Notícias

Levantamento mostra o cenário atual do formato podcast no Brasil

Seja para entretenimento, ficar por dentro das informações cotidianas, colher insights para a carreira profissional ou utilizar como fonte de estudo, um formato de conteúdo está numa crescente no Brasil: o podcast. Entender como está a produção e o consumo de podcast no país e, consequentemente, como esse formato tem impactado o setor de comunicação foram os objetivos que fizeram a media tech Comunique-se, em parceria com a agência de notícias corporativas Dino, desenvolver a primeira edição da pesquisa “O mercado de podcasts no Brasil”.

No campo da comunicação social, o estudo apresenta dados, curiosidades e insights a respeito do assunto, indo de aspectos comerciais até a oportunidades na área. A maioria dos respondentes, por exemplo, afirmou que não trabalha — ao menos ainda — com esse tipo de formato de conteúdo: 55,5%. Dos 44,5% restantes, os que já atuam diretamente com esse tipo de material, as atividades foram impulsionadas recentemente. Isso porque 30% começaram a trabalhar com o formato há mais de dois anos. Por outro lado, 70% passaram a ter relação profissional com esse tipo de conteúdo de dois anos para cá.

Segundo os organizadores da pesquisa, os dados refletem que o podcast, no Brasil, já não pode ser mais encarado como “modinha”. Integrante do departamento de marketing do Comunique-se e um dos responsáveis pela realização do levantamento, Gabriel Tripodi chama a atenção para o fato de mais de um terço dos respondentes manter ativo um projeto de podcast entre um e dois anos.

“Evidencia que o mercado de produção de podcasts está crescendo e, mais do que isso, com as ações tendo sequência, sem mero experientes que ficam poucos meses no ar”, analisa o profissional que é consumidor e produtor do formato, sendo responsável pelo ‘Fala, Bocão’, atração desenvolvida exclusivamente para os colaboradores do Comunique-se.

Ainda sendo minoria entre profissionais de comunicação do Brasil, o formato tem ganhado cada vez mais espaço. Uma prova disso é que há mais de três anos, o termo era pouco difundido no país. Agora, é possível afirmar que esse tipo de conteúdo está numa crescente, com mais de 44% dos comunicadores tendo, atualmente, relação profissional com podcasts, como explica Gabriel Andrade, responsável pelo marketing da agência de notícias corporativas Dino.

Podcast x videocast

Entre os comunicadores brasileiros há a predileção pelo podcast “raiz” em detrimento do chamado videocast, que, conforme o nome sugere, também conta com imagem. O modelo que possui somente o áudio — e, dessa forma, pode ser disseminado por meio de plataformas como o Spotify — é adotado por 61,4% dos respondentes que já trabalham com esse formato de conteúdo.

Outro tópico do levantamento revelou que, entre os que — por enquanto — não trabalham ativamente com podcasts, há a intenção de se mudar essa estatística. De todo o universo de respondentes, 94,2% cravaram: o podcast veio para ficar!

Principais curiosidades

  1. 90,6% gravam seus podcasts (em vez de realizar transmissões ao vivo);
  2. Apenas 19% trabalham com o chamado videocast;
  3. Dos que pretendem produzir um podcast, 56,1% querem desenvolver projeto para a empresa em que trabalham;
  4. ‘Entrevista’ é o nicho/editoria mais popular entre comunicadores-ouvintes de podcasts (16,5%);
  5. Com 38% das respostas, o Spotify é a principal plataforma para se consumir podcasts entre profissionais de comunicação do país;
  6. ‘O Assunto’, apresentado pela jornalista Renata Lo Prete e produzido pela equipe do G1, é o podcast favorito entre os comunicadores, sendo indicado por 5% dos entrevistados;
  7. A maioria absoluta dos respondentes (55%) afirma que não é preciso ter formação acadêmica em comunicação para atuar como apresentador de podcast.

>> A íntegra do estudo está disponível gratuitamente para download. Para visualizar o material, clique aqui e preencha o formulário online.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Reunião da ABI é marcada por homenagem a dirigentes

A reunião de abril da Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), ocorrida nesta quarta (13/04), foi marcada por homenagens da entidade a dirigentes aniversariantes, profissionais com relevantes serviços prestados à imprensa baiana e, em especial, à ABI. A sessão dirigida pelo presidente Ernesto Marques tratou de assuntos importantes para a rotina da instituição e foi encerrada por uma entrega de troféus e presentes, simbolizando a gratidão da ABI pela atuação dos comunicadores.

Após a reunião mensal, foi oferecido um almoço de confraternização para homenagear os aniversariantes. Foram comemorados o 90º aniversário dos jornalistas Florisvaldo Mattos (08/04) e Valter Lessa (31/01); os 80 anos do decano da comunicação empresarial soteropolitana Pedro Daltro (08/02); os 70 anos dos jornalistas Jair Cezarinho (18/04), Luis Guilherme Pontes Tavares (15/05), vice-presidente da ABI, e Artur Andrade (10/11); e os 60 anos da jornalista Suely Temporal (02/02).

“Queria registrar minha gratidão por estarmos aqui vivos, saudáveis, depois dessa pandemia terrível. Perdemos amigos e familiares com esse coronavírus, que continua implacável em alguns lugares”, afirmou Nelson José de Carvalho, diretor do Departamento Social da ABI.

“Estou feliz em poder compartilhar desse momento memorável com expressivas figuras da imprensa da Bahia que muito contribuem para um mundo melhor”, agradeceu Jair Cezarinho.

Discursos sobre amizade marcaram o almoço. O jornalista Ernesto Marques lembrou o seu início na profissão, trazendo à memória sua relação com o radialista e publicitário José Jorge Randam, ícone do rádio e pioneiro da televisão baiana. Ele expressou o sentimento de gratidão pela convivência e aprendizado com o amigo.

“Quero dizer que fiquei muito feliz com este nosso encontro e ainda mais por ter entrado em contato, mais de uma vez, com grande número de ex alunos, que se tornaram grandes jornalistas, e que se tornaram também meus colegas no trabalho”, destacou o professor Florisvaldo Mattos, para em seguida reverenciar a memória do cineasta Glauber Rocha, o principal responsável por sua chegada à redação. “Já somei 53 anos de exercício de jornalismo profissional. Nesses anos de jornalismo, a quem eu deveria recorrer como memória infinita? A um grande amigo e depois grande cineasta, o saudoso Glauber Rocha”.

Estiveram também no encontro a secretária geral da ABI, Sara Barnuevo; a diretora Amália Casal Rey; Jorge Ramos, diretor do Museu Casa de Ruy Barbosa. Além dos diretores e convidados presentes na sede da entidade, participaram de forma online: Simone Ribeiro, diretora do Departamento de Divulgação; Sérgio Mattos, vice-presidente da Assembleia Geral da ABI; Nelson Cadena, diretor de Cultura; Raimundo Marinho, diretor de Patrimônio.

O encontro foi prestigiado também pela professora Cybele Amado, diretora-geral do Instituto Anísio Teixeira; o advogado Antonio Luiz Calmon Teixeira, sócio honorário da ABI, e o Comandante Geovani, representando o vice almirante Humberto Caldas, do Comando do 2º Distrito Naval.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

O dia em que a ABI foi pescar

“No domingo 12 de abril de 1953, por volta das 10 horas da manhã, pescadores em compridas canoas jogaram a grande rede nas proximidades da Praia de Armação, logo mais a puxaram para conferir o montante de xaréus que a Mãe D’Água – que na ocasião recebeu um presente dos homens do mar – ofertara à ABI. Peixe para a entidade?”

Esse excerto, presente no livro comemorativo “A.B.I. – 90 anos”, narra um dos muitos esforços coletivos em prol da construção da sede da entidade, quando ainda nem se pensava que a Associação Bahiana de Imprensa iria se assentar no Edifício Ranulfo Oliveira, localizado no Centro Histórico de Salvador. Essa história foi redescoberta e contada na publicação pelo jornalista e pesquisador Nelson Varón Cadena, diretor de Cultura da instituição. 

“Na época, a ABI estava arrecadando recursos para construir a ‘Casa do Jornalista’. Havia um costume antigo de fazer uma lista de adesão com várias pessoas, se mandava até para o interior, mandavam para amigos, assinavam e faziam as contribuições. Algumas empresas [ajudavam] também”, conta Cadena. A lista de doações era uma das ações feitas para angariar recursos para a construção da sede – na época, denominada pela imprensa de Casa do Jornalista. 

O pesquisador recorda que, além disso, também houve eventos em prol da Associação, como apresentações artísticas, encenação teatral, o repasse de verbas por meio de emendas parlamentares e caravanas pelo estado com as listas de adesão. No entanto, a puxada de rede se destaca. 

“Um associado da ABI chamado Mario Paraguassu, que era também um pintor, ilustrador, jornalista, comandou essa puxada de rede. A renda da venda do peixe foi revertida para a ABI. É um fato curioso porque a maioria dava outros tipos de contribuição: dinheiro, dava tijolos para a construção, caminhões para carregar areia, eram várias as formas de contribuir”, comenta Cadena. No livro, ele também escreve que a contribuição da venda do xaréu, o  pescado, foi simbólica se comparada a tantas outras. Mas é um ato significativo da mobilização e do esforço empreendido pela sociedade na construção da Casa. 

Entre os maiores doadores, há alguns nomes que são velhos conhecidos: Norberto Odebrecht, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Universidade Federal da Bahia, a Petrobras. Doadores particulares também figuraram, como Agenor Pitta Lima, Bernardo Martins Catharino, Carlos Costa Pinto, Ernesto Simões Filho, Misael Berbert Tavares e Regina Simões de Mello Leitão. 

Ernesto Simões Filho também esteve envolvido na construção do que é hoje o Museu Casa de Ruy Barbosa: foi o responsável pela arrecadação que possibilitou a compra do imóvel. 

25 anos depois

A campanha para erguer a sede iniciou em abril de 1936. Ou seja, até a puxada de rede de xaréus se passaram 17 anos de mobilização pela Casa do Jornalista. E ainda estava longe de acabar. Na verdade, a sede levou 25 anos para ser construída. “Era muito caro para construir. Queriam fazer com os melhores materiais, e nunca havia recursos para terminar a obra. E também porque muitas das ‘doações’ não ocorreram de verdade. A situação financeira foi um grande complicador”, explica Cadena. Algumas das listas de adesão enviadas voltavam em branco. 

Outros percalços apareceram na história da sede, como a indecisão sobre a sua localidade. Em 1935, quando a ABI recebe a cessão do terreno onde hoje fica o Museu Casa de Ruy Barbosa, se pensou que a sede deveria ser construída naquele local. Depois, se pensou em fixar a sede na Ladeira da Praça e apenas depois dessa mudança que se considerou o ponto próximo à Praça da Sé, onde a ABI permanece até hoje. Esse terreno ainda teve de ser comprado aos poucos, o que tornou a construção do edifício mais demorada. 

Algumas ideias ficaram pelo caminho. O próprio nome “Casa do Jornalista” deixou  de ser utilizado – apesar de que a entidade é, até hoje, um lar para os profissionais da imprensa. O edifício acabou por ser batizado em homenagem ao jornalista Ranulpho Oliveira, que presidiu a ABI durante 39 anos. Seguindo a nomeação do local, o “ph” do nome do antigo presidente também foi abandonado. 

A inauguração, de fato, ocorreu no dia 2 de fevereiro de 1960. O projeto desenhado por Hélio Duarte e pelo engenheiro civil Ernesto de Carvalho Mange foi escolhido por meio de um concurso público. A obra final se destaca na paisagem pelo acabamento moderno, mas é também um pedaço da história da Bahia. 

*Com edição de Joseanne Guedes.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Florisvaldo Mattos: os 90 anos de uma unanimidade

Que Nelson Rodrigues nos perdoe, mas algumas unanimidades possuem suas razões de serem. É o que se confirma no caso de Florisvaldo Mattos. Nesta semana, em que completa 90 anos nesta sexta-feira, o poeta, jornalista, professor de jornalismo, membro da Academia de Letras da Bahia (ALB) e 2° vice-presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) é celebrado, homenageado e entrevistado. Ainda não se conhece alguém que questione o legado e a importância desse grande intelectual baiano. 

“Tem gente que é cíclico. Florisvaldo é constante. Ele tem energia para estar sempre rendendo”, comenta o jornalista Valber Carvalho, membro do Conselho Consultivo da ABI. Entre 2018 e 2019, o jornalista produziu, na sede da Associação, o documentário “Memórias da Imprensa – A História do Jornalismo Contada Por Quem Viveu”. Curiosamente, quando gravou o episódio com Florisvaldo Mattos, ele dividiu-o em duas partes: o jornalista e o poeta. De fato, sobre essas duas facetas do autor, muito se pode dizer.

Natural de Uruçuca (que, na época, era o distrito ilheense de Água Preta), Florisvaldo teve uma trajetória de sucesso na escola e no ginásio. As lembranças carinhosas dos professores e das lições deixam entrever, também, os primeiros vislumbres da sua vocação literária. “Comecei a me interessar por leitura ainda no primário. Estudando no grupo escolar Carneiro Ribeiro, a professora Dadá adotava livros para leitura que havia poesias e contos ”, recorda o poeta no documentário “Memórias da Imprensa”. A partir dali, Florisvaldo passa a ler Gonçalves Dias, Fagundes Varela e Castro Alves e, depois, os poetas parnasianos.

Ao terminar os estudos no colégio, a escolha sobre qual caminho tomar na vida o chamou: poderia ir para uma escola militar ou seguir para o ensino superior. Decidido a estudar Direito na capital, Florisvaldo recebeu um único conselho da mãe antes de sair de casa: “Minha mãe me disse assim: ‘Meu filho, vá para a Bahia (Salvador era chamada assim no interior). Faça tudo que você queira fazer, só não se meta com gente ruim’. Ruim com acento no i”.

Conselho aprendido, Florisvaldo andou com gente da mais alta estima, mesmo quando ainda estudava em Itabuna, quando mantinha comunicação com o poeta Sosígenes Costa. Foi por intermédio dele que Mattos conheceu Walter da Silveira e, posteriormente, Glauber Rocha. Suas relações se intensificaram em 1956, quando o então estudante envia para publicação na Revista Ângulos o seu poema “Composição de Ferrovia”. Até então, seus poemas eram publicados em revistas das cidades de Ilhéus e Itabuna, com circulação mais reduzida. 

“Eu estava sentado no pátio da faculdade (a antiga faculdade de direito que ficava onde é hoje o prédio da OAB) e o porteiro veio me chamar. Disse que tinha uns rapazes no portão querendo conhecer Florisvaldo Mattos. Quando eu cheguei lá, estavam quatro jovens: Glauber Rocha – que eu já conhecia de vista -,Paulo Gil Soares, Carlos Anísio Melhor e Antônio Guerra Lima. Aí, Glauber começou a falar dizendo ‘Viemos aqui para conhecer o melhor poeta modernista da Bahia. Nós lemos hoje o poema que você publicou na Revista Ângulos. É uma maravilha’”, lembra Florisvaldo, sorrindo. “Aí começou toda a saga que seria a Geração Mapa”.

A Geração Mapa e o jornalismo

Nos anos 50, o cenário sócio-cultural de Salvador – e de toda a Bahia até – era de provincianismo. Como descreve a jornalista, escritora e doutora em Letras Kátia Borges, os jovens do grupo que vão compor a Geração Mapa desejavam “vencer a província sem sair da província”, como dizia Glauber Rocha. Eram garotos, ainda adolescentes, estudantes do Colégio Central”, afirma. 

No grupo, houve, obviamente, a presença intensa do cineasta, junto com Fernando da Rocha Peres, Calasans Neto, Sante Scaldaferri, Myriam Fraga, Guido Araújo, João Ubaldo Ribeiro. Apenas as companhias que a mãe de Florisvaldo pediu para que ele escolhesse estar próximo. Eram interessados em poesia, literatura, artes plásticas e jornalismo. “A ideia era que cada um pudesse falar da sua especialidade”, afirma Florisvaldo. 

Florisvaldo era alguns anos mais velho do que seus amigos, que ainda estavam no colégio secundarista. Como coloca Kátia Borges, ele foi praticamente intimado a entrar no grupo por Glauber. Mas dessa relação surgiram bons frutos. “Suas contribuições são muitas e diversas: criaram as jogralescas (com interpretação naturalistas antes da Escola de Teatro da UFBA), a revista literária Mapa, a editora Macunaíma, que editou vários livros e a produtora de cinema Yemanjá Filmes. Seus integrantes formaram a primeira redação de jornalismo com feição moderna (norte-americana) no Jornal da Bahia”, conta a pesquisadora. É pela editora Macunaíma que Florisvaldo publica o seu primeiro livro: Reverdor. 

Na época poderia não ter parecido ao Florisvaldo graduando em Direito mas, ali começava também a sua relação com o jornalismo, que rendeu a ambos ótimos momentos. Com passagem pelo Jornal da Bahia e pelo Diário de Notícias, extinto em 79, sob a pena de Inácio Alencar. Talvez tenha sido no A Tarde o lugar onde o jornalista Florisvaldo foi mais ousado, trabalhando como editor do suplemento literário do jornal na década de 90. Foi ele quem implantou uma nova linha editorial no caderno, mais aberto a experimentações e com o objetivo de divulgar os artistas baianos. 

“O Cultural era resultado de vários acertos. Além do planejamento com folga, da visão de humanista e esteta, experiência por veículos como editor-chefe do Jornal do Brasil e chefe do Diário de Notícias, o trânsito do jornalista, professor e ex-gestor da Fundação Cultural do Estado com fontes múltiplas dava-lhe a liberdade para descolar a pauta do hard news, solicitar a custo zero artigos nas fases de penúria da empresa e pautar reportagens raras”, recorda a jornalista Simone Ribeiro, diretora de Divulgação da ABI. Ribeiro também foi  aluna de Mattos e sua substituta na edição do caderno. 

Kátia Borges escreveu sobre a virada proposta por Florisvaldo em sua tese sobre o caderno cultural de A Tarde. “Mattos resume em uma frase seu projeto para renovar o caderno: ‘Valorização da criação artística e da reflexão crítica’. É interessante notar observar como este editor se refere ao Modernismo baiano como um processo único e contínuo do qual faz farte”. 

O poeta 

Do moderno jornalista ao poeta modernista é apenas um passo. “Poesia, para mim, é uma vocação como qualquer arte. O cara pode se aperfeiçoar na sua arte, mas não pode ser um artista sem vocação”, declara Florisvaldo. 

Se a vocação é inata ou não, ainda não se sabe. Decerto que Florisvaldo a manifestou muito cedo, tendo escrito seus primeiros versos ainda na escola. Ele, que experimentou do parnasianismo ao simbolismo, foi apresentado à poesia moderna por Sosígenes Costa que, segundo Mattos, lhe abriu “os olhos e mente”. “Eu comecei a focar na realidade circundante que a poesia tem de encarar”. 

A realidade que o poeta busca retratar tem vestígios do mundo agrário onde viveu, que via, atônito, a chegada das primeiras tecnologias, como a ferrovia que lhe inspirou o poema pelo qual veio a se tornar conhecido. Um dos seus contemporâneos, o escritor Ruy Espinheira Filho, também membro da ALB, afirma que a poesia de Florisvaldo é dotada de “uma grande carga lírica”. “Florisvaldo Mattos é um poeta importante não apenas para a Bahia, mas ele tem renome nacional. É um estudioso também”, afirma Ruy. 

Na década de 70, quando inicia o seu mestrado em Ciências Sociais, Florisvaldo se propõe a estudar a Revolta dos Búzios, também por conta do seu interesse no livro do pesquisador  e professor Luís Henrique Dias Tavares. A pesquisa se tornou um livro, que teve bastante repercussão por conta do foco de análise dado à revolução. Não sendo um historiador, mas um jornalista, Florisvaldo interessava-se bastante pelos meios de comunicação social usados pelos revoltosos. O episódio tornou-se fato citado como uma das contribuições intelectuais de Mattos e conquistou até o professor Tavares, que lhe disse achar a tese magnífica. 

Além do livro de sua tese, Florisvaldo possui 10 obras publicadas, em sua maioria obras poéticas. No verso de seu livro Reverdor, encontra-se a carta remetida pelo amigo e colega de profissão Glauber, uma das mais sinceras e comoventes análises da poesia de Florisvaldo Mattos. 

“O melhor presente que recebi foi o teu livro de poesia Fábula Civil. (…) Olha aqui, teu livro não me surpreende, que fui um dos primeiros a descobrir a pura mágica da tua poesia. O livro me agrada que vejo que o poeta cresceu de grande que era para ser o maior poeta brasileiro da geração pós 45 (…). Porque você é o melhor, depois de Jango Cabral de Melo Neto e o melhor antes que outro apareça. Mas na poesia o compromisso histórico se revela e todos reconhecem serenidade, amor, lirismo, teoria, prática. Meu velho Flori, Is, Valdo, Mattos. Teu nome tem flor, tem mato, tem is, que quer dizer: ‘é certo’”.

*Sob supervisão de Simone Ribeiro.

publicidade
publicidade