu Priolli. 

Padrinhos
Dois nomes apareceram de modo recorrente nas declarações dos debatedores. Assis Chateaubriand e Antônio Carlos Magalhães, lembrados como importantes articuladores do fortalecimento da TV na Bahia, mas não só. “Ele [Chateaubriand] não é só o iniciador da TV no Brasil como também é responsável pela regionalização ou expansão nacional da TV. Não enfatizam esse aspecto, mas embora tenha saído de São Paulo, a televisão brasileira é obra de um nordestino. Talvez, para os paulistanos, isso seja algo difícil de engolir”, brinca Priolli. Chatô, como é conhecido, é paraibano e além de empresário e jornalista foi político, advogado e professor.    

Já o político baiano ACM foi lembrado como um dos mais poderosos ministros da Comunicação que o Brasil já teve, responsável pela relação que hoje as emissoras têm com a política partidária em vários estados, por conta do modo como ocorreu a distribuição das concessões feita no governo Sarney. Mas também, lembrou Pablo Reis, ACM é responsável por um “DNA baiano” no modo de se fazer televisão. 

Futuro
Sobre o dilema entre nacional e local, no jargão televisivo também conhecido como cabeça de rede e afiliadas, o diretor e apresentador de TV Pablo Reis revela que é um tipo de discussão que tem vivenciado na prática na TV Aratu/SBT  e que há uma busca por equilíbrio. Ele conta que a queda de audiência do conteúdo nacional tem contribuído também para a experimentação e ampliação de conteúdos segmentados e ao vivo. “O pessoal quer se ver mais na TV. Isso [de maior produção local] exige mais investimento, o que, em um ano como esse se coloca em stand-by”, afirma Pablo. 

Como homem de televisão, Pablo mira o histórico do rádio. Ele argumenta como a mídia vizinha saiu de um produto nacional para se fortalecer como um tipo de produção local, mais próxima e com maior participação do público. Pablo, por suas declarações no evento, aposta que esse pode ser o caminho para a TV e, na falta de horas de programação na rede, tem feito experimentações convergentes e formatos de transmissão nas redes sociais, o que tem permitido inclusive realizações de “TV de uma pessoa só”, em substituições de equipes de no mínimo 15 pessoas. Além disso, Reis pensa que os multicanais trazidos pela TV Digital possam ser uma oportunidade das emissoras locais ampliarem sua programação.

Pablo aponta como uma das principais mudanças recentes no modo de fazer televisão a medição da audiência pelo chamado “real time”. Na prática, a resposta do público que antes demorava semanas e depois dias agora é vista minuto a minuto. “Baseado numa reação imediata do público, a gente vai tomando decisões muito com base na psicologia das massas e isso faz com que a gente não tenha tanto tempo assim, algumas vezes, para refletir sobre as decisões que tomamos. Isso é a grande explicação do porquê a TV, e principalmente a TV na Bahia, é do jeito que é atualmente”, avalia.  

Veja como foi o evento

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ABI BAHIANA

Cineclube ABI estreia no dia 24 com exibição e debate do documentário Festa de Iemanjá

Quem está com saudade de festa de largo vai poder, pelo menos, assistir e debater uma das mais populares de Salvador durante a realização do primeiro Sala Roberto Pires – Cineclube ABI, na próxima terça-feira (24), com a exibição do documentário Festa de Iemanjá, da diretora Fabíola Aquino. O evento online será transmitido pela plataforma Zoom, com inscrições gratuitas através do site Sympla.

Para a primeira edição do evento, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) trará umas das primeiras exibições públicas do documentário, que será lançado nesta sexta-feira (20). O diferencial do Cineclube, às 19h da terça (24), será o debate, logo após a apreciação do filme, com a cineasta, parte de sua equipe e alguns dos personagens.

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O Sala Roberto Pires – Cineclube ABI é uma iniciativa que aproxima ainda mais a associação da sétima arte. A ideia é que, em 2021, tão logo as condições sanitárias permitam, haja outras edições do evento de modo presencial na Sala Roberto Pires, espaço que fica na sede da ABI, no Centro. “A ABI tem uma tradição e uma ligação muito forte com o cinema, principalmente por conta do seu acervo de Walter da Silveira, que é um dos melhores, senão o melhor, acervo de literatura de cinema da Bahia”, justifica Nelson Cadena, diretor de Cultura ABI.

O documentário
Em 42 minutos, o documentário recupera a história do surgimento da Festa de Iemanjá em Salvador, celebrada no 2 de fevereiro. O filme tem financiamento da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e foi dirigido, produzido e roteirizado por Fabíola Aquino. “Recebi o convite da FGM para fazer o filme em dezembro e em janeiro já estávamos filmando, tudo rápido e com a sorte de contar com a equipe que confio que é Claudia Chavez e Marcelo Pinheiro, minha montadora e o meu diretor de fotografia, que finalizaram o filme em Lima, no Peru”, detalha a cineasta.

Fabíola tem como assinatura a produção de filmes voltados para a diversidade cultural da Bahia e essa experiência se fortalece com Festa de Iemanjá. As filmagens mais recentes do evento foram captadas este ano. “Tivemos que encurtar as filmagens porque veio a pandemia, mas tínhamos captado 90% do que nos propusemos. Tivemos apoio do Arquivo Público Municipal, com o acesso às fotos antigas da festa, e da TVE, com imagens de uma de suas reportagens sobre a Festa de Iemanjá”, conta Fabíola.

Trailer de Festa de Iemanjá

Cadena conta que, ao ver o filme, ficou impressionado com a riqueza das entrevistas. Participam com depoimentos pescadores tradicionais do bairro, como Comprido, Charles e Noivo (como são, popularmente, conhecidos); lideranças religiosas como Ebomi Cici (Ilê Axé Opô Aganju e Griot) e Pai Dary Mota (Ilê Axê Torrundê Ajangun); estudiosos como a doutora em Antropologia Cristiane Sobrinho; e personalidades como a escritora Paloma Amado, a cantora Nara Couto, o atual presidente da OAB-BA, Fabrício Castro, o presidente da FGM Fernando Guerreiro, a jornalista Dóris Pinheiro, Elaine Assis, que é filha de Dinha do Acarajé, entre outras.

A festa
A festa de iemanjá, que em 2020 foi reconhecida como Patrimônio Cultural de Salvador pela prefeitura, através da FGM, é tradicionalmente organizada por pescadores e tem como ponto alto as cerimônias e reverências do povo de santo, do Candomblé, da Umbanda e outras religiões. Autor de “Festas Populares da Bahia. Fé e Folia”, Nelson Cadena lembra que o centenário da festa se aproxima. “Vai depender do arbítrio do poder público, mas tem duas datas, 2023 ou 2024, já que é baseado no testemunhal de dois pescadores. Zequinha, que já faleceu, contou que a primeiro oferenda [no Rio Vermelho] foi feita na festa de 1923. Existe outro depoimento que diz, não, foi em 1924”, conta Cadena.

Esse histórico ressalta a importância do documentário de Fabíola, já que, de acordo com Cadena, os jornais na época rejeitavam a cobertura de manifestações religiosas de matriz africana. Sabe-se pouco a partir de menções secundárias da festa de Nossa Senhora de Santana, um festejo de elite e que durava dias e que passou a ser sincretizado com o que hoje conhecemos ser a Festa de Iemanjá. “No meio dessa festa tinha as corridas de jangadas e começou a ter as oferendas à Mãe D’água, ainda não chamavam de Iemanjá”, lembra Cadena.

SERVIÇO
O quê: Sala Roberto Pires – Cineclube ABI exibe Festa de Iemanjá
Quando: 24/11/2020, das 19h às 20h30
Onde: Zoom, com inscrições através do Sympla.
Quanto: Grátis

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