ABI BAHIANA

À espera do acordo negociado com a Prefeitura, ABI cogita trabalho 100% remoto

Na próxima quarta-feira (10), a Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa decidirá as novas medidas de contenção de despesas a serem adotadas pela entidade, que desde abril está em trabalho parcialmente remoto. A instituição precisa se manter adimplente em todas as suas obrigações fiscais e trabalhistas, sob pena de deixar de receber os aluguéis referentes à locação do Edifício Ranulfo Oliveira pela Prefeitura Municipal de Salvador, cujo contrato apresenta 8 anos de congelamento. Após negociação direta com o prefeito Bruno Reis, a ABI aguarda o cumprimento do acordo.

Caso os encaminhamentos internos da Prefeitura não sejam concluídos, e o novo plano de contenção for aprovado na Reunião Ordinária, os serviços prestados à categoria e à sociedade serão oferecidos apenas remotamente, de segunda a sexta, das 8h às 17h, já a partir de 15 de julho.

Como parte das medidas de restrição, o Museu de Imprensa foi fechado em dezembro passado e desde abril a sede da ABI, na Praça da Sé, permanece fechada em dois dias da semana. A redução de despesas foi expressiva, mas insuficiente. Os projetos culturais foram descontinuados, com exceção da Série Lunar, mantida atualmente com apoio de empresários baianos. Todos os projetos de captação de recursos para projetos da Associação dependem também da condição de adimplência para emissão das certidões negativas de débitos trabalhistas e tributários. 

Segundo a Diretoria Executiva, enquanto não for restabelecido o equilíbrio econômico-financeiro da ABI, a prioridade da equipe técnica será a conservação dos acervos, importante ativo da instituição dedicada à memória da comunicação na Bahia.

Uma casa de cultura

O Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, guarda parte da memória da cidade. Não por acaso, o prédio batizado com o nome de quem o construiu é frequentemente procurado por pesquisadores das mais diversas áreas. O imóvel abriga a Biblioteca Jorge Calmon, a Sala de Exibição Roberto Pires, o Auditório Samuel Celestino e o Museu de Imprensa, espaços que regularmente recebem palestras, aulas, rodas de conversas, visitas guiadas, eventos musicais e outras atividades educativo-culturais gratuitas e abertas ao público. A ABI mantém ainda o museu-casa onde nasceu o jurista Ruy Barbosa, na rua Ruy Barbosa, e onde a Associação pretende instalar a Casa da Palavra.

O edifício construído entre as décadas de 1940 e 1950 foi projetado para garantir a sustentabilidade da ABI mediante locação dos espaços não ocupados pela entidade. A Assembleia Legislativa da Bahia foi a primeira inquilina, instalando-se ali de novembro de 1960 até a mudança para a sede no Centro Administrativo da Bahia, que completou 50 anos em março.

Negociação com a Prefeitura de Salvador

A Prefeitura Municipal de Salvador, atual locatária, ocupa mais de 2/3 do Ranulfo Oliveira. Nos últimos anos, a pedido do Gabinete do Prefeito, a ABI comprometeu grande parte de suas reservas financeiras numa série de melhorias e, por decisão da Diretoria Executiva, investiu em adequações aos atuais padrões de segurança na edificação. 

Foram executadas obras de atualização das instalações elétrica e hidráulica, com instalação de uma subestação de energia, o Sistema de Prevenção e Combate a Incêndios (PCI) e do Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA). Mesmo com as restrições financeiras, a ABI figura entre os raros proprietários na região que atendem cerca de 100% das regras de segurança contra incêndios, situações de pânico e descargas atmosféricas.

“Esses investimentos foram feitos na expectativa de atualização dos contratos, pois os valores estão congelados desde outubro de 2015. Por esta razão, a ABI ficou descapitalizada”, explica Ernesto Marques, presidente da ABI. 

No dia 5 de junho, o dirigente participou de uma reunião com o chefe do Executivo municipal e a secretária de Comunicação, Renata Vidal. A conversa resultou em uma fórmula para resolver o impasse de maneira a cumprir o contrato de locação e a legislação municipal. Assim, além de corrigir valores com base no índice estabelecido no contrato – o mesmo indexador usado em todos os contratos de locação de imóveis –, a composição feita na reunião viabilizaria investimentos no Edifício Ranulfo Oliveira. 

A negociação, porém, ainda não foi efetivada, impondo à ABI a necessidade de novas medidas de contenção que afetarão o funcionamento da entidade e todas as suas atividades culturais, sociais e administrativas.

“A ABI compreende as dificuldades da gestão e espera, pacientemente, o encaminhamento do acordo negociado diretamente com o prefeito Bruno Reis. Por esta razão, e para manter-se adimplente com todas as obrigações trabalhistas e tributárias, iniciamos medidas de contenção de despesas desde o ano passado, mesmo antes do fechamento do Museu de Imprensa”, relembra o dirigente.

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Notícias

SBPC, UFBA e IAT promovem debate sobre IA e divisão do trabalho

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC) da Faculdade de Educação da UFBA promovem o programa “SBPC vai à Escola”, uma série de atividades associando ciência, educação e comunicação. Nesta sexta-feira (5), às 14h, acontece o debate sobre “Inteligência Artificial e a atual divisão internacional do trabalho”, fruto da parceria do projeto com o Instituto Anísio Teixeira (IAT)/Secretaria de Educação da Bahia.

O encontro será na sede do Instituto Anísio Teixeira, na Avenida Paralela, e pode ser acompanhado de forma remota pelo Youtube do IAT (https://www.youtube.com/watch?v=qW3BWnOj6-4).

O conferencista é o professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC paulista. Como debatedoras, o evento traz as professoras Karina Menezes, da FACED/UFBA e integrante Raul Hacker Club; Tania Hetkoski, professora da UNEB e Secretária Regional da SBPC e Rita Fernandes, da Faculdade de Medicina da Bahia, Programa de pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho e do PPgSC/ISC – UFBA. A coordenação do debate será da professora Salete Noro, da FACED/UFBA, integrante da secretaria regional da SBPC.

A promoção das atividades é feita pela SBPC e o GEC/FACED/UFBA, com apoio do CNPq, IAT/SEC e Academia de Ciências da Bahia.

Sobre a SBPC

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é uma entidade civil, sem fins lucrativos ou posição político-partidária, voltada para a defesa do avanço científico e tecnológico, e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Desde sua fundação, em 1948, a SBPC exerce um papel importante na expansão e no aperfeiçoamento do sistema nacional de ciência e tecnologia, bem como na difusão e popularização da ciência no País.

SERVIÇO

Conferência e debate “Inteligência Artificial e a atual divisão internacional do trabalho”
Data: 5 de julho, 2024
Horário: 14h
Local: Instituto Anísio Teixeira (IAT) SEC/Bahia – Av. Paralela

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ABI participa de evento no IAT sobre IA e relações de trabalho

“Algum de vocês já viu uma máquina de escrever?”, perguntou o jornalista Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa, para uma plateia repleta de estudantes, durante o debate “Inteligência Artificial e a atual divisão internacional do trabalho”, na sede do Instituto Anísio Teixeira, na tarde de hoje (5).

O evento foi realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC) da Faculdade de Educação da UFBA, no âmbito do programa “SBPC vai à Escola – Fazendo ciência através da rádio: da produção de conteúdos à comunicação científica”, uma série de atividades associando ciência, educação e comunicação, com o apoio do CNPq, IAT/SEC e Academia de Ciências da Bahia.

Coordenado pela professora Salete Noro, o debate público teve como conferencista o professor Sérgio Amadeu da Silveira, da Universidade Federal do ABC paulista, e abordou as novas relações de trabalho, precarização, empreendedorismo e outras temáticas importantes sobre a atual roupagem do mercado e os impactos das inovações tecnológicas.

No espaço de abertura, ao lado de Ernesto Marques, estavam o anfitrião, Iuri Rubim, diretor geral do IAT; Manoel Barral, presidente da Academia de Ciências da Bahia (ACB); Nanci Rebouças Franco, diretora da Faculdade de Educação da UFBA; e o coordenador do projeto, Nelson Pretto, professor da FACED e líder do GEC.

Marques refletiu sobre as ferramentas usadas por comunicadores no passado e as mudanças trazidas pelas novas tecnologias. “Recebemos estudantes de Comunicação lá no Museu de Imprensa e o pessoal olhava para a máquina de escrever como se estivesse diante de um achado arqueológico ou algo de outro mundo”, brincou. 

De acordo com ele, o debate é essencial e interessa a todos os jornalistas “para muito além da abordagem meramente sobre o uso da tecnologia, mas da forma como isso nos impacta e impacta também na qualidade dos contratos de trabalho, na remuneração”.

Ele citou a redução das funções de radialistas e lembrou da época em que atuou como repórter de TV. “Os carros de reportagem tinham cinco pessoas. Hoje, uma moto com celular é quase uma emissora completa. Você pode fazer transmissão ao vivo, grava, edita, pinto e borda, publica”, comparou. “Isso é fascinante, mas para nós teve efeito também devastador no plano das relações de trabalho”, analisou o comunicador.

O presidente agradeceu o convite e colocou a ABI à disposição para receber os estudantes, pesquisadores e cientistas vinculados ao IAT, à SBPC e à ACB, assim que a entidade normalizar suas atividades. “Estamos atravessando uma situação de dificuldade que tem afetado o nosso funcionamento, mas assim que tudo tiver ok, vocês podem conhecer a ABI e o Museu de Imprensa e a ABI. Além disso, o dirigente também falou sobre a possibilidade de realização de eventos no prédio da Associação.

“Nossa estrutura está à disposição para promover atividades, independentemente de ter relação com a imprensa. A ABI é uma instituição de jornalistas, de comunicadores, mas também uma instituição da sociedade baiana e está lá para servir”.

Perdeu o evento? Assista no Youtube do IAT.

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ABI e Afirme-se assinam termo de doação do acervo da “Província da Bahia”

A ABI e o Centro de Práticas e de Estudos de Diversidades Culturais – Afirme-se assinaram, na manhã de hoje (3), o termo que oficializa a incorporação da coleção da “Província da Bahia” ao acervo do Museu de Imprensa. O veículo fundado pelo jornalista Fernando Conceição, professor vinculado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), representa um marco para a imprensa alternativa no estado. Suas páginas receberam a colaboração de importantes jornalistas em todo o período de circulação, desde meados dos anos 90 até 2005, quando suas atividades foram encerradas. 

Foram doados pelo Afirme-se 36 exemplares – com exceção dos números 1, 3 e 32. Após a avaliação técnica, histórica e cultural do material pela equipe coordenada pela museóloga da ABI, Renata Santos, a coleção incorporada será disponibilizada à sociedade para fins educativo-culturais e de pesquisas.

Diante de convidados como Tuzé de Abreu, José Cerqueira e Carlos Verçosa, o ato de doação reuniu na sede da ABI estudantes de comunicação e profissionais das áreas da museologia, restauração, história, arquivologia e biblioteconomia. 

De acordo com o presidente da ABI, Ernesto Marques, em breve, a ABI realizará um evento para abordar com profundidade os aspectos da imprensa alternativa. Ao lado do 1º vice-presidente da instituição, o jornalista e pesquisador Luis Guilherme Pontes Tavares, especializado na história da imprensa baiana, ele recebeu o professor Fernando Conceição e a presidente do Afirme-se, a professora Rebeca Teles, para a formalização da transferência do acervo.

Acervo

Rebeca Teles agradeceu à ABI por assumir a tarefa de cuidar da coleção anteriormente doada ao Afirme-se por Fernando Conceição. A dirigente também pontuou semelhanças entre os objetivos da ABI e da ONG.

“A preservação da memória é um fator histórico e cultural que também está dentro das competências e escopo do Afirme-se, como uma organização não-governamental”, afirmou Teles. “Após ouvir o relato de todos os presentes a respeito da relevância da imprensa alternativa, a passagem de acervo para a ABI é ainda mais importante e especial”, salientou Teles.

Presidente executivo da ABI, o jornalista Ernesto Marques agradeceu a doação, reafirmando a importância dos acervos e do trabalho de preservação da memória baiana que é feito pela entidade.

“É um ato de confiança, nós entendemos dessa forma. O que se deposita aqui não são livros e documentos. Quando recebemos, por exemplo, em 2015, o acervo de Walter da Silveira, tivemos a noção exata da responsabilidade que estava sobre os nossos ombros”, relembrou Marques.

“Do ponto de vista institucional é uma satisfação tê-los nesta cerimônia”, celebrou Luis Guilherme Pontes Tavares, reconhecendo a riqueza do bate-papo que teve a participação de alunos da matéria “História do Jornalismo”, ministrada por Fernando Conceição na Facom. “Disciplinas como essa são fundamentais para a formação e nunca deveriam ter saído do currículo do curso de Jornalismo”, avaliou. 

Emile Batista, estudante do bacharelado interdisciplinar (BI) em humanidades e futura aluna da Facom, afirmou ter enriquecido ainda mais sua compreensão sobre a área em que deseja atuar. “Achei muito importante, principalmente porque sai um pouco da lógica de imprensa engessada. Existem coisas que jamais seriam ditas como são na mídia alternativa, além desse resgate da memória”.

O professor, pesquisador e jornalista Fernando Conceição reiterou o compromisso com a salvaguarda da história da imprensa baiana e o papel da ABI como guardiã da sua coleção e de outros periódicos importantes para a cidade. “Eu gostaria de agradecer a ABI por receber esse acervo, para preservar a memória da imprensa alternativa. Foi um prazer encontrar vocês todos aqui”, resumiu.

Memória

A Província da Bahia foi lançada por Fernando Conceição, em 1996, com o objetivo de contribuir com o debate político-cultural de Salvador, e se firmou como forte representante local da imprensa alternativa, com suas pautas criativas, que traziam reportagens investigativas e polêmicas.

O impresso, encerrado em 2005, era distribuído gratuitamente na capital baiana, com periodicidade quinzenal, no início, e, mais tarde, mensal. A tiragem poderia variar entre 5 mil a 10 mil exemplares. Seu slogan “Quem não é o maior, tem de ser o melhor” já traduzia a disputa com a mídia tradicional.

Foto: Joseanne Guedes/ABI

O jornal chegou a faturar o prêmio Banco do Brasil de Jornalismo em 2001, ao lado de A Tarde, e o primeiro lugar no prêmio de Jornalismo Ambiental do Cofic, ao lado da TV Bahia, em 2003.

Na breve conversa que antecedeu a assinatura do termo de doação, o jornalista e associado da ABI, José Cerqueira, traçou um contexto histórico da imprensa alternativa em Salvador, estabelecendo paralelos entre os periódicos “O Verbo Encantado” e “Província da Bahia”. Em comum, os jornais tinham o humor ácido, as principais pautas trazidas sobre o direito das mulheres, do movimento negro e das questões levantadas por LGBTQIAPN+, além das dificuldades financeiras para  manter a periodicidade da publicação. Uma das particularidades do “Verbo” foi ter circulado na capital baiana durante a ditadura militar.

“Nós queríamos ultrapassar as barreiras morais da época”, destacou Cerqueira. Segundo o jornalista, O Verbo passou a buscar liberdade existencial, fundamentalmente. “O Verbo Encantado enfrentou o ápice da ditadura militar, o mais sanguinário dos ditadores, que foi Médici”, relembrou. Ele também descreveu como a contracultura influenciava as pautas do jornalismo alternativo e falou sobre as articulações que originaram movimentos culturais de vanguarda como o tropicalismo, ocorrido no Brasil no final da década de 60 e capitaneado por figuras como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Leitor assíduo de jornais alternativos, o cantor, compositor e multi-instrumentista Tuzé de Abreu revelou como teve seu primeiro contato com a Província. “Eu saía muito, frequentava todos os cinemas de Salvador, principalmente a Sala Walter da Silveira”, contou Abreu. “Eu via todos os filmes que passavam ali, desde que inaugurou. Chegava cedo, tomava um cafezinho e lia os exemplares”. Já O Verbo, ele adquiria nas bancas a Cr$ 1,80.

Preservação

No final da década de 1970, a ABI, sob a supervisão da pesquisadora e folclorista Hildegardes Viana, iniciou o projeto que deu início ao acervo de periódicos do Museu de Imprensa, inaugurado em 10 de setembro de 1976. O trabalho de preservação da memória foi lembrado pela bibliotecária da Associação, Valésia Vitória.

“Hildegardes Viana foi quem teve a ideia de começar a conservar os jornais em circulação na Bahia. Foi como começou, com a museóloga Lygia Sampaio sendo responsável pela catalogação dos exemplares”, observou.

A pesquisadora e arquivista Niury Magarefe, mestranda em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA), acompanhou a equipe da ABI e foi responsável pela catalogação dos exemplares. Por entender a importância de acervos como esse, celebra sua preservação e o projeto realizado.

“Agradeço a oportunidade de participar do projeto. Gostaria de lembrar que a preservação também se dá a partir dos arquivos das bibliotecas e dos museus. Não é só pegar um jornal e guardar em uma gaveta”, afirma Magarefe. “Também é preciso descrever e colocar em sistemas, fazer com que esses documentos estejam disponíveis e acessíveis para pesquisa. Os arquivistas e museólogos são essenciais para isso”, ressaltou.

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