Blog das vidas

Morre aos 94 anos a artista plástica e museóloga Lygia Sampaio

A Associação Bahiana de Imprensa – ABI lamenta a morte da artista plástica e museóloga baiana Lygia Sampaio, falecida na manhã de hoje, 15 de julho, em Salvador. Segundo comunicado enviado pela família, ela faleceu em sua residência.

Lygia entrou na Escola de Belas Artes em 1948, aos 20 anos de idade, onde desafiou os padrões vigentes da sociedade, aventurando-se em lugares considerados impróprios para as mulheres da época.

Em 1974, a convite da escritora, folclorista e jornalista Hildegardes Vianna, Lygia atuou na montagem do Museu de Imprensa da ABI, inaugurado em 10 de setembro de 1976, durante a gestão de Afonso Maciel, 4º presidente da ABI (ver a galeria de ex-presidentes). Coube a Hildegardes mobilizar e gerir as doações de acervo que possibilitaram a criação do Museu, cuja primeira exposição contou a história de jornalistas e dos fundadores da ABI.

Na função de museóloga da instituição, Lygia Sampaio organizou o acervo composto de documentos e jornais antigos, entre os quais edições raras de jornais que fizeram história na imprensa local.

Em novembro de 2018, aos 90 anos, Lygia foi homenageada pela Associação com a Medalha Ranulfo Oliveira, condecoração estabelecida em 1998, com o objetivo de prestigiar profissionais com notável contribuição à liberdade de imprensa e ao exercício da atividade jornalística.

Trajetória

Lygia Sampaio nasceu em 1928, em Salvador – Bahia. Fez o Curso Livre de Desenho e o 1° ano da Escola de Belas Artes da UFBA (1948). Frequentou o ateliê de Mário Cravo e acompanhou o grupo de Rescala em pintura ao ar livre. Participou do movimento renovador das Artes Plásticas baianas no fim da década de 40 ao lado de Mario Cravo, Caribé, Rubem Valentim, Genaro de Carvalho, Jenner e Carlos Bastos. Esteve presente nos Salões Baianos de Belas Artes de 1949, 1950, 1951, 1954 e 1955, com menção honrosa em pintura (1951) e menção honrosa em desenho (1954 e 1955). Expôs também no Salão Nacional de Belas Artes em 1952, no Rio de Janeiro, onde estudou com Santa Rosa. Teve ainda como mestres Presciliano Silva, Mendonça Filho e Alberto Valença. Trabalhou por 30 anos no Arquivo da Prefeitura de Salvador e formou-se em Museologia pela UFBA em 1975.

Realizou exposições coletivas e individuais, com destaque para a mostra individual de 1955 no Belvedere da Sé e a exposição de 1984, no Núcleo de Artes do Desembanco, local onde trabalhou por doze anos e cujo acervo conta com obras suas. Publicou em 2006 o livro De Sam Payo a Sampaio fruto de sua pesquisa genealógica iniciada em 79 e ilustrado com desenhos em bico de pena de sua autoria, que ganharam exposição no Museu de Arte da Bahia. Em 2010 integra o livro 50 anos de Arte na Bahia, panorama das artes plásticas produzidas desde 1945 e escrito pela crítica de arte e curadora, Matilde Matos. Em 2013, a convite do Museu Regional de Arte de Feira de Santana, realizou a exposição Da linha a cor com trabalhos de diferentes épocas. Em 2014 promove no Museu de Arte Sacra de Salvador sua última exposição: Lygia Sampaio 60 anos de pena e pincel, com trabalhos à óleo, aquarelas, desenhos à bico de pena e técnica mista, que datavam de 1949 a 2014.

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ABI BAHIANA Artigos

A festa do Bonfim na arte de Lygia Sampaio

Por Nelson Cadena*

Foto: Arquivo pessoal

A artista plástica Lygia Sampaio foi por muitos anos a museóloga da Associação Baiana de Imprensa (ABI), responsável pelo acervo que, enquanto serviu à entidade, cuidou com muito zelo. Até hoje o seu sistema organizacional favorece as pesquisas. Uma das técnicas desenvolvidas na catalogação de fotos, consistia em decalcar a imagem das pessoas em papel manteiga, numerando cada pessoa fotografada e identificando-as de acordo com o número.

Se não fosse esse sistema teríamos muitas dificuldades hoje em saber quem é quem. Em novembro de 2018 a ABI prestou uma homenagem à museóloga e artista plástica, então com 90 anos de idade. Lygia serviu a ABI a partir de 1974 – por praticamente três décadas – quando foi convocada por Afonso Maciel Neto para organizar o Museu de Imprensa, então de pequeno porte, com base no acervo doado, em 1972, pela família de Lulu Parola, pseudônimo de Aloísio de Carvalho.

Capa da Revista Brasileira de Folclore, assinada por Lygia Sampaio | Foto: Arquivo pessoal

Em 1966 a artista plástica foi convidada pela Revista Brasileira de Folclore do Ministério da Educação e Cultura (MEC), para ilustrar a capa da edição quadrimestral de janeiro a abril. Se inspirou na Festa do Bonfim. A Revista, fundada em 1961, era um órgão muito conceituado. Integravam o seu Conselho Editorial Edison Carneiro e Luís da Câmara Cascudo, dentre outros. Na edição ilustrada por Lygia outros baianos ilustres colaboraram com artigos: Renato Almeida, José Calazans, Marieta Alves e Dioscoderes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi.

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*Nelson Cadena é jornalista, pesquisador e publicitário.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
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ABI BAHIANA

Museóloga e artista plástica Lygia Sampaio é homenageada pela ABI

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) realizou na manhã de hoje (14/11) a solenidade de outorga da Medalha Ranulfo Oliveira à artista plástica e museóloga Lygia Sampaio, de 90 anos. A homenagem havia sido proposta pelo jornalista e vice-presidente da ABI, Ernesto Marques, e acatada pela diretoria da entidade presidida por Walter Pinheiro. A condecoração foi estabelecida em 1998, para prestigiar profissionais com notável contribuição à liberdade de imprensa e ao exercício da atividade jornalística. Participaram da cerimônia familiares e amigos de Lygia, jornalistas e representantes do segmento da cultura.

O presidente da ABI, Walter Pinheiro, evocou o economista e sociólogo estadunidense Douglas McGregor, suas teorias sobre o comportamento humano em relação ao trabalho e as ideias acerca das necessidades do indivíduo, para falar da importância do reconhecimento. Ele classificou a solenidade como a homenagem perfeita, porque, de acordo com o dirigente, as duas partes foram homenageadas. “Os dois lados crescem. O reconhecimento, quando é espontâneo, tem uma valia enorme”, afirmou.

O jornalista Ernesto Marques, vice-presidente da ABI, relembrou o dia em que chegou à ABI para se tornar sócio e conheceu Lygia Sampaio, então museóloga da instituição. “Eu queria fazer um agradecimento pessoal, porque, talvez, eu esteja na diretoria da ABI por causa do museu que a senhora cuidou com tanto zelo”. Ele criticou a falta de reconhecimento dos baianos em relação a personagens centrais de sua história. “Infelizmente, a Bahia é uma terra injusta com seus filhos. Estamos nos livrando desse pecado ao reconhecer os relevantes serviços que a senhora prestou, não só para a ABI, mas para a Bahia”.

Foto: Joseanne Guedes/ABI

Marques aproveitou o momento para enaltecer o trabalho dos funcionários do Museu de Imprensa da ABI e da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, que, segundo ele, herdou o exemplo de Lygia Sampaio no trato com o acervo sob a guarda da Associação. “O que aqui está guardado continua sendo muito bem cuidado pela equipe atual”, ressaltou o diretor.

Segundo o pesquisador Nelson Cadena, Lygia aportou na ABI em 1974, para organizar o museu da entidade constituído por iniciativa do então presidente da casa, Afonso Maciel Neto, em 16/1/1974, com base no acervo doado em 16/8/72 por Maria Koch de Carvalho, filha de Aloísio de Carvalho Filho e neta de Lulu Parola, o celebrado versista, epigramista e proprietário do Jornal de Notícias. Para Nelson, se trata de uma “justa esta homenagem da ABI em reconhecimento a quem serviu à entidade por mais de duas décadas”. Ele revela que Lygia Sampaio, na função de museóloga, organizou o acervo composto de documentos e jornais antigos, entre os quais edições raras de jornais que fizeram história na imprensa local.

Foto: Fernando Franco/ABI

De acordo com o jornalista e crítico Reynivaldo Brito, Lygia é a última representante do movimento de arte moderna que ocorreu na Bahia no século XIX tendo como integrantes Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Rubem Valentim, Jenner Augusto dentre outros já falecidos. “Estamos hoje aqui reunidos para homenagear uma das artistas mais talentosas destas últimas décadas em nossa Bahia. Lygia Sampaio, exímia desenhista, pintora, gravadora e ilustradora”, afirmou. Brito considerou uma homenagem merecida pelo que representa Lygia. “Ela foi responsável pela organização e preservação de parte da memória da imprensa baiana”.

Para Brito, os desenhos guardados na casa de Lygia precisam ser mostrados numa grande exposição retrospectiva para que as pessoas que gostam de arte possam apreciar. “Ela é uma pessoa reservada, doce. Sua obra pictórica merecia ser mais vista, e estar num patamar ainda mais de destaque pela qualidade de suas pinturas, e especialmente de seus desenhos a bico de pena”, recomenda o jornalista.

Leia o artigo “Lygia Sampaio e a grandeza de sua arte”, de Reynivaldo Brito

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ABI BAHIANA

Lygia Sampaio receberá Medalha Ranulpho Oliveira

Por Nelson Varón Cadena*

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) homenageia na manhã da próxima quarta-feira (14) a artista plástica e museóloga Lygia Sampaio, que receberá a Medalha Ranulfo Oliveira por proposição do jornalista Ernesto Marques, acatada pela diretoria da entidade presidida por Walter Pinheiro. A comenda foi instituída em 1998 com o objetivo de reverenciar profissionais que se notabilizaram pela sua contribuição à liberdade de imprensa e ao exercício pleno da atividade jornalística; no caso específico da homenageada, devemos falar em preservação da memória da imprensa baiana.

Cabe aqui uma breve explanação em torno de Ranulfo Oliveira – presidente da ABI desde 1932 até seu falecimento em 24/7/1970 – cujo maior legado foi a construção da sede da entidade na Praça da Sé, então denominada de Casa do Jornalista, inaugurada em 1960, após anos de campanhas e ações junto aos órgãos públicos e sociedade baiana com esse objetivo.

A obra de Lygia Sampaio já foi destacada por alguns críticos de arte, copio aqui o jornalista e crítico Reynivaldo Brito em texto publicado por ocasião de uma exposição da artista plástica realizada no Museu de Arte Sacra em 2014: “Estive na abertura da exposição de Lygia e fiquei realmente impressionado com os desenhos, as xilogravuras e os quadros a óleo que ela pintou durante seus 60 anos de arte. Sendo uma das pioneiras do modernismo baiano e brasileiro, Lygia Sampaio precisa ser melhor avaliada e valorizada pela qualidade de sua arte e por este legado que deixa para a arte brasileira. Senti de perto que esta mulher valorosa, hoje, frágil, devido aos seus 86 anos de idade, tem uma história de vida dedicada à arte”.

Leia também: Jornalistas palestram na ABI sobre a história da imprensa no Brasil

Já a contribuição de Lygia à imprensa baiana não é tão conhecida até pelo seu estilo reservado, profile; aportou na ABI em 1975, se não estou enganado, para organizar o museu da entidade constituído por iniciativa de Afonso Maciel Neto em 16/1/1974, com base no acervo doado em 16/8/72 por Maria Koch de Carvalho, filha de Aloísio de Carvalho Filho e neta de Lulu Parola, o celebrado versista, epigramista e proprietário do Jornal de Notícias, um dos baluartes da imprensa baiana, destacado pela sua neutralidade num tempo de acirradas disputas políticas.

Lygia Sampaio na função de museóloga, a convite do então presidente da ABI, já referido, organizou o acervo composto de documentos e jornais antigos, entre os quais edições raras de jornais que fizeram história na imprensa local como As Coisas dos Rocero; preciosos exemplares da imprensa carnavalesca do século XIX;

“O Azorrage”, representante da imprensa satírica e outros de inestimável valor. Acervo esse que foi enriquecido com doações das famílias de Simões Filho, Ranulfo Oliveira, Aristóteles Gomes, Homero Pires, Jorge Calmon, José Augusto Berbert de Castro e uma raríssima coleção de O Noticiador Católico ofertada pelo historiador José Calazans.

Uma das preciosidades do museu, hoje, é a coleção quase completa da Revista Única, dirigida por Amado Coutinho entre 1929 e 1967. Pesquisei muito na década de 1980 nesse acervo diligentemente preservado por Lygia Sampaio que promoveu no local várias exposições, lembro especificamente da realizada em julho de 1980, de jornais católicos. Eu mesmo contribui com doações de vários jornais da Tipografia Gumes de Caiteté, alguns muito raros, confiado justamente no zelo e devoção da museóloga com a documentação e as coleções de periódicos. Justa esta homenagem da ABI em reconhecimento a quem serviu à entidade por mais de duas décadas.

*Nelson Varón Cadena é jornalista e escritor.

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