Uma pessoa dormiu cega e acordou enxergando. De acordo com a Arquidiocese de Salvador, esse foi o segundo milagre atribuído ao “Anjo bom da Bahia”, como Irmã Dulce ficou conhecida. No dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, de quem a freira era devota, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) recebeu em sua reunião mensal uma palestra sobre a entidade filantrópica fundada há 60 anos por ela. O assessor de comunicação das Obras Sociais Irmã Dulce, Alan Amaral, representou a superintendente da organização, Maria Rita Pontes, e explicou as ações realizadas para fortalecer a OSID. Em breve, segundo o Vaticano, a freira baiana passará a se chamar Santa Dulce dos Pobres, pelas obras de caridade e de assistência prestadas aos mais necessitados.
Amaral e sua equipe fazem o gerenciamento do conteúdo informativo em produtos como o site oficial das Obras Sociais; o balanço anual Realizações OSID; os canais da entidade nas redes sociais e o jornal mensal da instituição Dulce Notícias. Ele falou dos desafios de coordenar a Comunicação da instituição considerada pelo Ministério da Saúde como o maior complexo de atendimento 100% gratuito em saúde do Brasil. “A OSID é responsável pelo maior volume de atendimentos em toda a estrutura do setor na Bahia”, destacou. Segundo ele, o processo de canonização em andamento requer uma intensa atuação nos níveis estratégico, tático e operacional do setor, para satisfazer a demanda por informações.
“Temos o desafio de levar Irmã Dulce às novas gerações, fazer esse elo. Entre as ações, lançamos revistas, aplicativos, brinquedos e estamos fazendo um trabalho muito forte nas redes sociais para aproximar o público”, pontua o assessor, ex-repórter do Jornal Correio. De acordo com ele, há uma expectativa de crescimento da procura pelo santuário localizado, ao lado da sede da OSID, no Largo de Roma. Um projeto prevê intensificação do turismo religioso após canonização de Irmã Dulce.
Caminho da fé
Para trabalhar a peregrinação, a OSID planeja diversas ações. “O aumento do fluxo de fiéis e turistas motivou o projeto ‘Caminho da fé’, que traça uma linha reta entre o santuário e a Basílica do Senhor do Bonfim”, contou Alan Amaral. “Estamos também desenvolvendo atividades para estimular o turismo na Cidade Baixa. “Não temos notícia de outro beato que tenha provocado tanta devoção”, ressaltou.
O presidente da ABI, Walter Pinheiro, afirmou que se sente “privilegiado” por ter assistido a atuação de Irmã Dulce. Ele recordou episódios da caminhada da beata e reforçou a importância das Obras Sociais. “Ela foi essa figura maravilhosa que conhecemos. Dedicou sua vida para esse trabalho de amor ao próximo. Uma vida de esforço e sacrifício”.
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Valber Carvalho, diretor da ABI, falou sobre a dimensão da personagem, justificando a proposição do diretor Luís Guilherme Pontes Tavares para que o tema da palestra fosse Irmã Dulce. Ele é responsável por uma das mais completas pesquisas sobre a Venerável e em breve lançará um livro. Valber criticou o fim da disciplina “História da Bahia” no currículo das escolas no estado.
“Deixamos de cultuar Joana Angélica, Maria Quitéria e todos os nossos heróis, e passamos a ter uma supervisão lá de cima, que diz que a grande importância foi Dom Pedro puxar um espada e decretar ‘independência ou morte’. Toda a nossa luta foi jogada no lixo, houve um limbo. Nosso herói era local e hoje é internacional”, apontou. “Sendo de família cristã, eu cresci ouvindo sobre o anticristo. E cheguei à conclusão que ele não é um personagem, mas um movimento. Hoje, tudo o que é cristão é escanteado. Um ministro do candomblé ou muçulmano, por exemplo, é menos atacado do que um ministro cristão. Você não pode ser cristão. Irmã Dulce transcende a religião. Ela exercita o amor ao próximo passando por cima até das regras da Igreja”, completou o jornalista.
De Maria Rita a Irmã Dulce
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Segunda filha de do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Maria Rita nasceu na Rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo. Aos sete anos, em 1921, perde sua mãe Dulce, que tinha 26 anos. No ano seguinte, junto com seus irmãos Augusto e Dulce (Dulcinha), faz a primeira comunhão.
Aos 13 anos, Irmã Dulce passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré, num centro de atendimento. Nessa época, ela manifesta o desejo de se dedicar à vida religiosa. Em 08 de fevereiro de 1933, entra para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota o nome de Irmã Dulce, em homenagem a sua mãe. Passou a dar assistência a comunidades pobres, abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio.
Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, aos 77 anos. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida – não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país.
A causa da Canonização de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. A validação jurídica do virtual milagre presente no processo foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira. Em maio de 2011, ocorreu a Cerimônia de Beatificação de Irmã Dulce. A histórica celebração coroou a primeira beata nascida na Bahia.
Após 11 anos de espera, a freira, conhecida por todos como o Anjo Bom do Brasil, passou a se chamar Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica. O primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce trata da recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento parou, sem intervenção médica. Em maio de 2019, o Vaticano anunciou que Irmã Dulce se tornará santa, com a conclusão do processo de canonização. (Informações disponíveis no site da OSID)