O Núcleo de Choro da Escola de Música da UFBA garantiu uma noite emocionante para quem marcou presença na Série Lunar desta quarta (05), no Auditório Samuel Celestino, na sede da Associação Bahiana de Imprensa. Pela primeira vez no projeto, o grupo expressou toda a musicalidade inquieta – por vezes, melancólica – do choro, ritmo nascido no final do século XIX em solo carioca, como resultado da mescla com outros gêneros musicais.
Com a lua cheia como testemunha, um público entusiasmado acompanhava cada música do repertório, cantando clássicos como “Carinhoso”, de Pixinguinha, uma das obras mais importantes da música popular brasileira, “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo, ou “Lamento”, canção de Pixinguinha e Vinícius de Moraes. Mestres como Paulinho da Viola, Jacob do Bandolim e Altamiro Carrilho também foram lembrados.
“A apresentação surpreendeu minhas expectativas, não pela beleza do lugar, porque eu já tinha vindo, mas pela energia do público. Foi muito legal a participação. Ficamos todos encantados. Aguardamos a próxima vez”, comemorou Tadeu Maciel, ao final do show. Para o coordenador do grupo, a vantagem de não ter um repertório fixo é poder improvisar. “É propor o que a gente está sentindo e interagir com o público. É a melhor parte da apresentação é criarmos juntos”, disse.
A Roda de Choro da Escola de Música da UFBA (Emus) é uma importante iniciativa de fomento à cultura do choro no ambiente acadêmico e na capital baiana.
O projeto foi criado em 2019 pelo professor Joel Barbosa, que convidou os estudantes Eduardo Brandão (violão 7 cordas), Tadeu Maciel (pandeiro) e Washington Oliveira (cavaquinho), para tocarem choro no pátio da Emus. Com as apresentações temporariamente interrompidas pela pandemia de COVID-19, o grupo voltou a se reunir em 2022, quando as atividades acadêmicas presenciais foram retomadas. Com mais força, o grupo ganhou novos membros, como Caio Brandão (violão 6 cordas), Jarder Ryan (clarineta) e Leandro Tigrão (flauta doce).
Além de Tadeu, a apresentação desta quarta contou com Caio Brandão, Jarder Ryan, Washington Oliveira, Eduardo Brandão e o músico convidado Tito Fukunaga, flautista e educador musical. Os artistas foram elogiados pela habilidade excepcional, demonstrada tanto pela execução quanto pelo poder de improvisação, que demanda conhecimento e técnica.
Lugar de memórias
Ocorrida na semana do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, o 2 de Julho, a apresentação do Núcleo de Choro coincidiu com a tradicional Volta do Caboclo e da Cabocla ao Pavilhão da Independência, no bairro da Lapinha. Do oitavo andar da ABI, foi possível contemplar a passagem dos ícones da participação popular nas lutas pela liberdade perante o domínio português.
Debruçado na varanda do auditório, Odilon Goes lembrou dos passeios no Centro Histórico ao lado de seu pai, Jorge Goes. A família costumava assistir a festas e manifestações populares a partir do Edifício Themis, vizinho da Associação. E na noite de Série Lunar não foi diferente: o som do chorinho trouxe recordações da infância.
O advogado enfatizou a importância do projeto da ABI em parceria com a Emus. “Eventos como esse precisam estar em nossa agenda, sobretudo de quem está em fase escolar. Salvador é rica por natureza, mas é subaproveitada. Falta ações articuladas na área cultural”, opina o presidente do IODDEB – Instituto dos Operadores de Direito Desportivo do Estado da Bahia.
A Série Lunar, fruto da parceria entre a ABI e a Escola de Música da UFBA, proporciona concertos mensais com professores, servidores do corpo técnico-administrativo e alunos vinculados à Emus.
- Confira cliques de Paula Fróes: