ABI BAHIANA

13 de maio e o dia seguinte: Conferência na ABI expõe retrato da Bahia que o Brasil insiste em não ver

Nesta terça-feira (14), a sede da Associação Bahiana de Imprensa realizou a terceira conferência do ciclo ABI 95+5, que celebra os 95 anos da entidade. O evento recebeu o economista, vereador e intelectual negro Silvio Humberto para um mergulho nas camadas profundas do Brasil pós-abolição — ou, como prefere nomear, do 14 de maio — para revelar as estratégias silenciosas que sustentaram o racismo estrutural no país.

Autor do recém-lançado livro Um Retrato Fiel da Bahia: sociedade, racismo e economia — fruto de sua tese de doutorado defendida em 2004 na Unicamp —, Silvio propôs uma análise que vai além do fim jurídico da escravidão. “A abolição não significou o fim das relações raciais; ela apenas mudou os códigos pelos quais elas se manifestavam. Se antes o racismo era estruturado pela escravidão, depois ele se disfarçou de mito da democracia racial”, afirmou.

Em uma sala repleta de jornalistas, Silvio Humberto expôs como o Brasil — e particularmente a Bahia — redesenhou seu modelo econômico sem jamais incluir de fato a população negra liberta. “O racismo, além de violento e desumano, é burro. Ele atrasa a economia, impede o desenvolvimento e marginaliza uma maioria sob a justificativa de uma suposta inaptidão para o trabalho livre”, destacou, evocando análises de Celso Furtado, por exemplo.

Pigmentocracia

Entre dados históricos, relatos pessoais e referências acadêmicas, Silvio trouxe à tona o conceito de pigmentocracia: um sistema de hierarquia social determinado pelo tom da pele. “Na Bahia, quanto mais claro você for, maiores são suas chances de ascensão. A cor da pele continua sendo critério de mobilidade social”, sentenciou, destacando como essa lógica persiste mesmo em setores modernos como o polo tecnológico que se instala no estado.

Ao relembrar que o 13 de maio de 1888 é, em verdade, um marco inconcluso, o economista propôs uma mudança de lente: “Nos ensinaram a celebrar o fim, mas o que precisamos é refletir sobre o que começou no dia seguinte — o 14 de maio, quando o Estado e as elites reorganizaram o trabalho e o poder mantendo os negros à margem”.

Citando exemplos do cotidiano, desde o transporte público até o mercado de trabalho e o ensino superior, o vereador traçou o que chamou de “círculo vicioso da pobreza racializada”, reforçado por uma elite que “prefere atrasar a Bahia a ver o povo negro progredir”.

Imprensa antirracista

Durante a conferência, Silvio também destacou a interface entre a imprensa e a luta antirracista. “A imprensa precisa não só dar visibilidade à causa, mas combater as fake news históricas que sustentam a negação do racismo. A imprensa tem esse papel de, não só comunicar, mas também formar as pessoas, contribuir na formação cidadã. O enfrentamento ao racismo precisa ser coletivo”, disse, ao elogiar o esforço da ABI em incorporar o debate racial à sua agenda permanente.

Ernesto Marques, presidente da ABI, reforçou que cobrir racismo não deve ser tratado como uma editoria ou recorte eventual: “Não basta criar uma comissão de jornalistas negros na ABI. A luta antirracista precisa estar no centro da política editorial das redações”, afirmou, apoiado pelos demais diretores presentes.

Da dor à potência

No decorrer de sua fala, Silvio confrontou ainda o mito de Salvador como Roma Negra, lembrando que a cidade nunca elegeu um prefeito negro. “Somos a maioria, mas não estamos nos lugares de poder. Isso não é acaso, é projeto”, afirmou, numa crítica direta ao modelo excludente que ainda rege as estruturas políticas e econômicas do estado.

Apesar do diagnóstico duro, Silvio Humberto encerrou sua fala com esperança. Para ele, a resistência cultural e a inventividade negra seguem vivas e são motor de transformação. “A Bahia é singular e plural. Nossa ancestralidade é força e não obstáculo. Mas é preciso virar a chave, integrar a maioria, democratizar o Estado e reconfigurar as prioridades de investimento”.

A conferência, que será transcrita quase integralmente na próxima edição da revista Memória da Imprensa, contou com um público formado por jornalistas como Jairo Costa Júnior, Donaldson Gomes, Edson Rodrigues, Pablo Reis, Osvaldo Lyra e Fernando Sodake, além da chefe de gabinete do vereador Silvio Humberto, Silmar Carmo, em um debate profundo, necessário e incômodo — como devem ser as conversas que querem mudar o mundo.

“Na Bahia, quanto mais claro você for, maiores são suas chances de ascensão. A cor da pele continua sendo critério de mobilidade social.” — Silvio Humberto

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Conferência da ABI enfatiza papel da imprensa na divulgação de ciência e economia

Nesta quarta-feira, 9 de abril, às 11h, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) promoveu a segunda edição da Conferência ABI 95+5, com tema “A Economia do Mar e as Perspectivas para a Capital da Amazônia Azul”. A palestra ministrada por Eduardo Athayde, diretor do Worldwatch Institute (WWI), teve como objetivo aproximar a imprensa baiana da realidade do setor econômico ligado à vasta área marítima brasileira, conhecida como “Amazônia Azul”.

A conferência é parte das comemorações dos 95 anos da ABI, que se completam em agosto deste ano. Em um ciclo de debates voltado para temas de relevância social, a ABI busca, por meio desses encontros, promover discussões de alto nível sobre questões fundamentais para a sociedade baiana e brasileira. A escolha da economia do mar como tema reflete a crescente importância desse setor no estado, particularmente em relação às oportunidades de desenvolvimento sustentável.

À frente do WWI no Brasil, Eduardo Athayde trouxe um panorama detalhado das principais ações desenvolvidas pelo Instituto no setor marinho e costeiro, com foco na Bahia. “O que se estima é que a Bahia movimenta hoje 80 bilhões de reais por ano na economia do mar. Seja petróleo e gás, náutica, turismo, portos, pesca, ou a marisqueira, os banhistas, a barraca de praia, camelôs de praia, tudo isso é economia do mar”, explicou ele, ressaltando que o Instituto visa montar um Atlas da Economia do Mar para sistematizar os dados existentes sobre a área.

Segundo dados da Marinha do Brasil, o setor gera mais de 1,3 milhão de empregos e representa cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. A Bahia, com sua extensa costa e proximidade com importantes rotas marítimas, é um dos principais pólos econômicos ligados ao mar no Brasil. 

Diálogo com a imprensa

Na plateia da conferência, nomes importantes do jornalismo baiano ouviram e anotaram informações. Marcaram presença a diretora de Jornalismo da Band Bahia, Zuleica Andrade; o repórter da editoria de Turismo e coordenador da WebTV do BNews, Rafael Albuquerque; Emerson Miranda,  repórter da Band; o jornalista da rádio Band News FM, Victor Pinto; o editor do Bahia Notícias, Fernando Duarte; e o diretor da A TARDE FM e apresentador da TV ALBA, Jefferson Beltrão.

Para o diretor do WWI Brasil, a presença desses nomes na conferência é uma vitória para a compreensão pública da economia do mar. “A ABI está exatamente convocando esses jornalistas, editores de vários veículos de imprensa, para trocarem informações e ideias sobre que nós expusemos aqui sobre a economia do mar. Acho que com isso vocês estão escrevendo uma nova história do futuro”, disse ele.

Já o presidente da ABI, Ernesto Marques, enfatizou o papel da imprensa não só como difusora de informações sobre o potencial econômico da Bahia, mas como instrumento de pressão às autoridades para materializar políticas públicas na área. “Acho que uma grande contribuição que a imprensa pode dar, a partir da cobertura qualificada desses assuntos, é cobrar corretamente as responsabilidades de cada esfera de governo na criação de uma política pública permanente para a economia do mar”, avaliou.

Também compareceram ao evento o presidente da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (ACBEU), Jorge Novis, e o diretor Ticiano Cortizo. A Associação promove articulações entre o Brasil e entidades americanas que já estão mais avançadas na economia do mar, facilitando a troca de informações e tecnologia na área.

WWI

Com sua atuação focada na promoção de soluções para a sustentabilidade, a ONG Worldwatch Institute Brasil tem contribuído ativamente para o desenvolvimento de políticas públicas e iniciativas privadas que buscam equilibrar a exploração dos recursos marinhos com a conservação ambiental. O Instituto tem desenvolvido projetos voltados para a gestão sustentável dos recursos pesqueiros, a proteção dos ecossistemas marinhos e a promoção de uma economia azul que seja inclusiva e responsável.

Acesse o álbum de fotos da conferência, no Facebook:

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Em conferência da ABI, superintendente do Iphan Bahia defende conjugação de esforços pelo patrimônio

Há pouco mais de um mês, o desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como “igreja de ouro”, vitimou fatalmente a turista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos. A tragédia intensificou a preocupação com o patrimônio cultural do Centro Histórico de Salvador, principalmente entre os proprietários de imóveis na região, como é o caso da Associação Bahiana de Imprensa, cuja sede está localizada na Praça da Sé. A entidade recebeu na manhã desta quarta-feira (12) o superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan/Bahia, Hermano Guanais.

A participação de Guanais abriu o Ciclo de Conferências ABI 95+5, um evento promovido pela ABI com o objetivo celebrar ao longo de 2025 os seus 95 anos de funcionamento ininterrupto, desde a sua fundada em 17 de agosto de 1930. “A partir das conexões entre comunicação e desenvolvimento, as conferências acontecerão mensalmente, na segunda quarta-feira de cada mês, coincidindo com as reuniões ordinárias da Diretoria Executiva”, explicou o presidente da ABI, Ernesto Marques.

O dirigente falou sobre o papel dos profissionais da imprensa na disseminação de informação qualificada e o quanto essa atuação ética e responsável ajuda órgãos e sociedade. “De que maneira o trabalho dos jornalistas se diferencia, sobretudo nesse tempo de comunicação digital, da informação frívola, imprecisa, às vezes mal intencionada e que se espalha com muita facilidade em redes sociais?”, indagou.

Depois de atender aos veículos de imprensa, Hermano Guanais, que – além de advogado – é doutor em Direito e Patrimônio, contextualizou informações importantes sobre as competências do órgão, desmentiu equívocos propagados nas redes sociais, conceitos e destacou os principais desafios enfrentados pelo Iphan, como a falta de recursos e a desarticulação entre as instâncias municipal, estadual e federal.

“Somente mesmo a ação integrada, o reconhecimento de que preservar o patrimônio não significa apenas intervir para restaurar, mas que é um programa de educação patrimonial muito amplo, de formação, de conhecimento, mesmo de investimento em profissionais, vamos conseguir contornar o problema. Precisamos de uma conjugação de esforços e de compreensão de que os proprietários, os poderes públicos e a sociedade dividem a responsabilidade sobre o patrimônio”, refletiu.

Fica a instituição federal com poucos recursos e poucos servidores tentando dizer para a sociedade que aquilo é importante para ela.

Hermano Guanais

Um dos pontos abordados pelo superintendente, ao citar as atribuições do Iphan, foi o famoso tombamento, principal instrumento de salvaguarda. Segundo Guanais, ele é um processo administrativo que reconhece o valor histórico, artístico ou paisagístico de um bem, impondo regras para sua conservação. Após ser inscrito nos livros do tombo do Iphan, o imóvel ou conjunto arquitetônico passa a ter sua integridade protegida, impedindo modificações que comprometam suas características originais. Para os proprietários de imóveis em áreas tombadas, a preservação do patrimônio é uma obrigação legal.

“Essa noção de que o patrimônio é do Estado e de que o tombamento é uma desapropriação é que leva ao entendimento de que, ao tombar um bem, o IPHAN passa a ser proprietário e dono dele”, observou.

Reformas, restaurações e até mudanças na pintura devem ser previamente autorizadas pelo Iphan ou pelo órgão municipal de patrimônio. Além disso, qualquer descumprimento das normas pode resultar em multas e outras penalidades.

“O papel do Iphan, como órgão fiscalizador, é dar ciência ao proprietário de que ali há problemas e recomenda medidas”, disse ele. “Como são bens privados, são os proprietários que fazem a estratégia de tentar resolver esses problemas”, explicou.

“Se nós não estivermos unidos em torno do fortalecimento dessas instituições que permanecem aí, que são instituições de Estado, o patrimônio vai se acabar. E na verdade ainda não acabou, mesmo com todas as dificuldades, porque existe um órgão que chega ali e diz para o proprietário que ele não pode construir mais cinco puxadinhos um atrás do outro”, disse.

Ele destacou que cabe à autarquia federal dar o suporte técnico e, às vezes, financeiro. Os donos podem obter incentivos fiscais e acesso a linhas de financiamento para a manutenção dos imóveis, garantindo que a história e a identidade cultural das cidades sejam preservadas para as futuras gerações.

No caso da Igreja de São Francisco, o órgão divulgou, na terça (11), localizada no Pelourinho, que destinará R$ 1,3 milhão para viabilizar serviços para estabilização, remoção e acondicionamento de elementos do forro e cobertura, intervenções previstas para serem iniciadas ainda em março.

Revitalização

“O Centro Histórico pede socorro”, dizia a placa segurada pelo jornalista, escritor e ativista cultural Clarindo Silva. O proprietário do restaurante Cantina da Lua liderou um ato também na manhã desta quarta (12), em frente à Igreja de São Francisco, para cobrar a revitalização da área. A manifestação reuniu comerciantes, moradores e trabalhadores da localidade.

Ouça a participação de Hermano Guanais:

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ABI recebe o IPHAN para avaliar situação do patrimônio histórico

Abrindo o Ciclo de Conferências ABI 95+5, a Associação Bahiana de Imprensa receberá o superintendente regional do Iphan, Hermano Guanais, nesta quarta-feira, 12 de março, às 11h.

Com o evento, a ABI inicia a programação alusiva aos 95 anos de funcionamento ininterrupto da entidade fundada em 17 de agosto de 1930. A partir das conexões entre comunicação e desenvolvimento, as conferências acontecerão mensalmente, na segunda quarta-feira de cada mês, coincidindo com as reuniões ordinárias da Diretoria Executiva.

Além de uma contextualização do seu setor de atuação, cada conferencista será desafiado a fazer projeções para 2030, quando a ABI completará 100 anos.

Guanais vai expor a situação dos patrimônios artísticos e históricos da Bahia hoje, e sobre as atribuições e responsabilidades do Iphan e dos proprietários de bens tombados na conservação e manutenção. E, claro, sobre o caminho a ser trilhado para transformar o quadro atual, avaliado como de extrema gravidade, com a ameaça iminente de novas ocorrências, como a fatalidade que vitimou, em fevereiro, a jovem turista Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, quando o forro da Igreja de São Francisco desabou.

Após a conferência, Hermano Guanais debaterá o assunto com especialistas convidados, dirigentes da ABI e jornalistas que forem cobrir o evento.

SERVIÇO:

Evento: Ciclo de Conferências ABI 95+5: patrimônios da Bahia hoje e em 2030
Quando: 12 de março (quarta-feira), a partir de 11h
Onde: ABI – Sala de Reuniões Afonso Maciel Neto (2º andar) – Edifício Ranulfo Oliveira – Rua Guedes de Brito, 1 – Praça da Sé (Centro Histórico)

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