Entre ataques à imprensa e o esvaziamento dos mecanismos para a transparência de informações, ganha importância o trabalho das organizações em defesa desse direito. A Associação Bahiana de Imprensa promoveu nesta terça (31), como parte de sua programação de aniversário, a live “Como o esvaziamento das leis de transparência afeta o jornalismo?”. O segundo encontro virtual da série teve a participação dos jornalistas Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais, Marina Atoji, jornalista e gerente de projetos da Transparência Brasil, e João Mauro Uchôa, editor do Olho Público.
“A transparência é um pilar da democracia. É preciso que instituições como a ABI e profissionais que lidam com a comunicação e com o serviço público estejam atentos a esse instituto”, defendeu Walter Pinheiro, presidente da Assembleia Geral da ABI. Mediador do debate, Pinheiro reforçou que o tema da live vem sendo discutido desde abril, quando a nova Lei de Licitações e Contratos desobrigou a publicação de editais na mídia impressa.
Sobre isso, Ricardo Pedreira destacou a importância da mobilização das entidades representativas. “O que nós temos é um governo federal que tem buscado desde o início fragilizar as empresas jornalísticas. Esse governo entende que o jornalismo não faz parte da democracia. Estamos vivendo a conjugação do descumprimento dos recursos de transparência, ataque ao jornalismo e à transparência. É preciso lutar para garantir esse pilar da cidadania”, afirmou.
Para Marina Atoji não é necessário haver ofensiva contra os mecanismos de transparência para restringi-la. “Algumas leis acabam sendo esvaziadas sem serem alteradas. O próprio fato das leis não serem cumpridas em sua integralidade já é um esvaziamento. Quando os órgãos públicos deixam de cumprir pedidos ou os ignoram são formas de enfraquecer a lei, ou também quando você dificulta a forma de fazer os pedidos”, observa a jornalista.
O acesso à informação de direito público depende também da eficiência dos mecanismos disponibilizados. É o que pontua João Mauro Uchôa para denunciar o que ele considera uma “enorme deficiência” nos portais de acesso nos níveis estadual e municipal. “Para além do descumprimento da transparência, a gente tem a indústria da transparência fajuta. Empresas de fundo de quintal que atuam na publicação de atos de prefeituras,mas que não têm compromisso nenhum com a transparência”. O jornalista também criticou a falta de padronização dos bancos de dados públicos, o que, segundo ele, afeta o recolhimento das informações.
Jornalismo e transparência
Os impactos das ameaças à transparência para a relação entre o jornalismo e a sociedade foram destaque na discussão. De acordo com Ernesto Marques, presidente da ABI, é um tema “de alta relevância para esse momento que o país está atravessando”. O jornalista salientou que as mudanças na legislação e outras iniciativas que ferem a transparência, ainda que algumas tenham sido revertidas, afetam mecanismos que garantem a qualquer cidadão brasileiro acesso à informação de interesse público e impactam nas relações entre mídia e poder, dentro da estrutura social.
“A partir do momento em que você tem poucas informações para apurar eventuais desvios ou mau uso de recursos públicos, você enfraquece o impacto do jornalismo na sociedade. O jornalismo e a transparência têm uma relação de simbiose. Sem um não tem o outro”, declarou Marina Atoji.
Para João Mauro, o livre exercício da profissão é essencial para se estar atento ao que necessita ser reforçado na lei. “A LAI (Lei de Acesso à Informação) não institui a transparência. A transparência é um princípio da administração pública”, afirma. “A LAI é uma trincheira, pode ser reforçada e aperfeiçoada. O jornalista é o profissional essencial nessa trajetória. Isso precisa ser utilizado na defesa da democracia, no aperfeiçoamento da administração pública e no melhoramento do acesso à informação”.
Quem também atua nessa trincheira é a jornalista Maria Vitória Ramos, cofundadora e diretora da agência de dados Fiquem Sabendo. Com o lema “O Brasil em dados”, a organização independente garimpa informações inéditas e que não são publicadas pelas autoridades. Uma das principais iniciativas da equipe é a newsletter gratuita e quinzenal “Don’t LAI to Me”, que auxilia jornalistas e pesquisadores de todo país, com informações adquiridas por meio da LAI ou em portais de dados abertos.
“A Fiquem Sabendo faz milhares de pedidos de acesso à informação por ano, além de monitorar ativamente os dados abertos e a informação da transparência pública com um todo no Brasil”, disse. Segundo ela, não tem sido uma tarefa fácil a obtenção, análise e seleção de dados públicos. “A gente tem uma experiência bem prática sobre como o acesso está se dando ou sendo impedido. Infelizmente, tivemos no último ano um retrocesso tangível no nosso direito de acessar informações públicas”, revelou Ramos em sua participação.
Direito fundamental
Apesar de ser um direito constitucional, parece haver ainda confusão por parte da sociedade civil sobre o que acesso à informação significa. Rita Tourinho, promotora de justiça do Ministério Público da Bahia, frisou a importância de se pautar a transparência como direito fundamental. “A transparência dita o próprio estado democrático de direito. Se o poder é exercido em nome do povo, é necessário que a população tenha conhecimento do que está sendo feito”.
Na opinião de Ricardo Pedreira, a dificuldade vai além do governo atual. “Ela [a dificuldade] está relacionada à própria sociedade brasileira. Agressões a jornalistas por parte de populares foram tão comuns nas manifestações e mais recentemente. A transparência é uma questão de cidadania”, analisa.
A noite contou ainda com as contribuições de Yuri Almeida, jornalista e especialista em controle de dados, que também criticou os ataques do governo federal à transparência. “Enquanto os governos democráticos de outros países avançam, no Brasil, a gente tem a censura, literalmente. Isso impacta no trabalho dos jornalistas que têm o acesso como insumo. A quem interessa essa ocultação de informações?”, questiona.
A próxima live da série promovida pela ABI está marcada para quarta-feira (8/9), com o tema “Assédio judicial: uma ameaça em toda a parte”. Faça a sua inscrição no canal da entidade no Youtube e não perca as discussões:
08/09 – Assédio judicial – uma ameaça em toda parte
14/09 – O papel da imprensa: falhas e omissões
21/09 – Comunicação e acessibilidade
Perdeu a transmissão? Saiba como foi a discussão desta noite no Youtube da ABI. Confira o vídeo abaixo!
Paulo Oliveira se tornou um contador de histórias. Encantando com os casos que encontrou enquanto andava pelo semiárido, ele conta um atrás do outro durante nossa conversa. Trabalhou como jornalista nas redações da Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, Veja, Jornal do Brasil, O Dia e o A Tarde, ajudou a fundar os jornais Massa!, na Bahia, e o Hoje, no Ceará. Mas é à frente do Meus Sertões que se diz verdadeiramente feliz.
O projeto nasce da vontade de Paulo de descobrir “o verdadeiro semiárido”, segundo ele, bem diferente das histórias que se vê geralmente na mídia tradicional. No Meus Sertões a região aparece deslumbrante e rica de histórias e iniciativas populares, de festas e tradições. Com o tempo, o portal agregou parceiros e colaboradores, pôde ampliar sua cobertura e se orgulha de ter reportagens ambientadas em quase todos os dez estados que constituem o semiárido brasileiro.
Para o jornalista, não basta apenas ser um contador de histórias, ele se torna artesão também, como aqueles que entrevista por aí nos povoados mais distantes. Paulo se orgulha das experimentações com a linguagem jornalística e da crônica que faz no portal. No Meus Sertões, as pautas podem se transformar em e-books, em vídeos e agora em podcast. É que, no final de setembro, o portal irá marcar seus cinco anos de existência com o lançamento de uma nova plataforma, a “Rádio Carcará”. A primeira temporada – dedicada às rezas – já teve sua pré-estreia com o audiodocumentário “Chão provisório”, de Abel Serafim, sobre as disputas de terra envolvendo a ocupação Resistência da Cabrita, em Sergipe. Você pode ouvir essa história aqui.
Qual o próximo horizonte do projeto? Quem sabe. Ele nos explica que o projeto avança conforme as possibilidades de sua equipe, bastante enxuta (são pelo menos quatro colaboradores fixos, fora o trabalho de Paulo). Sem os prazos do jornalismo tradicional, o Meus Sertões é também fruto da paciência que o sertão ensina a ter.
Aos cinco anos de Meus Sertões, quais são as principais conquistas do projeto?
Eu costumo responder que a principal conquista é a felicidade que eu tenho em fazê-lo. Trabalhei 40 anos em jornais, redações e seis anos dando aulas em universidades, e eu nunca fiquei tão feliz. É um mergulho num Brasil que a gente desconhece. Morei na Bahia por 10 anos e só tive oportunidade de conhecer mais a fundo o sertão quando eu saí do A Tarde. Para mim, a primeira conquista é essa felicidade, poder trabalhar com liberdade. No ano passado a gente se inscreveu em dois prêmios, um no Ceará, chamado Prêmio Gandhi de Comunicação; o outro foi o Prêmio de Incentivo ao Empreendedorismo da RD Station, no qual ficamos entre os três melhores, com jurados do Estadão e outros lugares.
Quem participa do projeto?
A gente trabalha com uma equipe muito enxuta: eu, alguns colaboradores eventuais, a Helenita [de Hollanda, médica e pesquisadora popular] que é uma colaboradora fixa, tem uma pessoa que cuida do site. Começamos com duas editorias, “Meus Sertões” e “Outros Sertões”. Depois, criamos a “Arredores”. Além disso, a gente esse ano também colocou um espaço para e-books de jornalismo. Tem um lá feito por mim sobre a história de Seu Zé (leia aqui), um agricultor de 93 anos que ainda trabalha no campo, foi braço direito do Padrinho Pedro Batista, que desenvolveu Santa Brígida; “o conselheiro que deu certo”, como costuma falar na cidade.
Como foi a produção em um ano marcado pela pandemia de Covid-19?
Pelo segundo ano, fizemos o projeto “Meus Sertões Universidade”, onde nós coorientamos TCCs. Esse ano nós orientamos o Abel Serafim, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e ele fez esse trabalho, “Chão provisório”. Publicou no dia 24 e já foi distribuído pelo pessoal do Movimento dos Sem Terra, de várias áreas de apoio a grupos sociais, de gente que sofre ação de grileiros. Estamos preparando a série [primeira temporada do podcast “Rádio Carcará”] que vai ser lançada no final de setembro e será sobre rezadeiras. Vamos discutir o que é cura, falamos com psicólogo, médico, já levantamentos experiências que misturam reza e medicina no Brasil, no semiárido. Vai ser um trabalho bem bacana. A previsão é para o final de setembro, que é quando completamos cinco anos exatamente.
O que podemos esperar da primeira temporada do podcast Rádio Carcará?
A Helenita é uma médica que trabalhava em um posto de hospital e em consultórios de Salvador. Num determinado momento, ela foi atender no interior e os pacientes eram rezadores, contavam histórias e lendas. E ela foi juntando aquilo tudo. Essa questão da reza sempre deu uma boa audiência [para o site]. Tinha alguns rezadores como o Pedro Santinho, que era santo no nome e para a população de onde vivia, curava bichos a distância. Essa matéria (aqui) deu uma audiência muito grande. Eu perguntei a Helenita o que ela achava de falar sobre reza e rezadores e discutir de onde vêm esses poderes. Ela, com o marido Biaggio [Talento, jornalista] e eu fomos entrevistando algumas pessoas. Dividimos em cinco capítulos, cada um com um tema.
Não estamos presos à Bahia, vamos pegar outros atores também e experiências de medicina de outros estados. No caso da experiência que juntou a medicina oficial com as rezadeiras, falamos com o prefeito da época e ele não lembrava mais. Tive que ir atrás, isso tudo por telefone e pela internet. Descobri a pessoa que trouxe o projeto para o Brasil, uma americana. Liguei para a universidade onde ela dava aula, mas ninguém sabia mais onde ela estava. Então, fui atrás das enfermeiras do posto de saúde, comprei livros sobre essa experiência. Estou cheio de material, agora só falta editar. A gente vai fazer o podcast com vários recursos. Será nossa primeira experiência, vamos acertar e vamos errar.
Como pretende fazer o seu produto alcançar a população retratada?
O site é independente e experimental. Se eu colocar no Spotify, tenho que fazer uma propaganda gigantesca para as pessoas irem até lá. A coisa mais fácil de fazer, que dá muito certo no nordeste, é um podcast de entrevista, gravar e colocar no YouTube. A princípio, quero testar. Eu não estou preocupado com grandes audiências, mas com a qualidade. Tenho tido muito retorno de pessoas que estudam determinado assunto e só encontram no Meu Sertões. Eu não posso achar que meu veículo concentra todas as pessoas que serão atingidas, porque, na verdade, tem que ter capilaridade. E essa capilaridade, agora no quinto ano, eu tenho, de pessoas, de amigos de gente de comunidade. Quando a gente fez esse podcast do Abel, ele foi lá na ocupação ver se o pessoal tinha algo contra. A reação das pessoas, segundo ele, foi chorar, porque se sentiram emocionadas, valorizadas. Porque puderam dar um espaço grande a eles.
De que forma um projeto tão abrangente é viabilizado financeiramente?
Agora, no quinto ano, a gente conseguiu terminar de montar o site. O projeto foi andando de acordo com nossos braços. A lojinha é uma das possibilidades. Quando você entra [no site], tem uma aba com os parceiros, que são portais para quem a gente já fez frila. Tem uma empresa, por exemplo, que contratou o Meus Sertões para fazer reportagens para o blog dela. O objetivo do site é ter patrocínios, mas a gente não quer ser igual. Tudo que entra dinheiro há uma influência de quem coloca. Decidimos que não iríamos aceitar verba pública. Podemos participar de um edital, mas dinheiro de prefeitura, do estado, a gente não aceita.
Como um jornalista experiente, o que te motivou a parar o trabalho com o jornalismo tradicional e seguir para o independente?
Eu trabalhei num jornal que tinha uma censura permanente. Qualquer pessoa que não faça parte do status quo vai ter dificuldade de fazer jornalismo de qualidade, independente, porque precisa de recursos. Temos um universo fabuloso no sertão que é desconhecido. A maior parte das pessoas, inclusive que trabalharam comigo na redação, desconhecem isso. Moravam nas cidades e desconhecem as histórias que eu conto. A gente fala que são baianos de Salvador, que só conhecem Salvador e nem ela toda. Esse projeto é algo que não existe outro igual. Cada cidade pode ter uma iniciativa, mas assim, levantar o véu que esconde as principais histórias fabulosas dessas cidades, não o fazem. Aí entra o Meus Sertões, que tem esse objetivo.
Quando se fala em seca, durante uns dois anos eu lia que morria um milhão de bois. Quando eu saí do jornal, eu fui para Canudos, tinha chovido muito no estado todo, a caatinga tava verde, os reservatórios estavam cheios de água. Eu vendo aquilo tudo, pensei: ‘como um cara do sudeste, fui enganado a vida toda porque não se diz que tem esse período de beleza, de fartura no sertão’. Eles só botam a miséria, inclusive nos jornais do estado.
Qual a sua avaliação da cobertura tradicional da mídia sobre a cultura popular nordestina?
Quando você olha para Salvador e para o carnaval, já tem várias discussões sobre quem é contratado. Se nem em Salvador tem uma coisa equânime, imagina no interior do estado. No interior, temos um festival de reisado em Boa Nova que é bancado por uma família. Tem anos que o governo do Estado ajuda, tem anos que não. E é um espetáculo fabuloso, que você vê reisado quilombola, reisado de várias cidades do entorno se apresentando durante dois dias. Uma proclamação fantástica. Quem sabe que isso existe?
A Lei Aldir Blanc ajudou a trazer várias iniciativas muito bacanas. Mas se a pessoa não fizer a propaganda disso, quem sabe que são produzidos? Qual a promoção que o estado ou os municípios fizeram para divulgar aquele trabalho? Eles deram o dinheiro, colocaram uma data para entrega e pronto. A cultura é riquíssima, tem coisas que eu acho fantásticas, tem as danças do santo das prostitutas, São Gonçalo. As danças no interior são fabulosas.
O problema é a pouca divulgação ou essas artes são divulgadas de maneira preconceituosa?
Eu acho que os governos não dão valor à cultura, a não ser dos artistas do entorno. Em Queimadas (BA), tem a história do Lampião que invadiu a cidade, prendeu a elite e mandou os cabras dele irem à delegacia. Alguns policiais enfrentaram eles e foram mortos, outros se acovardaram e pediram clemência. Eu sei que os tiros que foram dados furaram a delegacia toda. O que um dos prefeitos fez? Achou os buracos feios e mandou tapar. Ou seja, a gente tem pessoas no poder sem noção do que é história, do que é um ponto turístico.
Quando o assunto é cultura, o que mais se vê é o apagamento da memória, o investimento na desmemória. Você vai para perto de Cordeiros (BA), tem uma comunidade que vive do barro. Naquela comunidade, há mais de 100 anos, os mais velhos faziam uma boneca chamada ‘boneca de candeia’, que era usada para acender a lamparina. Com a eletricidade, isso se perde, e também porque dentro da própria comunidade não se dava valor. Só dois rapazes jovens decidem continuar a fazer essa boneca, só que tem dificuldade para vender, e por isso, um deles decide ir trabalhar em São Paulo. O outro fica, mas já pensando em desistir. Essa boneca é uma relíquia, do tempo da escravidão, com mais de 200 anos de história. O resgate dela é algo importante. Agora vê se em algum lugar deu isso aí? O estado está preocupado com a briga política, não com a cultura do povo. Ele vai utilizar a cultura desde que dê votos. E essas histórias? Essa boneca tem história, tradição. Posso falar mil exemplos.
O que o Meus Sertões te permitiu ver de novo sobre o semiárido?
Eu fui para Salvador a trabalho. A minha ideia era passar um ano, estou aqui até hoje. Eu permaneci esse tempo porque, dentro do jornal, embora eu tivesse problemas em relação à condução do jornalismo, eu tive a oportunidade de fazer vários cursos e tive um ganho muito grande de conhecimento. Aí quando eu saí, fui para Canudos e me dei conta de que estavam enganando os leitores do Brasil todo, inclusive do próprio estado. Isso tudo me causava angústia. O que me atraiu no sertão foi também a vontade de mitigar os efeitos dessa visão distorcida que havia, na verdade tem uma visão única e exclusiva que foi construída com o tempo.
Tem uma outra questão que as pessoas não se dão conta. Eu sou descendente de português. A primeira vez que fui a Portugal foi quando tive orgulho da minha ascendência, isso não significa que eu concorde com o que os colonizadores fizeram. Quando eu comecei a andar, mesmo no sertão, fui notando coisas. Como o bucho, que é uma comida portuguesa. Eu fiz uma pesquisa sobre uma oração chamada Padre Nosso Pequenino. A origem dessa prece é de Portugal, da idade média. Fiz uma matéria sobre isso, que até hoje é a mais lida do site. Eu comecei a me encontrar com minhas origens no lugar onde menos esperava, com um mundo que ainda é preservado. Ainda tem gente que faz almanaque, que faz cordel. Ainda tem a questão do aprendizado pessoal. Eu aprendi a ser mais paciente com a caatinga. Principalmente por conta do transporte, coisa que ninguém fala.
Qual é o futuro do Meus Sertões?
Nesses cinco anos, já temos um acervo com umas 10 mil fotos sobre o sertão, de vários lugares. São 500 matérias, 200 ou 300 vídeos. Se eu fosse parar hoje eu deixaria esse acervo disponibilizado ou cederia ele para alguém, porque o que eu tenho hoje já é um legado importante. A luta continua, mas já construímos um segmento que não existia. Tem sites especializados em cangaço, mas não um site que se propõe a falar sobre o semiárido. Já fizemos matérias sobre Piauí, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, a gente só não fez um ou dois estados, mesmo sendo um site pequeno. É porque vamos de acordo com nosso passo.
Eu estou muito atarefado fazendo matérias do site, também porque nesse período de pandemia os colaboradores não mandam mais tanto conteúdo. A minha preocupação hoje é dar conta das postagens semanais e concluir o prazo que me dei para o podcast. Também não adianta ficar criando muitas coisas. Com o que eu tenho já vou fazendo um monte de experimentalismo, tenho várias linguagens para trabalhar. Tem uma matéria que se chama ‘Dona Beijinha’. Fui para Pernambuco fazer uma matéria sobre as pessoas que mudam a realidade do sertão. Beijinha é uma personagem desta matéria. Ela deixou a prostituição com quase 90 anos e hoje está internada num abrigo para idosos. Ela me contou sua história com coisas picantes, mas eu via tristeza no rosto dela. Os intertítulos do texto são versos que falam de prostitutas, de Drummond, de outros. Eu fui misturando poesia e arte.
Eu conheço a maior parte das regras, mas eu quero subvertê-las. Qual o motivo da minha grande alegria? No jornal, eu não podia subverter as regras, porque tem o manual de redação, o chefe, o diretor e eles que determinam como tem que ser as coisas. Quando você tem um veículo, pode fazer o que quiser, experimentar do jeito que quiser. Tem matéria que eu demoro dois meses para escrever porque quero dar um tratamento especial. Hoje, eu posso dizer que faço jornalismo popular, artesanal e independente. Eu não tenho prazo, eu elaboro, eu lapido. É essa coisa de poder trabalhar as palavras artesanalmente.
*Larissa Costa, estudante de Jornalismo, estagiária da ABI. Edição: Joseanne Guedes
O jornalista e advogado Ruy Barbosa (1849-1923) exibiu autoconfiança face à morte do pai. O jornalista, médico e político João José Barbosa de Oliveira (1818-1874) faleceu em 29 de novembro e recebeu do filho sepultamento que custou Rs 751$740 (setecentos e quarenta e um mil, setecentos e quarenta Réis), valor que, pelos conversores disponíveis na web, corresponderia a mais ou menos R$ 100 mil.
A firma Cunhas & Cia alugou a Ruy Barbosa um “carro de 1ª classe puchado por seis cavallos e oito carros d’acompanhamento” (grafia da época). Essa operação comprometeu Rs 350$000 (trezentos e cinquenta mil Réis). À firma de Jozé Luiz Suares Sobrinho, que forneceu o ataúde e acessórios afins, Ruy pagou Rs 300$000 (trezentos mil Réis). E à firma de Manoel de Ascenção Alves, ele pagou mais Rs 81$740 (oitenta e um mil e setecentos e quarenta Réis) pelos serviços decorativos (tochas, velas, cortinas e outros) no velório e na missa de 7º Dia.
As informações acima constam do volume 1 (Inventários de D. Maria Adélia Barbosa de Oliveira e seu esposo Dr. João José Barbosa de Oliveira) da série Documentos históricos, inaugurada em 1955 pela Secretaria de Interior e Justiça/ Arquivo Público do Estado da Bahia. Ruy Barbosa quitou os compromissos com os três fornecedores dias depois do féretro, em 09, 12 e 14 de dezembro de 1874.
Jazigo perpétuo em 1891 – Ruy Barbosa não titubeou perante o desafio de oferecer ao pai o sepultamento apropriado ao conceito da família Barbosa de Oliveira, apesar de seu gesto somar-se ao compromisso de sanar os vários débitos que o falecido deixara. O ilustre baiano voltaria a cuidar dos despojos dos pais em 07 de janeiro de 1891, quando adquiriu o jazigo perpétuo (cava 60) na capela do Cemitério do Campo Santo, pagando cerca de Rs 90$000 (noventa mil Réis), conforme o termo de compra lavrado pela Santa Casa de Misericórdia. Nessa operação, por procuração, o médico, farmacêutico e professor Augusto Cezar Vianna (1867-1933) foi o intermediário. As atribulações de Ruy Barbosa como ministro do primeiro governo republicano o impeliram à delegação dada ao amigo.
O Dr. Augusto Vianna autorizou, então, a exumação dos restos da mãe (sepultada na carneira 160 em 16 de junho de 1867) e do pai (sepultado na carneira 323 em 29 de novembro de 1874) do consagrado baiano. Isso ocorreu em 11 de janeiro e, seis dias depois, em 17 de janeiro de 1891, os restos mortais dos pais de Ruy, Dona Maria Adélia e Dr. João José Barbosa de Oliveira, foram sepultados, em definitivo, na cava 60. No mesmo jazigo, estão sepultados os restos mortais de Dona Maria Leonor Barbosa de Oliveira, irmã do pai de Ruy, e a neta dela, Amália Barbosa Lopes Pacheco (1878-1952). Pela ordem, os despojos das duas foram transferidos para a cava 60 em 26 de outubro de 1915 e 15 de março de 1954.
Tive a curiosidade de tentar localizar a cava 60 na capela do Cemitério do Campo Santo. Conforme o documento que a administração nos forneceu, localizando a cava 60 na 3ª ordem, tomei o altar como referência e, tanto na horizontal como na vertical, a terceira fileira (ordem) dos jazigos não me permitiu encontrar a lápide correta. Se a pedra foi ali colocada em 1891, ouso imaginar que o nome do pai de Ruy Barbosa permanece grafado de modo equivocado há mais de 100 anos.
Se confirmado o descrito acima, isso torna ainda mais comovente o último parágrafo do livro O pai de Rui (Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1949), do médico e escritor baiano Ordival Cassiano Gomes (1903-1958):
“Deu ele, ao Brasil, o que lhe exalta a memória, o melhor dos filhos e o maior dos baianos, Rui Barbosa, gloria da Pátria e cidadão do mundo. Hoje, na mesma terra que os viu nascer, dormem o último sono: o pai na campa rasa de um cemitério, e o filho, sob as arcadas imponentes da Casa da Justiça”. (p. 141)
Pai e filho, João e Ruy, permanecem juntos em nossa memória.
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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
“Todos os dias a fotografia me surpreende, me traz algo de novo, me liberta, me cura e cria histórias mais próximas do real possível”, diz trecho do relato feito pela fotojornalista Paula Fróes em suas redes sociais, para marcar o Dia Mundial da Fotografia, celebrado no dia 19 de agosto.
Nesta data, em 1839, foi apresentado pela primeira vez o daguerreótipo, pela Academia de Ciências da França, em Paris. O primeiro equipamento de fotografia consistia numa caixa pesada de madeira que precisava de horas de exposição ao sol para fixar a imagem. Desde então, não foi apenas o equipamento que sofreu mudanças, mas também o perfil de profissionais que o manuseiam. Se a fotografia sofreu seus revezes e revoluções, o fotojornalismo também. Para celebrar essa mistura entre arte e jornalismo, a ABI traz os relatos de cinco talentos baianos. Cinco mulheres narrando suas vivências, desafios, conquistas, trazendo seus olhares sobre a área.
Linha de frente
O fotojornalismo exige do profissional muita agilidade para não perder o clique e coragem para estar na linha de frente, capturando o acontecimento. “Você vai cobrir uma pauta, tem vinte fotógrafos lá. O que vai definir a melhor foto? O melhor ponto de vista”, observa Margarida Neide, que busca o melhor ângulo há pelo menos 30 anos. “Em toda a minha vida de jornalista, sempre estive na frente”.
Margarida atua com a fotografia desde que era assistente do irmão, o fotógrafo reconhecido internacionalmente Nilton Souza, que ela diz ser sua maior inspiração. Entrou pela primeira vez em uma redação em 1982, para trabalhar no Correio*, e nunca mais largou a câmera. “Quando eu pisei pela primeira vez numa redação, eu sabia que ali era meu ninho. De cara me apaixonei”, recorda.
Desde então, ela não largou mais a câmera e conquistou seu próprio espaço na profissão. Ainda hoje, é uma das poucas mulheres que já trabalhou com a cobertura de futebol (clique aqui para conferir a galeria), mas, para ela, ser mulher nunca foi um obstáculo em sua carreira. “Quando entrei na Fonte Nova pela primeira vez, era a única mulher. Alguns colegas tentaram [me barrar], mas eu nunca liguei pra isso”. A cobertura esportiva já lhe rendeu o Prêmio Nacional Racimec Esportiva, na categoria “Jogadores no lance”, o prêmio de Melhor Repórter Fotográfico no Esporte pela Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Arfoc) e pelo menos duas exposições individuais. Agora, o foco está nos seus projetos pessoais em jornalismo.
Ela não se define como uma jornalista esportiva. “Eu sou uma fotógrafa de ação”, ressalta. Margarida entende que mais importante do que o equipamento é o feeling do profissional, é estar atento ao que acontece. Hoje, fora das redações, ela diz sentir falta da aventura que é ir a campo. “Você passa a carga da notícia através da fotografia, às vezes, mais que o texto. Qualquer pauta para mim é preciosa. Você tem que sair para campo com vontade de achar o que representa aquilo ali”.
A andarilha
A paridade de gênero nas equipes de fotojornalistas nas redações é algo que vem sendo conquistado aos poucos, como mostra o exemplo dos dois maiores jornais em circulação em Salvador. O Correio* conta com uma equipe de cinco pessoas na área de fotojornalismo, sendo quatro mulheres, e o A Tarde, com uma equipe de oito pessoas, sendo duas mulheres fotojornalistas.
Uma das repórteres do A Tarde, a experiente Shirley Stolze, com 61 anos, não parou de trabalhar durante a pandemia. Assim, ela pôde acompanhar as mudanças que aconteceram na cidade. “A rua é uma grande escola para qualquer pessoa que queira fazer o fotojornalismo, porque ela te dá várias opções. Eu digo que sou uma andarilha. Eu gosto muito de caminhar pela cidade, para ver a temperatura, o que tá acontecendo”, comenta Stolze.
Shirley direcionou seus passos por todo o país, com exposições de seu trabalho em conjunto com outros fotógrafos. Apenas na Bahia, já expôs no Museu de Arte Moderna, na Casa de Castro Alves e no Festival da Bienal do Recôncavo. A Associação Bahiana de Imprensa já reconheceu o seu talento duas vezes, premiando fotos suas publicadas no Correio* e no extinto jornal Bahia Hoje. (Confira a galeria com alguns registros dela)
O “treino” do seu olhar iniciou pela observação de livros e revistas. “Eu sempre fui fã das imagens. O que ela passava, o que ela podia dizer para as pessoas”. Atualmente, ela precisa captar suas fotos a distância, com a sua lente teleobjetiva e o zoom da câmera. Mas nada te prepara para o dia a dia da profissão e, quando acontece aquela pauta imprevisível, o que resta é contar com o instinto de fotojornalista. “Às vezes, você sai com a pauta, surge outra em sua frente que não tinha nada a ver com aquela que te deram. Tem um acidente, você vai ter que fazer. É uma profissão cheia de novidades, o cotidiano da gente nunca é igual”.
Qual conselho Shirley deixa para quem está começando? “Ficar atento ao olhar. Eu acho que cada fotógrafo tem um olhar que é a sua identidade. Você olha uma foto de Aristides Baptista, você sabe que é dele, você olha a foto de Evandro Teixeira e sabe que é dele, você olha uma foto de Margarida Neide, de Marina ou de Paulinha Froes, aquele olhar já identifica o fotógrafo ou a fotógrafa”, analisa Stolze.
O belo e o cruel
“O desafio da mulher na fotografia são os mesmos desafios da mulher na sociedade. Você tem que ser muito melhor do que o homem para ser respeitada”, afirma Lucia Correia Lima, fotojornalista desde a década de 70. Ela começou a trabalhar aos 16 anos na extinta Revista Realidade, como assistente no laboratório de fotografia, mas sua carreira como fotojornalista só teve início mesmo no jornal Tribuna da Bahia.
Lucia relata que, apesar do apoio de alguns colegas, sofreu represálias. “O chefe do setor de fotografia disse claramente que não podia contratar uma mulher. ‘Como é que uma mulher ia fotografar um homem mijando, entrar num vestiário na Fonte Nova?’ Ele foi contra, mas o Paulo Tavares [chefe de reportagem do jornal na época] bancou e disse que me queria lá”, lembra ela, grata ao incentivo de Tavares, morto em março deste ano por complicações da Covid-19.
Para continuar na redação, Lucia tratou de ser a melhor. Conquistou seu espaço dentro da TB – onde teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes, como Sônia Carmo, primeira fotógrafa da imprensa baiana – ou quando trabalhou para a imprensa alternativa paulista, em veículos como a Revista Bondinho e a Leia Livros.
Lima ainda pretende voltar a atuar com o jornalismo, mas no momento está focada no desenvolvimento de um documentário a partir do seu livro “Mandinga em Manhattan”. O livro rodou o mundo, assim como outros trabalhos de Lucia que já foram expostos nos Estados Unidos, com a exposição Mundo Negro, e na França, com Herança Africana. O respeito à herança afro na cultura brasileira permeia seu trabalho mais recente. Lucia, inclusive, vê paralelos entre a luta feminista e a do movimento negro.
Ela pôde assistir à mudança do analógico para o digital e agora às mudanças na própria forma de fazer do fotojornalismo. Mas o poder da imagem permanece. “O fotojornalismo é a memória da sociedade, se você quer conhecer uma sociedade, você vai buscar nos jornais, nos registros fotográficos”, afirma.
Além de memória, o fotojornalismo, para ela, é também alternativa. Como conselho para os futuros profissionais, Lucia acredita que não se pode deixar de pensar na própria câmera como um fator de mudança. “Temos que ajudar a mudar a realidade e a construir uma sociedade mais justa através do trabalho. O fotojornalismo é importantíssimo dentro disso. A partir do momento que você mostra o belo, você tem que mostrar as crueldades”, pondera. (Galeria de Lucia)
O detalhe
Marina Ferreira, fotojornalista e editora no Correio*, busca o detalhe dos fatos através de suas fotos. “É uma forma de sair do senso comum, de tentar trabalhar minha criatividade”, afirma. Ela, que iniciou em 2008, pende entre o cansaço da dedicação que a profissão exige e a paixão por descobrir coisas novas a cada pauta. “A gente conhece outras coisas, outras possibilidades e formas de ver o mundo pelo fotojornalismo”.
Para Marina, a fotografia dela, mesmo no fotojornalismo, tem que ter arte. “A foto tem que ser sentimento. Você olha para a foto e vê algo mais. É isso que faz uma foto ser melhor que outra”. Quando sai a campo, coisa que se reduziu bastante durante a pandemia, ela sempre busca fazer aquilo que chama de “uma foto para si”. Ela tenta reconhecer a Marina que há nos retratos que vão para os jornais. “Tem uma coisa que caracteriza minhas fotos. Isso é bacana, a pessoa tem que buscar isso, a sua identidade nas fotos e tentar mostrar quem é”. (Confira cliques de Marina)
Faconiana de formação, Marina caiu na fotografia ao se tornar monitora em uma das disciplinas. Seu trabalho de conclusão de curso foi um dos primeiros passos na exploração da arte que a foto tem. O projeto “Corpo Revelado” mostra o olhar poético da fotógrafa para as formas e as pessoas.
Dentro do jornalismo, suas capas para o Correio* já lhe renderam alguns prêmios como o Prêmio OAB-BA de Jornalismo Lima Sobrinho e o The Best New Design Creative Competicion. Para quem sofreu preconceito por ser mulher e inexperiente no início da carreira, hoje ela acumula muitas habilidades da profissão. Agora, trabalhando com uma equipe predominantemente feminina, ela sente que houve avanços nesse sentido. Segundo ela, a nova mudança na área seria a necessidade do instantâneo. E aí, cabe ao profissional continuar atento ao que lhe rodeia.
Uma arma na mão
O maior sonho de Paula Fróes dentro do fotojornalismo é fazer cobertura de guerra. Ela relata que a última vez em que se sentiu plena de verdade foi quando fez a cobertura de um incêndio dentro de um helicóptero. Essa não foi a única vez em que esteve presente em momentos de risco: ela também cobriu as manifestações anti e pró Dilma, durante o processo de impeachment e foi a primeira fotojornalista baiana a entrar em um hospital em meio à pandemia de Covid.
Mas o risco que a profissional se coloca também já acarretou agressões e assédios. “Já fui agredida trabalhando no carnaval para o bloco As Muquiranas, por ser mulher, estar vulnerável e ser nitidamente uma pessoa LGBT. Meu estereótipo é de mulher lésbica”, afirma Fróes, que se identifica como pessoa não-binária.
Mesmo tendo a bagagem de ter passado por veículos como o A Tarde, Correio Braziliense, Jornal de Brasília, O Globo, BBC, AzMina, Metro International e acumular suas distinções, Paula ainda tem de lidar com o machismo nas relações com seus colegas. “Lidando com homens já fui reduzida diversas vezes. ‘Ah, porque você faz assim?’ A foto é minha, você não tem que interferir na minha arte, na minha imagem, nas minhas vivências. Minhas fotos partem das minhas vivências”, relata a jornalista.
A mais recente agressão que viveu foram os xingamentos e assédio verbal por parte de apoiadores de Bolsonaro durante uma passeata. Fróes lembra que poucos profissionais homens passaram por casos semelhantes. O que resta a ela nessas horas para se proteger é recorrer aos seus equipamentos, que são também suas armas. “Eu sempre penso ‘O que eu tenho de arma na minha mão? Um celular e uma câmera’. O que eu posso fazer para me defender nesse momento? Peguei meu celular e filmei a ação deles e mantive a calma”, recorda. (Acesse a galeria com fotos de Fróes)
Com as armas em punho, elas buscam trazer um novo olhar sobre o cotidiano. Algo que tem muito a ver com jornalismo, mas também com elas mesmas. Ou, como encerra Paula em sua homenagem à fotografia: “As minhas vivências são minhas fotografias. Eu sou aquilo que fotografo e nada mais”.
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*Larissa Costa é estagiária de Jornalismo da ABI. Edição: Joseanne Guedes