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Artista visual do LabFoto da Facom é selecionado pelo Festival Photothings e lança livro

A Coleção Photothings, que já conta com 20 fotolivros, será enriquecida com cinco novos títulos escolhidos por especialistas da área nesta edição do Festival Photothings. Um desses lançamentos é o ensaio “Tudo que sonhei antes do fim”, do comunicólogo e artista visual baiano Caíque Silva. O trabalho é resultado de uma incubadora de projetos autorais do LABFOTO (Laboratório de Fotografia da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia – FACOM/UFBA) e contou com a orientação de Rodrigo Rossoni e Paulo Coqueiro.

A 4ª edição do Festival Photothings, organizado pela Porto de Cultura, ocorre nos dias 14 e 15 de setembro, no Centro Cultural Monte Azul, em São Paulo. O evento foca em artistas que utilizam a fotografia como meio principal de seus trabalhos e busca estimular a produção nacional, destacando proposições autorais em suas múltiplas formas.

Caique Silva é natural de Amélia Rodrigues, mas vive em Salvador desde bebê. Graduou-se em Comunicação Social e é estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Artes na UFBA, onde integra o laboratório de fotografia (LABFOTO) e o grupo de pesquisa “Imagem Articulada”. Artista visual que transita entre fotografia, performance e audiovisual, ele cria imagens estáticas e em movimento para artistas da música da cena baiana.

O ensaio

O ensaio fotográfico “tudo que sonhei antes do fim” nos convida a uma jornada onírica pela natureza que ainda resiste. Inspirado na obra do filósofo Ailton Krenak, as imagens propõem uma reflexão sobre a relação da “humanidade” com a Terra, confrontando-nos com a exploração desenfreada que ameaça a nossa própria existência.

Em meio aos bolsões verdes da Mata Atlântica na Bahia, a linguagem da fotoperformance se entrelaça com a efemeridade da natureza e a melancolia da iminente perda, tecendo um mosaico de imagens que revelam a beleza crua e frágil da Terra. Ações sutis de interação com os elementos naturais sugerem uma busca por reconexão ancestral, um anseio por um retorno às nossas raízes profundas. 

A ideia de natureza não se resume à paisagem. Corpo e território são imbricados e é a partir desse diálogo que nascem as imagens desse ensaio. Interações com o corpo-terra e suas materialidades buscam despertar e/ou criar memórias com a nossa ancestralidade verde, enquanto há tempo.

Sobre o Festival:

Com a proposta de estimular a produção fotográfica nacional, o Festival Photothings é dedicado aos artistas visuais que tenham a fotografia como suporte para o seu trabalho. Seu principal objetivo é estimular a produção fotográfica e oferecer a oportunidade para que novas produções artísticas possam aparecer e contribuir para a cultura brasileira. Sem um tema curatorial pré-estabelecido, a intenção é delinear um panorama plural da fotografia autoral produzida por uma geração de artistas pouco conhecidos neste segmento, causada pela ausência de oportunidades de acesso ao mercado, restrito nas mãos de poucas galerias e feiras de arte.

Com entrada gratuita, a exposição coletiva do festival apresentará 30 fotografias produzidas pelos artistas selecionados, impressas com pigmentos minerais sobre tela em canvas.

Instagram: https://www.instagram.com/photo.things/

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ABI BAHIANA

Debate sobre fronteiras narrativas encerra III Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura

A terceira edição do Simpósio de Jornalismo e Literatura, promovida pela Associação Bahiana de Imprensa, Academia de Letras da Bahia e Gabinete Português de Leitura foi encerrada no início da noite desta quinta-feira com uma rodada de conversas sobre Fronteiras Narrativas e da Liberdade. Para finalizar esse dia marcado pelo que há de mais arrojado nos debates sobre comunicação no século XXI, três jornalistas e membros da ABL se reuniram para acrescentar a perspectiva literária aos problemas da fake news e crise do jornalismo. Carlos Ribeiro, Emiliano José e Paulo Ormindo foram mediados pela também jornalista Mara Santana, diretora da ABI e assessora de Comunicação da Procuradoria-Geral do Estado da Bahia.

O jornalista e escritor Carlos Ribeiro foi o primeiro a falar. Usando da literatura para discutir sobre a natureza incerta do mundo atual de fake news e pós-verdade, Carlos leu um conto de sua autoria intitulado “O Visitante Onírico”, no qual imagina um mundo de sonho sem parâmetros ou certezas. Foi esse estado onírico e assustador que ele comparou ao ambiente midiático de plataformas:  

“O absurdo da existência ultrapassa a fronteira do simbólico com o real, passando a nos assombrar quando se instala no nosso cotidiano. Não mais como um conto de Kafka, mas nas manifestações que nos chegam através das redes sociais, no teatro do absurdo da política, no neopentecostalismo. E somos compelidos a avaliar nossos próprios conceitos de verdade, de mentira, de falsas e meias-verdades, de manipulações semânticas”, comentou ele.

A mesma inquietação com a inversão de conceitos e dificuldade em fixar o significado de conceitos marcou a fala do professor e escritor Emiliano José. Tecendo comentários em diálogo com a mesa anterior, sobre Inteligência Artificial, Emiliano lamentou a distorção da pauta da liberdade de imprensa para defender justamente ideias que antagonizam a pluralidade de ideias.

“Inverteu-se tudo: estamos discutindo liberdade de expressão para os nazifascistas. O país está discutindo se vamos dar anistia ou não para os nazifascistas que fizeram o Oito de Janeiro. Firmar a ideia da democracia implica convivência de contrários, o diálogo entre correntes diversas, mas em obediência a um mundo civilizado”, pontuou.

Outro consenso ao longo da mesa foi a defesa da literatura como caminho para nos aproximar dessa pluralidade, ao permitir o mergulho em perspectivas diversas. O jornalista e arquiteto Paulo Ormindo adicionou a esse ponto sugerindo uma aliança mais próxima entre a literatura e o jornalismo: relembrou que romances de Machado de Assis e José de Alencar foram publicados em capítulos diários nos chamados folhetins, atrelados aos jornais. Para ele, a literatura e o jornalismo podem se ajudar mutuamente ao retornar a esse formato, assim como novelas hoje sustentam audiências na televisão

“Novela é um filhote do folhetim, e é ela que garante a grande audiência das tevês. Há muitos autores jovens que querem publicar independentes de remuneração, mas os jornais têm que saber o que publicar para ter êxito. Tem que criar um corpo de gente crítica para poder escolher”, disse ele.

VEJA COBERTURA DE OUTROS MOMENTOS DO SIMPÓSIO

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ABI BAHIANA

Mesa discute consequências do uso da Inteligência Artificial

Da relação que humanos estabelecem com tecnologias ao poderio econômico e política das empresas por trás delas, a mesa “Inteligência Artificial e os impactos na Democracia” abriu a tarde do III Simpósio de Jornalismo e Literatura. As apresentações e debates foram mediados pelo professor Adriano Sampaio (Facom /Ufba) e contaram com a presença de Suzana Barbosa, professora e uma das líderes do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL), Frederico Oliveira, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), e Lucas Reis, coordenador do Comitê de Inovação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).

Em sua apresentação, Suzana analisou os impactos do uso da inteligência artificial no jornalismo e destacou que os benefícios se dão em um contexto de poder financeiro, tecnológico e de participação das big tech como as gigantes Alphabet, Amazon, Meta, Apple e Microsoft.
Segundo Suzana, a atuação dessas empresas tem efeito no ecossistema de notícias composto tanto de veículos hegemônicos quanto de veículos menores, tendo implicações “principalmente no processo que a gente considera de inovação, mas uma inovação interessada, digamos assim. E o liberalismo e capitalismo tecnológico e informacional obviamente não são nada ingênuos e investem nas organizações jornalísticas de notícias com fortes intenções”, constata.

Para Fred Oliveira, parte importante de “pensar o impacto das IAs” é fugir da ideia de que estamos lidando com caixas-pretas e que não conseguiríamos decifrar os algoritmos envolvidos, desde o Instagram a robôs domésticos e algoritmos de identificação facial.

“A gente tem que pensar o que está sendo feito, para quem e de que modo, o que é utilizado. Não é simplesmente uma questão de ‘poxa, tá facilitando a minha vida’, isso tem uma forma específica de fazer”, pondera o pesquisador, que durante sua apresentação comentou aspectos da “produção” dessas IAs – que vão desde a utilização não autorizada ou remunerada do trabalho de outros criadores, como jornalistas, à produção material das tecnologias que envolvem a mineração abusiva de lítio.

Oliveira destacou ainda que, enquanto os dados e sua reprodução por parte de IAs (generativas ou não) são considerados apolíticos, as bases utilizadas e a forma que são construídas causam implicações para a população afetada. Ele exemplificou a questão com o uso de IAs em câmeras de vigilância para identificar suspeitos no banco da polícia, prática que chegou a resultar em prisões injustas em estados do Brasil, inclusive na Bahia.

“Você vai ver que as bases utilizadas não permitem que esses sistemas sejam precisos e você vai ter por causa disso implicações para a população mais pobre pessoalmente. O número de câmeras na Barra, por exemplo, é muito maior do que o número de câmeras em Cajazeiras. Então você tem em Cajazeiras até uma taxa de erro ainda maior”, observou.

Envolvido na observação de negociações relacionadas à regulamentação e mobilização de interesses de empresas de tecnologia, o coordenador do Comitê de Inovação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Lucas Reis, apresentou tratados e regulamentações que têm sido negociados com as empresas de tecnologia por outras nações democráticas para lidar com os usos e desenvolvimentos das Inteligências Artificiais.
“Quando eu escuto fora de lá parece que as empresas estão controlando o jogo, e quando você discute com elas, elas estão desesperadas correndo atrás, uma equipe gigantesca monitorando projeto de lei e conversando com um deputado para defender seus interesses”, dispara.

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ABI BAHIANA

III Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura reforça a importância da liberdade de expressão

Samantha Freire e Maria Raquel Brito


Em tempos de proliferação cada vez mais intensa de notícias falsas e utilização equivocada de ferramentas de inteligência artificial, reforçar o papel do jornalismo e da literatura na defesa da verdade se mostra uma tarefa cada dia mais urgente. É por isso que, em sua terceira edição, realizada nesta quinta-feira (12), o Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura, através do tema “Verdade e Liberdade de Expressão”, reconhece aqueles que se destacam na luta contra a desinformação e a censura.

A abertura do evento foi marcada pela emoção, com homenagens à jornalista catarinense Juliana Dal Piva (ICL Notícias), ao jornalista baiano Flávio Costa (Portal UOL/Alma Preta) e ao jornalista britânico Dom Phillips (assassinado em 2022 na Amazônia, junto com o indigenista Bruno Pereira), representado por sua viúva, a ativista baiana Alessandra Sampaio. O site de notícias Diário do Centro do Mundo (DCM) também foi homenageado.

Para Ordep Serra, presidente da Academia de Letras da Bahia (ALB), os homenageados representam a importância da escolha do tema do Simpósio. “Eu costumo dizer que a liberdade de expressão tem sido caluniada […] Esses [jornalistas e escritores] que trabalham com veracidade, que usam efetivamente a liberdade de expressão, são combatidos. Por isso essa nossa ideia de homenagear jornalistas que sofrem perseguição, porque usam de maneira efetiva a liberdade de expressão para procurar a verdade” afirmou o antropólogo.

Ele mencionou ainda em seu discurso o jornalista Julian Assange, editor-chefe do “WikiLeaks” que ficou preso por 1901 dias por revelar documentos que registravam crimes cometidos por militares norte-americanos nas chamadas “Guerras contra o terror”, no Afeganistão e Iraque.

A jornalista Juliana Dal Piva (ICL Notícias), apresentadora do podcast “A vida secreta do Jair” e autora do best seller ”O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro”, foi a primeira homenageada. Para Dal Piva, o jornalismo investigativo ganhou um novo significado nos últimos anos, caracterizados por uma aceleração na produção e disseminação de fake news, passando a ser uma defesa do próprio ofício do jornalismo.
“Mais do que se propor a investigar e trazer as informações corretas dos assuntos, que normalmente já teriam que ser feitos pela sociedade em que a gente vive, pelos programas que nós temos, [o jornalista] ganha mais um trabalho, que é também investigar as mentiras que são feitas. Inclusive em cima de jornalistas e do exercício jornalístico” afirmou.

A jornalista desenvolvia trabalhos de apuração relacionados à ditadura brasileira e começou a pesquisar sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo envolvimento dele com militares presentes nos casos que ela investigava.

Dal Piva recebeu mais de uma vez ameaças por seu trabalho. Em 2021, quando foi ao ar o último episódio de “A vida secreta do Jair” – produzido em colaboração com o UOL – recebeu ameaças do então advogado de Bolsonaro e precisou adotar medidas de segurança no ambiente digital.
O segundo homenageado da manhã foi Flávio Costa, colunista do Portal UOL e consultor editorial do site Alma Preta, autor de reportagens investigativas sobre corrupção no Judiciário e na política, crime organizado e violações de direitos humanos. Flávio relata que seus 21 anos de carreira foram marcados por perseguições e preconceito.

Baiano, ele destaca que sua construção enquanto jornalista se deu nas ruas de Pernambués, bairro em que cresceu, e revela uma relação de “amor e indignação” com Salvador, cidade “mãe, mas cruel”, e a desigualdade, racismo e preconceito . Essa relação e as dificuldades, segundo o jornalista, inspiram sua batalha como jornalista.

“É um momento ruim para as empresas [de comunicação] baianas. Eu acho que as pessoas não se veem representadas e não veem sendo discutidos os problemas que mais as preocupam em relação à cidade”, afirmou o jornalista, que vê o Simpósio e eventos semelhantes como ações de resistência.

A terceira homenagem foi para o jornalista britânico Dom Phillips (assassinado em 2022 na Amazônia, junto com o indigenista Bruno Pereira), representado pela viúva, a ativista baiana e diretora do “Instituto Dom Phillips”, Alessandra Sampaio. Na época do assassinato, Dom Phillips estava no Vale do Javari, região da Amazônia marcada por conflitos por terra e presença de grileiros, fazendo pesquisas para a escrita de seu novo livro.

Em discurso transmitido em vídeo, Alessandra destacou a importância do combate à desinformação no caso do assassinato de seu marido. A ativista afirmou que, na época do crime, surgiram versões que chamavam Dom e Bruno de aventureiros.

“Acho muito importante trazer a verdade das histórias, porque fica muito claro que pessoas que criam e espalham fake news usam isso em benefício próprio, o que causa muito prejuízo para toda a sociedade. Por isso, eu acho tão importante a gente defender a liberdade da imprensa, sendo a imprensa essa fonte de informação confiável”

defende Alessandra.

Juliana Dal Piva e Flávio Costa estarão amanhã (13) às 16h30 no Gabinete Português de Leitura, na Praça da Piedade, para uma sessão de autógrafos. Costa é autor dos livros de contos “Caçada Russa” (publicado pela Penalux em 2016) e “Você morre quando esquecem seu nome” (Bissau, 2020).

União entre instituições
A abertura do Simpósio foi realizada pelas instituições organizadoras do evento, Associação Bahiana de Imprensa (ABI), na pessoa do presidente Ernesto Marques, Academia de Letras da Bahia (ALB), com o presidente Ordep Serra, e o Gabinete Português de Leitura (GPL), representado pelo presidente Daniel Bento e pelo vice-presidente Flávio Novaes.
Para Marques, a necessidade das instituições trabalharem juntas se encontra em compartilharem da mesma matéria-prima: a realidade e os fatos. O presidente da ABI destaca ainda que o Simpósio ocorre em um momento que há debates sobre possibilidades de regulamentação e os impactos na atuação desses profissionais.

“Isso afeta diretamente tanto os jornalistas, que trabalham com fatos, como os escritores, que precisam ter essa liberdade de expressão garantida para que, a partir das suas reflexões teóricas ou literárias, possam converter realidade em ficção, literatura, cinema e todas as linguagens possíveis” comenta.

Este ano, o simpósio é realizado presencialmente pela primeira vez desde a edição inaugural, que aconteceu em 2021, em meio à pandemia. Para selar esse compromisso, a ABI e a ALB, que se unem na realização desde o primeiro simpósio, assinaram ainda um acordo de cooperação técnica durante a abertura.

Nesta edição, o Gabinete Português de Leitura se juntou pela primeira vez à ABI e à ALB no evento. Para Flávio Novaes, que também é jornalista e associado à ABI, integrar o simpósio ao lado das duas associações é motivo de orgulho. O Gabinete levou para o simpósio um convidado de honra: João Figueira, jornalista, professor e coordenador da pós-graduação em Comunicação na Universidade de Coimbra, que apresentou a primeira conferência do evento.

“É uma alegria para o Gabinete participar pela primeira vez desse seminário. Eu estou muito feliz com esse processo de aproximação que tem sido conduzido por Ernesto, na presidência da ABI, e também nesse evento junto com a Academia de Letras da Bahia. São três instituições importantíssimas para a nossa sociedade”, defende.

Novaes aponta que o GPL é a instituição cultural mais antiga em atividade na Bahia, com 106 anos, e sua sede, assim como outros prédios do Centro Histórico, passou por um momento de desvalorização e esquecimento e tenta se reerguer “A gente acredita que nesse movimento de reconhecimento desse espaço importante na história da nossa cultura que a gente consiga também voltar aos anos de ouro do Gabinete. E estar em companhia da ABI e ABL, só reforça esse movimento”.

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