Em pauta

UFBA presente: o que fazer?

Por Naomar de Almeida Filho*

O ministro da educação anunciou esta semana profundo corte no custeio de três universidades federais, incluindo a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que estariam fazendo “balbúrdia” e por deficiências em desempenho acadêmico. Não satisfeito, ameaçou estender a medida a uma quarta universidade, pelas mesmas alegadas razões. Houve imediata reação da academia, da mídia, de parlamentares e de entidades representativas da sociedade, denunciando flagrantes ilegalidades em tal procedimento. Fazer da gestão do orçamento público instrumento de discriminação institucional, punição ideológica ou retaliação política é crime de improbidade. Mais ainda no caso de universidades públicas, protegidas em sua autonomia pela Constituição Federal. Por outro lado, demonstrou-se à larga que, pelo contrário, as instituições ameaçadas destacam-se justamente por extraordinários indicadores de melhoria de desempenho, em muito superando a média nacional. De fato, as universidades punidas estão entre as instituições brasileiras que mais aumentaram sua produção científica na última década, conforme dados da Web of Science, base internacional usada no Ranking de Universidades da Folha de São Paulo (RUF).

Gostaria de focalizar o caso da UFBA. Aqui, o anunciado bloqueio de 37 milhões de reais sem dúvida inviabilizará o funcionamento pleno da instituição antes do final deste ano. Levantou-se a hipótese de que estaríamos sendo punidos por ter sediado o Fórum Social Mundial, além de outros eventos e manifestações legítimas da sociedade democrática. Considerando recentes desmandos do atual governo, essa hipótese é bastante plausível.

Contudo, a informação de que a UFBA tem déficit ou piora em desempenho é simplesmente mentirosa. Graças a políticas públicas que, durante os governos do Presidente Lula, tendo o Professor Fernando Haddad como Ministro da Educação, culminaram com o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), a UFBA cresceu e ampliou sua qualidade, tornando-se maior e melhor. Antes do REUNI, éramos uma universidade de médio porte, com 1.900 docentes, oferecendo 55 cursos de graduação e 61 de pós-graduação para menos de vinte mil estudantes. Dez anos depois, a UFBA tem mais de 45 mil estudantes, matriculados em 105 cursos de graduação e 136 de pós-graduação, com quase 3 mil professores.

Em nota oficial, a Reitoria da UFBA informa que hoje somos a 1a universidade do Nordeste, a 10a brasileira e a 30a da América Latina, no ranking Times Higher Education, que avalia 1.250 universidades de 36 países. No RUF, que avalia qualidade do ensino, percepção do mercado de trabalho, internacionalização, inovação e pesquisa, a UFBA foi considerada a 14a melhor entre as 196 universidades brasileiras. Entre as federais, é a 9a em colaboração internacional e 11a em colaboração com empresas. Dados do próprio MEC mostram que índices de qualidade dos cursos de graduação, medidos pelo ENADE, vêm crescendo na UFBA de modo consistente desde 2006; recentemente, no triênio 2015-2017, ultrapassamos a nota 4. Na pós-graduação, a UFBA é a terceira instituição brasileira com mais programas com notas acima de 4 na avaliação Capes. O mais notável é o crescimento de 17 para 54 doutorados no período. Como resultado, a UFBA mais que dobrou sua produção científica entre 2008 e 2017, tornando-se a 12a universidade brasileira que mais publica em periódicos de impacto e a 9a em índices de acesso na plataforma Scopus.

Um dia depois, em meio a uma onda de críticas, o Ministério da Educação comunicou que esse bloqueio orçamentário será estendido a todas as IFES. Alguns analistas avaliam que houve recuo estratégico do governo, com a intenção de prevenir eventuais processos na justiça contra medidas ilegais de uma gestão pública antidemocrática.

Tenho outra opinião. Trata-se de uma ação estratégica, mas de modo algum significa recuo. Há lógica nessa insanidade. A meta definida pela equipe econômica foi um corte de quase 6 bilhões do orçamento do MEC. Evidentemente, se o governo pretende reduzir ao máximo o financiamento de toda a rede federal de ensino superior, operadora de uma das maiores políticas públicas de inclusão social da história brasileira, por que motivo iriam bloquear somente 100 milhões de custeio em apenas quatro universidades? E mais: por que declarar com detalhes e clareza que, nesses casos, tal medida se faria como retaliação política? Por terem, segundo dirigentes do MEC, realizado eventos por eles considerados como partidários? E a descrição semi-oficial desses supostos eventos é totalmente non-sense: gente pelada fazendo balbúrdia em festas campesinas nos campi universitários. Desde quando isso tem a ver com partidos políticos?

Minha hipótese: trata-se de grosseira provocação, premeditada e truculenta. Demonstram com isso que querem o acirramento da crise política, atiçando e provocando aqueles que, segundo consta nos registros da pseudociência, fazem parte de uma conspiração nacional, internacional e interplanetária de marxistas culturais. Adorariam, por exemplo, contar com uma greve geral nacional das universidades públicas, enfim paralisando aulas (de suposta doutrinação comunista) e pesquisas (que acham irrelevantes), que não encontrará qualquer mesa de negociação, mas será enfrentada com corte de salários, guerrilha psicológica em redes sociais, repressão policial e chantagem jurídica. Se tal ocorrer, tentarão desmoralizar o sistema público de educação superior perante aqueles segmentos da sociedade que supõem ser sua base de apoio, resultando em ainda mais espaço ao setor empresarial no campo da educação. É triste constatar que, neste momento difícil de nosso país, uma perigosa tormenta está se formando.

O que fazer? Muitas possibilidades aparecem, mas, antes de qualquer coisa, precisamos pensar estrategicamente, refletir coletivamente e atuar eficazmente, o que significa buscar e testar novas formas de mobilização e luta. Modelos tradicionais e mesmo convencionais de ação política podem ter-se esgotado ou, pelo menos, não mais se adequam às demandas dos novos contextos, que mudaram com o tempo, ou ainda, de tão conhecidos, têm sido facilmente neutralizados pelos novos oponentes.

Para recriar formas de luta e atos políticos consequentes, precisamos convocar e reagrupar nossas lideranças, intelectuais, políticas, sindicais e institucionais. Algumas, precisam ser remotivadas e outras devem aparecer, agir, mover-se para serem reconhecidas; e novas lideranças surgirão no calor das lutas. A virtude da paciência política deve ser por elas promovida e cultivada, tanto no sentido da espera estratégica dos ciclos conjunturais, quanto no timing das decisões táticas necessárias. Para isso servem as lideranças nos processos e crises, já nos ensinava a sabedoria gramsciana (tão atacada e mal-entendida, neste momento em particular).

Como condição de sucesso, este é um momento crucial para renovar alianças. Por diversos motivos, a instituição milenar que se chama universidade significa muito (e de modo distinto) para diferentes pessoas e grupos. Precisamos de união e cooperação entre sujeitos e projetos distintos, superando divergências para construir convergências capazes de sustentar as lutas necessárias. As palavras solidariedade e cuidado, junto com respeito às diferenças, remetem a possibilidades de novas práticas políticas com efetividade, representatividade e participação, mas sobretudo com ética e sentimento.

E, finalmente, companheiras e companheiros aposentados, ainda militantes, sábios, podem muito ajudar a defender a universidade pública brasileira. Devem certamente lembrar que já vimos esse filme antes. Em tempos bastante sombrios e outros nem tanto, enfrentamos ministros coronéis e suas quarteladas, intelectuais obscuros e seus infiltrados, milícias burocráticas e suas papeladas, patrulhas pedagógicas e suas patacoadas. Aprendemos muito com tudo isso e podemos compartilhar erros, acertos e esperanças, tudo o que afinal se valoriza como experiência.

Nesses termos e condições, com tudo o que estiver dentro de nossas competências, limites e princípios éticos, estaremos prontos para resistir, posicionar, reagir e retomar o processo de avanço político momentaneamente bloqueado em nosso país. Começamos agora e aqui, na Universidade Federal da Bahia, manifestando nosso repúdio e indignação frente aos atos do atual responsável pelo Ministério da Educação, atos que discriminam, desonram e agridem nossa instituição, com a vil ameaça de impedi-la de continuar cumprindo seu papel histórico de alma mater da educação superior no Brasil.

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*O professor Naomar Monteiro de Almeida Filho esteve à frente da Reitoria da UFBA de 2002 a 2010, período em que lançou as bases da Universidade Nova e criou os cursos de Bacharelados Interdisciplinares na instituição. Atuou como reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), de 2013 a 2017. Ele é médico, Ph.D. em Epidemiologia, pesquisador 1-A do CNPq. Atualmente Professor Visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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Dia Mundial da Liberdade de Imprensa: relatórios apontam ambiente de risco crescente

As comemorações do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado anualmente em 3 de maio, são acompanhadas por um cenário alarmante para os profissionais da área. 64 jornalistas foram mortos no Brasil entre os anos de 1995 e 2018. Esses números fazem parte do relatório “Violência contra comunicadores no Brasil: Um retrato da apuração nos últimos 20 anos”, da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), em parceria com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), divulgado no último dia 30 de abril.

Foto: Capa do relatório/reprodução

Os indicadores do relatório do Enasp/CNMP mostram que do total de eventos envolvendo profissionais de imprensa no país, a “maior parte dos fatos é apurada e enseja a responsabilização penal dos criminosos(56%)”, ainda que uma parcela significativa (12%) siga sem solução. Merece destaque a relação entre os crimes e sua localização: o Rio de Janeiro lidera o número de ocorrências (13), seguido da Bahia (07) e Maranhão (06). Além disso, o documento aponta que a quase totalidade dos atos violentos analisados ocorreu longe dos grandes centros urbanos.

Na Bahia, dos casos registrados até o momento, dois permanecem como não solucionados, um solucionado, outro parcialmente solucionado e três outros com investigações em andamento. O mais antigo deles é o assassinato de Nivaldo Barbosa Lima, em 1995, na cidade de Paulo Afonso, interior do estado, que continua sem resposta.

Raquel Dodge, presidente do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e procuradora-geral da República fez declaração durante a solenidade de celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa no CNMP, classificando as ameaças aos comunicadores como um modo de censura à imprensa. “É preciso superar essa triste marca de impunidade que o Brasil carrega em relação àqueles que cometeram crimes contra jornalistas”, defendeu.

O dado trazido pelo documento confirma a tendência de gradativa redução da liberdade de imprensa no país. De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o Brasil continua sendo um dos países mais violentos da América Latina para a prática do jornalismo. Segundo levantamento feito pela entidade, em 2018, ao menos quatro jornalistas foram assassinados no país em decorrência da sua atividade. O Brasil ocupa a 105ª posição na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2019.

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É Fake! Militares na UFBA

Em contato com o site da ABI, o reitor João Carlos Sales esclarece que os militares, vistos circulando no campus da Universidade Federal da Bahia (UFBA) na manhã desta sexta-feira, buscavam informações sobre um concurso para sargentos do Exército. A informação circulou com força nas redes sociais, a partir de notícias publicadas sem a devida apuração e gerou intranquilidade na comunidade acadêmica.

O reitor apela para que as pessoas mantenham a tranquilidade e evitem difundir esse tipo de conteúdo sem a certeza da veracidade dos fatos.

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Jornalista baiana lança livro sobre problemática social de Cajazeiras

A jornalista Vânia Brito lança no próximo sábado (04) seu primeiro livro “Sonhos Traficados”, às 17h30, no Sebo, Café e Espaço Cultural Porto dos Livros, no Porto da Barra, em Salvador (BA). A obra mistura ficção e realidade social, revelando a proximidade que a autora tem com o retrato de uma das tragédias brasileiras – o narcotráfico, a partir de sua experiência como moradora do bairro de Cajazeiras. A publicação da PoD Editora é  prefaciada por Luis Guilherme Pontes Tavares, diretor da ABI. O evento de lançamento também contará com sessão de autógrafos.

Jornalista Vania Brito, autora de Sonhos Traficados – Foto: Reprodução/Instagram

A jornalista de 37 anos mora há 30 em Cajazeiras, um dos mais populosos bairros de Salvador. Foi ali que ela encontrou inspiração para começar, por volta de 2014/2015, a escrever sua novela, que tematiza a violência e a crescente presença de crianças e adolescentes no narcotráfico. A autora falou de sua preocupação sobre realidades muito próximas entre o Rio de Janeiro e Salvador. “Toda vez que eu passava eu via a meninada, a criançada entre 12 e 13 anos ali na rua e minha sobrinha me contava sobre mais um que tinha entrado para o tráfico de drogas ou então tinha sido morto. Eu percebi que estava aumentando o numero de adolescentes e de crianças também”, disse ao lembrar do cenário do bairro onde mora em Salvador.

Para ela, a escolha pelo gênero literário foi com vistas a levar os leitores à reflexão em torno de um problema social que considera resultado da desintegração familiar e ausência de políticas públicas. “Ouvindo essas histórias [de violência] eu comecei a escrever. Na verdade eu queria escrever alguma coisa sobre a violência, não necessariamente sobre ficção, mas aí me veio à mente algo que eu trabalhasse com ficção, algo que as pessoas pudessem ler e fazer uma reflexão em cima daquilo ali”, disse.

“Que este livro seja lido e que o entusiasmo tome conta de jovens realizadores que o transformem em roteiro de filme. Vânia Néri escreve como se nos apresentasse a sucessão de cenas que amanhã veremos no cinema”, por Luis Guilherme Pontes Tavares no prefácio do livro.

Serviço

Lançamento do livro Sonhos Traficados
Sebo, Café e Espaço Cultural Porto dos Livros - Av Sete de Setembro, 3564, loja 2, Porto da Barra, Salvador (BA)
17h30
R$25 (preço de lançamento)
Entrada franca
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