O número de detidos pela Polícia Militar nos protestos de rua na capital paulista neste ano já supera o registrado em todas as manifestações de 2013. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou até ontem (24) pelo menos 14 jornalistas agredidos ou detidos pela Polícia Militar de São Paulo no último sábado (22), durante cobertura da manifestação “Se Não Tiver Direitos, Não Vai Ter Copa”, realizada no centro da capital. De acordo com levantamento da entidade, ao menos cinco repórteres sofreram “violações” mesmo depois de terem se identificado como membros da imprensa.
“Com estes, chegam a 57 os casos de agressões e detenções de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cometidos por policiais militares desde junho de 2013 em São Paulo”, afirma a Abraji. De todas as ocorrências registradas nos últimos oito meses, em 56% das vezes o jornalista identificou-se como tal antes de ser agredido ou detido. Por isso, a entidade classifica a violência dos PMs como “deliberada”.
Dados obtidos pelo Estado com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) revelam que nos dois atos contra a Copa, realizados no dia 25 de janeiro e no último sábado (22), 397 pessoas foram encaminhadas a delegacias para averiguação ou acusadas de vandalismo – em todo o ano passado, foram 374 detenções. Só no sábado, foram 262 detidos.
Os dados refletem a mudança de estratégia da PM, que tenta dispersar os protestos com prisões antes de começarem as depredações. No dia seguinte ao ato, o comandante do policiamento na região central da capital, coronel Celso Luiz Pinheiro, disse que a polícia começou as prisões na Rua Xavier de Toledo, no centro, antes do quebra-quebra para se antecipar à ação dos black blocs, e classificou a operação como “um sucesso”. O tumulto começou em seguida.
A PM agiu contra um grupo de 150 pessoas, incluindo jornalistas, na estreia do pelotão ninja – policiais especializados em artes marciais que aplicaram golpes em vez de dispararem balas de borracha. O coronel pediu desculpas aos jornalistas que foram agredidos por policiais e disse que “excessos serão apurados” na corporação. “Não compactuamos com desvios de conduta”, afirmou.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiou a ação. “Não é possível que a polícia paulista continue a praticar a brutalidade que vem praticando”, disse Celso Schröder, presidente da entidade. “A polícia não pode decidir o que deve ser divulgado.” Para o presidente da Abraji, José Roberto de Toledo, “tentar impedir o trabalho da imprensa é atentar contra o direito da sociedade à informação e, em última análise, contra a democracia”, disse.
A Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) avaliou que houve excesso na repressão à manifestação ocorrida no centro da capital paulista. Segundo o presidente Marcos da Costa, que também é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem, “o expressivo número de detenções, inclusive de profissionais da imprensa, que foram cerceados no seu direito de exercer a profissão, mostra que houve excesso de autoridade.”
Segundo o coletivo Advogados Ativistas, a polícia fez um boletim de ocorrência coletivo no qual acusa os manifestantes por desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. O crime de lesão estaria relacionado a uma policial militar que quebrou o braço durante o protesto. Segundo o advogado André Zanardo, os manifestantes estão sendo fotografados e fichados como uma forma de intimidação para as esvaziar as ruas. “Vão chamar essas pessoas para serem ouvidas nas próximas manifestações cerceando o direito das pessoas de se manifestar”.
Mesmo com o cerco policial e o grande número de manifestantes detidos no sábado, um novo protesto intitulado “Não vai ter Copa” está agendado nas redes sociais para o dia 13 de março. Desta vez, o transporte público estará na pauta. Até esta segunda-feira, cerca de 3.300 pessoas confirmaram presença no evento agendado pelo Facebook. Será o terceiro protesto do ano contra a realização da Copa do Mundo.
Informações de O Estado de S. Paulo, Estadão Conteúdo, EBC e RBA.