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Memórias do Jornalismo Negro: Mídias negras digitais no século XXI.

Fonte: Pexels/Canva

Por André Santana

Na edição especial da revista “Memória da Imprensa” (junho de 2025), sobre “Racismo, Economia e Jornalismo”, trouxemos artigo do jornalista e pesquisador André Santana. Na ocasião, foi publicado um resumo do trabalho, devido às limitações de espaço da edição física, intitulado: “Memórias do Jornalismo Negro: Mídias negras digitais no século XXI”.

Reconhecendo a importância e pertinência do trabalho, oferecemos ao leitor, abaixo, a íntegra do texto, cujo título original é: “Memórias do Jornalismo Negro: Ativismo e resistência epistêmica na história da imprensa brasileira”. 

Sueli Carneiro (2005) utilizou o termo “epistemicídio” para descrever a aniquilação dos saberes de povos racializados, sobretudo das populações negras, em benefício da hegemonia eurocêntrica.

Para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados, o epistemicídio implica um processo persistente de produção da indigência cultural: […] pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e pelo rebaixamento da sua capacidade cognitiva; pela carência material e/ou pelo comprometimento da sua
autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo (Carneiro, 2005, p. 83).


No campo da comunicação, essa exclusão se evidencia na produção jornalística que deslegitima ou silencia vozes negras, assim como na ausência de referências negras nos currículos de formação. O jornalismo, enquanto forma de mediação simbólica e prática social (Traquina, 2005), é um campo onde se disputa a memória, os sentidos e os lugares de fala. Assim, recontar a história da imprensa negra é parte da luta por reparação histórica, epistêmica e política.

No campo da comunicação, essa exclusão se evidencia na produção jornalística que deslegitima ou silencia vozes negras, assim como na ausência de referências negras nos currículos de formação. O jornalismo, enquanto forma de mediação simbólica e prática social (Traquina, 2005), é um campo onde se disputa a memória, os sentidos e os lugares de fala. Assim, recontar a história da imprensa negra é parte da luta por reparação histórica, epistêmica e política.

Animai-vos povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos todos irmãos, tempo em que seremos todos iguais (Boletim Sedicioso, Revolta dos Búzios, Salvador, 1798).

A Revolta dos Búzios, ocorrida na Bahia em 1798, é um marco simbólico da relação entre ativismo negro e comunicação. Os chamados “boletins sediciosos”, afixados em locais estratégicos de Salvador, convocavam o povo a se insurgir contra o Império e a escravidão, propondo a fundação da República Bahiense. Mesmo em um contexto de baixa alfabetização e de proibição da imprensa pela metrópole portuguesa, a palavra escrita foi instrumento de organização política de homens pardos e pretos, livres e libertos, trabalhadores explorados que, por meio dos folhetos, fizeram circular ideias radicais de igualdade e pelo fim da escravidão. O levante teve como “espinha dorsal as estruturas de comunicação”.

Ao longo da história, são muitas as experiências de ativismo negro na imprensa, passando pela presença de jornalistas e intelectuais negros nos jornais, ainda no período da escravidão, na luta abolicionista, como revela a pesquisadora Ana Flávia Magalhães Pinto, na obra fundamental Escritos de Liberdade: Literatos Negros, Racismo e Cidadania no Brasil Oitocentista (Unicamp, 2018).

Também foi Ana Flávia Magalhães Pinto que registrou em seu livro Imprensa Negra no Brasil do Século XIX (Selo Negro, 2010), os primeiros “jornais feitos por negros; para negros; veiculando assuntos de interesse das populações negras”, como definiu a pesquisadora. Em comum também a postura de desafiar as tentativas de silenciamento.

Em 14 de setembro de 1833, foi publicado o primeiro jornal feito por pessoas negras no Brasil, o pasquim O Homem de Côr. Ainda sob o regime da escravidão, que somente seria abolida formalmente 55 anos depois, o jornal foi possível graças ao pioneirismo de Francisco de Paula Brito, ele próprio um “homem de cor”, proprietário da Tipografia Fluminense, que imprimiu o folheto noticioso.

Importante destacar que a imprensa brasileira se inicia somente em 1808, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, quando finalmente temos a publicação de livros e jornais em solo brasileiro. Apenas lentamente o Brasil passou a contar com bibliotecas, livrarias e publicações de periódicos, muitos concentrados nos temas da economia e das relações com o poder imperial. O que torna a publicação de um jornal abordando o debate racial e questões de interesse dos negros um feito ainda mais extraordinário.

Em meio a debates intensos que circulavam nos jornais da época, O Homem de Côr possibilitou a divulgação de ideias e reivindicações da população negra, formada por pessoas livres e libertas, que já constituía um contingente significativo àquela época.

Além de bradar pela cidadania dos “homens de cor”, o jornal denunciava os preconceitos e violências sofridas por pessoas negras e chegou a noticiar a prisão injusta de um homem preto por suposta vadiagem e porte de arma. Outro tema de relevância foi a ocupação de cargos públicos por “pessoas de cor” e a resistência das elites em respeitar o direito constitucional de cidadãos libertos cumprirem funções públicas, independentemente da cor, reivindicações que ganharam destaque em veículos negros posteriores (Santana, 2023).

Ainda no mesmo ano, 1833, entre setembro e novembro, outros periódicos desse segmento surgiriam, inspirados pelo pioneiro: Brasileiro Pardo, O Cabrito, O Crioulinho e O Lafuente (Pinto, 2010).

Demoraria 43 anos até que uma nova manifestação da imprensa negra surgisse. Foi apenas em 1876, no Recife, que começou a circular o jornal O Homem. Pouco depois serão as vezes de São Paulo, com A Pátria e O Progresso, ambos em 1899, e de Porto Alegre, com O Exemplo, de 1892. O periódico gaúcho teria a maior duração da imprensa negra até ali, sendo encerrado em 1930 por problemas financeiros.

A maioria das publicações teve vida curta. Em alguns casos, durando poucas edições ou não indo além do primeiro ano. Os custos para publicar um jornal eram altos e o pagamento se dava por meio de rateio entre os editores e os ativistas, se o jornal tivesse vínculo com alguma associação negra. Outros conseguiam verba com publicidade ou dependiam de assinaturas.

Exemplares desses jornais encontram-se no setor de Periódicos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, mas podem, ainda, ser acessados na hemeroteca digital. No acervo, também estão dois veículos publicados na Bahia no século XIX, com pautas abolicionistas e preocupações com as condições dos negros: O Abolicionista — publicação quinzenal da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, lançado em 1871, em Salvador — e O Asteroide: Orgam da Propaganda Abolicionista, publicado em Cachoeira, em 1887. Friso que esses dois jornais da Bahia são abolicionistas e não necessariamente se enquadram como “imprensa negra”, conforme definido por Ana Flávia Magalhães Pinto, ou seja, feitos por pessoas negras, para pessoas negras e com temas de interesse da população negra. Nos casos de O Abolicionista e O Asteroide, as publicações só se enquadram no último aspecto elencado.

O Abolicionista, que tinha o escritório localizado no Largo do Pelourinho, n.o 14, contou com a colaboração do escritor Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), considerado o maior poeta baiano do Romantismo. Na edição de 30 de abril de 1971, o jornal publicou um poema do Poeta dos
Escravos, conclamando os leitores da sociedade baiana para a caridade, ou seja, para a doação financeira à principal missão da Sociedade Libertadora Sete de Setembro: “a remissão dos cativos por meio da compra de alforria”. O periódico também buscava “agitar a opinião, educando-a”.

Na edição de 31 de julho de 1871, o jornal O Abolicionista foi dedicado ao pesar pela morte do poeta abolicionista Castro Alves, ocorrida em 6 de julho daquele ano. O veículo também denunciou a crise na lavoura de algodão no Brasil por conta do fechamento dos mercados da Europa e da América do Norte para os gêneros provenientes dos “systemas de trabalho amaldiçoados por Deus e pela civilização”.

A pauta dos jornais negros e dos intelectuais e jornalistas negros que atuavam na imprensa do século XIX abordava o sistema econômico já desprezado em outras partes do mundo. Um ato de coragem que, após a conquista de 13 de maio de 1888, passou a ser direcionado a debater a inserção do negro, agora liberto, na sociedade.

No início do século XX, outras experiências de imprensa negra, sobretudo em São Paulo, proliferam, trazendo as reivindicações negras, associadas a grupos organizados, como a Frente Negra Brasileira, de 1931.

Com o escritor, artista plástico, político e ativista Abdias Nascimento (1914-2011) a imprensa negra ganha contornos ainda mais afirmativos. O jornal Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro, editado entre 1948 e 1950, é expressão direta do Teatro Experimental do Negro e da luta por reconhecimento da dignidade negra. Sua proposta editorial articulava arte, cultura, política e denúncia do racismo, no contexto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada por diversas nações do mundo em 1948. Quilombo era o jornalismo a serviço de um projeto civilizatório negro.

A fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, impulsionou novas experiências de comunicação negra, agora mais diretamente ligadas à militância política contra o racismo. Jornais como Tição (1977), Objetivo (1977), Jornegro (1977), Negrice (1977), O Saci (1978), Vissungo (1979), Pixaim (1979), Nêgo (1981), revista Ébano (1981), Voz do Negro (1984), Elêmi (1985), Áfricas Gerais (1995), Irohin (1996) e a revista Raça (1996), um sucesso editorial ainda em circulação, registraram e
alimentaram a luta contra o mito da democracia racial.

Apesar das dificuldades financeiras e repressões políticas, esses periódicos construíram uma rede de circulação de ideias, saberes e estratégias de resistência, tendo a Bahia como importante centro aglutinador e dinamizador das lutas negras.

Somadas aos veículos jornalísticos estão as ações de comunicação do movimento negro organizado, como as imagens registradas, desde 1990, pelo acervo afrofotográfico Zumvi, do fotógrafo soteropolitano Lázaro Roberto, os Cadernos Negros (Quilombhoje) de poesias e contos publicados desde 1978, as cartilhas de educação dos blocos afro de Salvador, os manifestos, panfletos, livros, teses e muito conhecimento transmitido “por todos os meios necessários”, como aconselhou Malcolm X.

Mídias Negras Digitais no Século XXI

A virada digital abriu novos caminhos para o jornalismo negro. Experiências como Mundo Negro (2001), Irohin (2006), Afropress (2007), Correio Nagô (2008), Revista Afirmativa (2014), Alma Preta (2015), SoteroPreta (2016), Notícia Preta (2018), Afro TV (2020), Negrê (2020), entre outras iniciativas, consolidam um novo ecossistema de comunicação negra. Essas iniciativas combinam agilidade tecnológica, protagonismo editorial e compromisso ético com as lutas da população negra. Aliadas a coletivos de audiovisual, podcasts, blogs e redes sociais, constroem uma narrativa insurgente que desafia o epistemicídio e afirma o pensamento negro como fonte legítima de conhecimento.

A comunicação antirracista feita a partir dos anos 2000, com a popularização da internet e a criação de mídias digitais mais democráticas e acessíveis às comunidades, é resultado de um longo empenho da população negra em disputar essas ferramentas de produção de informação e conhecimento, por entender, desde sempre, a comunicação como um espaço de poder (Santana, 2021).

Os veículos jornalísticos digitais como o Correio Nagô, criado pelo Instituto Mídia Étnica em 2008, e as experiências de mídia negra já citadas dão continuidade a uma longa trajetória de luta por dignidade e respeito, agora com a visibilidade, alcance, amplitude e rapidez possibilitados pelo ambiente digital, que rompeu a barreira da centralidade do polo de emissão, permitindo uma lógica de produção mais coletiva, participativa e engajada.

Essas iniciativas de comunicação, que experimentam uma possibilidade de ampliação a partir do ciberespaço, encontram-se com o pensamento negro e afrodiaspórico ampliado pela presença de intelectuais de pele preta nas universidades brasileiras. As fontes para as produções dos discursos
comunicacionais, para as reportagens jornalísticas, para os argumentos das campanhas publicitárias, para as narrativas cinematográficas, para as imagens inspiradoras de memes e textões nas redes sociais são
legitimadas por uma rica produção artística, literária e acadêmica que provoca uma reação de insubordinação epistêmica e civilizatória (Santana, 2021).

Nesse sentido é exemplar a história de criação do Instituto Mídia Étnica, que aconteceu em Salvador, em 2005, quando a realidade da comunicação na Bahia, e no Brasil em geral, era muito menos diversa do que hoje. As campanhas publicitárias, seja nos intervalos da televisão, seja nos outdoors espalhados pela cidade mais negra fora do continente africano, não traziam os rostos da maioria da população. Como também não estavam nas histórias positivas contadas nos jornais, que concentravam as notícias relacionadas à população negra nas editorias de segurança ou em raros momentos das artes e do esporte, sempre adjetivada pela ideia de superação.

Eram raros os negros e negras ouvidos como fontes de reportagem sobre temas caros para a sociedade como política, economia, direito, ciências, tecnologias, entre outros.

Por isso foi criada uma organização que possibilitasse questionar coletivamente esse cenário, assim como propor novas formas de abordagem e de visibilidade para a luta travada pelo povo negro em
resistência ao racismo perpetrado nos meios de comunicação, pelas grandes empresas que violam cotidianamente o “direito humano à comunicação”.

O Instituto Mídia Étnica nasce, então, das bandeiras do movimento negro e das iniciativas pela democratização da comunicação, acreditando haver uma brecha entre estes dois campos que dificultava o conhecimento mais amplo da história da luta negra no Brasil. Uma ponte de visibilidade das ações das organizações negras, utilizando as potentes ferramentas das Tecnologias da Comunicação e da Informação.

Com o lema “Vamos Denegrir a Mídia”, os objetivos e metodologias do Instituto Mídia Étnica (IME) foram alicerçados nas práticas comunitárias, participativas e democráticas para promover debates, oficinas, formações, campanhas e produtos jornalísticos e audiovisuais.

Em meio às estratégias de combate ao racismo na mídia, que incluiu o monitoramento e a leitura crítica dos veículos hegemônicos e o assessoramento midiático às organizações do movimento negro, o
IME criou o portal Correio Nagô para desenvolver um trabalho colaborativo, de partilha dos conteúdos criados com a participação comunitária.

As primeiras experiências de construção do Correio Nagô, ainda em 2006, como um blog e uma comunidade no Nig que utilizava as principais ferramentas tecnológicas do período, permitiam a ampla colaboração dos membros na produção dos conteúdos e nas discussões em fóruns temáticos. Em 2008, o portal foi estruturado e lançado como um veículo multimídia, oferecendo conteúdo em formato de textos, fotos, ilustrações e vídeos, com uma redação própria, composta por jornalistas profissionais e
comunicadores em formação, além de contribuições de colaboradores.

O nome Correio Nagô vem de uma das formas de resistência dos primeiros negros escravizados, que transmitiam o conhecimento e a informação através da comunicação oral. Correio Nagô é a comunicação boca a boca entre os negros, desde sempre, entre a comunidade negra escravizada, sendo fundamental nas rebeliões, nos processos de luta de quilombos, nas diversas formas de insubmissão.

O Correio Nagô continua em atividade e foi inserido em outras plataformas digitais como o Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e Youtube. Destaca-se na produção de vídeos, disponibilizados em formato de matérias jornalísticas, entrevistas, documentários e com o programa Afro Feed, do gênero revista eletrônica. No canal TV Correio Nagô, no Youtube, estão disponíveis 400 vídeos, dos mais diversos temas de interesse das populações negras.

Toda essa articulação, da qual a comunicação antirracista é função estratégica, tem garantido uma transformação nas disputas por narrativas, como bem observou o poeta, escritor e jornalista Edson Cardoso: “Conseguimos diminuir drasticamente a adesão ao discurso colonial”. Essa frase, vinda de quem formou uma geração de comunicadores antirracistas e inspirou tantos outros ativistas e militantes, informando ao Brasil a causa negra nas páginas do jornal Irohin, serve para encorajar o futuro.

O cenário atual é de uma maior abordagem, tanto dos temas de interesse da população negra nas pautas jornalísticas quanto da presença de profissionais negros e negras nos veículos, inclusive na televisão baiana, como repórteres e também nas bancadas de apresentação.

O cenário atual é de uma maior abordagem, tanto dos temas de interesse da população negra nas pautas jornalísticas quanto da presença de profissionais negros e negras nos veículos, inclusive na televisão baiana, como repórteres e também nas bancadas de apresentação.

Infelizmente, essas experiências passadas ainda são pouco conhecidas, mesmo por profissionais da imprensa brasileira, e não são exploradas nos cursos de graduação em Comunicação no Brasil, ficando a cargo dos ativistas e das formações oferecidas por entidades antirracistas, como as que o Instituto de Mídia Étnica realizou até 2020.

Para a pesquisadora Aíla Cardoso, da Universidade Federal de Sergipe, que investigou a presença (e ausência) da imprensa negra nos currículos dos cursos de comunicação das universidades brasileiras, “a história do Jornalismo no Brasil é majoritariamente contada por uma perspectiva branca e europeia” (Cardoso, 2024).

É preciso reforçar que, a partir de 2003, o Brasil possui a Lei no 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira em todos os níveis educacionais. Os conteúdos abordados neste artigo podem integrar diversas disciplinas e temáticas transversais. O jornalismo negro não deve ser enxergado como um exercício do passado, acessado apenas em pesquisas memorialistas, pois sua atuação continua na atualidade.

No cenário contemporâneo, observa-se um avanço importante no debate público sobre o racismo, as desigualdades históricas e as múltiplas expressões da violência racial no Brasil. Movimentos sociais, intelectuais negros, coletivos de mídia e lideranças comunitárias têm ampliado a visibilidade das pautas antirracistas, exigindo da sociedade um compromisso efetivo com a equidade racial. Nesse contexto, é fundamental que todos os cidadãos e cidadãs e, em especial, os profissionais da comunicação, estejam imbuídos da responsabilidade de combater o racismo e todas as formas de discriminação, atuando de
forma crítica, comprometida e transformadora.

A imprensa negra, com sua longa tradição de engajamento político, produção de conhecimento e defesa intransigente da dignidade humana, oferece não apenas um acervo riquíssimo de conteúdos, mas também estratégias concretas e inspiração ética para a construção de um jornalismo cidadão, plural e comprometido com os direitos humanos. Reconhecer e incorporar essas experiências ao fazer jornalístico é não só uma forma de valorização da memória, mas também uma aposta concreta em um futuro mais justo, diverso e democrático.

André Santana
Jornalista, doutorando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia, co-fundador do “Instituto Mídia Étnica” e do portal “Correio Nagô”, colunista do UOL e pesquisador sobre Comunicação e Relações Raciais.


Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)

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ABI BAHIANA

ABI participa da 5ª Conferência Estadual de Direitos Humanos

Nesta quarta-feira (8), Salvador sediou a abertura da 5ª Conferência Estadual de Direitos Humanos (5ª ConDH), promovida pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH) e pelo Conselho Estadual de Proteção dos Direitos Humanos (CEPDH). A conferência reuniu delegadas e delegados eleitos nos debates territoriais realizados em setembro nos municípios do estado, e segue até sexta-feira (10).

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) esteve representada pelo jornalista Paulo de Almeida Filho, diretor de Defesa da Liberdade de Informação e dos Direitos Humanos, que acompanhou os debates e participou da solenidade de abertura.

Paulo de Almeida Filho, diretor de Defesa da Liberdade de Informação e dos Direitos Humanos da ABI

“É uma honra representar a ABI em um momento tão decisivo para o fortalecimento da democracia e da participação social na nossa Bahia. Esta conferência é um espaço de debate e é um ato de reafirmação de que a defesa dos direitos humanos deve ser construída com a sociedade, desde os territórios até as instâncias federais.”

Paulo de Almeida Filho

“Esperamos que as proposições emergidas aqui possam inspirar políticas efetivas que enfrentem desigualdades, garantam justiça e defendam a dignidade de todas as pessoas e que a ABI possa contribuir para essa construção, atuando na mídia e na mobilização social”, completou o dirigente.

Dentre as autoridades presentes na cerimônia inicial estavam o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, a secretária de Políticas para as Mulheres, Neusa Cadore, e representantes nacionais dos direitos humanos.

Sob o tema central “Por um Sistema Nacional de Direitos Humanos: Consolidar a democracia, resistir aos retrocessos e avançar na garantia de direitos para todas as pessoas”, os debates foram organizados em seis eixos temáticos: Enfrentamento das violações e retrocessos; Democracia e participação popular; Igualdade e justiça social; Sustentabilidade e desenvolvimento humano; Agenda internacional de direitos humanos; e Fortalecimento da institucionalidade.

A etapa estadual funciona como preparação para a 13ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, que será realizada de 10 a 12 de dezembro de 2025, em Brasília. As propostas aprovadas na Bahia serão encaminhadas para consolidar uma agenda nacional de políticas públicas, assistência técnica e financiamento para garantir direitos fundamentais.

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ABI BAHIANA

Acelen apresenta na ABI projeto pioneiro de transição energética na Bahia

A edição de outubro da Conferência ABI 95+5 recebeu nesta quarta-feira (8) o executivo Marcelo Lyra, vice-presidente de Comunicação, ESG e Relações Institucionais da Acelen, para uma conversa sobre os desafios e oportunidades da transição energética na Bahia. O encontro reuniu diretores e convidados da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em Salvador, e apresentou um panorama detalhado do projeto da Acelen Renováveis, considerado um dos mais ambiciosos do país no setor de biocombustíveis.

Com mais de 25 anos de experiência nos setores petroquímico, de mídia e comunicação, Marcelo Lyra apresentou o tema “Perspectivas para a Bahia na transição energética”, abordando projetos estratégicos da empresa, regulamentações e desafios que influenciam o futuro do setor no estado e no país.

Lyra destacou que a Bahia reúne condições estratégicas para se tornar um pólo competitivo de energia limpa, com potencial para atrair investimentos e gerar desenvolvimento regional. O executivo explicou que a Acelen Renováveis nasceu depois da privatização da Refinaria de Mataripe e vai produzir o diesel verde e o SAF (combustível sustentável de aviação).

O projeto prevê a implantação de uma biorrefinaria ao lado da Refinaria de Mataripe, com início das operações entre 2028 e 2029, com investimento estimado em US$ 3 bilhões. A planta deve produzir 1 bilhão de litros anuais de combustíveis renováveis, a partir do cultivo da macaúba, palmeira nativa com alta produtividade de óleo vegetal. Serão necessários 180 mil hectares de terras, em áreas de pastagens degradadas na Bahia e no norte de Minas Gerais.

Além de seus benefícios ambientais, a iniciativa tem forte dimensão social. Cerca de 20% da produção será realizada por pequenos agricultores, dentro do programa Acelen Valoriza, voltado à agricultura familiar. “Não é filantropia, é análise econômica. O produtor familiar pode ter produtividade igual ou maior que o grande produtor”, ressaltou Lyra. Segundo ele, o modelo pode aumentar em até sete vezes a renda das famílias envolvidas, gerando inclusão produtiva e transformando a realidade de comunidades rurais.

Durante a conferência, o executivo também apresentou o Centro de Inovação e Tecnologia Agroindustrial – Agripark, inaugurado em Montes Claros (MG), com investimento de R$ 314 milhões (parte financiada pelo BNDES), destinado à pesquisa e inovação na cadeia da macaúba. O espaço é considerado o maior centro de inovação do mundo dedicado à espécie e servirá de base para o avanço científico e produtivo da macaúba.

Lyra abordou ainda as novas políticas públicas que estimulam o setor, como a lei “Combustível do Futuro”, sancionada pelo governo federal, e o Programa Protener (Programa Estadual de Transição Energética), do governo da Bahia, que cria um arcabouço jurídico e regulatório para a produção de energia limpa no estado. “A Bahia tem todas as condições de ser protagonista na transição energética brasileira”, afirmou.

Ao responder perguntas dos jornalistas, o vice-presidente reforçou que o projeto cumpre rigorosos padrões ambientais e não compete com a produção de alimentos, já que utiliza apenas áreas degradadas. Também destacou o impacto positivo para o ecossistema e a possibilidade de o Brasil se tornar “a Arábia Saudita da fotossíntese”, devido à sua alta capacidade de produção sustentável.

A conferência integra os esforços da ABI para fomentar o debate público qualificado, oferecendo subsídios a jornalistas, pesquisadores e profissionais interessados em compreender as dinâmicas econômicas que moldam o futuro da Bahia e do Brasil. Como nos outros encontros, o conteúdo da apresentação e dos debates integrará uma edição especial da Revista Memória da Imprensa, reforçando o compromisso da entidade com a preservação e difusão de conhecimento estratégico.

ABI, 95 anos

As conferências do Ciclo ABI 95+5 acontecem na segunda quarta-feira de cada mês, após a Reunião Ordinária da Diretoria Executiva da Associação. A cada evento, a ABI lança uma edição especial da Revista Memória da Imprensa, como parte das celebrações de aniversário.

O ciclo já recebeu o superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan/Bahia, Hermano Guanais, para tratar das ações no Centro Histórico de Salvador e de outros patrimônios históricos da Bahia; o diretor do Worldwatch Institute (WWI), Eduardo Athayde, que palestrou sobre o potencial da economia do mar para o estado; o economista, vereador e intelectual Silvio Humberto, cuja participação tratou do racismo nas relações de trabalho no pós-abolição; o secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar, que abordou o case de negócios da festa junina; e Humberto Rangel e Antônio Alberto Valença, que discutiram desafios e perspectivas da logística e da construção pesada na Bahia e no Brasil.

Álbum completo no Facebook: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1231809035642795&type=3

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ABI BAHIANA

Ato solene instala retrato de Ernesto Marques na Galeria de Ex-presidentes da ABI

Em um momento marcado por emoção e reconhecimento, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) instalou, na manhã desta quarta-feira (8), o retrato de Ernesto Dantas Araújo Marques na Galeria de Ex-Presidentes, na Sala Afonso Maciel. O ato simbólico ocorreu durante a primeira reunião ordinária da nova diretoria e celebrou o legado de um gestor que conduziu a entidade com firmeza, diálogo e espírito coletivo ao longo de cinco anos de intensas transformações.

Ernesto Marques tinha 32 anos quando o saudoso José Jorge Randam o convidou para integrar a Diretoria da ABI. No dia 13 de agosto, o jornalista e radialista conduziu sua última reunião ordinária como presidente-executivo, cargo oficialmente transmitido à jornalista Suely Temporal em 10 de setembro.

A gestão de Ernesto, reconhecida pela modernização e ampliação das frentes de atuação da entidade, consolidou um novo DNA institucional que alia tradição e inovação, reforçando os valores de defesa da liberdade de expressão, valorização do jornalismo e estímulo à cultura, pilares fundamentais da ABI.

Para a presidente Suely Temporal, o ato representou “a união entre gerações no fortalecimento institucional da ABI”, que em 2025 completou 95 anos de atuação em defesa da liberdade de imprensa, da valorização do jornalismo e da preservação da memória da comunicação na Bahia.

A cerimônia reuniu diretores, associados e funcionários, que destacaram a contribuição de Ernesto Marques para o fortalecimento da ABI e para a defesa do jornalismo livre e responsável. O ex-presidente foi aplaudido ao entrar na Sala Afonso Maciel, em um gesto de reconhecimento coletivo pelo trabalho desenvolvido.

“Não é só uma foto. É um símbolo de passagem”

Visivelmente emocionado, Ernesto Marques afirmou que a instalação de seu retrato, feito pelo fotojornalista Manu Dias, seu amigo, representa o encerramento de um ciclo, mas a continuidade de um projeto coletivo:

“Eu fiquei muito feliz porque sempre dizia, desde que fui reconduzido, que a minha meta era ocupar aquele lugar ali [o retrato na Galeria]. Fiz um compromisso com Florisvaldo Matos, meu vice-presidente à época, de não me perpetuar. Hoje, ao ver o quórum da reunião e a vitalidade da nova diretoria, fiquei ainda mais convicto de que as coisas estão acontecendo como devem acontecer.”

Retrato feito pelo fotojornalista Manu Dias

O jornalista destacou o simbolismo do gesto e a importância de preservar a memória institucional:

“Ir para a parede tem muitos significados. É o fim de um ciclo e a abertura de outro. Fico muito honrado por estar ali, agora apenas como associado da ABI e gosto muito disso. Espero que mais pessoas se sintam parte, que compreendam a importância de preservar este espaço, de cuidar das vidas e das histórias que construíram a entidade.”

Em tom reflexivo, Ernesto fez um paralelo entre memória e permanência, lembrando que o ato de registrar e valorizar o passado é também uma forma de garantir o futuro:

“Nada se dissipa. Tudo o que foi feito aqui precisa ser guardado. A preservação da memória é tão importante quanto a manutenção da vida de quem está aqui hoje. Porque todos nós, um dia, também seremos passado.”

Ao comentar sobre sua trajetória e o simbolismo da foto escolhida, o ex-presidente ressaltou a representatividade dos profissionais que, muitas vezes, não aparecem nos registros oficiais da história:

“Sou um jornalista e radialista de chão de fábrica, colocado ao lado de grandes figuras da imprensa. Mas é importante lembrar que todos somos parte dessa história, inclusive os anônimos, os autodidatas, os que ficam invisíveis. São eles que mantêm o jornalismo vivo.”

Ernesto mencionou ainda figuras emblemáticas lembradas pelo projeto Memória da Imprensa, da ABI, e destacou a importância de ampliar o olhar para além dos “medalhões”:

“A gente precisa contar as histórias das pessoas que fizeram o dia a dia das redações – motoristas, linotipistas, fotógrafos, repórteres. O Batatinha, por exemplo, linotipista e poeta, foi um precursor do copy desk. É um exemplo de como o jornalismo é feito por muitas mãos e de que todas elas são fundamentais.”

Encerrando sua fala, Ernesto expressou otimismo com o novo ciclo que se inicia na ABI:

“Cumpri a minha tarefa e fico feliz de estar aqui hoje como associado, participando como todo mundo deve participar. Tenho certeza de que esse novo momento, com gente jovem e atuante, vai dar continuidade a esse movimento de renovação e pertencimento que a ABI vive.”

Legado

Nascido em Ipirá (BA), Ernesto Dantas Araújo Marques é radialista e jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou como repórter nas principais emissoras comerciais de Salvador e na imprensa sindical. Foi assessor parlamentar, assessor de imprensa do governador Jaques Wagner e secretário de Comunicação de Vitória da Conquista, na gestão do prefeito Guilherme Menezes. Também presidiu o Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, Televisão e Publicidade e integra a diretoria da ABI desde 2002.

Com a inclusão do retrato de Ernesto Marques, a Galeria de Ex-Presidentes da ABI se amplia, preservando a memória e reafirmando o compromisso da instituição com a valorização de sua história e dos profissionais que a constroem.

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