A presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Suely Temporal, e o diretor de Finanças da instituição, Henrique Trindade Filho, estiveram na manhã desta quarta (17) no gabinete do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, Inaldo da Paixão, para entregar uma Moção de Congratulações por sua eleição à presidência do Instituto Rui Barbosa (IRB).
Durante o encontro, do qual participou também a associada da ABI, Mara Santana, gestora de comunicação da Procuradoria Geral do Estado (PGE), foi abordada a situação da Casa de Ruy Barbosa, museu pertencente à ABI e imóvel onde nasceu o jurista baiano conhecido como “Águia de Haia”.
O encontro deu continuidade ao debate público iniciado por Inaldo da Paixão dias antes, quando publicou o artigo “Nem ruína, nem silêncio: a palavra de Ruy precisa de casa”, divulgado pelo jornal Tribuna da Bahia e pelo site da ABI. No texto, ele chama atenção para o estado da Casa de Ruy Barbosa, alertando para os riscos do abandono e defendendo a preservação do espaço como lugar vivo de memória, reflexão e cidadania. Para ele, “preservar a Casa de Ruy é preservar a palavra, o debate e a liberdade”, pontuou.
Suely Temporal agradeceu ao conselheiro a iniciativa do artigo, que reforçou o tema na agenda pública. Ela falou do esforço da ABI em buscar caminhos para a preservação e reativação da Casa de Ruy Barbosa, reforçando o papel da entidade como guardiã desse patrimônio. “A Casa de Ruy Barbosa ultrapassa o valor material do imóvel. Trata-se de um bem simbólico, ligado à história da imprensa, do pensamento jurídico, da política e da democracia brasileira”, defendeu.
Confira a íntegra da moção:
MOÇÃO DE CONGRATULAÇÕES
A Associação Bahiana de Imprensa se congratula com o Instituto Rui Barbosa, associação civil criada pelos Tribunais de Contas do Brasil em 1973, pela escolha do conselheiro Inaldo Araújo, do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, como seu presidente.
Integrante destacado da comissão criada por esta ABI para organizar os eventos alusivos ao centenário de morte do eminente jornalista, jurista, político e diplomata baiano, Inaldo Araújo manteve-se vinculado à luta em defesa da memória e do legado de Ruy Barbosa, bem como permanece comprometido com o projeto Casa da Palavra Ruy Barbosa.
Ao aprovar a presente moção, a Associação Bahiana de Imprensa manifesta as suas melhores expectativas quanto à gestão do Conselheiro Inaldo Araújo, com a continuidade de tão importante apoio à causa da memória baiana, bem como reitera a importância dos esforços da sociedade brasileira em defesa da qualificação da gestão pública e dos órgãos de controle.
A velha Casa de Ruy Barbosa repousa discreta no coração do Centro Histórico de Salvador, entre ladeiras que já ouviram tambores, oratórias inflamadas e passos de visitantes de todo o mundo. Ali, no casarão da Rua Ruy Barbosa, número 12, o menino Ruy passou parte da infância, absorvendo os ecos de uma cidade que respirava política, cultura e resistência. O tempo, como sempre, seguiu sua marcha, e a casa, em vez de se converter em ruína anônima, foi preservada pela vontade dos homens de imprensa. Em 1935, a Associação Bahiana de Imprensa recebeu o imóvel e, anos depois, fez dele um museu, aberto no centenário de nascimento do Águia de Haia, em 1949.
O espaço tinha uma missão clara: guardar a memória de um dos maiores pensadores brasileiros, jurista, jornalista, orador e político que marcou a vida nacional. Por muito tempo, foi esse lugar de reverência, visita escolar, pesquisa acadêmica, parada obrigatória de turistas. Mas os museus também envelhecem. Sem cuidados constantes, sem recursos adequados, a casa começou a padecer. O convênio firmado em 1998 com a Faculdade Ruy Barbosa prolongou-lhe o fôlego, mas os anos seguintes mostraram que a parceria não deu conta do desafio. Houve infiltrações, furtos de peças, disputas judiciais e, por fim, a interrupção das atividades.
Em 2022, a Justiça reintegrou o imóvel à ABI, devolvendo à entidade jornalística a guarda do patrimônio. Mas o que se encontrou ali não foi mais o museu vibrante do passado, e sim um prédio fechado, ferido pelo descuido. A pergunta que se impõe é inevitável: como devolver vida à Casa de Ruy Barbosa? Como reabrir suas portas ao público, transformando-a em um centro de memória e, ao mesmo tempo, em um espaço de diálogo contemporâneo?
A resposta pode estar no próprio tempo presente. O governo da Bahia, recentemente, firmou um contrato de concessão do Palácio da Aclamação, localizado no Campo Grande, para que o Banco do Brasil transforme a antiga residência oficial dos governadores — inaugurada em 1917 e tombada pelo IPAC em 2006 — em um centro cultural moderno. Um exemplo de parceria que, se bem conduzida, pode equilibrar a conservação do patrimônio histórico com o dinamismo da iniciativa privada. O mesmo caminho pode ser trilhado para a Casa de Ruy Barbosa.
Projeto Casa da Palavra Ruy Barbosa | Foto: Reprodução/Casa Gringo Cardia
A ABI já anunciou o projeto de requalificação que rebatiza o espaço como Casa da Palavra Ruy Barbosa. Não é apenas uma mudança de nome, mas uma mudança de propósito: do museu estático ao centro vivo de cultura. A palavra, afinal, foi a principal arma de Ruy, seja nos discursos inflamados, seja nos artigos de jornal que ecoaram contra a escravatura e em defesa da República. A palavra também é o que move a imprensa, que funda democracias e as sustenta. Tornar a casa um lugar da palavra é devolver-lhe sua essência.
Mas, para materializar esse sonho, são necessários recursos, expertise técnica, curadoria sofisticada e gestão eficiente. Nada disso pode ser garantido apenas com o esforço isolado de uma entidade civil, por mais aguerrida que seja. Aí se abre o espaço para um modelo de parceria: com um banco público, uma sociedade de economia mista, uma fundação cultural ou até mesmo um consórcio empresarial disposto a investir em cultura como contrapartida social.
O paralelo com o Palácio da Aclamação é didático. Se um prédio histórico do Estado pode ser entregue à guarda de uma instituição financeira para renascer como espaço cultural, por que não pode a Casa de Ruy, patrimônio simbólico da Bahia, firmar sua sobrevivência por meio de uma parceria sólida? Não se trata de mercantilizar a memória, mas de garantir que ela não se perca em paredes úmidas e telhados carcomidos. O que o vento leva, já dizia Mãe Stella de Oxóssi, não volta mais. E obras de tal grandeza não podem se perder.
A reabertura da Casa como um centro cultural vivo teria ainda outro efeito simbólico: ajudar a reocupar o Centro Histórico com atividades que devolvam dignidade e movimento àquele espaço. Imagine-se um casarão onde jovens poetas possam declamar seus versos em saraus, onde jornalistas possam debater os rumos da democracia, onde estudantes descubram Ruy não como uma estátua em bronze, mas como um homem que ousou pensar o Brasil em sua inteireza.
A Bahia tem um compromisso moral com seus símbolos. Se o Pelourinho foi restaurado e devolvido ao mundo como um patrimônio da humanidade, se o Palácio da Aclamação terá nova vida pelas mãos de um banco, não é admissível que a casa do maior intelectual baiano continue fechada. Ruy Barbosa pertence à nação, mas sobretudo pertence à Bahia. E sua casa precisa voltar a ser, como no passado, um ponto de encontro entre a memória e o futuro.
O tempo já mostrou que, quando há descuido, ele corrói e aniquila. Mas também nos ensina que obras geniais podem ser salvas, se houver vontade e compromisso. A Casa da Palavra Ruy Barbosa é mais do que um projeto arquitetônico; é uma oportunidade de afirmar que a palavra, na Bahia, não se perde — renasce.
¹Texto originalmente publicado pelo jornal Tribuna da Bahia, na edição de 1º de dezembro de 2025.
*Inaldo da Paixão Santos Araújo é presidente do Instituto Rui Barbosa (IRB), conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE), mestre em Contabilidade e professor da Universidade do Estado da Bahia.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)
O presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini, foi recebido pela Associação Bahiana de Imprensa, no sábado (13). O gestor cultural passeou pela instituição e seus espaços culturais, começando o tour pela Casa da Palavra Ruy Barbosa, Museu de Imprensa, Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon e encerrando com a vista do Auditório Samuel Celestino, no oitavo andar do edifício-sede da ABI.
Acompanharam a visita o presidente da ABI, Ernesto Marques, o 1º vice-presidente Luis Guilherme Pontes Tavares, estudioso sobre Ruy Barbosa, a museóloga responsável pelo Museu de Imprensa, Renata Santos, e a professora Cybele Amado, diretora de Formação do MEC.
Em meio às notícias sobre o lançamento da Lei Paulo Gustavo, regulamentada no dia 11 de maio em Salvador, e outras importantes iniciativas no âmbito cultural, o encontro serviu para planejar novas ações entre a ABI e a Fundação Casa de Rui Barbosa, parceiras desde a década de 70.
Entre os projetos discutidos está a Casa da Palavra Ruy Barbosa, que será implantada onde hoje existe o Museu Casa de Ruy Barbosa, no imóvel onde nasceu o jurista, no Centro Histórico de Salvador.
Santini é especialista em políticas públicas de cultura, mestre em Cultura e Territorialidades, bacharel em Artes Cênicas, docente, pesquisador e escritor. Em março deste ano, ele foi conduzido à presidência da Fundação pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. Durante a cerimônia de posse da nova diretoria, Alexandre Santini recebeu das mãos do presidente da ABI a Medalha Rubem Nogueira.
A honraria foi criada como parte das celebrações do Centenário de Morte de Ruy Barbosa, para reconhecer instituições e personalidades proteroras da memória de Ruy e que tenham contribuído com os acervos do Museu Casa de Ruy Barbosa, atual Casa da Palavra Ruy Baborsa. (Clique aqui e saiba quais instituições e personalidades receberam a Medalha no dia 1º de março, nos 100 anos de falecimento de Ruy)
O professor destacou as similaridades entre os objetivos das entidades dedicadas à memória de Ruy Barbosa. Agora, ele estuda um instrumento de cooperação para a viabilizar projetos e um intercâmbio de conhecimento.
“Estamos falando de preservar acervos, nossa memória. Façamos um pacto aqui para tocar para frente esse objetivo. Nesse contexto de reconstrução, temos muitas dificuldades, mas podemos, em parceria, ir atrás de recursos para esses produtos culturais”, afirmou Santini.
Há exatos cem anos o Brasil se despedia de Ruy Barbosa, levando milhares de pessoas ao cortejo fúnebre. Nesta quarta-feira, 1º de março, a Bahia demonstra que a admiração a um dos seus principais intelectuais permanece através de uma série de eventos independentes que foi aberta pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), com a Outorga da Medalha Rubem Nogueira. A solenidade lotou, pela manhã, o auditório Samuel Celestino, no Centro Histórico, para homenagear pessoas e instituições comprometidas com a memória de Ruy.
A entrega da medalha iniciou mobilização para a Casa da Palavra Ruy Barbosa, já com sinalização de apoio do Governo da Bahia. Foram homenageados Rubem Nogueira, Presciliano Silva, Ernesto Simões Filho, Luis Vianna Filho, Antônio de Pádua, o Estado da Bahia e o Município de Salvador. Em breve a honraria será outorgada à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.
O evento na ABI, tal como o multifacetado Ruy Barbosa, atraiu diferentes setores da sociedade, espectros políticos e até datas comemorativas. Uma das personalidades que prestigiaram a solenidade foi o professor Edvaldo Brito, vereador por Salvador e presidente do colegiado composto para articular a agenda do centenário de Ruy.
“Houve quem nos questionasse, ‘mas vocês vão comemorar a morte de uma pessoa?’. Sim, nós vamos ‘co-memorar’, ou seja, vamos memorar juntos, relembrar não a morte, mas a vida de um dos maiores brasileiros de todos os tempos”, justificou o presidente da ABI e aniversariante do dia, Ernesto Marques, na abertura da solenidade. Marques teve a companhia de sua esposa, a educadora Cybele Amado, representante da Secretaria de Educação do Estado da Bahia.
Com autoridades, intelectuais e profissionais da imprensa, o evento também teve um tom de articulação para manter o trabalho de preservação da memória do jurista, diplomata e jornalista baiano. Ernesto Marques, por exemplo, cobrou melhorias na rua em que está o imóvel em que Ruy nasceu e onde fica o então Museu Ruy Barbosa para aquecimento econômico e cultural da região.
Quebrando o protocolo, o vice-governador Geraldo Júnior discursou e sinalizou apoio do Governo do Estado. “Em nome do governador Jerônimo Rodrigues, podemos dizer que a Casa da Palavra terá o apoio do governo do estado para fortalecer o simbolismo dessa cultura, dessa história”, prometeu. Antes, Ernesto havia lembrado que o compromisso de políticos como Luís Vianna Filho e Antônio Carlos Magalhães foi essencial para manter o prédio histórico de pé e, agora, poder ser renovado.
A medalha “Hoje eu me lembrei de eu pequenininha, meu pai tinha um escritório na rua Ruy Barbosa, a gente desde sempre sabia que ele era um fã número um dele, um grande entusiasta”. A recordação, compartilhada após o evento na ABI, é da colunista social Gilka Maria Andrade em relação a seu pai, Rubem Nogueira. Ela saiu hoje da sede da entidade carregando no peito a medalha que leva o nome do pai em homenagem a ele e outras figuras e instituições importantes para a inauguração do que veio a ser o Museu Ruy Barbosa, em 1949, no centenário de nascimento do jurista baiano.
Gilka Andrade, filha de Rubem Nogueira | Foto: Ascom ABI
Descrita por Ernesto Marques como uma verdadeira saga, a participação de Nogueira na articulação para reconstrução da casa foi fundamental, além das doações valiosas para compor o acervo, o que justificou a ABI dar seu nome para a outorga. Nogueira não estava só. Ernesto Simões Filho, jornalista e fundador do jornal A Tarde, também liderou campanha de arrecadação para a compra da casa, depois cedida à prefeitura.
Hoje, quem recebeu a honraria das mãos de Walter Pinheiro, presidente da Assembleia Geral da ABI e da Tribuna da Bahia, foi o bisneto de Simões Filho, João Cândido de Melo Leitão, atual presidente do Grupo A Tarde. A edição desta quarta-feira do principal produto do grupo, o jornal impresso, destacou como o diário se envolveu na causa desde 1917.
O advogado e ex-presidente da OAB-BA, Luiz Viana Queiroz, tornou o evento um encontro de família. Para receber homenagem ao seu avô, Luís Vianna Filho levou ao palco Claudia e Fernando, também netos do ex-governador da Bahia. “Hoje foi um dia muito especial pela junção de Rubem Nogueira e Luís Vianna Filho, os dois maiores especialistas do Ruy Barbosa aqui da Bahia. Importante homenagem a Luís Vianna e a Rubem Nogueira, juntados por Ruy aqui”, comentou Luiz.
Também foram homenageados no evento o educador Antônio de Pádua Carneiro, ex-diretor da Faculdade Ruy Barbosa, representado por sua esposa, a artista plástica Inês Vitória; e Presciliano Silva, responsável pelos desenhos que foram imprescindíveis para reconstrução do imóvel, representado no evento por sua filha Maria Moniz.
Essa foi a primeira das duas únicas entregas da outorga. A próxima etapa de homenagens será para reconhecer os apoiadores do novo museu, cuja campanha de mobilização foi iniciada também nesta quarta-feira (1º) para continuar preservando a casa onde Ruy nasceu e viveu até os 16 anos e buscar pontes com novos públicos.
Ruy Barbosa presente A distância de um século desde a partida de Ruy Barbosa não impede sua atualidade. “O que eu mais gosto nisso tudo é que ele se conecta com o contemporâneo”, acredita o presidente Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos que prestigiou o evento. “O que ele defendeu no final do século 19 e início do século 20 ainda ecoa nos tempos de hoje”, completa o secretário de Cultura do Estado da Bahia, Bruno Monteiro. O jurista, vereador e professor Edvaldo Brito também acredita que para analisar o cenário político atual é preciso recorrer aos escritos de Ruy.
A secretária de Comunicação da prefeitura de Salvador, Renata Vidal, que representou o prefeito Bruno Reis e recebeu a medalha em nome da prefeitura de Salvador, também acredita que o jornalista Ruy Barbosa influencia até hoje novas gerações. “Foi o gênio da palavra. O prefeito também tem essa consciência”, comentou Vidal.
Mais homenagens No início da sessão, também foi homenageado o jornalista José Jorge Randam, que faleceu no último dia 24, também dia do seu aniversário de 90 anos. “Em homenagem a um radioator não se deve pedir minuto de silêncio”, justificou Ernesto Marques ao pedir uma salva de palmas.
A homenagem foi prestada com a presença de autoridades dos governos estadual e municipal, representantes dos principais veículos de imprensa e da comunicação, dos poderes Legislativo e Judiciário, dos órgãos de controle, de universidades baianas e da sociedade civil organizada.
“Começamos com o pé direito, depois de um ano de planejamento dessa ação e feliz por termos conseguido reunir mais de 14 entidades que são altamente representativas do cenário baiano de Salvador”, avaliou Walter Pinheiro.
A ABI encerra as homenagens do dia com a estreia de mais uma temporada da Série Lunar, também no auditório Samuel Celestino, hoje com sete artistas e um repertório que passeia pelo século XIX e remonta a saraus promovidos por Dona Maria Augusta, pianista e esposa de Ruy.